Como bem pudemos ver neste tempo pandémico, quer queiramos ou não, sofremos.
Existem pessoas que sofrem como São Dimas, o bom ladrão e outros,
como Gestas, ou Gesmas, o mal. Ambos estavam crucificados ao lado de Nosso
Senhor Jesus Cristo e a sofrer de forma similar. São Dimas soube tornar os seus
sofrimentos meritórios, aceitando-os em espírito de reparação pelos seus erros
e pelos seus pecados, a ponto de se arrepender e pedir: “Jesus, lembrai-vos de
mim, quando entrares no vosso reino” e de receber a bela promessa do Divino
Salvador: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. O outro, ao contrário,
gritou imprecações e blasfêmias, e expirou no meio de terrível desespero.
Existem duas maneiras de sofrer: amando ou revoltando-se.
Todos os santos sofreram com paciência, fé e perseverança, porque
amavam a Deus. Muitos de nós, contudo, sofremos com raiva, ressentimento e
cansaço, porque não amamos a Deus. Se O amássemos, aceitaríamos a cruz e
ficaríamos contentes por poder sofrer por Quem padeceu e morreu por nós.
A vida realmente não é fácil! E o que mais nos assombra, talvez
nem seja a hora da dor, mas o medo de virmos a sofrer um dia. Contudo, ao
termos bem presente a Cruz de Cristo, as nossas dores ficam mais suaves!
Já imaginou, caro leitor, quão felizardos somos, nós católicos?!
Fomos batizados, conhecemos a Deus, amamos
a sua bondade infinita e sentimos constantemente o poder da sua divina misericórdia.
Ora existem pessoas que sofrem o mesmo que nós e não têm o mesmo consolo e a
mesma esperança que nós.
Hoje em dia, a maioria dos homens voltam as costas ao
sofrimento. E quanto mais fogem das suas cruzes, mais elas os perseguem, os
atingem e os esmagam.
Se quisermos viver serenamente, devemos fazer como Santo André,
que ao ver a cruz que se elevava diante de si, exclamou: “Salve, ó boa cruz! Ó
admirável cruz! Ó cruz desejável! Recebei-me nos vossos braços, tirai-me do
meio dos homens e devolvei-me o meu Mestre que me redimiu através da Cruz".
E um aspeto curioso que devemos sempre considerar: Quem está
preparado para abraçar a sua cruz, caminha na direção oposta à do sofrimento.
Ele talvez se depare com ela durante algum período da sua vida, mas fica
contente e encontra forças para a carregar, leva-a com coragem, procurando
unir-se dia-a-dia a Nosso Senhor Jesus Cristo, purificando o seu coração, afastando-se
dos falsos prazeres do mundo. Numa palavra, o sofrimento vivido cristãmente ajuda
a passar as dificuldades da vida, como uma ponte ajuda a passar pelas águas de
um rio.
Vejamos como foram as vidas dos santos. Quando não eram
perseguidos, mortificavam-se. Um bom religioso, certa vez, manifestou a Nosso
Senhor a sua estranheza por estar a ser perseguido dentro da sua comunidade: “Senhor,
o que fiz para ser tratado assim?” E Nosso Senhor respondeu-lhe: "E Eu? O
que fiz para ser crucificado no Calvário?” O religioso percebeu, chorou, pediu
perdão e não ousou mais reclamar.
As pessoas do mundo lamentam quando têm cruzes, e os bons seguidores
de Cristo preocupam-se, desconfiam e sofrem quando não passam por alguma
provação.
Sim! o cristão vive no meio das cruzes como os peixes vivem na
água.
A Cruz de glória
A Cruz é o estandarte triunfal de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ao morrer pregado no madeiro da Cruz, o Salvador pacificou com o
seu sangue todas as coisas na terra e no Céu, mutando a sentença de morte
contra os homens em graça de salvação (cf. Cl 2, 14).
Os Padres da Igreja chamam a Cruz, sinal vivificante, sinal da
fé, fortaleza da vida, grande bem, escudo inexpugnável, espada régia para
vencer os demónios (Gretzer, de Cruce, 5, 64).
São João Crisóstomo chama a cruz de esperança dos cristãos,
ressurreição dos mortos, luz dos cegos, caminho dos transviados, muleta dos
coxos, consolo dos pobres, travão dos ricos, destruidor dos soberbos, juiz dos
injustos, liberdade dos escravos, luz dos ofuscados, glória dos mártires,
abstinência dos monges, castidade das virgens, gáudio dos sacerdotes e
fundamento da Igreja.
Coloquemos a Santa Cruz nas nossas frontes, nos nossos corações
e nos nossos braços, como explica Santo Ambrósio (Livro de Isaac, 8). Na
fronte, para que a professamos publicamente, a toda a hora; no coração, para
que a amemos sempre; e no braço para que operaremos sempre o bem.
Assim, rezando e combatendo permaneceremos fiéis até à morte,
momento em que a Cruz passará de escudo a glória, por toda a eternidade.