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domingo, 30 de dezembro de 2012

Brincar com as palavras



A língua portuguesa é riquíssima, com um vocabulário vasto, palavras de sentido específico, e uma gama de sinónimos que nos permitem criar qualquer tipo de mensagem textual ou oral.
A escrita, longe de ser uma técnica, consiste numa arte.
Redigir é exteriorizar, em palavras, ideias, em ordem e método.
O conhecedor da língua pode até brincar com as palavras.
Diz a lenda que o grande escritor brasileiro Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal.
Para lá se dirigiu, e constatou que um ladrão tentava levar alguns patos da sua criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus animais, disse-lhe:
-- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo... mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
O ignorante ladrão, confuso, responde-lhe:
-- “Doutô! afinar, levo ou deixo os pato?
Uma pessoa culta possui um bom vocabulário, tem à sua disposição uma grande quantidade de palavras para expressar as suas ideias, mas deve saber, também, escolher as palavras certas para as ocasiões corretas…

Reuniões ou assistência espiritual aos fiéis?



Confissões com o Santo Padre Pio
Depois de ter rezado, rapidamente, as Laudes do seu velho breviário, o Abade entra no seu escritório. Abre a agenda e lê:
9.00 - reunião com o conselho paroquial.
10.30 - reunião de sacerdotes da vigararia.
12.30 - reunião com os administradores.
15.00 - reunião com o Bispo e os agentes pastorais.
17.30 - reunião com os catequistas.
Arruma uma enorme quantidade de papéis acumulados sobre a sua mesa, ouve a campainha da sacristia, algumas vozes e os passos do porteiro que se aproxima:
-- "Chegou uma senhora de uma certa idade com um menino e querem falar com um padre”.
O Abade, instintivamente, respondeu-lhe:
-- "Diga-lhes que estamos ocupados, e que venham mais tarde”.
O porteiro retira-se e o relógio toca as badaladas, reduzidas, das 8:45 horas.
Apressado, o abade retira-se.
Contudo, para chegar à sala de reuniões, tem que passar pela sacristia, onde estavam, de pé, a senhora e o jovem, que lhe interpelam:
-- "Padre, perdoe a nossa insistência! Podemos falar um momento com o senhor?
E ele responde:
-- "Bom dia, bom dia. Perdão, mas é que tenho um pouco de pressa. Agora, devo ir a uma reunião, e toda a manhã e tarde, vou estar ocupado. Não podem vir mais tarde? Estou certo de que encontrão algum sacerdote livre."
-- "Padre, levo mais de um ano com desejo de me confessar. Nunca encontro um sacerdote na igreja, ou se os encontro estão sempre muito ocupados. Não posso deixar passar mais tempo! Convenci o meu neto que viesse comigo para se confessar também ou, pelo menos para receber alguns conselhos espirituais de um padre. Talvez seja este o momento de Deus, não esperemos mais tempo”!
O Abade sentiu um pouco de pena, mas prosseguiu o seu caminho:
-- “Estas reuniões são muito importantes, e já estavam programadas há tanto tempo… Olhe, senhora, asseguro-lhe que até ao meio-dia encontrará outro padre. O ecónomo saiu para fazer algumas compras, o administrador agora vem comigo para a reunião e o encarregado da catequese leva uns dias fora em cursos de atualização. Mas, quando a senhora voltar, estou certo de que um padre a receberá com muito gosto".
Mas a senhora já meio impaciente replicou:
-- “Por favor, Senhor Padre, meu neto está aqui agora, mas ao meio-dia tem que ir para a escola. Não seria possível fazer algo, encontrar alguém?"
O Abade instintivamente com um movimento de impaciência, olhou para o relógio, que marcava 8:55 horas. Tinha pressa, mas tinha que se mostrar educado.
-- "Senhora, sinto muito. Asseguro-lhe que haverá outra oportunidade. Talvez quando voltar com o seu neto, outro dia…"
Como a senhora fez um gesto de insistência, o padre decidiu escapar diretamente pela igreja, para chegar mais rapidamente à sala de reuniões.
Ao passar pela capela do Santíssimo Sacramento, ajoelhou-se em sinal de adoração, mas sentia-se triste e inquieto. Como se “Jesus escondido”, como costumava chamar o Beato Francisco de Fátima, lhe sussurrasse ao coração: "Vais dar mais importância às reuniões, do que a umas pessoas que vieram aqui para pedir ajuda? Foi para isso que te dei a vocação do sacerdócio?"
Aquele sentimento foi como um golpe profundo no coração do Abade. Algumas lágrimas escorreram pelos olhos. Repetiu a genuflexão, e voltou para a sacristia.
A senhora e o jovem estavam a ponto de sair pela porta lateral, quando o Abade os interpelou com voz alta:
-- "Esperem, encontrei uma solução. Um momento, por favor. Volto já de seguida".
Retornou ao escritório, chamou o porteiro e disse-lhe:
-- "Cancele, por favor, todas as reuniões e as minhas ocupações do período da manhã, assinaladas aqui, na agenda".
E o sacristão respondeu-lhe:
-- "Mas, Senhor Padre, o conselho já está reunido…
Agora, retrucou o Abade, tenho algo mais importante a fazer. Depois, explico a todos, o sucedido.
Abriu a porta da sacristia, entrou na igreja e dirigiu-se ao confessionário.
Dava pena ver tal obra de arte, toda esculpida em madeira, tão maltratada, suja e com tantas teias de aranha. Sacudiu o pó, retirou rapidamente as teias de aranha e voltou para a sacristia, com um sorriso nos lábios:
--“Senhora! Venha! Estarei no confessionário para a atender e o seu neto”.
A luz do confessionário acendeu-se. Todavia funcionava! Pensou o Abade, que há muito tempo não usava esse lugar para ministrar o sacramento da reconciliação. Aliás aquela peça era uma verdadeira obra de arte, encomendada ao melhor carpinteiro da região.
Primeiro entrou o jovem, tranquilo e sem pressa. Esteve ali muito tempo. Conversou ou confessou-se? Só Deus o sabe. Mas saiu com um sorriso, como a avó há muito não via no seu rosto. Ao despedir-se do Abade, em voz alta disse-lhe: "Sabe? É a primeira vez em minha vida que falo com um sacerdote!".
Logo entrou a senhora. Tinha feito o propósito de ser rápida, confessar os seus pecados e não tomar muito tempo do padre, tão atarefado. Mas, com surpresa, sentiu-se bem acolhida, com mais carinho do que nunca. O Abade dedicou-lhe muito tempo, como se ela fosse a pessoa mais importante e mais necessitada do mundo.
Na capela do Santíssimo Sacramento, Jesus estava muito feliz. Em primeiro lugar porque o Abade tinha podido recordar que o mais importante do ministério sacerdotal é cuidar das ovelhas. E, em segundo lugar porque duas almas, de idades e mentalidades muito diferentes, tinham recebido um novo sinal do carinho imenso que Deus tem para cada um de seus filhos.

Autor: P. Fernando Pascual/ José Augusto Miranda | Fonte: Catholic.net

Uma Confissão bem-feita, aproxima-nos do Céu



Tenho impressão de que o Sacramento da Penitência nos dá quadamtenus a restauração da inocência. 
As graças que esse sacramento dá, não são as da Eucaristia, são graças específicas.
Quantas e quantas vezes eu me retirei da Confissão com a alma leve, como se eu tivesse ficado mais moço e como se a lei da gravidade deixasse de existir para mim.
Acho que isso aconteceu com todos.
Uma tranquilidade… oh! É esta vida do inocente que se abre. Quantas vezes…!
Às vezes, de se ajoelhar ali no confessionário, antes mesmo de acusar os pecados, já uma atmosfera envolve a alma, uma atmosfera sui generis. Às vezes, só de olhar o confessionário….
(SDP, CSN 21/6/1980)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Angelus Silesius, místico, padre e poeta

Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém, de nada me serviria, se ele não nascesse ao menos uma vez no meu coração!

Existem frases e pensamentos que uma vez lidos penetram a alma e fazem-nos querer ser melhores, abandonar os nossos hábitos e dedicar-nos a fazer com que a humanidade adore e louve Deus.

Ora se este pensamento de Angelus Silesius produz este efeito, não teria ele outros? Quem foi esta personagem?

Angelus Silesius, era o pseudônimo de Johannes Scheffer, nascido em Breslau na Polónia em 1624. Nascido numa abastada família luterana, decidiu estudar medicina em Strasbourg, Leyde e Pádua. Uma vez doutor em filosofia e medicina, tornou-se médico do príncipe de Öls, frequentando círculos místicos e ligando-se a Abraham von Franckenberg, díscipulo de Jacob Boehme. Foi luterano fervoroso até aos 29 anos. Em 1653, um ano após a morte do seu mestre, Scheffler converteu-se ao catolicismo e tomou o nome de Angelus Silesius.

Fugindo do mundo, passou a viver em retiro e silêncio durante três anos. Durante este período publicou vários poemas. A vocação sacerdotal nasceu na sua alma e em 1661, com 37 anos, foi ordenado. Tornou-se um apologista, escrevendo panfletos contra os protestantes, sem, contudo, deixar de lado a poesia.

Grande místico, apaixonado de Cristo, Silesius procurava continuamente Deus dentro de si mesmo. Escreveu o livro "O Peregrino Querubínico", com "rimas espirituais que conduzem à divina contemplação", influenciou muitos filósofos alemães, sendo reconhecido como uma das formulações mais notáveis de um misticismo que supera toda e qualquer convenção.

Angelus Silesius faleceu na sua cidade natal em 1676, aos 52 anos.

Alguns pensamentos de Angelus Silesius:

-- Puro como o ouro mais fino, firme como uma rocha, completamente límpido como o cristal: assim deve ser o teu coração.

-- Para encontrar o meu derradeiro fim e o meu primeiro princípio, é necessário que eu me encontre em Deus e que Ele se encontre em mim, Que eu me torne no que Ele é: a luz na luz, o Verbo no Verbo, Deus em Deus. 
-- Eu sou a eternidade, quando abandono o tempo. E me reúno em Deus e Deus em mim.

-- Deus ama-me mais do que a Ele mesmo: se eu O amo mais do que a mim, dou-Lhe tanto quanto me dá Ele.

-- Deus não Se dá a ninguém, oferece-Se a todos, para ser todo teu, se tu O queres.

-- De tal modo Deus tudo ultrapassa, que nada se pode dizer: por isso melhor se reza a Ele, quando se fica em silêncio.
-- Pára! Corres para onde O céu está em ti! Se procuras Deus noutro lugar, sempre mais O perdes.
-- Homem, se não sabes pedir graças a Deus com palavras, fica mudo diante dEle. Serás ouvido da mesma forma.
-- O pássaro vive no ar, a pedra no chão, o peixe na água, e o meu espírito na mão de Deus.
 
-- Quando me perco em Deus, chego de novo lá onde eu era desde a eternidade.
-- Quem diz que algo no mundo é doce e amável ainda não conhece a beleza de Deus.
-- Esvazia para Deus o teu coração: Ele não entra em ti se não vê o teu coração saído do teu coração.
-- O sábio jamais perdeu sequer um cêntimo: nunca teve nada, e nada lhe foi tirado.
-- O meu coração é um altar e a minha vontade a vítima, a minha alma é o sacerdote e o amor chama e brasa.





quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Por que as pessoas gritam umas com as outras ?

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: 
Por que as pessoas gritam umas com as outras quando estão aborrecidas?
--Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles.
Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado, questionou novamente o pensador.
--Bem, gritamos porque queremos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo.
 E o mestre volta a perguntar: Então não é possível falar-lhe em voz baixa, em tom normal de conversa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
 Então, ele esclareceu: Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?
Quando duas pessoas estão aborrecidas entre si, os seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena, curta. Às vezes os seus corações estão tão próximos , que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e isso basta. Os seus corações se entendem.É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas. 
Por  fim, o pensador concluiu, dizendo: Quando discutirem, não deixem que os seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta, por mais que gritem.

  Joshua  Porkiutte

Porque Jesus Cristo deu a Si mesmo o título de Filho do Homem?

                Todas as línguas têm os seus modismos ou modos de dizer que se tornam difíceis de transpor para outras línguas, e que, quando se traduzem à letra, desorientam, porque com as mesmas palavras significam coisas diversas.
A expressão "Filho do Homem" é um hebraísmo difícil de entender, mas podemos deduzir que se trata dum título messiânico.
Encontramo-la na célebre visão em que o Profeta Daniel (7,13-14) vê vir sobre as nuvens do céu "um como filho do homem" a quem foi dado "o domínio e a honra e o reino (...) um domínio eterno que não passará e um reino que não se destruirá".  daqui podemos deduzir que se trata dum tratamento especial que não pode ter o significado de simples homem.
A visão de Daniel não se refere a um homem como qualquer outro, mas a um homem extraordinário a quem o "Ancião dos Dias", Deus, confere o seu poder para o enviar à Terra e aí estabelecer o seu reino - prerrogativas do Messias esperado pelo povo escolhido.
Trata-se pois dum título messiânico que aparece dezenas de vezes, nunca aplicado a mais ninguém senão a Jesus Cristo e - caso curioso - sempre por Ele atribuído a Si mesmo.
Só uma vez este apelativo lhe foi dado por outro, por S. Estêvão quando, ao morrer apedrejado, exclama: "Vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé, à direita de Deus".
Ao atribuir-Se a Si, tantas vezes, este título messiânico, Cristo queria chamar a atenção (a par da sua origem e natureza divina, revelada em tantos milagres) para a sua natureza humana e acentuar a sua qualidade messiânica. Na resposta dada a Caifás, durante o julgamento no Sinédrio, vemos de modo bem explícito a natureza divina do Filho do Homem, ao dizer:
"Vereis em breve o Filho do Homem sentado à direita da majestade divina e vindo sobre as nuvens do céu" (Mt 26,63-64).
Podemos mesmo afirmar que "Filho do Homem" acentua mais a sua divindade do que a humanidade: por exemplo, quando diz que "o Filho do Homem tem poder para perdoar os pecados" (Mc2,1C).
O mesmo se diga quando afirma que "o Filho do Homem é senhor do sábado" (Mc 2,27).
E ainda: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós" (Jo 6,53).
É esse mesmo Filho do Homem quem tem o poder de ressuscitar no último dia os que aceitarem esse convite (54), porque quem comer a sua carne "viverá por Ele" (57).
Concluindo: Embora não saibamos porque é que Jesus, para se referir a Si, escolheu a expressão "Filho do Homem" em vez de "Filho de Deus", sabemos que "Filho do Homem" não nega, antes implica a divindade.  Aliás, Jesus provou a sua divindade, de muitos modos, e até com toda a solenidade diante do Sinédrio.
Quando o Sumo Sacerdote lhe diz: "Intimo-te, por Deus vivo, que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus", Jesus, saindo do silêncio a que se votara, responde: "É como dizes. E Eu digo-vos: vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Poder, vindo sobre as nuvens do céu".
Uma afirmação tão explícita, que o sumo sacerdote a declarou blasfémia (Mt 26,63-64).
Quando, a seguir, O acusaram diante do tribunal romano, foi "porque Se fez Filho de Deus" (Jo 19,7) não em sentido figurado (porque isso não era crime) mas em sentido real.
 
(Revista Magnificat - pág. 9 e 10 - Fevereiro de 2003 - Braga - Portugal)