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domingo, 22 de setembro de 2019

O risco dos índios serem enganados por agitadores políticos, pseudo “missionários”

Há quarenta anos, o Brasil deu-se conta da existência de uma corrente de “missionários” contrária à catequização e à evangelização dos índios. Hoje, com o Sínodo da Amazónia, o tema volta à tona. Como contributo, publicamos o primeiro capítulo da obra “Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil” de autoria do Professor Plinio Corrêa de Oliveira.

Na doutrina missiológica da Igreja, velha de cerca de vinte séculos, o conceito de Missão católica, seus fins e seus métodos, está perfeitamente definido. 
Missão vem do vocábulo latino “missio”, de “mitto”, isto é, “eu envio”. O missionário é pois um enviado (Bispo, Sacerdote – e, por extensão, também um Religioso ou Religiosa ou um leigo).
O missionário é enviado pela Igreja, em nome de Jesus Cristo, a Quem representa junto a povos não católicos, com o fim de os trazer para a verdadeira Fé.

Fim supremo da Missão: a glória de Deus e a bem-aventurança eterna

Ensina a Igreja que a via normal para o homem se salvar consiste em ser batizado, crer e professar a doutrina e a lei de Jesus Cristo.
Trazer os homens para a Igreja é, pois, abrir-lhes as portas do Céu. É salvá-los. É este o fim da Missão.
Esta salvação tem por supremo fim a glória extrínseca de Deus. Salva-se a alma que tenha alcançado assemelhar-se a Ele pela observância da Lei nos embates desta vida. E que assim Lhe dará glória por toda a eternidade.
Toda semelhança é, em si, um fator de união. A alma dessa maneira unida a Deus alcança a plenitude da felicidade.

Efeitos da Missão na vida temporal

a ) A ordem
A glória de Deus e a perpétua felicidade dos homens são fins missionários da mais alta transcendência. Isto não impede que a Missão tenha efeitos terrenos, também dos mais elevados.
Com efeito, Deus criou o universo numa ordem sublime e imutável. E, sendo o homem o rei do universo, tal ordem é sobretudo admirável no que toca a ele.
Os preceitos da ordem natural exprimem-se nos dez Mandamentos da Lei de Deus (cfr. SANTO TOMÁS, Suma Teológica, Ia. IIae., q. 100, aa. 3 e 11), confirmados por Nosso Senhor Jesus Cristo (“não vim dissolver a lei, mas cumpri-la” – Mt. 5, 17), e por Ele aperfeiçoados (Mt. 5, 17 a 48; Jo. 13, 34).
Ora, a observância da ordem, em qualquer esfera do universo, é a condição não só para a conservação desta, como para seu progresso, o que é sobretudo verdadeiro para os seres vivos, e mais especialmente para o homem.
b ) A grandeza e o bem-estar dos povos
Daí decorre que a Lei de Deus é o fundamento da grandeza e do bem-estar de todos os povos (cfr. S. AGOSTINHO, Epist. 138 al. Ad Marcellinum, cap. II, n. 15).
Cristianizar e civilizar são, pois, termos correlatos. É impossível cristianizar seriamente sem civilizar. Como, reciprocamente, é impossível descristianizar sem desordenar, embrutecer e impelir de volta, rumo à barbárie.

A Missão e os índios

a ) O contato com Jesus Cristo
Ser missionário, no Brasil, é principalmente levar o Evangelho aos índios. É levar-lhes também os meios sobrenaturais para que, pela prática dos dez Mandamentos da Lei de Deus, alcancem o seu fim celeste. É persuadi-los de que se libertem das superstições e dos costumes bárbaros que os escravizam em sua milenar e infeliz estagnação. Em consequência, é civilizá-los.
Cabe insistir: enquanto é próprio ao homem cristianizado e civilizado progredir sempre no reto e livre exercício de suas atividades intelectuais e físicas, o índio é escravo de uma imobilidade estagnada, a qual de tempos imemoriais lhe tolhe todas as possibilidades de reto progresso.
Apresentando-se ao índio, está o missionário de Jesus Cristo no direito de lhe dizer: “cognoscetis veritatem, et veritas liberabit vos – conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8, 32).
b ) O contato com o neopaganismo moderno
Bem entendido, o contato com os missionários traz forçosamente, para o índio, o contato com a civilização. Não com uma civilização quimérica, descida das nuvens. Mas com a civilização ocidental como ela é concretamente. Na medida em que esta possui ainda fermentos autenticamente cristãos, a civilização será rica, para os indígenas, em benefícios espirituais e até materiais. E na medida em que nela trabalhem os germes de decadência e do neopaganismo, há o risco de que ela seja ocasião para que os índios se poluam na alma e no corpo.
c ) Problema desconcertante
Essa circunstância cria para as missões contemporâneas dificuldades desconcertantes. Como podem elas evitar que, levando Jesus Cristo aos índios, não Lhe siga o passo muito de perto o Anticristo, ou seja, o neopaganismo moderno?
O missionário não pode abster-se
a ) O poder de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre as almas retas
O problema, por mais intrincado que seja, não pode servir de razão para que o missionário não vá aos índios. Não lhes levar Nosso Senhor Jesus Cristo sob a alegação de que o Anticristo moderno virá logo após Ele, é ignorar o poder e a bondade do Salvador. Em todas as almas retas, e entre os índios obviamente também as há, Nosso Senhor Jesus Cristo é infinitamente mais poderoso do que o Anticristo.
b ) o contato com a civilização ocidental
Ao tratar da presente temática, é preciso não confundir grosseiramente o neopaganismo moderno com a civilização ocidental. Esta última foi cristã durante mais de mil anos, e embora por desdita já não se possa dela dizer tal, ainda conserva muito do caráter cristão de outrora. Como certos edifícios de pedra expostos ao dardejar do sol durante o dia inteiro conservam, horas depois de entrada a noite, o calor acumulado, assim também a civilização ocidental, sem mais poder dizer-se cristã, e a despeito da decadência omnímoda em que se vai afundando, ainda está quente da ação benfazeja recebida, durante os séculos da antiga fidelidade, do Sol de Justiça (Malc. 4, 2) que é Nosso Senhor Jesus Cristo.
De onde se deve concluir que seria irrefletido, simplista, e até fanático pretender que, em contato com a civilização ocidental, os índios só têm a perder e nada a lucrar.
c ) Influência do verdadeiro Sacerdote
Quando vive na civilização atual, o verdadeiro Sacerdote tem por missão a luta. Luta a favor de tudo quanto procede de Jesus Cristo e a Ele conduz. Luta contra tudo que procede do mal, e de Jesus Cristo aparta.
Se o índio nota no missionário esta atitude valorosa, de discernimento e de luta, terá as graças e o bom exemplo para beneficiar-se dessa civilização, sem nela se corromper.
d ) Problema bizantino
Ademais, na realidade concreta em que vivemos seria perfeitamente bizantino discutir sobre se convém aos índios receber, com a presença dos missionários, também a influência de nossa civilização. Esta, no seu vertiginoso desenvolvimento técnico, os estará alcançando a todos muito em breve, com ou sem missionários. E melhor será para os índios que, junto com a civilização neopagã, cheguem também os missionários de Jesus Cristo.
e ) O agitador comunista, missionário de Satanás
Tanto mais quanto, onde for, a civilização neopagã levará consigo, o mais das vezes, o que ela mesma tem de pior, isto é, o agitador comunista, o “missionário”  de Satanás.
O exemplo da África mostra quanto o comunismo internacional empenhou-se em tirar proveito das tribos aborígenes. Quem poderá garantir que, hoje ou amanhã, ele não empreenderá o mesmo entre os índios não civilizados, ou os que venham a sê-lo?
Mais ainda. Quanto dói dizê-lo! Como poderá quem quer que seja garantir que, utilizando a infiltração ideológica em meios católicos, o comunismo não aproveite para infiltração esquerdista entre os índios, Bispos, Padres ou Religiosos cuja simpatia e cooperação tenha conquistado?
Em consequência, por todas as razões, convém que vá ao índio o bom missionário. Até para prevenir contra o “missionário” comunista.

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