Maria, que tinha
por sobrenome Madalena, por causa de uma das suas propriedades situada na
aldeia de Magdala, sobre as margens do Lago de Tiberíades, ou mar da Galileia,
era a irmã mais nova de Lázaro e de Marta, que se conservaram sempre fiéis à
lei de Deus. A sua jovem irmã, seduzida pelas vaidades do mundo, deixara-se
arrastar numa vida mais do que dissipada.
Maria Madalena, no
meio das suas loucuras, ouviu um dia falar de Jesus, dos Seus milagres, da Sua
bondade, da Sua divina santidade, da Sua misericórdia para com os pecadores.
Levada pela curiosidade, e também por um vago sentimento de arrependimento, a
pobre pecadora foi ter com o Salvador, ouviu as Suas palavras austeras e suaves
e recebeu dEle a primeira bênção, que preparou a sua conversão.
A conversão
Algum tempo depois
chegou Nosso Senhor a Cafarnaum, próximo de Magdala, e ai se demorou durante
alguns dias, pregando ao povo as admiráveis e muito santas verdades, resumidas
no Evangelho sob o nome de sermão da Montanha. A Santíssima Virgem, santa Marta
e outras piedosas mulheres, que acompanhavam Nosso Senhor, provendo às suas
necessidades, conduziram Maria Madalena pela segunda vez à fonte da vida. As
primeiras palavras de Jesus já a tinham, de um lado, abalado e, por outro lado,
consolado. Neste segundo encontro, os divinos ensinamentos venceram-na.
Contudo, ela não se atreveu, ainda, a lançar-se-Lhe aos pés. Mas, quando voltou
a casa, mandou sair todos os homens, que a procuravam, pegou no seu vaso de
perfume mais precioso e, com o rosto banhado em lágrimas, insensível ao
respeito humano, foi a toda a pressa à casa de um certo fariseu de Cafarnaum,
chamado Simão, que tinha convidado o divino Mestre para uma ceia na sua rica
habitação.
Quando Madalena
entrou na sala do banquete, achou Jesus cercado de fariseus, que espreitavam
todas as Suas ações e todas as Suas palavras, procurando com perfídia um
pretexto para O acusarem perante o grande conselho dos judeus em Jerusalém. Maria
Madalena, já superior a todas as considerações humanas, não deu atenção senão
ao seu Salvador. Lançou-se-Lhe aos pés, beijou-lhos com amor, regou-os com as
suas lágrimas e enxugou-os depois com os seus cabelos. Jesus estava silencioso,
e parecia não dar pelo que Madalena lhe estava fazendo, enquanto Simão e os
seus amigos olhavam com espanto cheio de ironia, e diziam uns para os outros: “se
ele fosse o Profeta (isto é o Cristo), ele saberia quem é esta mulher!” E Madalena,
pegando no seu vaso de alabastro derramou todo o perfume, que ele continha,
sobre a cabeça do seu Salvador.
Pecados perdoados
porque grande era o seu amor
Jesus quebrou,
afinal, o silêncio e voltando-se para o hospedeiro, disse com doçura e
gravidade:
-- “Simão, tenho alguma coisa para te dizer.
-- Senhor,
replicou o fariseu, falai!
E Jesus
prosseguiu:
-- Um homem tinha
devedores. Um deles devia quinhentos denários e outro cinquenta. O credor
perdoou-lhes a dívida a ambos. Qual dos dois, julgas tu, lhe deve mais amor?
-- Certamente
aquele a quem foi perdoada a maior dívida, replicou Simão.
-- Dizes bem,
acrescentou o Salvador.
Depois
apontando-lhe para a pobre pecadora, disse-lhe:
-- Vês esta
mulher? Quando entrei na tua casa, tu não me deste o beijo da paz. Ela desde
que aqui está, ainda não deixou de me beijar os pés. Tu não me deste água para
lavar os pés (costume de hospitalidade entre os judeus naquela época) e ela
banhou-mos com as suas lágrimas. Tu não deitaste sobre a minha cabeça nem
bálsamo nem perfume, e ela derramou sobre a minha cabeça todo o que tinha no
seu vaso de alabastro.
Em verdade, eu te
declaro: grandes pecados lhe serão perdoados porque grande foi o seu amor.
-- O que está Ele
a dizer? Resmungaram entre si os fariseus perturbados. Está blasfemando.
Quem
pode perdoar os pecados, senão Deus, unicamente?
Jesus, porém, sem
se dignar dar atenção às suas murmurações, olhou para a Madalena com uma bondade
divina e disse-llhe: “Todos os teus pecados te são perdoados: vai na paz do
Senhor e não peques mais!”
E Maria Madalena,
a pecadora escandalosa, a mulher mundana, frívola e dissoluta, levantou-se
coroada com a graça de Deus, achando de novo na penitência e no amor de Jesus
Cristo, um tesouro não menos precioso, do que o da sua inocência perdida.
Papel de Nossa
Senhora na conversão de Maria Madalena
Qual terá sido o
papel de Nossa Senhora na conversão de Santa Maria Madalena? O Prof. Plinio
Corrêa de Oliveira, numa conferência do dia 22 de julho de 1965, comentou:
“Todos os que têm
tratado deste particular dizem o seguinte: Judas com certeza não tinha devoção
a Nossa Senhora. Se tivesse para com a Santíssima Virgem um mínimo de instinto
filial, de simpatia, de amor, quando ele caiu inteiramente em si iria procurar
por Ela; e ter-Lhe-ia pedido que arranjasse a situação dele. Mas Judas tinha
antipatia por Nossa Senhora, e A detestava. O Evangelho diz, de modo taxativo,
que o demónio tinha entrado nele. E o demónio afastava-o o quanto possível da
Virgem Maria.
“Qual o resultado?
Ele não se dirigiu Àquela que é o canal das graças, e isto ocasionou a sua
perdição.
“São Pedro, depois
de ter renegado Nosso Senhor, talvez tenha tido tentação de desespero. Mas é
certo moralmente que ele procurou Nossa Senhora. Por isso, ele, que também
tinha pecado muito, foi fiel, sendo o primeiro Papa da Santa Igreja Católica.
“Santa Maria
Madalena sempre aparece fazendo parte do cortejo da Santíssima Virgem,
intimamente unida a Ela em todos os momentos, sobretudo na hora régia da vida
de Nossa Senhora, quando Nosso Senhor Jesus Cristo, com dores indizíveis, disse:
“Consummatum est”, Tudo está consumado!
“Podemos imaginar
Santa Maria Madalena junto a Nossa Senhora, na hora da piedade, quando a Mãe de
Deus tinha Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o seu colo.
“Naquele momento
tremendo, Nossa Senhora ficou inteiramente abandonada: Nosso Senhor no
sepulcro, o Colégio Apostólico vacilante, a cidade de Jerusalém entregue a
terremotos, e os justos da Antiga Lei andando de um lado para o outro. A
Santíssima Virgem, nessa situação tão pouco conhecida, estava completamente só.
“Tenho a impressão
de que não Lhe faltou a assistência de Santa Maria Madalena, a qual estava
junto d’Ela. E porque permaneceu junto à Mãe de Deus, ela recebeu um rosário de
glórias, cada uma mais extraordinária do que outra.
“Quando vemos tudo
isto, é impossível não estremecermos com a nossa própria fraqueza. Mas é
impossível também que não nos sintamos concertados com este ponto: por mais
fraco que o homem seja, desde que ele se apegue muito a Nossa Senhora, peça-Lhe
muito pela própria perseverança e para que Ela o ampare, nunca o abandone, ele encontra
aí um ponto de firmeza e de solidez.
A última das
pecadoras aproximou-se de Nossa Senhora e tornou-se uma penitente
gloriosíssima. Um apóstolo, que era distante de Nossa Senhora e frio para com
Ela, tornou-se o filho da maldição e da perdição, que Dante coloca no Inferno
dentro da boca de Satanás, com as pernas para fora, o eternamente triturado.
Enquanto podemos imaginar, no Céu, Santa Maria Madalena posta bem perto do
Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria, agradecendo os favores
imerecidos de que ela foi repleta.
Bem-aventurados os
penitentes sinceros
Bem-aventurados os
pobres pecadores, que choram com confiança os seus pecados aos pés do Salvador
e de Nossa Senhora! Bem-aventurados os penitentes sinceros e humildes, que vão
ajoelhar-se no confessionário aos pés do sacerdote, que representa Nosso Senhor
Jesus Cristo, continuador do Seu ministério pastoral, depositário do poder
divino para perdoar os pecados!
Bem-aventurada a
alma, que escuta, também, com atenção a celeste palavra do perdão, pronunciada
sobre a sua cabeça: “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho
e do Espírito Santo”.
“Nunca fui tão
feliz em minha na minha vida”, exclamava um dia, ao levantar-se perdoado, um
senhor que acabava de confessar os seus graves pecados cometidos desde a sua
adolescência.
As alegrias do
mundo não podem ser comparadas a esta felicidade. Oxalá, que todos os que lerem
estas linhas possam fazer esta experiência.
Estamos na
Quaresma, aproveitemos este tempo de penitência para nos reconciliarmos com o
nosso Pai celeste, que há de ser um dia o nosso Juiz!