“O misto de seriedade, de gravidade, de
bondade e até de meiguice que se exprimem na fisionomia de Dona Lucília são
qualidades que existem nela de um modo tão excelente, e que se combinam para
formar um todo tão agradável de ver no seu conjunto, que se fica com a vontade
de olhar indefinidamente” (...).
“Vê-se, nesta fotografia, que Dona Lucília era
uma senhora que tinha atingido uma idade extrema. Ela estava com noventa e dois
anos nessa ocasião, idade em que falecem os que morrem tarde. Foi uma pessoa
que não exerceu nenhuma profissão. Entretanto percebe-se que ela carrega
consigo um grande cansaço. Cansaço do quê? Em parte, é o que nós poderíamos
chamar o cansaço do equilíbrio.
“Cansa estar procurando o equilíbrio em tudo,
e cumprindo a justiça em tudo. Levar uma vida inteiramente dentro dos
Mandamentos é preparar-se para o Céu, mas ainda não é o Céu. Pelo contrário, é
o sofrer na Terra para chegar até lá.
“Vemos aí o extremo cansaço de inúmeras
dores, de incontáveis deveres cumpridos, de situações difíceis enfrentadas e
vencidas sem a menor pretensão. Ninguém, olhando para ela, diria o seguinte:
“Essa senhora se considera um colosso.” Nada, nem um pouco, nem passa pela
cabeça dela isso. Porquê? Equilíbrio! (...).
Consolação encontrada no Sagrado
Coração de Jesus
“Dona Lucília foi compreendendo que na época
em que ela vivia as relações já não eram movidas senão por interesse, e que o
afeto desinteressado fazia parte do tempo expirante do romantismo.
“Com a modernidade tinha entrado a
brutalidade, o interesse pessoal, o pouco caso pelos outros que sofrem e o
desprezo. Isso marcou uma grande tristeza na vida dela, por compreender que
tudo não era senão isolamento, pois todo mundo era assim e ela não teria
possibilidade de encontrar quem tivesse para com ela a forma de afeto e de
união de alma que ela quereria ter com tantas pessoas.
“Daí, então, uma espécie de problema
axiológico: “Como é a vida? Como devo fazer? Como preciso entender as coisas?”
Onde entrava uma profunda deceção e um modo muito severo, inteiramente real e
exato, de ver os outros. (...) Com o seu bom senso, sua retidão moral, ela
radiografou a existência e compreendeu como era.
“Daí uma grande deceção, mas também uma
enorme consolação, pois se vê bem tudo quanto nela confluía ao Sagrado Coração
de Jesus, que exatamente é “Fonte de toda consolação”, segundo uma das
invocações da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus. É verdade que se na vida
encontrarmos apenas deceções, encontraremos a Ele, que é a Fonte de toda
consolação”.
Plinio Corrêa de Oliveira, Conferências de 12
de janeiro de 1994 e 8 de fevereiro de 1995
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