No dia 4 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Francesa pôs fim ao sistema feudal, fazendo desaparecer o Clero e a Nobreza, como corpos políticos.
No dia 26 de novembro, impõe-se a obrigação de jurar fidelidade a estas novas regras.
Deste então, inúmeros padres e religiosos foram sendo
acusados de serem “refratários” à Constituição Civil do Clero e colocados nas
prisões.
No dia 26 de agosto de 1972, a Assembleia Nacional decreta o
estado de urgência e declara serem os padres não juramentados uma das causas
que colocam em perigo a pátria. Poucos dias depois, já são cerca de 360
eclesiástico encarcerados em Paris, pois era preciso acabar rapidamente com o
“fanatismo, a superstição e o obscurantismo”.
O dia do martírio
No dia 2 de setembro de 1792, Danton advertiu à população que “os sinos dariam o sinal para acabar com os inimigos da Pátria”.
No dia 2 de setembro de 1792, Danton advertiu à população que “os sinos dariam o sinal para acabar com os inimigos da Pátria”.
E neste mesmo dia, pelas quatro da tarde, o sino da Igreja
de Saint Sulpice tocou, dando o sinal para os sanguinários desordeiros.
O Convento do Carmo, com o seu vasto claustro, foi o primeiro e o mais emblemático teatro destes massacres. Os
miseráveis irromperam gritando: “Prestai juramento!”
E ante as suas recusas, assassinaram alguns no jardim e outros, depois de um simulacro
de julgamento, foram massacrados a golpes de fuzil e de sabre ao pé de uma
pequena escada que dava acesso à capela, onde os prisioneiros se reuniram para se dar mutuamente a absolvição.
Os seus corpos foram - a maior parte - transportados para o
cemitério de Vaugirard, onde grandes fossas tinham sido preparadas de antemão.
Um certo número foi lançado num poço do convento dos Carmelitas. Mais tarde
buscas foram feitas e encontrou-se grande quantidade de crânios e ossos
trazendo a marca dos golpes recebidos, como se pode constatar na cripta da
igreja do Carmo de Paris, onde foram recolhidos.
Um Jesuíta, Padre Saurin, que conseguiu escapar, relata como era bem diferente o clima vivido pelas duas partes. De um lado, reinava a serenidade, enquanto fora ouvia-se o grito da multidão, os tiros de canhões e o rufar dos tambores.
O Padre de la Pannonie, que apesar de ter ficado ferido, sobreviveu
à tragédia do Carmo contou : « Não ouvi nenhum dos que foram massacrados
reclamar!”.
Entre as três mil vítimas do massacre de setembro de 1792,
191 pessoas, mortas pela sua fé, foram beatificadas por Pio XI no dia 17 de
outubro de 1926: três bispos, cento e vinte sete padres seculares, cinquenta e
seis religiosos e cinco leigos. Dentre eles, encontrava-se também São Salomon
Leclercq, irmão das Escolas Cristãs, canonizado em 2016 pelo Papa Francisco.
Ainda hoje é possível venerar as relíquias destes santos na
cripta erigida no século XIX sob a igreja de Saint Joseph des Carmes, situada
na Rua de Vaugirard, 74.
Na escada do martírio, lê-se numa pedra comemorativa,
situada no jardim do Seminário do Instituto Católico de Paris, os seguintes
dizeres: Hic ceciderunt (Aqui eles caíram [morreram]).
Martírio para evitar
a protestantização e republicanização da Igreja
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, numa reunião do dia 1 de
setembro de 1967 comentou o martírio dos contra-revolucionários, no Convento do
Carmo:
“Temos aqui algumas centenas, duas centenas, perto de três
centenas de sacerdotes que colocados entre o martírio e a apostasia preferiram
o martírio. Foram fiéis à sua consciência sacerdotal, e evitaram assinar um ato
que importava, praticamente, de um lado, na apostasia, ou melhor, na
protestantização da Igreja francesa e, de outro lado, na proclamação da
república dentro da Igreja. Na protestantização da Igreja porque o Papa ficava
apenas como autoridade honorífica.
Mas segundo essa lei votada pelos revolucionários, o Papa
perdia toda a força no que diz respeito à autoridade doutrinária. O livre exame
passava a vigorar na Igreja francesa. Depois, era a republicanização, porque
todos os cargos importantes da Igreja passavam a ser escolhidos por sufrágio
universal, sem nenhuma interferência do Papa. Os bispos, depois de eleitos,
simplesmente mandavam avisar ao Papa que tinham sido eleitos, e lhe prestavam
uma homenagem que era um puro cumprimento. Quer dizer, a Igreja ficava
completamente esfacelada. Eles não podiam aceitar isso e preferiram morrer.
Fidelidade e
misericórdia
É evidentemente uma coisa muito bela vermos isso, mas no
caso destes padres parece-me ver uma beleza particular. Sabemos que o clero na
França estava numa situação [difícil]. Muito decénio antes da Revolução
Francesa, São Luís Maria Grigninon de Montfort foi maltratado pelo episcopado e
pelo clero. Ele foi objeto de um desprezo, de um pouco caso tal, que uma vez
até à boca dele subiu o travo da amargura e ele, habitualmente tão conformado,
tão humilde, tão alegre, teve este comentário, depois de ter ido a um convento
onde o trataram ultrajantemente: “eu não supunha que fosse possível tratar desta
forma um sacerdote”.
Arrebenta a tormenta e os historiadores verificam esta coisa
bonita: que muitos desses sacerdotes resolveram corresponder à graça nesse
extremo e que houve grandes mártires, não só entre os padres bons, mas também
entre os padres ruins. Isso me lembra o Bom Ladrão e lembra tantos outros fatos
da história da Igreja. Pessoas que não merecem, mas que a misericórdia divina
acolhe e que eleva até o mais alto dos Céus.
Os senhores percebem com facilidade como isso é encorajador,
como isso é alentador e como isso nos deve dar também esperanças quando da
realização dos grandes acontecimentos previstos por Nossa Senhora em Fátima. Em
vez de considerarmos tais acontecimentos com terror, devemos considerá-los como
uma ocasião de grandes graças. Como o momento em que a Providência divina chama
para junto de si até os seus filhos relapsos, até os filhos com que está
descontente; em que Ela consegue, por maravilhas da graça, levar às honras dos
altares gente que, segundo a ordem natural das coisas, sem isso nunca teria
chegado a essas honras e talvez até estivesse no inferno.
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