Todas as obras de Deus têm um cunho de grandeza. O Céu, os
esplendores do firmamento, a pequena flor, o menor grão de areia, se forem
examinados cuidadosamente em cada uma das suas partes, revelam a omnipotência, a
sabedoria e a grandeza infinita do seu Criador.
Assim é, também, a religião católica. Ela saiu das mãos de
Deus e é a manifestação, a revelação que Deus fez de Si mesmo a seres
racionais, que Se dignou criar.
Se analisarmos atentamente os menores detalhes da religião,
descobriremos belezas e sublimidades não menos admiráveis do que as belezas da
natureza. Tomemos, por exemplo, o sinal da Cruz, esta pequena prática de
Religião, tão universal, tão frequente no decurso dos nossos dias.
Todos nós fazemos o sinal da Cruz. Mas será que pensamos nos
mistérios que ele encerra?! Por falta de
reflexão, não lhe damos a importância que ele merece.
O sinal da Cruz é um sinal exterior, que distingue os
cristãos dos outros homens, um movimento que os cristãos fazem sobre si mesmos,
normalmente com a mão direita e que se faz traçando a figura de uma cruz sobre
o peito, sobre a teste, ou sobre, a boca ou sobre qualquer objeto exterior.
Foram os apóstolos, revestidos da autoridade de Nosso Senhor
Jesus Cristo, que o instituíram e ensinaram esta prática religiosa aos
primeiros discípulos do Evangelho.
Jesus Cristo, crucificado,
a regra viva dos seus discípulos
Por que deram preferência a este sinal e não a outro? A
preferência a este sinal está no fato de que ele lembra àquele que o faz, e aos
que o vêem fazer, que Jesus Cristo é o Deus dos cristãos e o Senhor único das almas. Também, porque lembra que Deus, tão grande e bom, nos amou tanto que
se entregou por nós ao suplício da Cruz e que devemos amá-Lo com toda a nossa
alma.
O sinal do Cruz põe-nos sempre diante dos olhos Nosso Senhor
crucificado, nosso modelo, cujas virtudes devemos imitar, se quisermos ser
salvos nEle e por Ele. Jesus Crucificado é a regra viva de todos os seus
discípulos e a Sua Cruz é o código da Sua moral. O sinal da Cruz de Jesus
Cristo resume, portanto, toda a moral cristã, e recorda àquele que o faz com
atenção a obrigação de imitar, na vida de cada dia, a penitência, a
mortificação, a humildade, a doçura, a paciência, o desapego, a castidade, a
obediência do Seu Mestre, seu amor para com o Pai celeste, para com a sua Mãe
Santíssima, para com todos os homens, sua misericórdia para com os seus
inimigos, e o seu amor pelo sofrimento.
Por que é ele o sinal do Cristão? Porque faz lembrar aos
cristãos a eterna bem-aventurança. Com efeito, Nosso Senhor ressuscitou depois
da sua Paixão e Morte e foi pela Cruz que entrou na sua glória. Assim,
sucederá, também, com os seus discípulos. A glória no paraíso deve ser o fruto
da vida crucificada, à semelhança da vida do Salvador. É por isso que Ele nos
declara no Evangelho que quando vier, no fim do mundo, para julgar todos os
homens, aparecerá com o sinal sagrado da Cruz, para servir de reconhecimento
aos seus escolhidos, e de condenação para os réprobos.
Lembra os pontos mais
importantes da nossa religião
O sinal da Cruz é também o sinal distintivo dos cristãos,
porque ele faz lembrar os pontos mais importantes da nossa religião:
1)
Recorda o mistério da Santa e Indivisível
Trindade, pois que, ao fazê-lo, se diz: “Em nome do Padre (ou do Pai), do Filho
e do Espírito Santo, três pessoas; O Pai, o Filho e o Espírito Santo; mas num
só Deus; em nome, e não em nomes.
2)
O mistério da Encarnação e da Eucaristia, isto
é, o Filho de Deus que desceu do Céu à terra por nós, no seio da Virgem Maria,
e continua descer nos nossos altares. Porquanto, é ao dizer: em nome do Filho, que se
desce a mão da testa ao peito, viva imagem do aniquilamento do Filho de Deus,
que repousa no coração dos seus fiéis como outrora nas castas entranhas de
Maria.
3)
O mistério da Redenção, isto é, Nosso Senhor
Jesus Cristo, Filho de Deus, feito homem, morrendo numa Cruz para apagar os
nossos pecados, para nos fazer merecer o perdão e a salvação eterna, e
abrir-nos as portas do Céu, fechadas pelo pecado.
4)
O mistério da Igreja, isto é, da sociedade, una,
santa e católica dos discípulos de Jesus Cristo, dos filhos da Cruz. Sendo o
sinal da Cruz o mesmo para todos, é o sinal da sua união num só corpo, o sinal
exterior da sua sociedade. O sinal da Igreja, recorda admiravelmente a sua
unidade, formando um só corpo, fora do qual não se está com Jesus Cristo; a sua
universalidade, que Ela é católica (ou universal) estendendo-se a todos os
países, a todos os povos, e chamando-os a todos à luz da verdade; que Ela é
santa, tendo por chefe e por modelo o Santo dos Santos, Jesus crucificado, cuja
imitação é o caminho único e mais seguro da verdadeira santidade; apostólica,
isto é, fundada pelos apóstolos, instituidores do sinal da Cruz, os quais a
governam sempre pelos seus legítimos sucessores, os pastores da Igreja
Católica.
5)
Finalmente, o sinal da Cruz recorda aos cristãos
que a verdadeira e única Igreja de Jesus Cristo é a Igreja romana, isto é, a Igreja
governada pelo Papa, Vigário de Cristo e sucessor de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos,
o qual sofreu por Jesus Cristo, em Roma, o martírio da Cruz.
Ou seja, o sinal da Cruz resume
tudo o que há de grande e de mais fundamental no dogma e na moral do
Cristianismo.
Afasta os demónios
O sinal da cruz é também uma arma
vitoriosa contra o inferno. O demónio, dizia Santa Teresa de Ávila no capítulo
XXX da sua vida, tentou-a muitas vezes, com muitas provações interiores e
secretas. Às vezes, ele a tentava quase em público, por uma ação visível.
“Encontrava-me um dia num oratório quando ele me apareceu, ao lado esquerdo,
sob uma forma asquerosa. Prestei muita atenção na sua boca: ela era horrível.
Do seu corpo saia uma grande chama, clara e sem mistura de sombras. Ele
disse-me com uma voz horrorosa que eu lhe tinha escapado das mãos, mas que
voltaria a tentar-me. Meu medo foi grande. Fiz o sinal da Cruz e ele
desapareceu. Contudo, voltou a aparecer. Fiz novamente o sinal da Cruz, e ele
pôs-se em fuga, não tardando a reaparecer. Então atirei água benta do lado onde
ele estava e ele não mais voltou".
Façamo-lo do fundo do coração
É pois com toda a razão que os
Apóstolos no-lo deram como nosso sinal distintivo. É também a razão por que a
Igreja o emprega na administração das coisas santas, nos Sacramentos, nas
bênçãos, no princípio e no fim de toda as suas orações.
Façamos de hoje em diante com respeito e com a devida atenção este sinal tão venerável. Façamo-lo, não por hábito, e com as pontas dos dedos como quem sacode o peito, mas com espírito religioso, pausada e lentamente, do fundo do coração.
Façamos de hoje em diante com respeito e com a devida atenção este sinal tão venerável. Façamo-lo, não por hábito, e com as pontas dos dedos como quem sacode o peito, mas com espírito religioso, pausada e lentamente, do fundo do coração.
Façamo-lo com muita frequência,
principalmente nas nossas tentações e amargura, antes e depois das refeições, e
ao fazê-lo tenhamos cuidado de nos lembrar das santas verdades, que ele encerra, e
das obrigações, que nos impõe, o nosso título tão grande de cristãos.
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