A expressão "Filho
do Homem" é um hebraísmo difícil de entender, mas podemos deduzir que se
trata dum título messiânico.
Encontramo-la na célebre
visão em que o Profeta Daniel (7,13-14) vê vir sobre as nuvens do céu "um como filho do homem" a quem
foi dado "o domínio e a honra e o reino
(...) um domínio eterno que não passará e um reino que não se destruirá". Já daqui podemos
deduzir que se trata dum tratamento especial que não pode ter o
significado de simples homem.
A visão de Daniel não se
refere a um homem como qualquer outro, mas a um homem extraordinário a quem o
"Ancião dos Dias", Deus, confere o seu poder para o enviar à Terra e aí estabelecer o seu reino - prerrogativas do
Messias esperado pelo povo escolhido.
Trata-se pois dum título
messiânico que aparece dezenas de vezes, nunca aplicado a mais ninguém senão a
Jesus Cristo e - caso curioso - sempre por Ele atribuído a Si mesmo.
Só uma vez este
apelativo lhe foi dado por outro, por S. Estêvão
quando, ao morrer apedrejado, exclama: "Vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé, à
direita de Deus".
Ao atribuir-Se a Si,
tantas vezes, este título messiânico, Cristo queria chamar a atenção (a par da
sua origem e natureza divina, revelada em tantos milagres) para a sua natureza
humana e acentuar a sua qualidade messiânica. Na resposta dada a Caifás, durante o julgamento no Sinédrio,
vemos de modo bem explícito a natureza divina do Filho do Homem, ao dizer:
"Vereis em breve o Filho do Homem
sentado à direita da majestade divina e vindo sobre as nuvens do céu" (Mt 26,63-64).
Podemos mesmo afirmar
que "Filho do Homem" acentua mais a sua divindade do que a
humanidade: por exemplo, quando diz que "o Filho do Homem tem poder para perdoar os
pecados" (Mc2,1C).
O mesmo se diga quando
afirma que "o Filho
do Homem é senhor do sábado" (Mc
2,27).
E ainda: "Se não comerdes a carne do
Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós" (Jo 6,53).
É esse mesmo Filho do
Homem quem tem o poder de ressuscitar no último dia os que aceitarem esse
convite (54), porque quem comer a sua carne "viverá por Ele" (57).
Concluindo: Embora não
saibamos porque é que Jesus, para se referir a Si, escolheu a expressão
"Filho do Homem" em vez de "Filho de Deus", sabemos que
"Filho do Homem" não nega, antes implica a divindade. Aliás, Jesus provou a sua divindade, de
muitos modos, e até com toda a solenidade diante do Sinédrio.
Quando o Sumo Sacerdote
lhe diz: "Intimo-te,
por Deus vivo, que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus",
Jesus, saindo do silêncio a que se votara, responde: "É como dizes. E Eu digo-vos:
vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Poder, vindo sobre as
nuvens do céu".
Uma afirmação tão
explícita, que o sumo sacerdote a declarou blasfémia
(Mt 26,63-64).
Quando, a seguir, O
acusaram diante do tribunal romano, foi "porque Se fez Filho de Deus" (Jo 19,7) não em sentido figurado
(porque isso não era crime) mas em sentido real.
(Revista Magnificat - pág. 9 e 10 - Fevereiro de 2003 - Braga - Portugal)
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