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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O discurso violento é contraproducente: o exemplo de Benjamim Franklin

Se ao apresentar as suas ideias usa palavras violentas, gosta de contradizer o seu interlocutor, tem muita facilidade nas polémicas, mas vê que o resultado não é sempre positivo, conheça a sugestão que Benjamim Franklin, estadista e um dos fundadores dos Estados Unidos, deixou na sua autobiografia. Estas linhas são também muito valiosas para quem pretende envolver-se em algum projeto associativo, pertencer a algum clube, ou partido político.

Na sua juventude, Franklin tinha muitos inimigos e desconhecia a razão.

Com o passar dos anos, deu-se conta de que a causa estava na sua maneira de falar. Como acreditava naquilo que dizia, exprimia-se com convicção e grande segurança. Ora, isto dava-lhe um ar de arrogância, parecendo querer impor aos outros as suas opiniões e julgamentos. Em determinado ponto da sua vida, deu-se conta de que esta maneira de se exprimir era muito prejudicial para as suas ideias e que precisava mudar.

Assim, criou para si uma regra: nunca contradizer diretamente a opinião dos outros, nem de sustentar as suas com muita resolução. Passou a não usar mais palavras, nem expressões que poderiam dar a impressão de que tinha uma ideia fixa, uma teoria que não podia ser melhorada. Baniu do seu vocabulário corrente as palavras: “certamente”, “sem dúvida”, etc., e substitui-as por “presumo”, “parece-me”, “imagino que queira dizer”, “tem-se a impressão de que”.

Se alguém lhe apresentava uma proposta que lhe parecia um erro, continha-se e não tinha o prazer de contradizer rápida e friamente, mostrando o quão absurda era aquela teoria ou ideia. Pelo contrário, começava por procurar aspetos positivos daquela proposição, procurava explicar que em circunstâncias específicas até seria acertada, mas que no momento atual, lhe parecia haver uma diferença a ser considerada, etc.

Aos poucos, o grande estadista, começou a perceber as enormes vantagens da mudança de tom. A conversa ficou mais agradável para os seus interlocutores; a maneira mais modesta de enunciar as suas opiniões, fez com que fossem mais facilmente aceitas as suas propostas, e sem contradições; fez com que se mortificasse menos, quando errava, ou se via contrariado pela realidade; e, sobretudo, fez com que os outros mais facilmente abandonassem os seus erros e aderissem às suas ideias.

Ele não adotou este método sem violentar a sua propensão natural, mas com o tempo ela tornou-se fácil e habitual, a tal ponto que, depois de cinquenta anos de uma vida muito ativa, como escritor, tipógrafo, político, inventor, cientista, estadista e diplomata, as pessoas testemunharam não ter nunca ouvido sair da sua boca uma ideia que não se pudesse melhorar.

Foi este bom hábito, antecedido por uma certa reputação de integridade moral, o fator predominante para alcançar confiança junto dos americanos. Quando ele propunha ou alguma instituição nova ou a reforma de velhas estruturas administrativas e públicas, o povo acreditava nele.

Alguém poderia pensar: Benjamim Franklin era um grande orador e para este tipo de pessoas, tudo é mais fácil. Ora, isto não é verdade. Ele mesmo afirma ter sido uma pessoa sem eloquência, hesitante na escolha das palavras, medianamente correto na linguagem, mas que convencia quando falava.

Assim devemos ser nós, do que adianta defendermos boas ideias, bons ideais e até as verdades da nossa Fé, se não conseguimos convencer ninguém? Talvez, seja preciso mudar o tom do nosso discurso... Sem pactuar, é claro, com o erro!





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