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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A ternura e veneração do Stille Nacht


https://www.youtube.com/watch?v=WxrBhZvvSIQ

Um povo conhecido no mundo inteiro sobretudo como filosófico e militar, mais militar do que filosófico, é o povo alemão. Destacando‑se como um povo militar, eles são o povo da bravura, do blitzkrieg, da proeza militar, como já foram em certo sentido o povo da cavalaria e povo das cruzadas.
Agora, eles ao mesmo tempo têm uma delicadeza de alma para a canção de Natal de tal maneira, que eles compuseram a canção de Natal universal. Quer dizer, o Stille Nacht, heilige Nacht passou a ser a canção de Natal cantada no mundo inteiro.
Agora, por quê? Eles imaginaram o sentimento de ternura que deveria despertar em alguém que visse no Presépio uma criança fraquinha, com todas as debilidades físicas da infância, chorando, com frio, mas sendo o próprio Deus!
Imaginem um país de regime monárquico que estava nas condições em que estava a Espanha no tempo de Alfonso XIII. Quer dizer, o rei morreu, o filho não tinha nascido, mas a rainha anunciou que ela já tinha concebido. Era Alfonso XIII no claustro materno. Quando nasceu, era o rei de todas as Espanhas, uma criança que cabia no berço.
Pode-se conceber que esse contraste desperta ternura, compaixão, toda espécie de delicadeza de sentimentos.
Mas o que dizer quando se trata do Homem‑Deus? O que é um rei da Espanha, ou qualquer outro  grande do mundo, em comparação com o Menino‑Deus? Não é nada, absolutamente. Entretanto, tão fraco… e depois, destinado a sofrer tanto! Quando abre os seus braços para as pessoas, já forma uma cruz; e faz pensar na dor insondável pela qual vai passar... Depois, toda a ternura que O levou a isso por nós, para o nosso bem, para a nossa salvação, sem outra finalidade a não ser essa.
Tudo isso desperta a ternura no mais alto grau. E num paradoxo, porque é a ternura para com Deus! A ternura e a compaixão para quem é infinitamente mais do que nós é um sentimento paradoxal. Altamente paradoxal. Vejam bem, não é contraditória, é paradoxal. E, portanto, tem que ser uma compaixão altamente delicada, uma compaixão de um alto critério de sentimento para ser digna de ser apresentada àquele que de fato merece essa compaixão, mas que é Deus!
Então, essa é a fórmula. A compaixão humana para o que há de mais delicado, mas ao mesmo tempo admirativa e súplice. Aquele que tem pena, fazendo um pedido Àquele de quem tem pena... é outro paradoxo! Isso é de uma grande beleza.
Em qualquer canção de Natal alemã esses sentimentos estão ligados magnificamente, e formam o espírito do Natal alemão. Esse Natal lucra em ser considerado não só como Natal que foi na Terra Santa no dia em que Nosso Senhor nasceu, mas o Natal como o alemão o festeja. Quer dizer, tem que se imaginar a igrejazinha, a paroquiazinha toda coberta de neve, com o relógio iluminado por dentro, que está indicando 10 para a meia‑noite; os aldeões que estão vindo com os tamancos grandes, porque a neve está enchendo o caminho, e ainda caem os flocos; a igreja está bem aquecida. Todo o mundo entra depressa, para poder tirar os seus capotes e se sentir mais à vontade.
Ao longe estão as casinhas da aldeia, e vêem-se as fumaças que sobem das chaminés, e é a festa de Natal que já está preparada, a lareira que está acesa, as delícias que já estão no forno... As suculentas, deliciosas e substanciosas delícias da culinária alemã que estão no forno, e é a festa de Natal que segue à festa litúrgica.
Tudo isso constitui dentro da inocência da neve um quadro só, que completa os sentimentos da canção de Natal alemã.
Vamos ao Stille Nacht. Eu vou chamar atenção antes de começar para esse misto de submissão de espírito, reverência e compaixão de um lado, e de outro lado alta cogitação. Começa “Stille Nacht... heilige Nacht...” E acompanha-se na música as alternativas. Cada vez que é baixo, é a ternura vigilante que pousa sobre o berço, que nada toque no Menino, que nada moleste o Menino. Deixe o Menino... O Menino está chorando, mas a Mãe o consola... Aquele desvelo! Mas depois, em certo momento, a ideia de que é Deus que está ali. Então... “heilige Nacht!” É preciso dizer que a tradução portuguesa não dá bem o sentido da palavra alemã, e desnatura. Só para fazer versinho de pé quebrado em português eles se afastam do texto alemão. O alemão tem outro sabor.
O schlaf in himmlischer Rhu quer dizer “dorme em celestial tranquilidade”. O pensamento é: o Menino está dormindo, mas a tranquilidade com que Ele dorme, aquele Menino lá não é um Menino da Terra, é um Menino do Céu. A tranquilidade dEle é a tranquilidade do céu. Então, uma ênfase dada na palavra himmlischer, que quer dizer celeste.
O próprio dessa canção é que a própria inflexão da voz, faz um comentário do sentido da palavra que está sendo cantada. Schlaf in himmlischer Rhu, dorme em celestial tranquilidade. Primeiro diz mais alto: dorme em celestial tranquilidade! Depois, para acentuar a ideia de quem está dormindo ali... então, é mais baixo: schlaf in himmlischer Rhu...
Eu gosto muito da música quando cada nota comenta um sentido da palavra. Isso vai muito de acordo com meu gosto de música. Na canção, tão despretensiosa, Stille Nacht, que um técnico de música dirá que é uma cançãozinha popular, eu não ligarei, eu não me incomodo com a técnica. Eu a respeito de passagem e de longe!
Aqui há um conceito de música, que é só superado pelo Gregoriano e por Tomás Luis de Victoria. Uma beleza!
Plinio Corrêa de Oliveira, palavras sem correções do autor durante um jantar no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 3 de Janeiro de 1989.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Tu és Pedro




Neste mundo cada vez mais agitado, em que fugitiva se encontra a verdadeira paz, nascida da tranquilidade na ordem, a figura do Papa Bento XVI é a afirmação categórica da perenidade da Igreja.
Vinte e um séculos já se passaram…
E, a barca de Pedro, assolada por tremendas tempestades, a que força humana jamais poderia resistir, permanece incólume sobre as vagas do mar encapelado deste século XXI agitado furiosamente pelo materialismo, ateísmo, amoralidade, individualismo e indiferentismo religioso.
Vinte e um séculos de luta! Vinte e um séculos de vitória!
Durante dois mil anos, alguns homens têm trabalhado afanosamente para destruir a Igreja de Cristo.
Como nos primeiros tempos do cristianismo, também hoje as potências do inferno, numa luta sem tréguas, procuram aniquilar, se isso fosse possível, a Igreja de Deus.
Perseguem-se os cristãos, matam-se e caluniam sacerdotes, ultrajam-se os religiosos, profanam-se as religiosas, prendem-se bispos e padres, desorientam-se as inteligências mal formadas com falsas teorias, enfraquecem-se as vontades com o indiferentismo ou o relativismo religioso, envenenam-se as consciências com os média, ou com a internet, destroem-se as imagens sagradas, ultraja-se sacrilegamente o divino Prisioneiro do Amor e incendeiam-se templos com o intuito diabólico de destruir a Igreja de Cristo.
E os séculos passam e caem os homens, vencidos pela morte, comparecendo a juízo perante o Senhor que perseguiram. E, enquanto desmoronam-se as suas falsas teorias, os mártires e os santos são glorificados e a Igreja prossegue a sua obra de paz, de amor, de salvação e de bênção.
Primado do Papa
"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18).
Foi esta a promessa feita há vinte e um séculos por Cristo, ao fundar a sua Igreja como sociedade perfeita, com o objetivo único de conduzir os homens para a vida eterna, sobre a rocha inabalável de Pedro.
A Igreja, por vontade de Cristo, é uma casa que deve ser edificada; um reino dos céus que deve ser governado; uma religião que ata ou desliga os laços sociais no próprio Céu” (Joachim Salaverri, Sacrae Theologiae Summa, Madrid, 28, 1952, p. 727).
Pedro, pois, por mandato expresso do Senhor, foi constituído como a pedra angular, o fundamento natural e o princípio de unidade deste maravilhoso edifício, erguido pelas mãos divinas. Ele é o ecónomo, o vice-rei deste reino, cujo soberano é o próprio Deus ou o árbitro supremo, para decidir em todas as questões de religião.
 “Jesus Cristo prometeu a Pedro o sumo pontificado da Sua Igreja” (Leão XIII, Satis congnitum).
Poucos dias depois da sua Ressurreição conferira, direta e imediatamente para toda a sua Igreja, o primado a Pedro ao dar-lhe o poder de apascentar a sua grei: “Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Disse-lhe:  Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15-17).
Os cordeiros e ovelhas de Cristo não são outra coisa senão os fiéis, como o próprio Senhor explica na parábola do bom Pastor, onde as ovelhas, são aqueles que O conhecem, seguem e amam apaixonadamente.
“Embora Cristo ~como diz São Cipriano – depois da sua Ressurreição, a todos os apóstolos conferiu igual poder, todavia, para que se manifestasse a unidade, pela sua autoridade, colocou o princípio dessa unidade num, constituindo uma cátedra” (S. Cirpino, De catholicae Ecclesiae unitate, apud Balverri Sacrae Theologiae Summa, Madrid, 1952, p. 567).
São Jerónimo acrescenta que sobre Pedro foi fundada a Igreja; e, embora o que Cristo conferira aqui a Pedro, o mesmo seja dado a todos os apóstolos noutro lugar, todavia elegeu, dentre os doze, um, como cabeça (S. Jerónimo, Adversus Joviniarum, 1, 26, ML,XXIII, col. 247).
E de Santo Efrem este testemunho tão claro e expressivo: “Simão, meu discípulo, eu te constitui fundamento da Santa Igreja. Chamei-te antes pedra, porque susterás todos os edifícios. Tu és o inspetor daqueles que edificam a Igreja na terra. Se algo de mau quiserem edificar, tu, fundamento, reprime-os. Tu és a cabeça da fonte da qual dimana minha doutrina, tu és a cabeça dos meus discípulos” (S. Efrem, Sermones in Hebdomadam sanctum, 41, edit. Lamy, p. 412).
Verdadeiramente, Pedro na Terra é o Vigário de Cristo porque obteve aquele mesmo poder que o Senhor teve na terra por direito próprio.
E ao criar a Igreja tendo Pedro por cabeça, como sociedade hierárquica e monárquica, constituiu-a duradoura até ao fim dos séculos, de tal maneira que na sua essência jamais poderá desfalecer: “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt. 18, 20).
Porque goza de especial assistência de Deus até ao fim do mundo, e porque conta com a promessa de Cristo de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra Ela, a sua Igreja durará até ao fim dos séculos.
O Papa, sucessor de São Pedro
Mas se a Igreja é perene, sendo o Primado o seu fundamento, este forçosamente será também perene.
Já dizia São Leão Magno: “Pedro, através dos tempos e sempre, vive nos seus sucessores e exerce o seu juízo”.
Necessário se torna, pois, que exista alguém que, obtendo por direito divino este Primado, o perpetue através dos séculos.
E se não fora o Romano Pontífice, a ninguém mais se atribuiria tal sucessão.
Por isso, o Papa é, realmente, e por direito divino, o sucessor de São Pedro, o doce Cristo na terra, como lhe chamou Santa Catarina de Sena.
Sempre a Igreja o reconheceu como tal e sempre a sua autoridade se exerceu sobre a Igreja universal, como comprovam inúmeros documentos de todos os tempos.
Santa Inácio mártir, na sua carta aos Romanos, saúda a Igreja de Roma com gloriosos epítetos, reconhecendo, assim, implicitamente, a preeminência desta sobre as outras igrejas da cristandade.
Santo Irineu afirma que a suprema autoridade em questões de doutrina, pertence, unicamente, à Sé de Roma.
São Cipriano, combatendo os cismáticos que negavam a unidade da Igreja, diz que “uma única Igreja, e uma única cátedra pela voz do Senhor, foi fundada sobre Pedro”, ao mesmo tempo que chama à Sé de Roma, “Cátedra de Pedro e igreja principal, onde se origina a unidade sacerdotal”.
O Papa é, pois, por direito divino, o sucessor de São Pedro, o chefe supremo da Cristandade, a quem Deus confiou o supremo poder de reger, santificar e governar a sua Igreja.
Por isso, os cristãos o veneram e amam.
Dizia, por exemplo, Mendès France, descendente de uma família portuguesa, Primeiro ministro da França em 1954, após o seu encontro com o Papa Pio XII: “Só hoje conheci a verdadeira grandeza!”
Também o grande estadista Winston Churchill, depois da sua receção pelo Papa, afirmava: “Acabo de me encontrar com o maior homem do mundo”.
Hoje em dia, podemos dizer de Bento XVI que é, de fato, a figura máxima da humanidade.
A sua missão, porque divina, é missão de paz e de concórdia entre os homens, missão de justiça e de amor, num mundo afogado no prazer e no vício.

sábado, 3 de novembro de 2012

A solicitude da Providência Divina para com o homem

O eterno Pai, com inefável benignidade, volveu o seu olhar de clemência para esta alma, dizendo-lhe:

“Filha caríssima, quero usar de misericórdia para com o mundo e exercer a minha providência para com os homens em todas as suas aspirações. Mas o homem, ignorante, orienta para a morte o que Eu dou para vida, e assim se torna cruel para consigo mesmo; apesar disso, continuo sempre a exercer para com ele a minha Providência. Por isso quero que o saibas: tudo o que faço ao homem procede da minha infinita Providência.

Com providência o criei e, ao contemplar-Me nele, fiquei encantado com a beleza da minha criatura, porque foi do meu agrado criar o homem à minha imagem e semelhança com especial providência.

Dotei-o de memória para que recordasse os meus benefícios e tornei-o participante do meu poder de Pai eterno. Dotei-o também de inteligência, a fim de que, na sabedoria de meu Filho, conhecesse a minha vontade e compreendesse a ardente caridade paterna com que distribuo todas as minhas graças. Dotei-o ainda de vontade para amar, fazendo-o participante da clemência do Espírito Santo, para que pudesse amar o que vê e compreende com a sua inteligência.

Tudo isto é obra da minha suave Providência, tendo apenas em vista tornar o homem capaz de Me conhecer e amar na alegria inefável da minha visão eterna. Entretanto, como já te disse outras vezes, as portas do Céu fecharam-se pela desobediência de vosso primeiro Pai, Adão, e por causa desta desobediência vieram ao mundo todos os males.

Para libertar o homem da morte causada pela sua desobediência, providenciei com toda a clemência, dando-vos o meu Filho Unigénito, para remediar por meio d’Ele as vossas necessidades. Exigi-Lhe uma grande obediência para libertar a humanidade daquele veneno, que, pela desobediência do vosso primeiro pai, tinha alastrado pelo mundo. Cheio de amor pelo homem e com verdadeira obediência, Ele entregou-Se generosamente à morte ignominiosa da sacratíssima cruz; e, mediante a sua morte santíssima, deu-vos a vida, não pela eficácia da natureza humana mas pelo poder da sua divindade”.
Do diáologo de Santa Catarina de Sena, sobre a Divina Providência (Cap. 134, ed. Latina, Ingolstad 1583, ff. 215v-216) 2º Leitura do Sábado da XXX semana do Tempo Comum.

A misericórdia e a paciência de Deus


Rei Salomão - Livro da Sabedoria
Tudo dispusestes, Senhor, com número, peso e medida. O vosso grande poder está sempre à vossa disposição. Quem poderá resistir à força do vosso braço? Diante de Vós, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho da manhã caindo sobre a terra.

De todos Vos compadeceis porque sois omnipotente e, a fim de trazer os homens à penitência, não olhais para os seus pecados. Vós amais tudo quanto existe e não odiais nada do que fizestes; porque, se odiásseis alguma coisa, não a teríeis criado. E como poderia subsistir, se Vós não a quisésseis? Vós tratais com indulgência todas as coisas, porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida.

O vosso espírito incorruptível está em todas as coisas. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados, para que se afastem do mal e acreditem em Vós, Senhor. Não é por temor de alguém que tardais em castigar as suas faltas. Quem ousaria perguntar: “Que fizestes?”. Quem se oporia à vossa sentença? Quem poderia acusar-Vos pela destruição de povos que criastes? Ou quem se levantaria contra Vós, para defender homens culpados?

Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. Não há rei nem soberano que possa enfrentar-Vos em defesa daqueles que castigastes.

Vós sois justo e tudo governais com justiça; e julgais indigno do vosso poder  condenar quem não merece castigo. O vosso poder é o princípio da justiça, e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omnipotência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano, e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais tempo para o arrependimento.
Leitura do Livro da Sabedoria 11, 21b – 12, 2.11b-19 - Leitura do Sábado da XXX semana do Tempo Comum

domingo, 28 de outubro de 2012

Quem trabalha reza

Quantas coisas nestas três palavras!
Com elas querem alguns dizer que o homem condenado a ganhar o pão com o suor do seu rosto, não pode estar sempre na Igreja; que desprezar os deveres do seu estado para gastar o seu tempo em exercícios de piedade não obrigatórios, é entender mal a piedade; que o lugar da mãe e do pai de família é no trabalho ou junto dos filhos. E dizem uma grande verdade, não há dúvida.

Mas, como fica o reconhecimento que devemos a Deus?
É certo que Ele quer que o trabalho nos sirva de oração.

Por isso não circunscreveu as nossas homenagens num lugar determinado, nem a uma hora certa. Mas como Ele está sempre em toda a parte, em toda a parte e sempre Ele permite que Lhe rezemos.
Por isso, leva em consideração o nosso desejo de Lhe elevar a mente no meio do trabalho e, até considera o trabaho, empreendido com o fim de Lhe agradar, como uma verdadeira oração.

Não podemos, nem devemos estar sempre na Igreja. Contudo, podemos e, até um certo ponto, devemos orar sempre. Se, tudo o que empreendermos for feito à vista de Deus, todas as nossas ações, ainda as mais indiferentes, serão outras tantas orações. Ora, se isto é verdade, por maior força de razão o é trabalho, um instrumento providencial de penitência, um refúgio seguro contra as tentações da ociosidade, e o meio regular de ocorrer às nossas necessidades ou as da nossa família.
Quer comais, quer bebais, dizia São Paulo, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus (1Cor 10, 31) . Uma Ave-Maria, ou, faltando ainda o tempo para isso, uma elevação do pensamento para Deus, no momento em que se começa o trabalho; implorar a proteção de São José e a do seu Divino Aprendiz, quando se nos apresenta alguma dificuldade, sem receios, nem desanimos, desta foram não temamos em chamar o nosso trabalho uma oração. Até pode ser a melhor de todas, a que Deus exige de nós; e assim podemos dizer: Quem trabalha reza.  

Cuitdado, contudo, porque outros entendem estas palavras de modo diverso, tornando-se, na boca deles verdadeiramente perigosas.
Há maus cristãos que, podendo fazer de outra maneira, trabalham ao domingo, ofendendo assim dois preceitos, não indo à missa, e entregando-se a trabalhos dispensáveis. Alguns destes homens, para se justicarem ou para induzirem outros a fazer o mesmo, têm constantemente na boca estas palavras: “trabalhar é orar”, “trabalho ao domingo, logo não preciso ir à missa”. Infelizes! Esquecem-se que o trabalho não dispensa nunca, a menos que haja absoluta impossibilidade, obrigações essenciais, como a da missa do domingo; esquecem-se além disso que o trabalho, para ser oração, deve ser feito à vista de Deus, com intenção de obedecer a uma lei, que Deus estabeleceu. Esquecem uma coisa, que nunca devemos esquecer: as ações quasi nada são em si, a intenção é que, sobretudo, as torna meritórias ou criminosas.

O que sofre tem na sua mão um meio muito mais poderoso ainda de se aproximar de Deus, do que aquele que trabalha. Pode, contudo, alguém crer que os seus sofrimentos operam independentemente da sua própria vontade, e que ele esteja no direito de, por exemplo, pedir a Deus uma recompensa pelas dores sofridas com um coração hostil ou indiferente? Como podemos querer que o trabalho se converta em oração, isto é numa elevação da alma a Deus, da parte daquele que não tem para com Deus nem respeito nem amor, que vive tão estranho para com o seu Criador, como nós o somos para com imperador do Japão, ou para com o chefe dos esquimós?
– Não , aquele que sofre como cristão, só esse ora pelo seu sofrimento, porque oferece a Deus as suas dores e os seus sofrimentos, assim também aquele que trabalha como cristão, só esse pede e ora com o seu trabalho, porque oferece a Deus os seus suores e os seus esforços.

Acontece muitas vezes ouvirmos pessoas que não consideram o trabalho do espírito, e tratam de ociosos aqueles que se dedicam ao trabalho da alma, à oração. Falam com soberbo desprezo, desses entes inúteis; segundo eles entendem: padres, religiosos, religiosas e beatas, que passam os dias a rezar.
Não nos importemos com tais desprezos, e troquemos as palavras que apresentamos, que nos mostrarão o contrário do que dizem os tais desprezadores: Quem reza trabalha.

Sim, por certo que quem reza trabalha. – E para quem trabalha? – Para todo o mundo, indiscriminadamente, e, principalmente, para aqueles que não rezam.
Quando o velho pai se converteu no leito da morte, e quando as pessoas, por muito indiferente que sejam, não podem conter as lágrimas, vendo a cristã serenidade dos seus derradeiros momentos, quando o filho é arrancado, como que por milagre, a essa doença cruel que os médicos tinham declarado mortal, a quem devem-se esses benefícios? Certamente não será por aquele que talvez nunca reza, e pode, até, ter esquecido o que é rezar.

Mas alguns amigos, a esposa virtuosa, a mãe estremecida, correram aos templos, rezaram e pediram orações, ofereceram com o padre o sacrifício incruento; e os pedidos de alguém, que não os dessas pessoas, porque nem sequer disso se lembram, foram ouvidos. Envoltos na matéria e em tudo materais, não podem admitir que as almas candidas se elevem à região dos espíritos; mas, corridos e confusos, não podem negar que as bênçãos do céu desceram sobre a casa deles. Se fosseis à igreja, lá veriam a esposa, a mãe e os amigos pedindo por eles. Só Deus sabe quantas calamidades públicas e particulares têm sido suspensas no seu curso pelo grande poder da oração!
Respeitemos pois as determinações e preceitos, que nos indicam que devemos cumprir os nossos deveres religiosos, rezando, ouvindo missa e desempenhando os outros encargos de cristãos, não nos esquecendo nunca que : Quem trabalha cristãmente reza, quem reza trabalha.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Audiência do Papa Pio IX ao seu “salvador”

Beato Papa Pio IX
No domingo de Páscoa de 1846, um pobre camponês entrava na ante-camera pontifícia para ser recebido em audiência pelo Beato Papa Pio IX. Apresentava-se profundamente comovido, e todos os príncipes da Igreja o contemplavam com interesse.

Foi admitido, e, banhado em lágrimas, prostrou-se aos pés do Papa, e dele recebeu mostras da mais paternal benevolência.

Um detalhe desta tocante entrevista dava-lhe um carácter inteiramente particular.

Há muitos anos, por fins do século XVIII, uma nobre e ilustre família dos Estados Pontifícios, tinha ido, como costumava, passar alguns dias de outono numa casa de campo, que possuia, a cerca de dez quilómetros da cidade.

Entre os membros da família, contava-se um menino, que era tão vivo como encantador, e que se chamava João.

Um dia, este menino vai procurar um jovem camponês de vinte e dois anos, o qual servia a família, e, passeando ambos, enquanto atravessavam um campo, aproximaram-se de um fosso muito profundo, repleto de água estagnada.

O menino, vendo ali peixinhos, que cortavam a água em diferentes direções, pára, diverte-se, vendo-os nadar, quer apanhá-los com a mão, aproxima-se cada vez mais da água, sem se dar conta do perigo, dá alguns passos sobre este terreno escorregadio e lodos. Falta-lhe um pé de repente, cai na água e desaparece... Ia morrer afogado, mas a Providência arrancou-o do perigo.

O resoluto camponês salva-o e colocá-lo novamente sobre o solo. O camponês chama-se Guidi, o velho, que fora admitido todo tremulo à audiência do Papa, e o menino, esse novo Moisés salvo das águas, era João Maria Mastai Ferretti, o Soberano Pontífice Pio IX, então Papa...

Quem não se teria comovido ao ver estes dois anciãos, um obrigado pela sua pobreza a procurar o menino, que ele tinha salvo, e do qual os seus andrajos o separaram por tanto tempo, e o outro, que, brilhando debaixo da púrpura e da tiara, abraçava o primeiro em lembrança da proteção divina, da qual um foi objeto e o outro o instrumento?!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O extraordinário senso de luta em Santo Antonio Maria Claret

Numa conferência proferida a 9 de Outubro de 1987, o Prof. Dr. Plínio Corrêa de Oliveira analisa uma fotografia de Santo Antonio Maria Claret e explica como, hoje em dia, temos uma noção incompleta da santidade.


Analisando esta foto, nota-se que na fisionomia deste varão não entrou a mão nem a imaginação de nenhum pintor. Foto sem subterfúgios, de um homem sem subterfúgios. Diante dela, podemos perguntar: é esta a ideia que temos de um santo? Absolutamente não, o que me leva à conclusão de que formamos uma conceção incompleta de santidade, pois trata-se de um santo: Santo Antonio Maria Claret.

Por que não se tem a ideia de que é um santo? Toda a fisionomia dele não leva a marca da estética: o formato do rosto, perfeitamente comum; as sobrancelhas dão ideia de uma personalidade forte; o enorme nariz parece ter passado por uma explosão nasal; lábios grossos; boca sem um traçado bem definido e orelhas grandes. Entretanto, homem com alto senso de dignidade e extraordinário senso da luta!

A linha geral da fisionomia revela uma firmeza indomável. Os olhos manifestam uma inquebrantável determinação da vontade, e parecem dizer: “Eu vou de qualquer jeito, e não tenho medo das consequências! O que devo fazer, faço! O que eu disse, mantenho!”.

Observando seu olhar, não é difícil perceber que, a par de tanta firmeza, ele tem uma bondade e uma doçura incontestáveis. No fundo do olhar, sobretudo do lado direito, nota-se juntamente com a doçura uma firmeza resolvida a ir até o martírio. Não tem hesitações, entregou tudo e está disposto a enfrentar qualquer dificuldade que apareça.

É um homem movido por alto senso do dever, fundado nas mais elevadas conceções religiosas e metafísicas, profundamente persuadido de que assume a posição certa; de que professa e ensina a Religião verdadeira; de que é um ministro de Deus, e ensina a doutrina imutável e eterna da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. A atitude dele é a de quem crê nisso até o fundo da alma e tem certeza daquilo que crê. Está disposto a qualquer coisa para pregar, defender e manter essa doutrina, de acordo com seu lema: “A Dios orando y con el mazo dando” (A Deus orando e com a maça dando nos inimigos).

A consciência dele é um lago tranquilo de água cristalina. É um exemplo de vida sobrenatural, um apóstolo transbordante de vida interior. E porque transbordante dessa vida, homem para o qual não há barreiras. Quando encontra obstáculos insuperáveis, levanta os olhos para Deus e faz uma prece.


A pontualidade, uma regra de caridade



Torre do relógio
Castelo de Cardiff

Ninguém calcula todo o bem que pode conseguir aquele que procura ser pontual em todas as acções da sua vida. A pontualidade é, como diz o ditado, a cortesia dos reis, deve ser o apanágio de todas as classes, de todas as idades e de todas as condições. Porque, se a cortesia não é mais que a forma exterior da caridade cristã e se a verdadeira cortesia procede do sacrifício de si mesmo, praticado em todas as ocasiões e no decurso de todos os pequenos incidentes, que compõem a vida, a pontualidade resume em si só todas as regras da caridade.

Ser pontual é ter consciência de seu dever, e ter vontade de o cumprir. Ninguém é pontual sem ter espírito vigilante, atenção constante, resolução sempre pronta e firme. Ninguém é pontual, quando não obra e não vive debaixo das grandes inspirações de uma regra.

O homem que não se preocupa com a pontualidade é um flagelo na sociedade. Se for padre ou médico, deixam morrer o doente sem socorros; se notário sem testamento; se advogado faz perder a causa; se soldado as batalhas; o director ou administrador o negócio; a dona de casa arruína a família. São sempre os homens inexactos que fazem com que os negócios falhem, tudo perturbam e desorganizam, porque chegam muito tarde.

Sejamos, portanto, em tudo pontuais. Nas coisas pequenas, se o queremos ser nas grandes. Pontuais no que dissermos e no que fizermos, porque assim se trabalha para as coisas da vida presente, e mais ainda para as da vida futura, sendo pontualíssimos no desempenho das obrigações do próprio estado para que não sejamos surpreendidos pela morte.

Não pode ser bom cristão, o homem que não é pontualíssimo no desempenho dos seus deveres para com Deus, para consigo mesmo, e para com todos os seus próximos.

domingo, 21 de outubro de 2012

Aforismos



Não é sábio o que sabe muitas coisas, mas sim o que sabe coisas úteis.
O homem julga-se sempre superior ao que é, e estima-se muito menos do que vale.
Aquele que despreza o pobre, insulta o seu criador; e o que se alegra com a ruina de outrem, não ficará impune.
Até o insensato passará por sábio, se estiver calado; e por inteligente se cerrar os lábios.
Quando a alma está agitada, o repouso do corpo é um suplício.
O arrependimento é um novo batismo.
O receio de fazer ingratos, não dispensa de fazer bem.
A melhor maneira de guardar um segredo é esquecê-lo.
O coração contente alegra o semblante; com a tristeza da alma se abate o espírito.
O temor do Senhor é a disciplina da Sabedoria; e a humildade precede à glória.
Mais vale ser humilhado com os mansos, do que repartir os despojos com os soberbos.
Bem como a prata se prova ao fogo, e o ouro no crisol, assim o Senhor prova os corações.