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domingo, 10 de julho de 2022

São Marcos Ji Tianxiang: Um santo pouco conhecido, viciado em ópio, mas que nunca perdeu a fé

 


Todos nós somos atormentados por vícios e defeitos dos quais, por alguma razão, parece nunca conseguirmos libertar-nos. Por causa desses pecados, continuamente magoamo-nos – e pior ainda, magoamos os nossos entes queridos, os nossos amigos, os nossos cônjuges e os nossos filhos. Muitos de nós católicos, por causa deles, voltamos repetidamente ao confessionário, frustrados por continuarmos confessando os mesmos pecados de sempre.

Isso não quer dizer que não saibamos, no fundo do coração, que essas afeições são erradas. No entanto, às vezes algo em nós não quer assumir o compromisso de mudar. E assim rezamos como o jovem Santo Agostinho: “Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora!”

Mas esta não é a única razão para o nosso fracasso em mudar. De facto, às vezes não é por causa de qualquer apego ou falta de vontade consciente, mas apenas pela experiência incapacitante da nossa própria incapacidade. Sem a graça de Deus, somos espiritualmente coxos, e esse facto faz-se sentir dolorosamente nos nossos repetidos fracassos, que continuam a infligir dor aos nossos entes queridos e a nós mesmos. Infinitamente frustrados pelos nossos próprios fracassos, rezamos uma oração ligeiramente diferente daquela que Santo Agostinho rezou quando era jovem. Confrontados com a nossa incapacidade, aproximamo-nos do Senhor quando estamos perto do ponto de total desânimo e rezamos: “Ó Senhor, faça-me santo AGORA!”

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Podemos inspirar-nos para esta oração num santo muito menos conhecido: o mártir chinês São Marcos Ji Tianxiang, um cristão devoto e médico do final do século XIX. O que diferencia Ji de muitos outros santos é que ele morreu atolado num vício do qual nunca conseguiu libertar-se: o vício paralisante do ópio. Depois de contrair uma dolorosa doença estomacal, automedicou-se com a droga viciante e viu-se irreparavelmente dependente dela pelo resto da vida.

Enquanto os avanços na medicina moderna permitem-nos ver o vício como uma doença a ser curada ou controlada, Ji e os seus entes queridos certamente experimentaram a sua dependência como uma falha moral também.

A devoção de Ji à fé católica nunca diminuiu, apesar do seu vício ao ópio. Ele voltava fiel e frequentemente ao confessionário, trazendo o seu pecado diante de Nosso Senhor e pedia-Lhe perdão. No entanto, seu vício também nunca o deixou. Não importa quantas vezes ele se confessou, e não importa quantas vezes ele pronunciou a sua resolução de mudar de vida. Ele continuava a cair sempre no vício. Aqueles ao seu redor, incluindo a sua família, seus amigos e até mesmo o padre a quem ele confessava regularmente os seus pecados, suspeitavam que ele tinha abandonado todo o desejo de viver uma vida verdadeiramente cristã, virtuosa. De fato, o confessor chegou até a proibi-lo de receber os sacramentos até que se tivesse libertado do vício. Essa situação continuou por 30 anos – e ainda assim, em todo esse tempo, Ji permaneceu comprometido com a sua fé e com a Igreja. Ele nunca abandonou a sua esperança na graça de Deus.

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Santo Agostinho ensinou que o desejo de rezar sempre é equivalente a orar sempre de fato. Obviamente, sendo criaturas temporais, não podemos rezar literalmente com as nossas palavras a cada momento do dia. Devemos dormir, comer, caminhar, trabalhar, ocupar-nos de inúmeras atividades que acarretam interações sociais, etc. Os homens não são de facto tão proficientes em realizar multitarefas, então a injunção de São Paulo para se rezar sempre parece impraticável. No entanto, a solução simples de Agostinho para esse problema é a de afirmar que o desejo em si conta. Desenvolver uma vida de oração saudável e holística é, portanto, uma questão de cultivar esse desejo e manter a chama sempre viva.

Da mesma forma, a santidade é, em última análise, uma questão de ter um desejo sincero por Deus. O desejo sincero de ser santo é em si um sinal de que Deus já plantou as sementes da santidade no coração da pessoa. Por causa disso, o pecador que tem este desejo pode estar confiante na graça salvadora de Deus.

Isso não quer dizer, obviamente, que ele pode ser presunçoso e tomar a graça divina como certa e continuar a pecar sem qualquer resolução real para mudar de vida. Esta é a atitude que caracterizou a oração defeituosa do jovem Agostinho: “Faça-me santo, mas não agora”. É a disposição de quem diz a si mesmo: “Está tudo bem, continua a pecar. Ainda não é preciso mudar de vida!”.

No entanto, se a pessoa está consciente de que precisa de mudar de vida já, confia na graça de Deus e alimenta um desejo sincero dentro de si mesmo de ser santo, a oração “torna-me santo agora” não significa presunção, mas manifestação da virtude teologal da esperança e, portanto, contém as próprias sementes da santidade. O pecador que reza assim, sinceramente, pode assegurar-se de que “está tudo bem” – não que esteja tudo bem, por ele ser imperfeito e continuar pecando, mas porque é imperfeito e precisa mudar. Pois ele é amado por Deus e, desde que responda a esse amor com sinceridade de coração, pode ter a certeza de que Deus o mudará - embora o tempo de Deus, não seja o mesmo dele.

E foi o que aconteceu com São Marcos Ji Tianxiang, celebrado pela Igreja no dia 7 de julho.

Em 1900, surgiu na China a violenta Rebelião dos Boxers, que pretendia expulsar pela força todos os estrangeiros e colonialistas da China. Inevitavelmente, a presença do cristianismo ali passou a ser percebida pelos rebeldes como herança do colonialismo ocidental, e assim a rebelião também levou muitos cristãos ao martírio. Milhares foram massacrados, Ji e sua família entre eles. Ainda viciado em ópio, Ji mostrou uma coragem maravilhosa diante dos seus carrascos e implorou para ser morto por último para poder ficar com cada um dos membros da sua família, confortando-os enquanto eram decapitados um a um. Finalmente, ele também foi decapitado, enquanto entoava confiantemente a Ladainha à Santíssima Virgem.

A história de São Marcos Ji Tianxiang faz um contraste interessante com a de Santo Agostinho, que viveu na lama do vício durante a sua juventude – enquanto fazia a oração insincera da presunção – mas acabou sendo salvo desses vícios pela intervenção milagrosa de Deus. Ji, pelo contrário, nunca se libertou dos seus vícios, mas manteve fielmente uma sincera devoção, do fundo do coração, até ao momento do seu heroico martírio. Ji foi salvo dos seus vícios apenas no momento da sua morte - confirmando que o tempo de Deus, não era o seu e que a sua esperança não era vã.

Jonathan Culbreath 06 de julho de 2022, traduzido do inglês da revista “America”, com pequenas adaptações.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Quem resiste à calúnia?

 


Segundo um ditado português, a calúnia é como o carvão, quando não queima, suja a mão.

Um professor de música dos filhos do Rei Luís XV, chamado Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, escreveu em 1775 uma comédia para teatro intitulada “O Barbeiro de Sevilha”, transformada em ópera por Giovanni Paisielo em 1782 e mais tarde, em 1816, orquestrada também por Rossini. Nela, encontramos uma descrição clara e viva de como se espalha uma calúnia:

“A calúnia? Oh! O senhor não sabe o que desdenha. Já vi as mais honradas pessoas quase aniquiladas por ela. Creia-me que não há maldade banal, horror, história absurda, que não se consiga, com algum jeito, propalar entre os ociosos de uma cidade grande; e temos aqui gente de uma habilidade!… Primeiro, um leve ruído, como uma andorinha rasando o chão antes da tempestade, pianíssimo murmura e toma voo, e semeia correndo o traço envenenado. Uma boca o recolhe e, piano, piano, insinua-o habilmente num ouvido. O mal está feito, ele germina, alastra-se, caminha, e rinforzando de boca em boca, segue o seu destino; depois de repente, não se sabe como, vê-se a calúnia erguer-se, silvar, inflar-se, crescer a olhos vistos; ela lança-se, alarga o seu voo, turbilhona, envolve, arranca, arrasta, rebenta e reboa, e torna-se, graças ao Céu, num clamor geral, num crescendo público, num coro universal de ódio e proscrição. Quem lhe resistiria?”

“O Barbeiro de Sevilha”, Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais,  ato II, cena 8

sábado, 26 de março de 2022

Oração pela paz


 

Ó Mãe de Deus e Mãe nossa, Padroeira da Ucrânia, nestes tempos de guerra, o nosso coração volta-se para Vós!

Socorrei os vossos filhos ucranianos, tão necessitados da vossa maternal proteção. Ponde-Vos ao seu lado, dando-lhes força e ânimo para enfrentar com coragem as misérias e as agruras da guerra, e confortai-os nas dores e sofrimentos indizíveis que padecem. Tende piedade de tantas mães, angustiadas pelo destino dos seus filhos, de tantos órfãos, de milhares de cidadãos comuns que se tornaram soldados sem preparação. Tende piedade da Ucrânia, sobre a qual se avizinha tanta ruína!

Incuti-lhes a firme confiança, no Vosso socorro e triunfo final, ó Mãe de Misericórdia.


(Rezar 3 Ave-Marias).

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O discurso violento é contraproducente: o exemplo de Benjamim Franklin

Se ao apresentar as suas ideias usa palavras violentas, gosta de contradizer o seu interlocutor, tem muita facilidade nas polémicas, mas vê que o resultado não é sempre positivo, conheça a sugestão que Benjamim Franklin, estadista e um dos fundadores dos Estados Unidos, deixou na sua autobiografia. Estas linhas são também muito valiosas para quem pretende envolver-se em algum projeto associativo, pertencer a algum clube, ou partido político.

Na sua juventude, Franklin tinha muitos inimigos e desconhecia a razão.

Com o passar dos anos, deu-se conta de que a causa estava na sua maneira de falar. Como acreditava naquilo que dizia, exprimia-se com convicção e grande segurança. Ora, isto dava-lhe um ar de arrogância, parecendo querer impor aos outros as suas opiniões e julgamentos. Em determinado ponto da sua vida, deu-se conta de que esta maneira de se exprimir era muito prejudicial para as suas ideias e que precisava mudar.

Assim, criou para si uma regra: nunca contradizer diretamente a opinião dos outros, nem de sustentar as suas com muita resolução. Passou a não usar mais palavras, nem expressões que poderiam dar a impressão de que tinha uma ideia fixa, uma teoria que não podia ser melhorada. Baniu do seu vocabulário corrente as palavras: “certamente”, “sem dúvida”, etc., e substitui-as por “presumo”, “parece-me”, “imagino que queira dizer”, “tem-se a impressão de que”.

Se alguém lhe apresentava uma proposta que lhe parecia um erro, continha-se e não tinha o prazer de contradizer rápida e friamente, mostrando o quão absurda era aquela teoria ou ideia. Pelo contrário, começava por procurar aspetos positivos daquela proposição, procurava explicar que em circunstâncias específicas até seria acertada, mas que no momento atual, lhe parecia haver uma diferença a ser considerada, etc.

Aos poucos, o grande estadista, começou a perceber as enormes vantagens da mudança de tom. A conversa ficou mais agradável para os seus interlocutores; a maneira mais modesta de enunciar as suas opiniões, fez com que fossem mais facilmente aceitas as suas propostas, e sem contradições; fez com que se mortificasse menos, quando errava, ou se via contrariado pela realidade; e, sobretudo, fez com que os outros mais facilmente abandonassem os seus erros e aderissem às suas ideias.

Ele não adotou este método sem violentar a sua propensão natural, mas com o tempo ela tornou-se fácil e habitual, a tal ponto que, depois de cinquenta anos de uma vida muito ativa, como escritor, tipógrafo, político, inventor, cientista, estadista e diplomata, as pessoas testemunharam não ter nunca ouvido sair da sua boca uma ideia que não se pudesse melhorar.

Foi este bom hábito, antecedido por uma certa reputação de integridade moral, o fator predominante para alcançar confiança junto dos americanos. Quando ele propunha ou alguma instituição nova ou a reforma de velhas estruturas administrativas e públicas, o povo acreditava nele.

Alguém poderia pensar: Benjamim Franklin era um grande orador e para este tipo de pessoas, tudo é mais fácil. Ora, isto não é verdade. Ele mesmo afirma ter sido uma pessoa sem eloquência, hesitante na escolha das palavras, medianamente correto na linguagem, mas que convencia quando falava.

Assim devemos ser nós, do que adianta defendermos boas ideias, bons ideais e até as verdades da nossa Fé, se não conseguimos convencer ninguém? Talvez, seja preciso mudar o tom do nosso discurso... Sem pactuar, é claro, com o erro!





quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

As palavras movem, mas os exemplos arrastam



Encontramos na vida de São Francisco de Assis um facto que atesta, como o exemplo toca muito mais os corações do que as palavras.

Certa vez, São Francisco chamou Frei Leão e disse-lhe:

— Meu irmão, vamos pregar!

Depois de longos passeios pelas ruelas pitorescas de Assis, voltaram ao convento.

"Pai", disse o jovem monge ao santo, "não íamos pregar?"

"Meu filho", respondeu São Francisco, "durante este passeio, pregamos".

"Como, meu pai?" disse o jovem monge atônito.

"Pela nossa pobreza e modéstia", acrescentou o santo.

São Francisco quis assim fazer com que este religioso, ainda noviço, entendesse que o exemplo muitas vezes equivale a uma longa e boa pregação.

Outro exemplo que ilustra a força do exemplo, remonta à época das missões do Japão.

Um religioso da Companhia de Jesus pregava numa praça pública. Uma grande multidão ouvia-o com atenção, interesse e até avidez, quando um dos assistentes se aproximou do orador e cuspiu-lhe na face.

O santo religioso, sem se comover, enxugou o rosto e continuou o sermão.

Os ouvintes, tomados de admiração, comentaram entre si:

"Uma religião que dá forças suficientes para aceitar sem se queixar de tamanha ignomínia, só pode ser divina!..."

E um grande número de pagãos converteu-se mais pelo gesto do que pelas palavras.

E nós! Qual o exemplo que damos quando saímos à rua, vamos ao trabalho, passeamos ou quando estamos em família, entre amigos ou até com desconhecidos?

A nossa maneira de vestir, as nossas conversas, os nossos gestos são coerentes com o que professamos e acreditamos? Ou acabamos por dar mal exemplo e sermos como o Frei Tomás do provérbio popular, que predica e pede para as pessoas fazerem aquilo que ele diz e não o que faz?”


sábado, 8 de janeiro de 2022

Cristo Protetor, a maior imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo do Brasil

Cristo Protetor - Agencia Leonardo Capitanio - Konce
Uma imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo está a ser levantada na cidade de Encantado, no Estado brasileiro do Rio Grande do Sul e será o maior Cristo do Brasil, superando até o tamanho da imagem do Corcovado, no Rio de Janeiro.

Trata-se de um “Cristo Protetor”, nascido da fé e devoção do povo, que medirá 43,5 metros de altura e cuja envergadura dos braços terá 39 metros.

Nos últimos dias de 2021, o governador do Estado e o prefeito da cidade de Taquari assinaram um acordo para a construção das estradas e dos acessos pedonais, que darão acesso ao monumento.

No dia 22 de dezembro, o coração do Cristo Protetor foi concluído e espera-se que a inauguração da estátua aconteça em janeiro de 2022. 

Catholic nurse unfairly dismissed over cross necklace, UK tribunal rules

A Catholic nurse was unfairly dismissed by a U.K. hospital trust for wearing a cross necklace, an employment tribunal ruled this week.


In a decision published on Jan. 5, the tribunal said that the trust’s treatment of Mary Onuoha was “directly discriminatory.”

The campaign group Christian Concern hailed the verdict as a “landmark ruling” strengthening the legal principle that employers cannot discriminate against employees for “reasonable manifestations” of faith in the workplace.

Onuoha was forced to leave her job as a National Health Service (NHS) theater practitioner at Croydon University Hospital in south London in June 2020 after a two-year battle with her employers over wearing the cross.

With support from the Christian Legal Centre, Christian Concern’s legal ministry, she took her case against Croydon Health Services NHS Trust to an employment tribunal.

At a hearing in October 2021, the trust argued that the cross necklace had presented an infection risk. But the tribunal concluded that the risk was “very low.”

It added that there was “no cogent explanation” of why religious head coverings such as hijabs and turbans were permitted under the dress code and uniform policy, but “a fine necklace with a small pendant of religious devotional significance is not.”

Christian Concern said that Onuoha, who was born in Nigeria and moved to the U.K. in 1988, was delighted and relieved by the ruling.

Andrea Williams, chief executive of the Christian Legal Centre, commented: “From the beginning, this case has been about the high-handed attack from the NHS bureaucracy on the right of a devoted and industrious nurse to wear a cross — the worldwide, recognized and cherished symbol of the Christian faith. It is very uplifting to see the tribunal acknowledge this truth.”

“It was astonishing that an experienced nurse, during a pandemic, was forced to choose between her faith and the profession she loves.”

“Any employer will now have to think very carefully before restricting wearing of crosses in the workplace. You can only do that on specific and cogent health and safety grounds. It is not enough to apply general labels such as ‘infection risk’ or ‘health and safety.’”

The U.K. has seen a number of high-profile cases of employers demanding that employees remove or cover cross necklaces.

In 2013, the European Court of Human Rights ruled in favor of Nadia Eweida, a Coptic Christian who was asked by her employer British Airways to cover up her white gold cross.

But the court declined to support Shirley Chaplin, a nurse who was told by the Royal Devon and Exeter NHS trust hospital not to wear a cross necklace, on health and safety grounds, that she had worn to work for 30 years.

“We are delighted that the tribunal have ruled in Mary’s favor and delivered justice in this case,” Williams said.

“Shirley Chaplin, who also fought for the freedom to wear a cross necklace 10 years ago has also now been vindicated.”

Catholic News Agency, London, England, Jan 7, 2022

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Amar a Deus por interesse

A festa de Baltazar - John Martin,
Yale University Art Gallery, New Have, Connecticut, USA

Se a prosperidade e os bens temporais estivessem ligados à virtude, não amaríamos a Deus por ser o nosso Criador e Senhor do Céu e da Terra, mas procuraríamos amá-Lo por interesse.

Santo Agostinho assim explicou este problema:

Algumas pessoas, quando vêm os inimigos de Deus e os libertinos no meio das riquezas, pensam: “Tenho servido a Deus por muito tempo, guardado os Seus mandamentos e cumprindo todos os deveres da religião. No entanto, meu destino ainda é o mesmo; os meus negócios não são os mais prósperos, e até parece que Deus se encarrega de os contrariar. Pelo contrário, os que vivem no mal, sem regras, sem religião, não param de gozar de uma saúde férrea, acumulando bens atrás de bens, sendo honrados e distinguidos”.

Mas um verdadeiro católico deve amar a Deus por causa da saúde do corpo, dos bens e das honras? É claro que não. A privação de todas estas coisas, muitas vezes, acontece para que se aprenda a amá-Lo não pelo que Ele dá, mas pelo que Ele é!

Acrescenta ainda Santo Agostinho que, se uma pessoa é justa, vive na amizade com Deus, em estado e ordem da Graça.

Ora, como esta Graça, que é uma participação criada na vida incriada de Deus, nos é dada de forma totalmente gratuita, não devemos amá-Lo por outra recompensa senão a de O receber, como ensina o livro da Génese: “Serei Eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande” (Gn 15, 1).

Realmente, se pensarmos bem, se os bens da terra estivessem ligados ao cumprimento dos Mandamentos e à nossa vida espiritual, o nosso amor passaria de autêntico para uma espécie de amor mercenário.

Assim, quanto mais reclamamos quando Deus recusa de nos dar, ou retira de nós, os bens materiais, mais devemos considerar o quanto eles seriam perigosos, caso os possuíssemos!

Vale a pena pensar nisto!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Ricominciare sempre


All’inizio di un nuovo anno, ricordiamo un importante consiglio di San Leone Magno:

Non ti arrendere mai,

neanche quando la fatica si fa sentire,

neanche quando il tuo piede inciampa,

neanche quando i tuoi occhi bruciano,

neanche quando i tuoi sforzi sono ignorati,

neanche quando la delusione ti avvilisce,

neanche quando l'errore ti scoraggia,

neanche quando il tradimento ti ferisce,

neanche quando il successo ti abbandona,

neanche quando l'ingratitudine ti sgomenta,

neanche quando l'incomprensione ti circonda,

neanche quando la noia ti atterra,

neanche quando tutto ha l'aria del niente,

neanche quando il peso del peccato ti schiaccia...

Invoca il tuo Dio, stringi i pugni, sorridi... e ricomincia!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O diadema da glória

 

O Santíssimo Cristo de Burgos

Venera-se em Burgos, na Espanha, um crucifixo milagroso, diante do qual várias gerações ajoelharam-se para agradecer milagres recebidos ou para recorrer à divina proteção.

Uma antiga lenda atribui a sua autoria a Nicodemos, defensor de Nosso Senhor Jesus Cristo diante do Sinédrio e aquele que, juntamente com José de Arimateia, ajudou na preparação do cadáver do Divino Redentor para o enterro no Sepulcro (Jo 19, 39-42). Ele teria moldado o crucifixo sobre o corpo de Nosso Senhor, quando estava a ser retirado da Cruz.

Outra lenda, escrita por um Barão da Boémia, León de Rosmithal de Blatna, entre os anos 1465 e 1467, conta que ele teria sido encontrado, quando uns marinheiros de Burgos se depararam com um galeão vazio, no qual só havia uma caixa, contendo um crucifixo e umas tábuas com os dizeres: “Qualquer que seja a costa em que o navio aportar, ponha a representação do Nosso Salvador Crucificado num lugar decoroso”. Assim, o Santo Cristo de Burgos, com pelos e unhas naturais, braços e pernas articuláveis, as articulações e a ferida do costado recobertas com pele curtida de animal, teria sido levado ao Mosteiro Real de Santo Agostinho.

Durante a Guerra da Independência, o crucifixo foi transladado para a Catedral e depois voltou para o Mosteiro. Entretanto, com a chamada “Desamortização de Mendizábal”, quando se decretou a supressão de todos os Mosteiros de Ordens monacais e militares, voltou definitivamente para a Catedral de Burgos.

Nosso Senhor operou vários milagres, através deste crucifixo. O mais conhecido, foi a cura de Pedro Girón, Conde de Ureña, que tinha uma grave ferida aberta durante a guerra de Granada. Como agradecimento, mandou fazer uma coroa de ouro para ser colocada na cabeça do Crucificado e levou a antiga coroa de espinhos, como relíquia. Contudo, Nosso Senhor terá recusado portar uma coroa de ouro, sacudindo a cabeça e fazendo com que a mesma caísse ao chão, mostrando aos homens que Deus quer ser adorado como Aquele que não poupou sofrimentos por amor a cada de nós.

Conhecendo a história do Santo Cristo de Burgos e venerando-O, uma pergunta vem imediatamente à nossa cabeça: E nós? Se nos fosse dada a possibilidade de escolhermos, desejaríamos uma coroa de ouro, com muitas pedras preciosas, ou compreenderíamos a necessidade de aceitarmos a nossa coroa de espinhos e os nossos sofrimentos, com paciência e resignação, por amor de Deus?

Rezemos e peçamos a Nosso Senhor crucificado que nos dê força, coragem e a compreensão de que a alegria celeste, eterna, é conquistada com as dores passageiras, que suportamos neste mundo, em união com o nosso Redentor. Se assim fizermos, dia virá em que Nosso Senhor Jesus Cristo, com as suas mãos puríssimas e paternas, tocarão os nossos espinhos e, sob o efeito do seu divino contacto, o diadema da dor e da humilhação, tornar-se-á diadema de glória!