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sábado, 20 de março de 2021

O sargento francês salvo do fuzilamento por Nossa Senhora


O exército francês encontrava-se muito reduzido e desanimado naqueles meses que antecederam o final da guerra franco-prussiana. Neste quadro de tristeza, o Padre d’Audiffret, capelão militar, narra um belíssimo fato que atesta a eficácia da proteção de Nossa Senhora aos seus filhos.

A neve cobria a cidade de Faucille, junto dos Montes Jura. As últimas provisões estavam a ser usadas e os cavalos já começavam a ser abatidos para servir de alimento para a tropa esfomeada.

De repente, um soldado grita:

- Rápido, capelão! O general pede que prepare um dos nossos soldados antes que seja fuzilado.

— Mas, meu Deus, fuzilado? O que ele fez?

— Não tenho tempo para lhe explicar, venha.

Primeira intervenção do Céu

O capelão apressa-se e entra no campo preparado para a execução e pede para abaixarem os fuzis e os canhões que já estavam direcionados sobre o condenado. Aproximando-se do militar, o sacerdote abraça-o, paternalmente.

— Meu pobre rapaz. Já que a misericórdia dos homens o abandona, trago-lhe a do Bom Deus. Ofereça à justiça dos homens e à de Deus o sangue que vai ser derramado e suba para o Céu, a pátria dos arrependidos e dos bravos.

Enquanto o sacerdote fazia o sinal da Cruz da absolvição, algumas bombas prussianas começaram a explodir.

De todos os lados, ouviam-se gritos, que saiam do fundo do coração de pessoas cansadas e aterrorizadas pela guerra:

— Salve-se quem puder! Os Prussianos chegaram!

O capelão permanece impávido ao lado do sargento que tinha as mãos atadas e os olhos vendados. Devolvendo-lhe a liberdade de movimento e de visão, disse-lhe:

— Meu amigo, este é um traço da misericórdia divina. Você tem agora mais tempo para se preparar antes de comparecer diante de Deus.

Depois de permanecer escondido por algum tempo, o sargento voltou a ser apanhado e seguiu a marcha do exército que se dirigia para Gex, no departamento do Ain.

Cada batalhão que chegava, apresentava-se na Prefeitura para receber víveres.

O sacerdote entra no edifício e depara-se com o general que, tirando o relógio do bolso, lhe indica a sala onde tinha sido transferido o prisioneiro e disse-lhe:

— Capelão, prepare o rapaz, porque dentro de quinze minutos ele vai morrer. Já mandei dois homens cavarem uma fossa. Ele será fuzilado na borda da cova.

O sacerdote dirige-se para junto do sargento, que ao lhe ver pergunta:

— Senhor Padre, é verdade que vão fuzilar-me?

— Não se iluda, pobre rapaz.

E o soldado confessa-se com um sangue-frio admirável. Em seguida, levantando-se, exclama:

— Padre, não vou mais ver a minha mãe? Ela ficaria tão orgulhosa se soubesse que o filho morreu no campo de honra, na batalha! Mas morrer fuzilado pelos seus companheiros... Não, Padre, isto é muito duro! Por piedade para com a minha mãe, salve-me!

Num lance de desespero, o militar abre a janela para se atirar, mas rapidamente se dá conta de que do segundo andar, a morte seria certa. Voltando-se para os braços do seu único apoio, repete: “Salve-me! Salve-me!”

— Meu amigo, você me parte o coração! Se eu pudesse, colocar-me-ia até no seu lugar e morreria por si. Mas tenha a certeza de uma coisa: O que eu não posso fazer, Nossa Senhora pode. Diga-me, sargento: ama Maria Santíssima?

— Ah! Senhor Padre, como A amo! Eu sou da cidade d’Ela.

— Mas você é de Nazaré ou da Galileia?

— Não. Sou dos Pirenéus, da cidade de Lourdes.

— Ah! Compreendo. Mas, tem o hábito de rezar a Nossa Senhora?

— Juro que não passei um só dia desta triste guerra sem rezar a oração “Lembrai-Vos, o píssima Virgem Maria”.

—Como, meu amigo! Você é compatriota de Nossa Senhora e reza a Ela todos os dias? Então esteja certo de que Ela pode, e espero que Ela queira salvá-lo. Ajoelhe-se e rezemos juntos o “Lembrai-Vos”. O socorro não tardará!

Segunda intervenção do Céu

Mal acabaram de dizer as palavras: “Mas dignai-Vos de ouvir propício e alcançar o que Vos rogo”, desta oração infalível, que golpes precipitados se fazem ouvir à porta.

O soldado compreendera que o quarto de hora tinha expirado e meio chorando, exclamou:

— Eu vou morrer! Não verei mais a minha mãe!

O capelão abre a porta e um desconhecido apresenta-se:

— Senhor Padre, não ouve o barulho aqui em frente da Prefeitura?

— Senhor, ouço-o muito bem. Mas permita-me perguntar com quem tenho a honra de falar.

— Sou o chefe do Tribunal de Gex. A ordem e paz foram perturbadas e o meu dever é restabelecê-las. A população inteira pede que o sargento seja libertado. Estas pessoas honestas não querem que o primeiro sangue derramado aqui seja de um francês. Se esta execução acontecer, o senhor padre terá de tratar de novas misérias, algo que certamente não quer. Ajude-me, então, a salvar o sargento.

— Senhor, este é todo o meu desejo, respondeu o sacerdote, mas, infelizmente, o juramento de honra impede-me de intervir neste caso.

— Então, devemos deixar que o fuzilem?

— Não, Senhor, podemos fazer algo melhor. Vem-me uma ideia: Peçamos ao comandante encarregado da execução de mostrar a ordem escrita, pois eu sei que ela não existe e até tem havido muito murmúrio dos soldados sobre este fuzilamento. Foi num momento de cólera que o general disse ao Comandante: “Fuzilemos este rapaz!”.

Rapidamente, o magistrado sai da sala e, ao encontrar o comandante, interpela-o:

— O Senhor tem uma ordem escrita?

— Não, respondeu o comandante.

— Como, o Senhor ousaria fuzilar um homem apenas com uma ordem verbal? Ou o Senhor apresenta a ordem escrita ou opor-me-ei à execução.

O comandante, que queria escapar do cumprimento da ordem, dirige-se à sala do General, que se encontrava com os cotovelos apoiados na soleira da janela, observando com ansiedade o movimento popular e pede-lhe a ordem escrita.

— Vou já tratar disto, afirma o General.


Absolvição e alegria pela proteção de Nossa Senhora

O Conselho de Guerra foi convocado para examinar o caso e em poucos minutos acabou por absolver o sargento. Com efeito, o motivo da sua condenação não merecia nem um quarto de hora de prisão.

Sentindo-se humilhado e descontente, o general enrolando o seu bigode, manda chamar o capelão.

— Senhor Padre, apesar do dissabor ao ver a minha ordem revertida, ficaria encantado se fosse o capelão a anunciar ao sargento que ele foi inocentado.

O sacerdote voltou para junto do prisoneiro, que se encontrava mais deitado do que ajoelhado e interpelou-o:

— Sargento, o que Nossa Senhora lhe disse durante a minha ausência?

— O Senhor padre sabe melhor do que eu, respondeu o sargento com uma voz muito fraca e desanimada.

— Pois bem, meu amigo! Nossa Senhora encarregou-me de lhe anunciar uma muito boa notícia: você terá muito tempo ainda para se preparar para morrer.

O Sacerdote não queria anunciar abruptamente a graça obtida, pois acreditava que a mudança de ânimo muito rápida poderia matar com mais precisão do que dez balas. Por isso, aproxima-se do prisioneiro e diz-lhe:

— Acompanhe-me por favor.

— Para ser morto?

— Não, meu amigo, dou-lhe a minha palavra de honra e de sacerdote. Siga-me, por favor.

Tremendo e apoiando os braços no capelão, o sargento chega até à Praça central, onde estava reunida a multidão, que ansiava ver o condenado.

— É ele ! Ali está o sargento que vai ser fuzilado, ouvia-se de todos os lados.

— Não ainda, afirmou o capelão, acompanhando com um gesto que incutia confiança e respeito.

Os dois dirigiram-se para a Capela da Visitação, situada do outro lado da praça. A multidão, ignorando a decisão do Conselho de Guerra, não compreendia nada desta cena imprevista. Quanto ao sargento, pouco confiante ainda no que lhe aconteceria, não cessava de repetir:

— Senhor Padre, onde está a levar-me?

Entraram na capela e dirigiram-se para a capela de Nossa Senhora, enquanto a multidão curiosa invadia o estreito espaço.

— Sargento, coloque-se de joelhos e rezemos juntos o “Lembrai-Vos”, diante de Nossa Senhora.

Acabada a oração, o sacerdote ajuda o sargento a levantar-se e diz-lhe:

— Meu amigo, você não vai ser fuzilado. Voltará a ver os Pirenéus e dirá à sua mãe deste mundo que a sua Mãe do Céu o salvou por causa da oração do “Lembrai-Vos”, que recita diariamente.

O ex-condenado e o seu consolador saem do lugar sagrado no meio de aclamações da multidão que a boa notícia deixara muito contente.

— Viva o sargento! Gritava o povo.

— Viva Nossa Senhora que salvou o sargento! Respondeu o capelão.

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