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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A ternura e veneração do Stille Nacht


https://www.youtube.com/watch?v=WxrBhZvvSIQ

Um povo conhecido no mundo inteiro sobretudo como filosófico e militar, mais militar do que filosófico, é o povo alemão. Destacando‑se como um povo militar, eles são o povo da bravura, do blitzkrieg, da proeza militar, como já foram em certo sentido o povo da cavalaria e povo das cruzadas.
Agora, eles ao mesmo tempo têm uma delicadeza de alma para a canção de Natal de tal maneira, que eles compuseram a canção de Natal universal. Quer dizer, o Stille Nacht, heilige Nacht passou a ser a canção de Natal cantada no mundo inteiro.
Agora, por quê? Eles imaginaram o sentimento de ternura que deveria despertar em alguém que visse no Presépio uma criança fraquinha, com todas as debilidades físicas da infância, chorando, com frio, mas sendo o próprio Deus!
Imaginem um país de regime monárquico que estava nas condições em que estava a Espanha no tempo de Alfonso XIII. Quer dizer, o rei morreu, o filho não tinha nascido, mas a rainha anunciou que ela já tinha concebido. Era Alfonso XIII no claustro materno. Quando nasceu, era o rei de todas as Espanhas, uma criança que cabia no berço.
Pode-se conceber que esse contraste desperta ternura, compaixão, toda espécie de delicadeza de sentimentos.
Mas o que dizer quando se trata do Homem‑Deus? O que é um rei da Espanha, ou qualquer outro  grande do mundo, em comparação com o Menino‑Deus? Não é nada, absolutamente. Entretanto, tão fraco… e depois, destinado a sofrer tanto! Quando abre os seus braços para as pessoas, já forma uma cruz; e faz pensar na dor insondável pela qual vai passar... Depois, toda a ternura que O levou a isso por nós, para o nosso bem, para a nossa salvação, sem outra finalidade a não ser essa.
Tudo isso desperta a ternura no mais alto grau. E num paradoxo, porque é a ternura para com Deus! A ternura e a compaixão para quem é infinitamente mais do que nós é um sentimento paradoxal. Altamente paradoxal. Vejam bem, não é contraditória, é paradoxal. E, portanto, tem que ser uma compaixão altamente delicada, uma compaixão de um alto critério de sentimento para ser digna de ser apresentada àquele que de fato merece essa compaixão, mas que é Deus!
Então, essa é a fórmula. A compaixão humana para o que há de mais delicado, mas ao mesmo tempo admirativa e súplice. Aquele que tem pena, fazendo um pedido Àquele de quem tem pena... é outro paradoxo! Isso é de uma grande beleza.
Em qualquer canção de Natal alemã esses sentimentos estão ligados magnificamente, e formam o espírito do Natal alemão. Esse Natal lucra em ser considerado não só como Natal que foi na Terra Santa no dia em que Nosso Senhor nasceu, mas o Natal como o alemão o festeja. Quer dizer, tem que se imaginar a igrejazinha, a paroquiazinha toda coberta de neve, com o relógio iluminado por dentro, que está indicando 10 para a meia‑noite; os aldeões que estão vindo com os tamancos grandes, porque a neve está enchendo o caminho, e ainda caem os flocos; a igreja está bem aquecida. Todo o mundo entra depressa, para poder tirar os seus capotes e se sentir mais à vontade.
Ao longe estão as casinhas da aldeia, e vêem-se as fumaças que sobem das chaminés, e é a festa de Natal que já está preparada, a lareira que está acesa, as delícias que já estão no forno... As suculentas, deliciosas e substanciosas delícias da culinária alemã que estão no forno, e é a festa de Natal que segue à festa litúrgica.
Tudo isso constitui dentro da inocência da neve um quadro só, que completa os sentimentos da canção de Natal alemã.
Vamos ao Stille Nacht. Eu vou chamar atenção antes de começar para esse misto de submissão de espírito, reverência e compaixão de um lado, e de outro lado alta cogitação. Começa “Stille Nacht... heilige Nacht...” E acompanha-se na música as alternativas. Cada vez que é baixo, é a ternura vigilante que pousa sobre o berço, que nada toque no Menino, que nada moleste o Menino. Deixe o Menino... O Menino está chorando, mas a Mãe o consola... Aquele desvelo! Mas depois, em certo momento, a ideia de que é Deus que está ali. Então... “heilige Nacht!” É preciso dizer que a tradução portuguesa não dá bem o sentido da palavra alemã, e desnatura. Só para fazer versinho de pé quebrado em português eles se afastam do texto alemão. O alemão tem outro sabor.
O schlaf in himmlischer Rhu quer dizer “dorme em celestial tranquilidade”. O pensamento é: o Menino está dormindo, mas a tranquilidade com que Ele dorme, aquele Menino lá não é um Menino da Terra, é um Menino do Céu. A tranquilidade dEle é a tranquilidade do céu. Então, uma ênfase dada na palavra himmlischer, que quer dizer celeste.
O próprio dessa canção é que a própria inflexão da voz, faz um comentário do sentido da palavra que está sendo cantada. Schlaf in himmlischer Rhu, dorme em celestial tranquilidade. Primeiro diz mais alto: dorme em celestial tranquilidade! Depois, para acentuar a ideia de quem está dormindo ali... então, é mais baixo: schlaf in himmlischer Rhu...
Eu gosto muito da música quando cada nota comenta um sentido da palavra. Isso vai muito de acordo com meu gosto de música. Na canção, tão despretensiosa, Stille Nacht, que um técnico de música dirá que é uma cançãozinha popular, eu não ligarei, eu não me incomodo com a técnica. Eu a respeito de passagem e de longe!
Aqui há um conceito de música, que é só superado pelo Gregoriano e por Tomás Luis de Victoria. Uma beleza!
Plinio Corrêa de Oliveira, palavras sem correções do autor durante um jantar no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 3 de Janeiro de 1989.

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