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domingo, 21 de outubro de 2012

O mendigo insultado nunca se vingou



 
O favorito de um sultão atirou uma pedra a um pobre, que lhe pedia esmola. O infeliz ultrajado não se atreveu a dizer palavra: apanhou a pedra e guardou-a, prometendo, cedo ou tarde, quando se lhe oferecesse ocasião, atirar com ela naquele homem soberbo e cruel.

Passado algum tempo, foram dizer-lhe que o favorito perdera a graça do sultão, e que, por ordem deste era conduzido pelas ruas montado num camelo e exposto aos insultos da populaça. A esta notícia, o mendigo correu a buscar a pedra, mas depois de um momento de reflexão, foi lança-la num poço.

-- Agora conheço, disse ele, que ninguém deve vingar-se. Quando o nosso inimigo é poderoso, é imprudência fazê-lo. Quando é infeliz, torna-se vileza e crueldade.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Beato P. Antonio Rosmini, “profeta” que sentiu cem anos antes os problemas tratados no Concílio



Conselheiro dos Papas Pio VIII, Gregório XVI e Beato Pio IX, missionário desvelado, defensor da Igreja e da fé, António Rosmini nasceu em Rovereto no dia 24 de Março de 1797 e faleceu em Stresa a 1 de Julho de 1855, dedicando a sua vida aos estudos de filosofia, política, ascética e pedagogia.

O espírito sacerdotal resplandeceu nesse ministro do Altar. Ao terminar os estudos jurídicos e teológicos na Universidade de Pádua, recebeu a Ordenação sacerdotal em 1821 e tornou-se um pároco exemplar em Rovereto, sua cidade natal. Depois foi cónego de Milão, incansável atleta de Cristo, sacerdote modelar e polemista incomparável. Foi escritor de fecundidade famosa, de estilo elegante e profundo, amigo íntimo do poeta Alessandro Manzoni.

Imediatamente demonstrou grande interesse e inclinação para os estudos filosóficos, encorajado neste sentido pelo Papa Pio VIII, que lhe pedira para conduzir os homens à religião através da razão, e mais de uma vez colocou-se contra enganadores e falsos movimentos de pensamento como o sensismo e o iluminismo.

Político profundo, ao lado de Gioberti intentou uma concordata do Rei Carlos Alberto da Sardenha com Pio IX. Pio IX nomeou-o ministro da instrução, cargo que não aceitou. Quando em 1848 o Santo Padre se refugiou em Gaeta, Rosmini aconselhou-o a permanecer em Benavento, onde reinava absoluta calma. 

Depois retirou-se completamente do campo da Política.

A filosofia atraiu-o poderosamente, pretendendo harmonizar as doutrinas Kantianas com Santo Agostinho e São Tomás. A Santa Sé condenou em 1849 dois livros seus: “Constituição segundo a Justiça social” e “Cinco chagas da Igreja", por decreto de 12 de agosto. Rosmini submeteu-se publicamente. Depois de sua morte foram condenadas 40 proposições extraídas das suas obras.

Em 1828 fundou o Instituo da Caridade e o das Irmãs da Providência, “idealizados e queridos como ambientes propícios à formação humana, cristã e religiosa de quantos tinham partilhado o mesmo espírito, adaptando-se às contingências históricas, civis e culturais do seu tempo. Na audiência de 12 de Janeiro de 1972, Paulo VI definiu-o "profeta", que em antecipação de um século sentiu e indicou problemas da humanidade e pastorais, debatidos depois no Concílio Vaticano II.

A sua obra "As cinco chagas da Santa Igreja" é considerada precursora dos temas conciliares. Uma delas fazia o Beato P. António Rosmini sofrer demais:  a separação entre fiéis e clero durante as funções litúrgicas, pela impossibilidade dos primeiros seguirem as orações formuladas em latim, adiantando a proposta de seguir as línguas próprias de cada povo. Devido à novidade de algumas suas ideias sobre a reforma da Igreja, a obra foi, como acima referido, posta no Índex em 1849, com todas as polémicas que se seguiram.

Somente com João Paulo II ocorreu a completa reabilitação da sua figura. Na carta encíclica Fides et ratio, o predecessor de Bento XVI colocou Rosmini "entre os pensadores mais recentes nos quais se realiza um fecundo encontro entre saber filosófico e palavra de Deus", concedendo a introdução da causa de beatificação.

Precedentemente também João XXIII fez o retiro espiritual sobre as Máximas de perfeição cristã de Rosmini, idealizadas para definir o fundamento espiritual sobre o qual todos os cristãos pudessem garantir um caminho na perfeição, assumindo-a como própria regra de comportamento.

Também Paulo VI não foi indiferente ao pensamento do Beato P. António Rosmini: por ocasião do 150º aniversário de fundação do Instituto da Caridade, enviou uma mensagem ao então Padre-Geral, na qual elogiava a intuição rosminiana ao dar importância à missão caritativa já no nome que designava o instituto. O seu sucessor, João Paulo I, formou-se em Teologia Sagrada na Universidade Gregoriana de Roma com uma tese sobre "A origem da alma humana segundo António Rosmini".

A Congregação do Instituto da Caridade foi fundada em 1828 no Santuário do Monte Calvário em Domodossola, com a aprovação pontifícia de Gregório XVI em 1839. Formado por sacerdotes e leigos com votos simples e perpétuos, mas também por religiosos e bispos "adscritos", o organismo nasceu com uma finalidade muito precisa: o exercício da caridade universal, união daquelas formas que Rosmini enumera como "caridade espiritual", "caridade intelectual" e "caridade temporal". Uma ordem, contudo, susceptível de mudanças de acordo com as exigências expressas pelo próximo. Sucessivamente, em 1832, foram fundadas as Irmãs da Providência, cujo carisma é o mesmo do ramo masculino.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A luz de Claudel continua a brilhar



Nascido em Villeneuve-sur-Fère, a 6 de agosto de 1868,numa família indiferente em matéria religiosa, Louis Charles Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper, mais conhecido pelo seu nome artístico de Paul Claudel, cedo se deixou prender pelos laços do materialismo, tão em voga na época em que viveu.

O primeiro choque sofreu-o quando lhe vieram parar às mãos as “Illuminations” e, alguns meses depois, “Une saison en enfer” de Rimbaud.

Durante as cerimónias do Natal de 1886 na Catedral de Notre Dame de Paris, Claudel, que tinha entrado para encontrar motivos artísticos para as suas composições literárias, para do lado direito, ao fundo, junto  da segunda coluna. Subitamente teve fé, acreditando em um Deus pessoal, transcendente, afável e paternal.

Vinha ao encontro de Claudel esse Deus que ele em criança conhecera e na mocidade desvairada nunca mais recordara. Este choque, maior que o de Rimbaud, havia de repercutir-se na sua vida inteira.

Apesar de ter pensado em dedicar-se à vida monástica, como beneditino, Claudel acabou por entrar para o corpo diplomático da França, em que serviu de 1893 a 1936. 

Ao se retirar da vida pública, recolhido no seu castelo de Brangues, intensificou os seus escritos.
A obra de Claudel é de um lirismo encantador, de uma força e amplidão que só Vitor Hugo atingiu. Reveste-a um caráter de universalidade que o escritor aprendeu no contacto direto com os homens espalhados por todas as partes da terra.

Foi, porém, no género dramático que o génio de Claudel melhor se realizou.

Os personagens dos seus dramas movem-se entre o Céu e a Terra. De um lado os esplendores celestes, do outro a sedução constante das misérias terrenas. Alegria verdadeira, só a possui quando neles a graça venceu a natureza.

Isto não quer dizer que lhes falte a verdade psicológica. É quando nos múltiplos problemas  exigências da vida se debatem que se lhes apresenta a ansiedade da salvação eterna. Claudel entrou na imortalidade concedida por Deus aos seus filhos e recebeu, já neste mundo, essa glória dos homens que tanto custo a chegar. 

A paixão pela Bíblia, livro que sempre amou, desde os primeiros anos da conversão, com ele morreu, depois de o ter consolado nos longos anos da velhice, pois o escritor viria a morrer aos 86 anos, em 1955.

Compete a nós católicos tornar conhecida a obra de um filho ardente e obediente da Igreja, de um escritor e poeta que soube encarar e cumprir a missão de reconduzir os homens a Deus, através das coisas criadas.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Das armas ao convento: a vida de Frei Luís de Sousa



Frei Luís de Sousa

Manuel de Sousa Coutinho, autor da vida do Beato Frei Bartlomeu dos Mártires é uma das estrelas de primeira grandeza, que brilham no firmamento dos grandes mestres da língua portuguesa. A clareza serena, suave e elegante do seu estilo e a fluência natural e espontânea da sua linguagem, fazem do quarto filho de Lopo de Sousa Coutinho, militar valente e um dos muitos que escreveram páginas gloriosas sobre a epopeia portuguesa em terras orientais, e de D. Maria de Noronha, dama da rainha D. Catarina, um dos melhores prosadores lusitanos.

Nascido em 1555, em Santarém, a vida de Manuel de Sousa Coutinho, ou Frei Luís de Sousa, como se chamava em religião, é uma destas existências agitadas e aventurosas, cheias de romanesco, aureoladas de sonhos fantásticos e carregadas de tragédias. Teria encetado, por algum tempo, os estudos universitários em Coimbra; mas, talvez depois da morte inesperada do pai, trespassado pela espada ao desmontar, cedo o vemos seguir a carreira das armas.

Aos 22 anos, navegando numa galé para Malta, onde pretendia alistar-se na Ordem de Malta, foi capturado pelos corsários na Sardenha e conduzido a Argel. No cárcere teve a ventura de conhecer Miguel Cervantes, o famoso autor de Don Quixote de la Mancha, de quem se tornou íntimo. Resgatado em 1577, resolve voltar à Pátria, todavia demora-se em Valência e aí trava amistosas relações com o humanista espanhol Jaime Falcão. Considerando-o como um mestre a quem devia todo o seu saber, nomeadamente o conhecimento da arte poética de Horácio, edita a obra do espanhol, intitulada Ópera Poética.

De volta a Portugal, depois da tremenda derrota de Alcácer Quibir, onde morreu o rei D. Sebastião, que não deixou herdeiro, e quando sobre a nação pairava a nuvem sombria da incerteza e da traição, contraiu matrimónio em 1583 com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal, filho de D. Manuel de Portugal, a quem Luís de Camões endereçou a Ode VII como gratificação pelo patrocínio à publicação de Os Lusíadas, morto cinco anos antes em terras africanas.

Nomeado capitão-mor de Almada, ali fixou residência numa esplêndida moradia onde costumava veranear. Entretanto, uma peste começa a flagelar a Capital, e os Governadores do Reino deixam Lisboa e vão-se instalar naquela vila, requisitando a casa de Manuel de Sousa Coutinho. Este, ferido por esta acintosa atitude, lançou-lhe o fogo, exclamando: “Ilumino a minha casa para receber os muito poderosos e excelentes Governadores destes Reinos”.

Desde este ato de intrepidez, a sua misteriosa vida reparte-se ainda por terras de Espanha e da América do Sul, muito provavelmente no Perú. Até que, regressando a Portugal, resolveu, por consentimento mútuo com a esposa, ingressar na religião, professando a 8 de Setembro de 1614, indo ele para o convento de São Domingos de Benfica e ela para o do Sacramento, tomando o nome de Sóror Madalena das Chagas. Esta separação dos dois esposos, talvez motivada pela morte da única e estremecida filha D. Ana de Noronha, despertou um tão forte interesse explicativo que veio a engendrar a obra-prima do teatro garretano – Frei Luís de Sousa, - cuja historicidade é bastante contestada.

Cortados os laços das mundanas vaidades e vivendo com os olhos em Deus na austeridade de um convento dominicano, Manuel de Sousa Coutinho (agora Frei Luís de Sousa) exerceu com desvelo o cargo de enfermeiro, o único que considerava digno da sua baixeza, e procurou trilhar, com humildade, pelas vias da santidade.

Mas o homem põe e Deus dispõe. Em 1616 falecia o cronista da Ordem, Fr. Luís de Cácegas, deixando um grande número de apontamentos e informes desarrumados. Frei Luís de Sousa é encarregado de pôr em “ordem e estilo” todo aquele precioso manancial.

A tarefa era árdua não só para quem já entrava na casa dos sessenta, mas ainda para quem, como ele, desejava sepultar no esquecimento do mosteiro toda influência do mundo. No entanto, obedece. O antigo humanista, agora oculto sob o hábito grosseiro e austero, ia revelar-se o “mais perfeito prosador da língua”, na expressão de Almeida Garret, ou “o principal entre os nossos escritores clássicos” como o considera Alexandre Herculano, que classifica de “maravilhoso o seu estilo”.

Efetivamente, o autor da Vida do Beato Frei Bartolomeu dos Mártires, da vida de S. Domingos e dos Anais de D. João III, é bem o modelo acabado do prosador, onde não cabe mais nada a fazer senão admirar, tanto a elegância da linguagem e simplicidade da forma, como o encanto das descrições e a propriedade de imagens. Em pleno período barroco, numa época em que o gogorismo dominou e manchou os grandes escritores do século, Fr. Luís de Sousa conseguiu ilibar-se desse modo contrafeito de escrever, onde a clareza da ideia é sacrificada à exuberância de elementos ornamentais.

Tinha razão o seu biógrafo D. Francisco Alexandre Lobo, bispo de Viseu, ao traçar o seguinte elogio: “em toda a parte procedeu como a corrente serena, que caminha sempre igual, sem topar em penedos e se despenhar em catadupas”.

domingo, 14 de outubro de 2012

Os Bispos, sucessores dos Apóstolos




Se a Igreja permanece intrépida no meio de tantas tempestades é porque foi instituída por Deus e goza da assistência permanente de Cristo que a seus Apóstolos prometeu estar com Ela até à consumação dos séculos.

Não fora a Igreja divina, há quantos séculos teria desaparecido da face da terra!

Origem da Igreja

Para libertar o homem do cativeiro do pecado Deus mandou à terra o Seu próprio Filho que, trazendo hipostaticamente unidas as naturezas divina e humanas, dando aos seus actos um valor infinito, como Mediador único e verdadeiro entre Deus e os homens e como eterno e Sumo-Sacerdote, consumando essencialmente pelo sacrifício da Cruz o seu múnus redentor, satisfez condigna, superabundante e infinitamente por todos os homens.

Mas ao vir Cristo ao mundo como Legado divino fundou o Seu reino na terra e propôs Sua doutrina como revelada pelo Pai para sucessivamente ser acreditada e seguida por todos os homens como condição indispensável à própria salvação.

Por isso, antes de chegar ao fim do mundo, “deve o Evangelho ser pregado a todas as nações” (Mc 13, 10).  “E o que acreditar e for batizado, será salvo; o que porém não acreditar será condenado” (Mc 16, 16).

Missão dos Apóstolos

Da intenção de Cristo urge, pois, que a doutrina revelada se conserve e seja levada a todos os homens para que acreditando se batizem, e batizando-se se salvem.

E assim, Jesus depois de cumprida a sua missão na terra, após a Ressurreição e antes de partir para o Pai, para de lá só voltar na consumação dos séculos cheio de poder e majestade, transferiu para os Apóstolos, tendo São Pedro como chefe, todo o poder que do Pai havia recebido, a própria Legação divina no seu tríplice múnus de Profeta, Sacerdote e Rei.

“Assim, como meu Pai me enviou, assim eu vos envio a vós. Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). “Eis que me foi dado todo o poder no Céu e na terra. Ensinai todas as gentes (…) ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei. Eis que estarei convosco até à consumação dos séculos”. (Mt 28, 18-20).

Pela eficaz assistência de Cristo a seus Apóstolos e pela necessidade de Sua doutrina, como meio de salvação, ser levada a todos os homens, indispensável se torna que os seus poderes sejam comunicados a outros, assegurando assim à Igreja uma hierarquia que goze de perenidade necessária, ou seja, de indefetibilidade relativa, condicionada, portanto, à existência de homens sobre a terra.

Se, portanto, a Igreja, como sociedade visível – que outra coisa não é que os próprios Apóstolos exercendo os múnus que lhes foram confiados por Cristo – é perene não só porque última e única economia de Redenção até ao fim do mundo, mas também porque goza da eficaz assistência do Espírito Santo, para que perene seja a sua hierarquia, duas condições se requerem: que perene seja o próprio múnus hierárquico, isto é, o tríplice poder de ensinar, santificar e governar, e que perene seja o modo hierárquico da constituição do sujeito do múnus.

Os Bispos, continuadores dos Apóstolos

Sendo a hierarquia da Igreja, como vimos, perene, importa saber quem foi o sujeito que após a morte dos Apóstolos obteve tal poder hierárquico.

Percorrendo as páginas da história da Igreja, dos escritos dos Padres Apostólicos e dos Santos Padres, nós vemos que, desde o tempo dos Apóstolos, as Igrejas eram presididas por homens de porte nobre e santidade esmerada, a quem chamavam Bispos.

Já o Apóstolo São João inclui no Apocalipse sete cartas aos “sete” anjos das sete Igrejas que enumera.

Analisando este texto, pelo próprio contexto, chegamos à conclusão que esses anjos não podiam significar anjos protetores das Igrejas porque se diziam dignos de louvor e repreensão pelos seus atos, nem as personificações das próprias Igrejas, pois estas são distintas, quer pelos símbolos quer pela explicação dos mesmos símbolos.

Por exclusão de partes resta-nos, pois, a opinião de Santo Agostinho que nos parece a mais provável e conforme ao texto: os anjos representam os Bispos das sete Igrejas.

Ora este facto de modo algum se poderia explicar se, por direito divino de sucessão, os Bispos não sucedessem aos Apóstolos no seu múnus ordinário.

O próprio concílio Vaticano explicitamente define que os Bispos são sucessores dos Apóstolos por instituição divina no poder ordinário de jurisdição.

Eusébio de Cesareia, Tertuliano, Santo Irineu e Hegesipo, ripostando aos que negavam a origem divina da Igreja ou a legitimidade de tal sucessão, apresentavam como argumento principal e mais convincente os catálogos dos Bispos de várias Igrejas remontando-os aos próprios Apóstolos.
Santo Inácio mártir, numa das suas cartas escritas a caminho do martírio, afirma que o Bispo ocupa o lugar de Deus e é mandado por Deus.

Se a Igreja sempre acreditou em tal sucessão e se só aos Bispos a atribuiu, é porque não duvida de que, por instituição divina, eles são os legítimos sucessores dos Apóstolos em todo o seu poder ordinário.

Assim como o Pai enviou o Filho, assim o Filho enviou os Apóstolos, e os Apóstolos os Bispos.
Causas da devoção ao Bispo

Daqui o amor, carinho e devoção que devemos ter ao nosso Bispo. O Papa como Bispo da Igreja Universal e o Bispo diocesano dentro dos seus limites jurisdicionais, são a presença viva e palpável de Deus que lhes conferiu, na pessoa dos Apóstolos, o múnus de mestres, legisladores e juízes.
Os Bispos receberam o seu poder dos Apóstolos: “Os Apóstolos foram feitos pregadores do Evangelho pelo Senhor; e Jesus mandado por Deus” (S. Clemente Romano, Epistola ad Corinthios, apud M. J. Rouet de Journel, Enchiridion Patristicum, nº 20). Cristo, portanto, por Deus, os Apóstolos por Cristo e os Bispos pelos Apóstolos.

Daqui, as causas desta devoção ao Bispo. De facto, seu poder vem diretamente de Deus. “Aquele que vos recebe a Mim recebe, e o que Me recebe, recebe Aquele que Me enviou” (Mt 10, 40).
Já aconselhava Flávio Josefo: “elegei bispos dignos do Senhor, homens mansos, verdadeiros e provados”  (Flavius Joseph, Antiquitates, Apud Konradus Kirch, Enchiridion Fontium Historiae Ecclesiasticae Atinquae” nº 6).

O Bispo é Cristo visível no meio de nós, é a vida da própria Igreja. Se a Igreja lhe falta a Hierarquia tal qual Deus a constituiu, logo ruirá nos seus fundamentos, pois faltar-lhe-á a seiva que a vivifica.
O Bispo “é a palavra que ilumina, a vontade que dirige, a fonte que dá vida e purifica e dessedenta. A Igreja sem Bispo seria um corpo sem cérebro, sem coração, portanto, sem vida” (D. Manuel, Bispo de Priene, em Ação Católica Portuguesa, setembro-outubro de 1955).

Por isso jamais a Santa Igreja sucumbirá pois que, na sua Hierarquia e pela eficaz assistência do Espírito Santo, Cristo está até à consumação dos séculos.

Ruem as instituições do mundo, esquecem-se os homens no tropel vertiginoso do tempo, a Igreja, contudo, louvada e venerada ou desprezada e perseguida, continua indefetível a sua missão de luz, paz e santificação.