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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Angelus Silesius, místico, padre e poeta

Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém, de nada me serviria, se ele não nascesse ao menos uma vez no meu coração!

Existem frases e pensamentos que uma vez lidos penetram a alma e fazem-nos querer ser melhores, abandonar os nossos hábitos e dedicar-nos a fazer com que a humanidade adore e louve Deus.

Ora se este pensamento de Angelus Silesius produz este efeito, não teria ele outros? Quem foi esta personagem?

Angelus Silesius, era o pseudônimo de Johannes Scheffer, nascido em Breslau na Polónia em 1624. Nascido numa abastada família luterana, decidiu estudar medicina em Strasbourg, Leyde e Pádua. Uma vez doutor em filosofia e medicina, tornou-se médico do príncipe de Öls, frequentando círculos místicos e ligando-se a Abraham von Franckenberg, díscipulo de Jacob Boehme. Foi luterano fervoroso até aos 29 anos. Em 1653, um ano após a morte do seu mestre, Scheffler converteu-se ao catolicismo e tomou o nome de Angelus Silesius.

Fugindo do mundo, passou a viver em retiro e silêncio durante três anos. Durante este período publicou vários poemas. A vocação sacerdotal nasceu na sua alma e em 1661, com 37 anos, foi ordenado. Tornou-se um apologista, escrevendo panfletos contra os protestantes, sem, contudo, deixar de lado a poesia.

Grande místico, apaixonado de Cristo, Silesius procurava continuamente Deus dentro de si mesmo. Escreveu o livro "O Peregrino Querubínico", com "rimas espirituais que conduzem à divina contemplação", influenciou muitos filósofos alemães, sendo reconhecido como uma das formulações mais notáveis de um misticismo que supera toda e qualquer convenção.

Angelus Silesius faleceu na sua cidade natal em 1676, aos 52 anos.

Alguns pensamentos de Angelus Silesius:

-- Puro como o ouro mais fino, firme como uma rocha, completamente límpido como o cristal: assim deve ser o teu coração.

-- Para encontrar o meu derradeiro fim e o meu primeiro princípio, é necessário que eu me encontre em Deus e que Ele se encontre em mim, Que eu me torne no que Ele é: a luz na luz, o Verbo no Verbo, Deus em Deus. 
-- Eu sou a eternidade, quando abandono o tempo. E me reúno em Deus e Deus em mim.

-- Deus ama-me mais do que a Ele mesmo: se eu O amo mais do que a mim, dou-Lhe tanto quanto me dá Ele.

-- Deus não Se dá a ninguém, oferece-Se a todos, para ser todo teu, se tu O queres.

-- De tal modo Deus tudo ultrapassa, que nada se pode dizer: por isso melhor se reza a Ele, quando se fica em silêncio.
-- Pára! Corres para onde O céu está em ti! Se procuras Deus noutro lugar, sempre mais O perdes.
-- Homem, se não sabes pedir graças a Deus com palavras, fica mudo diante dEle. Serás ouvido da mesma forma.
-- O pássaro vive no ar, a pedra no chão, o peixe na água, e o meu espírito na mão de Deus.
 
-- Quando me perco em Deus, chego de novo lá onde eu era desde a eternidade.
-- Quem diz que algo no mundo é doce e amável ainda não conhece a beleza de Deus.
-- Esvazia para Deus o teu coração: Ele não entra em ti se não vê o teu coração saído do teu coração.
-- O sábio jamais perdeu sequer um cêntimo: nunca teve nada, e nada lhe foi tirado.
-- O meu coração é um altar e a minha vontade a vítima, a minha alma é o sacerdote e o amor chama e brasa.





quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Por que as pessoas gritam umas com as outras ?

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: 
Por que as pessoas gritam umas com as outras quando estão aborrecidas?
--Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles.
Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado, questionou novamente o pensador.
--Bem, gritamos porque queremos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo.
 E o mestre volta a perguntar: Então não é possível falar-lhe em voz baixa, em tom normal de conversa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
 Então, ele esclareceu: Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?
Quando duas pessoas estão aborrecidas entre si, os seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena, curta. Às vezes os seus corações estão tão próximos , que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e isso basta. Os seus corações se entendem.É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas. 
Por  fim, o pensador concluiu, dizendo: Quando discutirem, não deixem que os seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta, por mais que gritem.

  Joshua  Porkiutte

Porque Jesus Cristo deu a Si mesmo o título de Filho do Homem?

                Todas as línguas têm os seus modismos ou modos de dizer que se tornam difíceis de transpor para outras línguas, e que, quando se traduzem à letra, desorientam, porque com as mesmas palavras significam coisas diversas.
A expressão "Filho do Homem" é um hebraísmo difícil de entender, mas podemos deduzir que se trata dum título messiânico.
Encontramo-la na célebre visão em que o Profeta Daniel (7,13-14) vê vir sobre as nuvens do céu "um como filho do homem" a quem foi dado "o domínio e a honra e o reino (...) um domínio eterno que não passará e um reino que não se destruirá".  daqui podemos deduzir que se trata dum tratamento especial que não pode ter o significado de simples homem.
A visão de Daniel não se refere a um homem como qualquer outro, mas a um homem extraordinário a quem o "Ancião dos Dias", Deus, confere o seu poder para o enviar à Terra e aí estabelecer o seu reino - prerrogativas do Messias esperado pelo povo escolhido.
Trata-se pois dum título messiânico que aparece dezenas de vezes, nunca aplicado a mais ninguém senão a Jesus Cristo e - caso curioso - sempre por Ele atribuído a Si mesmo.
Só uma vez este apelativo lhe foi dado por outro, por S. Estêvão quando, ao morrer apedrejado, exclama: "Vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé, à direita de Deus".
Ao atribuir-Se a Si, tantas vezes, este título messiânico, Cristo queria chamar a atenção (a par da sua origem e natureza divina, revelada em tantos milagres) para a sua natureza humana e acentuar a sua qualidade messiânica. Na resposta dada a Caifás, durante o julgamento no Sinédrio, vemos de modo bem explícito a natureza divina do Filho do Homem, ao dizer:
"Vereis em breve o Filho do Homem sentado à direita da majestade divina e vindo sobre as nuvens do céu" (Mt 26,63-64).
Podemos mesmo afirmar que "Filho do Homem" acentua mais a sua divindade do que a humanidade: por exemplo, quando diz que "o Filho do Homem tem poder para perdoar os pecados" (Mc2,1C).
O mesmo se diga quando afirma que "o Filho do Homem é senhor do sábado" (Mc 2,27).
E ainda: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós" (Jo 6,53).
É esse mesmo Filho do Homem quem tem o poder de ressuscitar no último dia os que aceitarem esse convite (54), porque quem comer a sua carne "viverá por Ele" (57).
Concluindo: Embora não saibamos porque é que Jesus, para se referir a Si, escolheu a expressão "Filho do Homem" em vez de "Filho de Deus", sabemos que "Filho do Homem" não nega, antes implica a divindade.  Aliás, Jesus provou a sua divindade, de muitos modos, e até com toda a solenidade diante do Sinédrio.
Quando o Sumo Sacerdote lhe diz: "Intimo-te, por Deus vivo, que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus", Jesus, saindo do silêncio a que se votara, responde: "É como dizes. E Eu digo-vos: vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Poder, vindo sobre as nuvens do céu".
Uma afirmação tão explícita, que o sumo sacerdote a declarou blasfémia (Mt 26,63-64).
Quando, a seguir, O acusaram diante do tribunal romano, foi "porque Se fez Filho de Deus" (Jo 19,7) não em sentido figurado (porque isso não era crime) mas em sentido real.
 
(Revista Magnificat - pág. 9 e 10 - Fevereiro de 2003 - Braga - Portugal)

O burro apaixonado



Este fato é verídico e aconteceu na Marzugueira, no concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria, em Portugal. Infelizmente, a pessoa que o contou, cujos parentes paternos residiram na referida localidade, não recordava o ano preciso, mas apenas que se deu na década de 30 do século XX.
Uma rapariga desejava muito casar-se com um rapaz, mas este não lhe manifestava reciprocidade. Em vista disso, a jovem procurou uma feiticeira, a qual lhe ensinou como fazer uns pães ou bolos enfeitiçados, em cujos ingredientes entravam matérias tão afins com o demónio quanto saliva de sapo, entre outras.
A sua irmã mais nova, entretanto, menina ainda inocente, percebendo o que estava a ser preparado, foi a correr à casa do rapaz e avisou-lhe de que não aceitasse nada que viesse da sua casa.
A pretendente enviou, então, os doces enfeitiçados para o jovem, o qual, prudentemente, levou a sério os conselhos da criança e não provou nenhum. Deu-os todos para o burro de propriedade da família, animal de uso muito comum naquela época.
No dia seguinte o asno desapareceu. Procuraram-no por toda parte até que o encontraram... na porta da casa da aprendiz de feiticeira.
Dali não saía mais para nada e ali ficou vários dias, parece que até morrer de fome. O povo da região vinha em quantidade para ver o “burro apaixonado”, para enorme confusão da moça, que acabou mudando-se do lugarejo e nunca mais apareceu.

Moral da história: No teatro da vida, convém que cada um atente bem para o papel que desempenhará. Pois dele dependerá o desfecho da pessoa na eternidade.
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Fumar é pecado?

Fumar "apodrece" o cérebro, danifica a memória e é prejudicial para a aprendizagem e o raciocínio, afirmam os cientistas britânicos responsáveis por um estudo realizado na King's College de Londres que envolveu 8.800 pessoas com mais de 50 anos e publicado na revista Age and Ageing (Idade e Envelhecimento). A pesquisa também mostrou que a hipertensão e sobrepeso parecem afetar o cérebro, embora em grau menor do que o tabagismo.Sem embargo, o tabagismo tem uma longa história no Vaticano e nos papas, a ponto de se poder prever, segundo a alternância de hábitos dos Papas do último século, que o sucessor de Bento XVI será não fumador, porque desde São Pio X, em 1903, até ao presente, encontramos uma alternância quase exata.

Tendência de nove Papas 
Giuseppe Sarto, São Pio X, que reinou até 1914, fumava charutos; Bento XV (1914-1922) não era fumador; Pio XI (1.922-1.939) fumava ocasionalmente: Pio XII (1939-1958) nunca;  João XXIII (1958-1963), como resultado da sua longa carreira diplomática, se inclinava para os cigarros.Mais recentemente, Paulo VI (1963-1978) figurou entre os que não gostavam do tabaco, enquanto  João Paulo I (1978), parece que também não, embora algumas testemunhas dizem que não foi sempre avesso a algumas tragadas. Ficamos com esta opção, apenas para não quebrar a série, que segue com um claro não-fumador, o desportista e atlético João Paulo II (1978-2005) e com Bento XVI (2005) que em algumas fases de sua vida foi fumador, e com preferências para a marca Marlboro. Se este padrão ou frequência continuar, do seu sucessor saberíamos, pelo menos, uma coisa: não terá o prazer do tabaco.

O fumo proibido na Igreja

Estes e outros dados são apresentados num interessante trabalho de John B. Buescher, licenciado em estudos religiosos da Universidade da Virgínia e publicado no jornal "The Catholic World Report".  Quando os espanhóis evangelizaram a América, um dos problemas que surgiram foi o costume dos índios de levarem para a igreja o tabaco. Isto fez com que em 1575 as autoridades eclesiásticas no México proibissem este hábito. Da mesma forma, um sínodo realizado em Lima, em 1583, proibiu os padres, "sob pena de condenação eterna", a administrarem os sacramentos e, especialmente, celebrar a missa, depois de terem mastigado tabaco. Mas o problema passou, rapidamente, da América para a Europa, levantando a pergunta sobre a aceitação da sua presença no interior dos templos e, sobretudo na liturgia. Buescher relata um fato ocorrido em Nápoles, quando um sacerdote claramente viciado, logo depois da comunhão, cheirou um pouco de rapé, o que provocou o vómito da hóstia no altar, na frente de uma horrorizada assembleia de fieis.
Este caso e outros menos dramáticos de falta de respeito na Missa, levou a Igreja a deixar bem claro que o consumo de tabaco era incompatível com a pureza e limpeza do altar, dos paramentos litúrgicos e até das mãos do padre, e por isso, devia abster-se do seu consumo, um tempo suficiente antes da celebração Eucarística.Também os fiéis pareciam tão viciados que foi necessário tomar medidas sobre o assunto. Em 30 de janeiro de 1642, o Papa Urbano VIII emitiu a bula "Cum Ecclesiae", em resposta ao pedido do reitor da catedral de Sevilha, declarando que quem fumasse ou mastigasse rapé nas igrejas da diocese seria punido de excomunhão "latae sententiae". Não era pois uma questão marginal ou menor, e referia-se também ao consumo do tabaco. Em 1650, Inocêncio X decretou uma pena semelhante para fatos idênticos nas basílicas de São João de Latrão e São Pedro, estendida também para os pórticos ou varandas de ambas as igrejas, também pelos danos causados ​pela ​fumaça nas pinturas e esculturas. Inocêncio XI reiterou depois esta mesma punição.Em 1725, Bento XIII, ele próprio fumador, revogou a sanção, mas não a proibição, e manteve a ordem de deixar o tabaco afastado do altar e do tabernáculo.

O tabaco e o jejum eucarístico 
Mas havia e há outra questão: o tabaco quebra o jejum eucarístico, uma vez que não é ingerido? O Príncipe dos moralistas, Santo Afonso de Ligório, ele mesmo fumador, no seu manual de instrução para os confessores, estabelece que não: "nem o tabaco fumado, nem o mascado, sempre que cuspido, e que a saliva se mantenha razoavelmente limpa".
Bento XIV foi também fumador e, a julgar pela anedota que recolhe Buescher, o tabaco aguçou a sua inteligência. Conta-se que um dia, ele ofereceu rapé para o superior de uma Ordem religiosa cheirar. Este, com displicência, não aceitou e disse: " Sua Santidade, eu tenho esse vício" Ao qual, replicou rapidamente o Papa: "Não deve ser um vício, porque se fosse, V. Exa. o teria". (Em caridade, empataram!)
O Beato Pio IX fumava tanto que, às vezes, tinha de mudar durante o dia a batina branca por causas das manchas do tabaco. Leão XIII gostava do tabaco e sofreu quando os médicos obrigaram-no a abandona-lo por razões de saúde.

Santos fumadores? 
Dos seus sucessores, já comentamos a evolução, com uma clara tendência à salubridade de hábitos, quebrada apenas por um cigarro ocasional.Aí temos um santo (São Pio X) e dois beatos (Pio IX e João XXIII) dados ao fumo. E isto, entre os Papas. Mas em outros âmbitos eclesiásticos é claro que não há conflito entre um bom charuto e a santidade.Bernadette Soubirous teve asma na infância e o seu médico prescreveu-lhe rapé. A sua caixa de rapé está em exibição em Lourdes.A venerável Maria Teresa de Lamourous afirma ter encontrado marcas de rapé no manto de Santa Teresa de Jesus, que é mantido num convento em Paris. E no processo de beatificação de São José de Cupertino, São João Bosco e São Felipe Neri foi estudado se o hábito de fumar estava em desacordo com as virtudes heróicas exigidas. E não foi encontrado obstáculo nele.E os dois modelos de santidade sacerdotal mais recentes, São João Maria Vianney (o Cura d'Ars) e o Padre Pio de Pietrelcina (Santo Padre Pio) tinham o hábito de cheirar rapé e até mesmo oferecê-lo sem problemas a outros.
Fumar enquanto se reza ou rezar enquanto se fuma... 
Depois, está a casuística. É típico a piada de quem pergunta a um jesuíta se pode fumar enquanto reza, ao que é respondido com uma recusa categórica. Mas ... rezar enquanto fuma? Neste caso, é claro que se pode.Os jesuítas que evangelizaram a América cultivaram o tabaco e consumiam-no, sem problemas.  Quando chegaram na China, nos séculos XVII e XVIII, influenciaram os chineses. A tal ponto que os convertidos ao catolicismo, passaram a ser chamados... "fumadores", ou, mais corretamente, os "que cheiravam" que era o modo habitual de se usar o tabaco, sob a forma de rapé. Várias outras ordens religiosas aceitavam normalmente que se cheirasse ou fumasse tabaco. No estudo acima referido são citados vários casos, quase até ao dia presente, onde a prática, também por causa do seu progressivo aumento de preço, problema quase inexistente antes, começou a ser visto como um luxo.Ou como um sinal de decadência. Em 1847, o jornal Dublin Review assinalava o fato de "fumar", como uma característica deplorável do clero irlandês, e também James Joyce no Dublineses, insiste nesta avaliação.Em setembro de 1957, Pio XII transmitiu ao Superior Geral dos jesuítas em Roma que os seus membros deviam renunciar, em nome da austeridade, a "artigos superficiais", e citou entre eles "o tabaco hoje tão difundido e visto com tanta indulgência".E, em 2002, João Paulo II proibiu no território do Vaticano que se fumasse em lugares fechados, ou até mesmo lugares públicos muito frequentados, sob pena de multa de 30 euros.Ascetismo e acomodação ao século, normalmente termos conflitantes, parece que, no fim, nesse ponto, acabaram coincidindo.Buescher termina o seu trabalho com um pensamento: o tabaco pode ser visto como um prazer privado, uma indulgência, um conforto, um meio de comunicação social, uma violação civil, um perigo para a saúde, um adição, um incómodo, e um "vício". Mas, o tabaco rapé em si é um pecado? A esta pergunta, ninguém responde...  com toda certeza e precisão!


(The Catholic World Report, Religión en Libertad, Sinais dos Tempos)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A ternura da canção “Maria durch ein Dornwald ging”

https://www.youtube.com/watch?v=0NA1b8TeMNI&playnext=1&list=PLB5D915F29443B85D&feature=results_main


“Maria ia através de uma floresta de espinhos. Nessa floresta de espinhos, há 7 anos não tinha folhagem. O que traz Maria sobre o seu coração? Uma criancinha sem dores, isso traz Maria sobre o seu coração. Uma criancinha sem dores traz Maria sobre o seu coração. Então, dos espinhos desabrocharam rosas”.
 O tema e pressuposto da música é de Nossa Senhora com o Menino Jesus. Nossa Senhora extremamente moça, e trazendo consigo o Menino na sua primeira infância. Traz uma ideia de juventude, de delicadeza, de virginal fragilidade e de virginal força. Que anda com o menino, mas vê-se que Ela está sozinha, porque a canção não se refere a mais ninguém. Ela está sozinha e traz sobre o seu coração, bem protegido o menino, numa floresta de espinhos. Uma floresta que há 7 anos não dá senão espinho. Então há uma espécie de risco, um contraste: como aquela flor de delicadeza, que é Nossa Senhora e Aquele Menino, o tesouro do universo, podem estar sujeitos a uma trajetória através de tantos espinhos. Que coisa horrorosa! E se acontecer de um espinho ferir o Menino e sair a gota de um sangue que, só por si, vale mais do que todo o céu e toda a terra? Como pode ser?
Por isso Ela O traz bem junto ao coração. Ela protege o Menino. Então a ideia que prevalece é a de Nossa Senhora, como que atemorizada pelos espinhos que cercam o Menino. Os espinhos são a natureza hostil, a natureza amaldiçoada daquele lugar que há 7 anos não dá nada. E o Menino que parece dormir, que parece estar fora do uso da razão, é o Homem‑Deus. De maneira que sabe tudo, pode tudo, dá a solução para tudo. Então, o perigo para Ele que são os espinhos, o agreste, o hostil do que O envolve, Ele resolve: pelo poder dEle, transformar em rosa, para a Mãe dEle cheirar!
Então, Nossa Senhora que vai atravessando e vendo que os espinhos se transformam em rosas perfumadas, orientadas para Ela. E compreende: foi uma amabilidade de seu Filho! Ela olha para Ele, Ele está dormindo! Está governando a natureza!
Tudo isso junto está nessa canção. O começo é um pouco jovial; depois vem a ternura, o respeito. Mas tudo tratado com tal voz — isso é uma lenda, não aconteceu — que é um pouco o tonus de uma pessoa que conta para um menino ouvir. E a ternura é um pouco para o Menino Jesus e um pouco para o menino que está ouvindo, a quem se conta uma coisa delicada, o menino fica contente. Isso explica os mil tons e entretons da canção.
Agora, lembrem‑se que é o povo dos grandes exércitos, das grandes invasões, das grandes batalhas. Na sua fase imperial última com os couraceiros, com capacetes, com águias em cima. É esse povo que na hora da ternura sabe cantar assim.
O que desbarata uma espécie de preconceito pacifista e sentimental, segundo o qual quem guerreia não tem sentimento. E talvez, pior ainda, que quem tem sentimento não guerreia.
O equilíbrio magnífico dessas coisas se encontra na alma alemã quando é católica. E quando é bem católica, quando é retamente católica.

(Plinio Corrêa de Oliveira, palavras sem correções do autor durante o jantar no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 3 de Janeiro de 1989).