O Santíssimo Cristo de Burgos |
Venera-se em Burgos, na Espanha, um crucifixo milagroso,
diante do qual várias gerações ajoelharam-se para agradecer milagres recebidos ou
para recorrer à divina proteção.
Uma antiga lenda atribui a sua autoria a Nicodemos, defensor
de Nosso Senhor Jesus Cristo diante do Sinédrio e aquele que, juntamente com José
de Arimateia, ajudou na preparação do cadáver do Divino Redentor para o enterro
no Sepulcro (Jo 19, 39-42). Ele teria moldado o crucifixo sobre o corpo de
Nosso Senhor, quando estava a ser retirado da Cruz.
Outra lenda, escrita por um Barão da Boémia, León de Rosmithal
de Blatna, entre os anos 1465 e 1467, conta que ele teria sido encontrado,
quando uns marinheiros de Burgos se depararam com um galeão vazio, no qual só
havia uma caixa, contendo um crucifixo e umas tábuas com os dizeres: “Qualquer
que seja a costa em que o navio aportar, ponha a representação do Nosso
Salvador Crucificado num lugar decoroso”. Assim, o Santo Cristo de Burgos, com
pelos e unhas naturais, braços e pernas articuláveis, as articulações e a
ferida do costado recobertas com pele curtida de animal, teria sido levado ao
Mosteiro Real de Santo Agostinho.
Durante a Guerra da Independência, o crucifixo foi transladado
para a Catedral e depois voltou para o Mosteiro. Entretanto, com a chamada “Desamortização
de Mendizábal”, quando se decretou a supressão de todos os Mosteiros de Ordens
monacais e militares, voltou definitivamente para a Catedral de Burgos.
Nosso Senhor operou vários milagres, através deste crucifixo.
O mais conhecido, foi a cura de Pedro Girón, Conde de Ureña, que tinha uma
grave ferida aberta durante a guerra de Granada. Como agradecimento, mandou fazer
uma coroa de ouro para ser colocada na cabeça do Crucificado e levou a antiga
coroa de espinhos, como relíquia. Contudo, Nosso Senhor terá recusado portar uma
coroa de ouro, sacudindo a cabeça e fazendo com que a mesma caísse ao chão, mostrando
aos homens que Deus quer ser adorado como Aquele que não poupou
sofrimentos por amor a cada de nós.
Conhecendo a história do Santo Cristo de Burgos e venerando-O,
uma pergunta vem imediatamente à nossa cabeça: E nós? Se nos fosse dada a
possibilidade de escolhermos, desejaríamos uma coroa de ouro, com muitas pedras
preciosas, ou compreenderíamos a necessidade de aceitarmos a nossa coroa de espinhos
e os nossos sofrimentos, com paciência e resignação, por amor de Deus?
Rezemos e peçamos a Nosso Senhor crucificado que nos dê força,
coragem e a compreensão de que a alegria celeste, eterna, é conquistada com as
dores passageiras, que suportamos neste mundo, em união com o nosso Redentor.
Se assim fizermos, dia virá em que Nosso Senhor Jesus Cristo, com as suas mãos
puríssimas e paternas, tocarão os nossos espinhos e, sob o efeito do seu divino
contacto, o diadema da dor e da humilhação, tornar-se-á diadema de glória!