A virtude mais
necessária é o amor, explica Santo António Maria Claret. Sim, digo-o e repetirei mil vezes: a virtude mais necessária
é o amor. Devemos amar a Deus, a Jesus Cristo, a Maria santíssima e ao próximo.
Sem esse amor, as suas mais belas qualidades são inúteis, mas, se acompanhadas
de grande amor, tudo possui.
Para o que prega a
divina palavra, o amor é como o fogo em um fuzil. Se um homem atirar uma bala
com a mão, pouco estrago faz, mas, se essa mesma bala for arremessada com o
fogo da pólvora, mata. Assim é a palavra de Deus. Se for dita naturalmente, sem
espírito sobrenatural, pouco bem faz, mas se for dita por um sacerdote cheio do
fogo da caridade, do amor a Deus e ao próximo, extirpará vícios, destruirá
pecados, converterá pecadores, operará prodígios. Vemos isto em São Pedro, ao
sair do Cenáculo, ardendo no fogo do amor, que tinha recebido do Espírito
Santo, e o resultado foi a conversão de oito mil pessoas em dois sermões: três
mil no primeiro e cinco mil no segundo.
O Espírito Santo,
aparecendo sob a forma de línguas de fogo pousando sobre os Apóstolos no dia de
Pentecostes, dá-nos a entender claramente esta verdade: precisamos carregar
chamas do fogo divino da caridade na língua e no coração. Certa vez, um jovem
sacerdote perguntou a São João d’Ávila o que era preciso para se tornar um bom
pregador, e ele respondeu muito oportunamente: Amar muito.
A experiência
ensina, e a história da Igreja confirma, que os melhores e maiores pregadores foram
os que mais fervorosamente souberam amar.
Na verdade, o fogo
da caridade num ministro do Senhor produz o mesmo efeito que o fogo na
locomotiva de um comboio, e a máquina num navio a vapor: arrasta-os com a maior
facilidade. Para que serviria toda aquela máquina se não tivesse o combustível
e o vapor? Para nada serviria. De que valeria um sacerdote ter feito uma
carreira brilhante, ter-se formado em teologia e em direito, se não tem o fogo
da caridade? De nada. Para ninguém serviria porque seria uma máquina de comboio
sem fogo, antes, pelo contrário, talvez pudesse até estorvar. Não serviria nem
para ele pessoalmente, como diz são Paulo: Ainda que eu falasse as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o
címbalo que retine.
Estou muito
convencido da utilidade e necessidade do amor: empenhei-me em buscar este
tesouro escondido, ainda que fosse preciso vender tudo para comprá-lo. Depois
de muito pensar, cheguei à conclusão de que os meios mais adequados para o conseguir
eram os seguintes:
1º Guardar bem os
mandamentos da lei de Deus;
2º Praticar os Conselhos
Evangélicos;
3º Corresponder
com fidelidade às inspirações internas;
4º Fazer bem a
meditação.
5º Pedir e suplicar
contínua e incessantemente, sem jamais desfalecer ou cansar, por mais que tarde
em alcançá-lo. Rezando a Jesus e a Maria Santíssima e pedindo, sobretudo, a
nosso Pai que está nos Céus (pelos méritos de Jesus e Maria santíssima), certo
de que o bom Pai dará o divino Espírito àquele que assim o pede.
6º O sexto meio é
ter fome e sede deste amor. Assim como aquele que tem fome e sede corporais,
sempre pensa em como poderá saciar-se; e pede ajuda a todos os conhecidos;
assim também eu procuro, ansiosa e ardentemente, dirigir-me ao Senhor e dizer-lhe
de todo o meu coração:
“Ó meu Senhor, Vós
sois meu amor! Vós sois a minha honra, minha esperança, meu refúgio! Vós sois a
minha vida, minha glória, meu fim! Ó amor meu! Ó bem-aventurança minha! Ó
conservador meu! Ó alegria minha! Ó reformador meu! Meu mestre! Meu Pai! Meu
amor!
“Não procuro,
Senhor, nem quero saber outra coisa senão vossa santíssima vontade e cumpri-la
com toda a perfeição. Não amo senão a Vós. Em Vós, unicamente por Vós, e para Vós
são todas as demais coisas. Sois para mim mais que suficiente. Senhor, Vós sois
meu
Pai, meu amigo,
meu irmão, meu esposo, meu tudo. Amo-Vos, meu Pai, fortaleza minha, meu refúgio
e meu consolo. Fazei, meu Pai, que Vos ame como Vós me amais e como quereis que
eu Vos ame. Ó meu Pai! Bem sei que não Vos amo o quanto deveria amar-Vos, porém,
estou certo de que virá o dia em que Vos amarei o quanto desejo amar-Vos,
porque Vós me concedereis o amor que Vos peço por Jesus e por Maria.
“Ó Meu Jesus!
Peço-Vos uma coisa e sei que quereis concedê-la. Sim, meu Jesus, peço-Vos amor,
grandes chamas desse fogo que fizestes baixar do céu à terra. Vem, fogo divino!
Vem, fogo sagrado, incendeia-me, abrasa-me, derrete-me e funde-me para que
assuma o molde da vontade
de Deus.
Ó mãe minha Maria!
Mãe do divino amor, não posso pedir outra coisa mais agradável nem mais fácil
de conceder que o divino amor, concedei-o, ó minha mãe! Minha mãe, amor! Minha
mãe, tenho fome e sede de amor, socorrei-me, saciai-me! Ó Coração de Maria, instrumento
de amor, inflamai-me no amor de Deus e do próximo!
Ó querido próximo,
amo-te por mil razões. Amo-te porque Deus assim o quer. Amo-te porque Deus me
manda que te ame. Amo-te porque Deus te ama. Amo-te porque Deus te criou à sua
imagem e destinou-te para o céu. Amo-te porque foste redimido pelo sangue de
Jesus Cristo. Amo-te pelo muito que Jesus fez e sofreu por ti. E, como prova do meu amor por ti,
suportarei por ti todas as dificuldades e trabalhos, até a morte, se for necessário.
Amo-te porque Maria santíssima, minha queridíssima mãe, ama-te. Amo-te porque
és amado pelos Anjos e Santos do Céu. Amo-te e, por este amor, livrar-te-ei dos
pecados e das penas do inferno. Amo-te e, por este amor, te instruirei e te
mostrarei os males que deves evitar e as virtudes que deves praticar; enfim, te
acompanharei nos caminhos das boas obras rumo ao céu.