O cristianismo não é uma coisa do passado, vivido como se olhássemos sempre para trás, para os tempos evangélicos, mas sempre novo, pois está marcado pela presença constante de Jesus Cristo, que está no meio de nós, e que é de hoje, ontem, amanhã e toda a eternidade. Na história da humanidade, encontramos “pegadas” de Deus. Este blogue procura, humildemente, mostrar alguma delas.
Visualizações de página na última semana
quarta-feira, 20 de março de 2024
A origem dos “capuchinhos”, os frades menores de vida eremítica
No início do século XVI, Fr. Mateus de Bascio, sacerdote da Ordem dos Frades Menores, teve uma visão em que o próprio São Francisco de Assis apareceu-lhe com vestes rudes e com um capuz pontiagudo costurado à túnica. Para o frade, a Ordem deveria observar a Regra de maneira mais restrita e vestir-se segundo a visão. Os seus superiores não o quiseram ouvir e assim, Fr. Bascio saiu secretamente do convento de Montefalcone em direção a Roma. Na Cidade Eterna, foi recebido por Clemente VII, que o autorizou a observar a Regra segundo seu desejo, a vestir o hábito que já levava e a pregar livremente. Contudo, o Provincial, São João de Fano, mandou encarcerá-lo no Convento de Farano, por ter fugido e vivido como vagabundo. Ali permaneceu por três meses. A notícia da sua detenção chegou a Catarina Cibo, duquesa de Camerino, sobrinha de Clemente VII, que o venerava, porque Fr. Mateus exercera a caridade heroicamente, durante a peste de 1523, ajudando os doentes.
Dois anos depois, o Espírito Santo continuou a tocar os corações. Deus desejava que a Ordem fosse reformada.
Dois irmãos de sangue, Fr. Ludovico e Fr. Rafael de Fossombrone, pediram permissão ao Provincial para se retirarem num convento isolado com outros companheiros, a fim de observar a Regra em toda a sua pureza. Como não foram autorizados, fugiram e refugiaram-se entre os conventuais de Cingoli. O Provincial apressou-se em conseguir um Breve Pontifício, declarando apóstatas Mateus de Bascio e os dois irmãos, que tiveram de se refugiar no Mosteiro dos Camaldulenses, em Massaccio.
Catarina Cibo, apresentou uma petição de Ludovico e Rafael a seu tio, Clemente VII, quando este se encontrava em Viterbo. Depois de prudente exame, o Papa expediu a bula "Religionis Zelus", que reconhecia juridicamente a nova fraternidade. A Ordem “Capuchinha” estava fundada. A duquesa fez publicar imediatamente o documento, na praça pública de Camerino, e em todas as igrejas dos seus domínios. A bula era dirigida a Ludovico e Rafael de Fossombrone e continha os seguintes pontos: “faculdade de levar vida recolhida, eremítica, segundo a Regra de São Francisco; usar barba; portar o hábito com um capuz piramidal; pregar livremente ao povo”. Os reformados ainda ficavam sob a proteção dos superiores conventuais, porém passaram a ter um superior próprio com autoridade semelhante à dos Provinciais. Receberam também a autorização para receber noviços, tanto clérigos como leigos.
Com a bula "Religionis Zelus" um grande número de observantes e alguns noviços uniram-se aos Capuchinhos. Com isso, foi preciso multiplicar os conventos e eremitérios e pensar numa melhor organização.
Em abril de 1529, convocou-se o primeiro Capítulo, em Albacina, formado por doze religiosos, para eleger os superiores e redigir as Constituições, que obrigavam a recitação simples do ofício divino; supressão de toda a função pública para dar mais tempo à oração mental; uma só Missa em cada convento, exceto nas festas; proibição de celebrar Missas cantadas e de receber estipêndios; proibição de acompanhar funerais e tomar parte em outras procissões a não ser a do Corpo de Deus e das Rogações.
Ficou também estabelecida a disciplina ou autoflagelação diária, depois das Matinas da meia noite; duas horas obrigatórias de oração mental para os menos fervorosos; entretanto, todos deviam rezar durante todo o tempo em que não estivessem envolvidos em outras ocupações; silêncio rigoroso em alguns tempos determinados.
Na vida diária, não se podia servir mais que um prato nas refeições; proibia-se pedir carne de esmola, queijos e ovos; mas podia-se receber donativos em espécie, quando oferecidos espontaneamente. Cada religioso tinha a liberdade de, à mesa, privar-se de carne, vinho e alimentos finos. Não eram feitas previsões para além de dois ou três dias, e diariamente se pedirá esmola.
Na conduta pessoal, os monges podiam ter uma segunda túnica, quando fosse necessária por causa do frio. O manto era usado somente pelos enfermos ou idosos. O hábito devia ser estreito e ajustado. As sandálias eram permitidas, como exceção, aos que não podiam andar descalços.
Não se admitiam avalistas ou procuradores. As casas eram edificadas fora das cidades e continuavam sempre como propriedade dos benfeitores. Na medida do possível, construía-se com vime e barro. As celas eram tão pequenas e estreitas, que mais pareciam sepulcros. Havia uma ou duas ermidas afastadas do convento para os frades que queriam retirar-se com toda a liberdade para viver em oração e levar uma vida mais rígida. Em cada casa não devia ter mais que sete ou oito religiosos. Nos conventos mais importantes, podia-se chegar no máximo a dez ou doze. As igrejas eram pequenas e pobres.
Finalmente, os superiores deviam enviar, com frequência, pregadores a evangelizarem, mas estes não podiam aceitar retribuição alguma pelo seu ministério. A pregação deveria ser simples e sincera. Cada pregador não devia ter mais que um ou dois livros. Só era permitido o estudo da Sagrada Escritura e dos autores sacros. Os religiosos ouviam confissões somente em caso de extrema necessidade.
Em Albacina, Mateus de Bascio foi eleito Vigário-Geral, contra a sua vontade, renunciando em seguida, para melhor seguir a sua vocação de pregador ambulante. Assim, o governo da Ordem passou para Ludovico de Fossombrone.
A designação de frades menores de vida eremítica, expressa na Bula de aprovação e adotada no cabeçalho das Constituições de Albacina, não vingou. Quando os reformados apareceram, pela primeira vez, nas ruas de Camerino com o novo hábito e com a barba longa, os jovens tomaram-nos por ermitãos errantes e seguiam-nos gritando: Scapuccini! Scapuccini! Romiti! Romiti! (Eremitas Encapuçados!) O povo começou a chamá-los por esse nome, devido ao longo capuz adotado. Posteriormente, também os escritores e, desde 1534, os documentos pontifícios usam esta denominação.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário