Quem
foi São Marcos, cuja festa é comemorada pela Igreja no dia 25 de abril?
As
Escrituras fazem poucas referências a Marcos. Para conhecermos quem era este
Apóstolo e Evangelista, abramos os “Atos dos Apóstolos” e vejamos o que ocorreu
quando São Pedro foi libertado da prisão de Jerusalém:
“Nessa ocasião, o rei Herodes prendeu alguns que pertenciam à Igreja, com a intenção de maltratá-los, e mandou matar à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isso agradava aos judeus, prosseguiu, prendendo também Pedro durante a festa dos pães sem fermento. Tendo-o prendido, lançou-o no cárcere, entregando-o para ser guardado por quatro escoltas de quatro soldados cada uma. Herodes pretendia submetê-lo a julgamento público depois da Páscoa. Pedro, então, ficou detido na prisão, mas a igreja orava intensamente a Deus por ele. Na noite anterior ao dia em que Herodes iria submetê-lo a julgamento, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas algemas, e as sentinelas montavam guarda à entrada do cárcere. Repentinamente, apareceu um anjo do Senhor, e uma luz brilhou na cela. Ele tocou no lado de Pedro e o acordou. "Depressa, levante-se!", disse ele. Então as algemas caíram dos punhos de Pedro. O anjo disse-lhe: "Vista-se e calce as sandálias". E Pedro assim fez. Disse-lhe ainda: "Ponha a capa e siga-me". E, saindo, Pedro o seguiu, não sabendo que era real o que se fazia por meio do anjo; tudo lhe parecia uma visão. Passaram a primeira e a segunda guarda, e chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. Este abriu-se por si mesmo para eles, e passaram. Tendo saído, caminharam ao longo de uma rua e, de repente, o anjo deixou-o. Então Pedro caiu em si e disse: "Agora sei, sem nenhuma dúvida, que o Senhor enviou o seu anjo e me libertou das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava". Percebendo isso, dirigiu-se à casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos, onde muita gente se tinha reunido e orava” (At 12, 1-12).
Marcos devia ter pertencido a uma família rica, já que a sua mãe tinha uma casa muito grande, a ponto de ser um lugar de encontro para muitos cristãos e, deve ter sido um discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo muito fervoroso e devotado, dado ter Pedro escolhido esta casa para se dirigir logo depois de sair da prisão.
São Pedro explica o laço que o unia a São Marco na sua primeira epistola, escrita por volta dos anos 60, aos cristãos da Asia Menor: "Marcos, meu filho, manda-vos saudações" (1Pd 5,13). Uma vez que ele não tinha filhos segundo a carne, se ele chamou Marcos “seu filho”, é porque ele o gerou segundo o espírito, na fé em Jesus Cristo e, portanto, Marcos foi o seu discípulo.
O discípulo acompanhou o mestre, quando este último, saindo de Jerusalém, foi provavelmente para a Ásia Menor e de lá para Roma? Alguns autores pensam que assim sucedeu, pois era preciso que Marcos e Pedro fossem conhecidos dos cristãos da Ásia Menor, a ponto de Pedro escrever que Marcos mandava cumprimentos.
Mas, se Marcos seguiu Pedro, não foi por muito tempo. Os Atos dos Apóstolos mencionam-no também com Barnabé, que se juntou a Saulo para evangelizar a cidade de Antioquia, levando ajuda aos cristãos de Jerusalém, que estavam passando fome: "Quando Barnabé e Saulo terminaram o seu trabalho em Jerusalém, voltaram levando com eles João, chamado Marcos” (At 13, 25). Sabe-se que Saulo era o convertido de Damasco, chamado também Paulo. Mas quem era Barnabé? Um judeu originário da Ilha de Chipre, que se distinguiu em Jerusalém pela sua fé e generosidade para com a comunidade cristã da cidade. Uma carta escrita mais tarde por São Paulo aos fiéis de Colossos, na Ásia Menor, designa Marcos como parente (primo ou sobrinho) de Barnabé. Compreende-se assim que Barnabé se tenha associado a seu parente Marcos no apostolado que exercia em Antioquia com Saulo.
Os doutores de Antioquia enviaram Saulo e Barnabé para Chipre. Junto com eles, neste novo ministério, estava Marcos. Mas no dia em que Paulo quis ir de Chipre para a Ásia Menor, Marcos deixou-os para voltar para Jerusalém. É ali, por volta do ano 50, que viu Pedro, seu pai na fé, quando este resolveu no conselho dos apóstolos e dos anciãos a polêmica levantada em Antioquia pelos cristãos de raça judia contra os cristãos de raça estrangeira. Depois, quando Paulo e Barnabé, que tinham participado neste conselho, voltaram para a Antioquia e se ofereceu para visitar as cidades que tinham evangelizado, Barnabé queria levar seu parente João, conhecido como Marcos. Mas, Paulo opôs-se. A discordância foi tal que Barnabé separou-se de Paulo e partiu com Marcos para a Ilha de Chipre.
Devemos acreditar que essa dissidência não durou muito pois, dez ou doze anos depois, Paulo, que se encontrava cativo em Roma, escreveu, numa carta aos cristãos de Colossos, a quem ele tinha como consolador e ajudante na propagação do reino de Deus o próprio Marcos: “Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o (Col 4, 10)”.
Marcos, em Roma, foi apenas o coadjutor de Paulo? Não! Ele esteve também ao lado do chefe dos apóstolos. Segundo Papias, bispo de Hierápolis nos anos 130, intérprete ou secretário de Pedro, embora não tendo visto nem seguido o Senhor, deixou por escrito o que a memória do chefe dos Apóstolos guardou dos ditos e dos atos do Senhor. Deste trabalho resultou no Evangelho de São Marcos.
Por fim, considera-se que São Marcos fundou, em nome de São Pedro, a Igreja de Alexandria no Egito. Por isto, os bispos desta igreja, como os da Igreja de Antioquia, fundada diretamente por Pedro receberam, desde antes do século IV, o título de patriarcas: dignidade que os colocava nas cerimónias religiosas em Roma, imediatamente depois dos papas, sucessores de São Pedro.
Diz-se que São Marcos foi capturado numa festa idólatra e jogado na prisão. Lá, Nosso Senhor Jesus Cristo ter-lhe-ia aparecido à noite, dizendo-lhe: "A paz esteja contigo, Marcos, meu evangelista". No dia seguinte, Marcos teria sido executado, e o seu corpo enterrado numa vila perto de Alexandria. Existem muitas versões sobre as relíquias de São Marcos, que teriam sido roubadas e levadas para Veneza no ano de 828. Reza a lenda, que os ladrões cobriram os ossos de Marcos com carne de porco para que os muçulmanos não pudessem tocar e inspecionar a carga. Podemos citar também mais duas possíveis localidades para as relíquias de São Marcos, a Igreja de São Marcos em Braga, Portugal, e uma outra que indica estar a cabeça de São Marcos em Alexandria. Na maioria das representações de Veneza, o leão de São Marcos segura um livro onde se lê, o lema da cidade: “A Paz esteja convosco, Marcos, meu evangelista".
A procissão das rogações
Ainda no dia 25 de abril, até à reforma de João XXIII em 1960, os católicos do mundo inteiro comemoravam a procissão, chamada em alguns países de Procissão de São Marcos, mas que na realidade era o dia das Rogações.
Com efeito, a Igreja instituiu no século V, para substituir a procissão pagã “robigalia”, dedicada a Robigo, deus romano que protegia os grãos, a procissão das Rogações que se realizava no dia 25 de Abril para pedir a proteção de Deus para os frutos e as searas. Vale a pena recordar que naquela época, ainda não se comemorava a festa de São Marcos neste dia.
No fim do século VIII, sob o pontificado de São Leão III, Roma também adotou as Rogações, e como já existia uma procissão no dia de São Marcos, esta ficou conhecida como Ladainhas Maiores.
Quanto a esta procissão das Rogações, um liturgista erudito afirma que ela teve como primeiro propósito o de comemorar na Basílica de São Pedro a chegada de São Pedro em Roma. É verdade que já existia uma festa para comemorar esta chegada e se tratava da Cátedra de Pedro, celebrada hoje no dia 22 de fevereiro, mas que na sua origem era comemorada no dia 18 de janeiro. Mas como São Pedro entrou em Roma duas vezes para se estabelecer, uma primeira, ao que parece, após a sua libertação do Prisão de Jerusalém e, uma segunda, após o concílio que presidiu na mesma cidade, não seria surpreendente haver duas comemorações distintas. Segundo este mesmo liturgista, o que era apenas uma comemoração local teria sido transformado por uma decisão do Papa São Gregório Magno numa súplica geral destinada a obter de Deus, por intercessão da Virgem e dos Santos, a cessação das pragas, das guerras, fomes, pestes, que devastaram a cristandade, e a abundante frutificação dos bens da terra.
Recordemos este duplo objetivo atribuído por São Gregório à procissão das Rogações, celebrada no dia 25 de abril. Em todos os momentos, é apropriado orarmos pela abundância de bens terrenos. Mas, neste momento, que necessidade temos de pedir a Deus o fim da pandemia, com consequências mais desastrosas do que as pragas do passado. Infelizmente, quase mais nenhum católico conhece esta procissão do passado, que fez com que a peste cessasse em Roma...
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