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domingo, 31 de março de 2019

A alegria não pode coabitar com o pecado


São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla e Doutor da Igreja, afirma: “Nenhum bem terreno é capaz de mitigar a sede de paz e a felicidade do coração humano: nem a abundância de ouro, nem o poder soberano, nem a sumtuosidade dos banquetes, nem o luxo dos vestidos. Só a boa consciência é capaz de nos dar esta paz tão desejada. Quem conserva a consciência limpa de pecado, ainda que ande vestido de farrapos e atormentado pela fome, é mais feliz do que aquele que participa em todos os divertimentos possíveis e imagináveis mas que tem uma consciência torturada de remorsos” (cf. Homilia sobre as calendas).


Isto não quer dizer que a satisfação dos sentidos e os divertimentos do mundo não possam, pelo menos por algum tempo, entreter a alma numa certa letargia e fazer calar a consciência. Mas, este estado de coisas dura muito pouco tempo. E por mais que o homem tente, as consolações e alegrias deste mundo não são capazes de sarar completamente a ferida do coração.


O exemplo do poeta alemão Clemente Brentano

Clemente Brentano, um poeta alemão, depois de ter passado muito tempo no deleite de todos os prazeres que o mundo pode oferecer, lastimava-se dos erros da sua vida e esperava encontrar algum alívio e consolo com pessoas amigas, bem intencionadas e de confiança. Com todos se queixava, mas a paz do coração não lhe era restituída. Vinha-lhe sempre à memória os horrores da sua vida passada e um descontentamento geral tirava-lhe todo o ânimo.

Encontrava-se Brentano nesta disposição, quando no fim do ano 1816, encontrou uma piedosa senhora, a poetiza Luiza Hensel, que na altura ainda era protestante e que viria a converter-se ao catolicismo em 1819. Luiza conquistou rapidamente a sua confiança, pela inocência e candura. Assim, Brentano não tardou muito a explicar-lhe a triste situação em que se encontrava, remoído de remorsos. Depois de ter ouvido a sua história, Luiza respondeu-lhe, gravemente:

--“De que lhe serve manifestar tudo isto a uma jovem, como eu? O senhor é católico e tem a felicidade de ter a confissão. Exponha os seus erros ao seu confessor!”

Ao ouvir estas palavras, Brentano chorou e fez questão de dizer em alta voz para que os outros também ouvissem:

--“É incrível! Quem me diz isto é a filha de um pastor protestante...”

Deve ter sido uma enorme humilhação para Brentano ouvir, da boca de uma senhora de outra religião, que ele deveria fazer a confissão dos seus pecados e misérias a um sacerdote.

Aceitando o conselho de Luiza, tomou a resolução de fazer uma confissão geral. Foi ter com o Cónego Tauber e pediu-lhe para que ouvisse a sua confissão, assim que estivesse devidamente preparado. Já nesta ocasião, recebeu palavras de ânimo e de conforto, começando a derreter o gelo do seu coração sob o calor da graça divina. Após uma longa preparação, em meio a combates terríveis, Brentano fez, finalmente, a sua confissão. Aquela era a primeira depois de dez anos...

No dia seguinte, recebeu também a Eucaristia e encontrava-se muito feliz por ter encontrado a paz com Deus e consigo mesmo.

A Confissão é fonte de paz e consolo para o coração atribulado

Como Brentano, sempre que precisarmos, devemos recorrer à Confissão. Ela é o meio mais fácil e mais simples para nos reconciliarmos com Deus. Ela é uma fonte de paz e consolo para o nosso coração atribulado. Por uma boa e digna confissão, fechamos as portas do inferno e as do Céu são abertas.

Quantas graças não devemos dar a Deus por ter instituído para a nossa salvação o santo Sacramento da Penitência, no qual o sacerdote perdoa em nome de Deus os pecados – se o pecador arrependido os confessa sinceramente e tem a vontade de cumprir a penitência imposta.

A Confissão, porém, não é somente para nós uma felicidade inestimável, mas também um dever rigoroso.

O Divino Salvador disse aos seus discípulos:

Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu.” (Mt 18, 18). E pouco antes da sua Ascensão conferiu solenemente aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados, dizendo-lhes: “Assim como Pai me enviou, também Eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo.  Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20, 21-23).

Portanto, para todos os católicos que, depois do batismo, cometem um pecado mortal, torna-se necessária a recepção do Sacramento da Penitência.

Felizes somos nós, católicos, por termos este grande sacramento, que não só nos purifica do pecado, mas também nos protege poderosamente contra ele, ajudando-nos eficazmente a recobrar a alegria do nosso coração e, sobretudo, a alcançar a perfeição cristã.

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