Caro Pai Natal,
Você chegou
até à nossa terra vindo dos países germânicos, onde é conhecido pelo nome de
Santa Claus.
Mas duvido
que mesmo nessas terras de onde o importamos, as pessoas ainda saibam que se
você aparece vestido dessa maneira é porque foi bispo em Mira, na Ásia Menor. E
foi numa das viagens que fez a caminho do Concílio de Niceia, em 325, ( o
primeiro Concílio Ecuménico onde se definiu a Encarnação do Verbo Divino
em Jesus de Nazaré ) que se tornou protetor das crianças e jovens.
Hoje você
está reduzido a um velho bonacheirão que colocaram à porta dos mercados, para
promover o comércio de Natal. Numa sociedade mercantilista você
deixou de promover o bem das crianças e dos jovens, tão necessitados de
proteção e arrimo, para passar a ser apenas o promotor do consumismo
materialista em que deixamos cair o Natal. E que você ainda usa o nome.
O São
Nicolau ficou lá para trás e já não fala de Jesus às crianças e jovens. Apenas
lhes acena com falsas promessas de prendas materiais, que a lógica comercial
nos quer impingir e que não passa, tantas vezes, de um convite para um
esbanjamento de recursos financeiros que bem poderiam ter melhor destino.
Sabe o que
lhe digo?
Vá-se
embora, com o seu trenó e as suas renas que não têm nada a ver connosco.
Assim
travestido de Pai Natal que não é pai, nem anuncia o verdadeiro Natal, não
precisamos de você aqui.
Vá-se
embora, que já temos gente suficiente para desfigurar a santidade do Natal,
transformando-o em festa de comilanças e desperdício, sem lugar para Jesus.
Vá-se embora
e deixe-nos ficar com o Menino Jesus que faz melhor do que você e também traz
presentes para o sapatinho da chaminé.
Deixe-nos
com o encanto desse Menino que cada um pode colocar no Presépio da sua
imaginação, sem precisar de recorrer a um consumismo despojado de sentido.
Deixe as
nossas crianças voltarem a sonhar com esse Menino-Deus, que nos traz sobretudo
promessas de reconciliação e de paz, para todos os que ainda forem capazes de
guardar um pouco de boa vontade no seu coração.
Deixe-nos de
uma vez para sempre, na celebração de uma Fé que moldou este continente
europeu e que por causa dela, atravessou os oceanos para evangelizar
outros povos.
Deixe-nos em
paz na meditação dessas raízes que nos querem fazer esquecer o que você, assim
travestido, também não pode nos devolver.
Sobretudo
não retire o lugar àquEle Jesus que o seu antepassado São Nicolau anunciou e
tão bem serviu.
Cónego
Carlos Paes, Igreja São João de Deus, Lisboa – Natal de 2003
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