Na doutrina missiológica da Igreja, velha de cerca de vinte séculos, o conceito de Missão católica, seus fins e seus métodos, está perfeitamente definido.
Missão vem do vocábulo latino “missio”, de “mitto”,
isto é, “eu envio”. O missionário é pois um enviado (Bispo,
Sacerdote – e, por extensão, também um Religioso ou Religiosa ou um leigo).
O missionário é enviado pela
Igreja, em nome de Jesus Cristo, a Quem representa junto a povos não católicos,
com o fim de os trazer para a verdadeira Fé.
Fim supremo da Missão: a glória de Deus e a bem-aventurança eterna
Fim supremo da Missão: a glória de Deus e a bem-aventurança eterna
Ensina a Igreja que a via normal para o homem se salvar consiste em ser batizado, crer e professar a doutrina e a lei de Jesus Cristo.
Esta salvação tem por supremo fim
a glória extrínseca de Deus. Salva-se a alma que tenha alcançado assemelhar-se
a Ele pela observância da Lei nos embates desta vida. E que assim Lhe dará
glória por toda a eternidade.
Toda semelhança é, em si, um
fator de união. A alma dessa maneira unida a Deus alcança a plenitude da
felicidade.
Efeitos da Missão na vida temporal
a ) A ordem
Efeitos da Missão na vida temporal
a ) A ordem
A glória de Deus e a perpétua
felicidade dos homens são fins missionários da mais alta transcendência. Isto
não impede que a Missão tenha efeitos terrenos, também dos mais elevados.
Com efeito, Deus criou o universo
numa ordem sublime e imutável. E, sendo o homem o rei do universo, tal ordem é
sobretudo admirável no que toca a ele.
Os preceitos da ordem natural exprimem-se
nos dez Mandamentos da Lei de Deus (cfr. SANTO TOMÁS, Suma Teológica,
Ia. IIae., q. 100, aa. 3 e 11), confirmados por Nosso Senhor Jesus Cristo (“não
vim dissolver a lei, mas cumpri-la” – Mt. 5, 17), e por Ele aperfeiçoados (Mt.
5, 17 a 48; Jo. 13, 34).
Ora, a observância da ordem, em
qualquer esfera do universo, é a condição não só para a conservação desta, como
para seu progresso, o que é sobretudo verdadeiro para os seres vivos, e mais
especialmente para o homem.b ) A grandeza e o bem-estar dos povos
Daí decorre que a Lei de Deus é o fundamento da grandeza e do bem-estar de todos os povos (cfr. S. AGOSTINHO, Epist. 138 al. Ad Marcellinum, cap. II, n. 15).
Cristianizar e civilizar são, pois, termos correlatos. É impossível cristianizar seriamente sem civilizar. Como, reciprocamente, é impossível descristianizar sem desordenar, embrutecer e impelir de volta, rumo à barbárie.
A Missão e os índios
a ) O contato com Jesus Cristo
Ser missionário, no Brasil, é
principalmente levar o Evangelho aos índios. É levar-lhes também os meios
sobrenaturais para que, pela prática dos dez Mandamentos da Lei de Deus,
alcancem o seu fim celeste. É persuadi-los de que se libertem das
superstições e dos costumes bárbaros que os escravizam em sua milenar e
infeliz estagnação. Em consequência, é civilizá-los.
Cabe insistir: enquanto é próprio
ao homem cristianizado e civilizado progredir sempre no reto e livre exercício
de suas atividades intelectuais e físicas, o índio é escravo de uma
imobilidade estagnada, a qual de tempos imemoriais lhe tolhe todas as
possibilidades de reto progresso.Apresentando-se ao índio, está o missionário de Jesus Cristo no direito de lhe dizer: “cognoscetis veritatem, et veritas liberabit vos – conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8, 32).
b ) O contato com o neopaganismo moderno
Bem entendido, o contato com os missionários traz forçosamente, para o índio, o contato com a civilização. Não com uma civilização quimérica, descida das nuvens. Mas com a civilização ocidental como ela é concretamente. Na medida em que esta possui ainda fermentos autenticamente cristãos, a civilização será rica, para os indígenas, em benefícios espirituais e até materiais. E na medida em que nela trabalhem os germes de decadência e do neopaganismo, há o risco de que ela seja ocasião para que os índios se poluam na alma e no corpo.
c ) Problema desconcertante
Essa circunstância cria para as missões contemporâneas dificuldades desconcertantes. Como podem elas evitar que, levando Jesus Cristo aos índios, não Lhe siga o passo muito de perto o Anticristo, ou seja, o neopaganismo moderno?
O missionário não pode abster-se
a ) O poder de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre as almas retas
O problema, por mais intrincado que seja, não pode servir de razão para que o missionário não vá aos índios. Não lhes levar Nosso Senhor Jesus Cristo sob a alegação de que o Anticristo moderno virá logo após Ele, é ignorar o poder e a bondade do Salvador. Em todas as almas retas, e entre os índios obviamente também as há, Nosso Senhor Jesus Cristo é infinitamente mais poderoso do que o Anticristo.
b ) o contato com a civilização ocidental
Ao tratar da presente temática, é preciso não confundir grosseiramente o neopaganismo moderno com a civilização ocidental. Esta última foi cristã durante mais de mil anos, e embora por desdita já não se possa dela dizer tal, ainda conserva muito do caráter cristão de outrora. Como certos edifícios de pedra expostos ao dardejar do sol durante o dia inteiro conservam, horas depois de entrada a noite, o calor acumulado, assim também a civilização ocidental, sem mais poder dizer-se cristã, e a despeito da decadência omnímoda em que se vai afundando, ainda está quente da ação benfazeja recebida, durante os séculos da antiga fidelidade, do Sol de Justiça (Malc. 4, 2) que é Nosso Senhor Jesus Cristo.
De onde se deve concluir que seria irrefletido, simplista, e até fanático pretender que, em contato com a civilização ocidental, os índios só têm a perder e nada a lucrar.
c ) Influência do verdadeiro Sacerdote
Quando vive na civilização atual, o verdadeiro Sacerdote tem por missão a luta. Luta a favor de tudo quanto procede de Jesus Cristo e a Ele conduz. Luta contra tudo que procede do mal, e de Jesus Cristo aparta.
Se o índio nota no missionário esta atitude valorosa, de discernimento e de luta, terá as graças e o bom exemplo para beneficiar-se dessa civilização, sem nela se corromper.
d ) Problema bizantino
Ademais, na realidade concreta em
que vivemos seria perfeitamente bizantino discutir sobre se convém aos índios
receber, com a presença dos missionários, também a influência de nossa
civilização. Esta, no seu vertiginoso desenvolvimento técnico, os estará
alcançando a todos muito em breve, com ou sem missionários. E melhor será para
os índios que, junto com a civilização neopagã, cheguem também os missionários
de Jesus Cristo.
e ) O agitador comunista, missionário de SatanásTanto mais quanto, onde for, a civilização neopagã levará consigo, o mais das vezes, o que ela mesma tem de pior, isto é, o agitador comunista, o “missionário” de Satanás.
O exemplo da África mostra quanto o comunismo internacional empenhou-se em tirar proveito das tribos aborígenes. Quem poderá garantir que, hoje ou amanhã, ele não empreenderá o mesmo entre os índios não civilizados, ou os que venham a sê-lo?
Mais ainda. Quanto dói dizê-lo! Como poderá quem quer que seja garantir que, utilizando a infiltração ideológica em meios católicos, o comunismo não aproveite para infiltração esquerdista entre os índios, Bispos, Padres ou Religiosos cuja simpatia e cooperação tenha conquistado?
Em consequência, por todas as razões, convém que vá ao índio o bom missionário. Até para prevenir contra o “missionário” comunista.