Santa
Margarida Maria Alacoque (1647-1690), religiosa visitandina do Mosteiro de
Paray le Monial, teve numerosas manifestações extraordinárias do Céu, onde
Nosso Senhor Jesus Cristo, aparecendo-lhe, pediu para que fosse difundida a devoção
ao Seu Sagrado Coração:
“Eis aqui este Coração que tanto
tem amado aos homens, que nada tem poupado, até se esgotar e consumir para
lhes testemunhar o seu amor; e em troca não recebe da maior parte
deles senão ingratidão, irreverências e sacrilégios, tibieza e
desdém para com este Sacramento de amor. (...) Prometo-te que o Meu Coração se dilatará,
para derramar com abundância o meu Divino Amor sobre os que
lhe tributarem honras e procurarem fazer com que outros lha tributem”.
Numa destas
aparições, Jesus pediu-lhe para fazer chegar ao Rei de França, Luís XIV (1643 –
1715) o Seu desejo de que a França fosse consagrada ao Sagrado Coração de
Jesus.
No dia 17
de junho de 1689, Santa Margarida Maria enviou uma carta ao monarca nos
seguintes termos: “O
Sagrado Coração de Jesus deseja,
segundo me parece, entrar com pompa na casa dos Príncipes e dos Reis, para
nelas ser honrado, tanto quanto nelas foi ultrajado, desprezado e humilhado
durante a Sua Paixão. E que receba tanto prazer ao ver os grandes da Terra rebaixados
e humilhados diante d`Ele, quanta amargura sentiu ao ver-Se aniquilado a seus
pés.
"Faz saber
ao filho primogénito do Meu Sagrado Coração que, assim como o seu nascimento
temporal foi obtido através da devoção aos méritos da Minha Santa Infância, do
mesmo modo obterá o seu nascimento para a graça e para a gloria eterna, pela
Consagração que fará de si mesmo ao Meu Coração Adorável, que quer triunfar do
seu e, por seu intermédio, do dos grandes da Terra. Ele quer reinar no seu
Palácio, ser pintado nos seus estandartes e gravado nas suas armas, para fazê-las
vitoriosas sobre os seus inimigos, dobrando aos seus pés essas cabeças
orgulhosas e soberbas, para fazê-lo triunfar sobre todos os inimigos da Santa
Igreja”.
A 25 de Agosto de 1689, Margarida Maria insistiu
com a Madre de Saumaise, pedindo-lhe, textualmente, que fizesse com que o
confessor do rei, o Padre de La Chaise, levasse ao monarca o desejo do Sagrado
Coração de Jesus. Esta carta continha dois novos pedidos importantes:
“O Pai
Eterno, querendo reparar as amarguras e angústias que o Adorável Coração do seu
Filho recebeu na casa dos Príncipes da Terra, entre as humilhações e os ultrajes
da Paixão, quer estabelecer o Seu Império no coração do nosso grande monarca,
do qual se quer servir para a execução do Seu Desígnio, que é fazer erigir um
edifício onde esteja exposto o quadro deste Divino Coração, para aí receber a
consagração e as homenagens do Rei e da Corte.
“Além disso, este Divino Coração quer tornar-se o
protector e defensor da sua sagrada pessoa contra todos os seus inimigos. Por
isso, escolheu-o, como Seu fiel amigo, para conseguir autorização da Santa Sé Apostólica para uma Missa e obtenção de todos os outros privilégios que devem acompanhar a
devoção a este Divino Coração”.
Há indicações que confirmam o recebimento do pedido
do Sagrado Coração pelo rei Luís XIV, não através do padre La Chaise que, provavelmente,
era contrário a devoções que solicitassem uma fé maior do que aquela que um rei
pouco religioso pudesse suportar, mas da princesa Maria Beatriz d’Este. Que se tornando
religiosa visitandina, esteve em estreito contacto com Santa Margarida Maria.
Entretanto, Luís XIV, como os seus sucessores Luís
XV (1715 – 1774) e Luís XVI (1774 – 1792) negaram-se a consagrar publicamente a
França ao Sagrado Coração de Jesus, como lhe fora pedido pelo divino Salvador,
apesar de Luís XIV ter apresentado à Santa Sé, em 1696, o pedido de uma missa
ao Sagrado Coração de Jesus.
Como
consequência desta recusa, no dia 17 de junho de 1789, festa do Sagrado Coração
de Jesus, exatamente cem anos depois da data da carta de Santa Margarida Maria
Alacoque, o Terceiro Estado instituiu a Assembleia Nacional, um rompimento com
a estrutura social do Antigo regime francês, fundado na divisão de três ordens:
clero, nobreza e povo.
Este acto
despojou o rei da soberania, que segundo o regime monárquico vigente residida
na sua pessoa. E este foi apenas o primeiro passo dos revolucionários. Em seguida,
foi proclamada a República e Rei Luís XVI foi assassinado na guilhotina, no dia
21 de janeiro de 1793.
Depois da
Revolução Francesa, salvo os quinze anos da Restauração, a dinastia dos Bourbon
foi expulsa definitivamente do trono da França.
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