O Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira, numa reunião proferida no dia 6 de julho de 1985, comentava como
era a sua devoção para com Nosso Senhor e Nossa Senhora. Nesta ocasião explicou
como rezava o terço e sentia a proximidade de Maria Santíssima.
“Há pessoas que, ao rezarem, têm toda a impressão de que
estão falando com um Santo, ou com Nossa Senhora, ou com Nosso Senhor Jesus
Cristo, e que eles estão ouvindo e considerando, como um de nós, o que dizem.
Outras têm a impressão de que há um vidro entre elas e os Santos, e que não se
podem pôr propriamente na presença deles.
“Comigo dá-se uma coisa curiosa: sinto uma superioridade
muito grande dos seres celestes. E com Nossa Senhora nem se fale! Sinto-A como
no alto de uma ogiva a uma distância colossal de mim, e que assim mesmo existe
certo atrevimento da minha parte em me aproximar. Aquilo que São Luís Maria
Grignion diz: “petit vermisseau et misérable
pécheur”, [vermezinho e miserável pecador], é bem a impressão que tenho.
"Estou certo de que
Ela me ouve, mas numa impassibilidade de ícone, e aquilo que eu digo chega lá
por um eco amortecido, fraco, distante. Maria Santíssima toma conhecimento
completo, mas da parte d’Ela não procede nada para mim porque não sou digno
disso. É a impressão. Eu sei, teologicamente, que não é assim, e rezo com a
certeza de que não é, mas a impressão é esta. Numa ou noutra rara ocasião tenho
a sensação de que Nossa Senhora, daquela distância, sorri com uma afabilidade
muito grande. Mas não sei bem se sou eu que subo ou Ela que baixa. Mas sinto
que a distância diminui e é como se eu falasse muito de perto com Ela. Mas é de
relance. Depois restabelece aquela distância… Não é uma distância in obliquo, mas como se houvesse um
vidro grossíssimo entre a Santíssima Virgem e eu.
“Contudo, gosto muito dessa distância, porque satisfaz o meu
desejo de admirar e contemplar.
“A tendência da minha piedade é de imaginar Nosso Senhor
Jesus Cristo, Deus, Nossa Senhora, todos os Anjos e Santos enormes, com
distância extraordinária, por assim dizer fabulosa. E, sentindo--me muito
pequeno, de algum modo nessa separação sinto uma união. É o prazer de me sentir
insignificante. Aquilo me enche de contentamento, de uma alegria, de uma
dedicação, de espírito filial que corresponde a um modo de ser.
“Sei, teologicamente, que não há essa distância. Ela é Mãe
de misericórdia, e se eu tivesse uma dúvida neste ponto, desintegrava-me na
hora; porque então nada é nada na terra de ninguém. Mas, enfim, é o modo de ser
de cada um.
“Outro dia eu estava rezando o Rosário e isso sobreveio
assim: pela primeira vez, ocorreu-me rezar os mistérios do Rosário como quem
estivesse junto a Nossa Senhora, comentando com Ela o que eu pensava de cada um
daqueles factos que se passaram.
“Um pouco como quem pergunta o que Ela teria sentido naquela
ocasião. Mas achei que essa era uma situação diferente das habituais. Rezei até
muito bem o Rosário assim. Digo isso para mostrar como é uma coisa individual,
que não deve ser tomada como padrão.
“Desde então tenho rezado o Rosário assim, com proveito.
Neste caso, vem certa impressão de proximidade d’Ela, fazendo contraste com o
que acabo de dizer”.
Revista Dr. Plinio, nº 211, pp. 8 e 9