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terça-feira, 3 de setembro de 2019

Os massacres de setembro e os mártires do Convento do Carmo


No dia 4 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Francesa pôs fim ao sistema feudal, fazendo desaparecer o Clero e a Nobreza, como corpos políticos.

No dia 24 de agosto de 1790 o ódio contra a Igreja acentuou-se e foi aprovada a criação da Constituição Civil do Clero, que visava fazer com que a Igreja Católica francesa ficasse submissa ao Governo, negasse implicitamente a autoridade do Papa e que visava reformá-la, através de mudanças radicais, como a supressão dos votos religiosos. 

No dia 26 de novembro, impõe-se a obrigação de jurar fidelidade a estas novas regras.

Deste então, inúmeros padres e religiosos foram sendo acusados de serem “refratários” à Constituição Civil do Clero e colocados nas prisões.

No dia 26 de agosto de 1972, a Assembleia Nacional decreta o estado de urgência e declara serem os padres não juramentados uma das causas que colocam em perigo a pátria. Poucos dias depois, já são cerca de 360 eclesiástico encarcerados em Paris, pois era preciso acabar rapidamente com o “fanatismo, a superstição e o obscurantismo”.

O dia do martírio

No dia 2 de setembro de 1792, Danton advertiu à população que “os sinos dariam o sinal para acabar com os inimigos da Pátria”.

E neste mesmo dia, pelas quatro da tarde, o sino da Igreja de Saint Sulpice tocou, dando o sinal para os sanguinários desordeiros. 

O Convento do Carmo, com o seu vasto claustro, foi o primeiro e o mais emblemático teatro destes massacres. Os miseráveis irromperam gritando: “Prestai juramento!” E ante as suas recusas, assassinaram alguns no jardim e outros, depois de um simulacro de julgamento, foram massacrados a golpes de fuzil e de sabre ao pé de uma pequena escada que dava acesso à capela, onde os prisioneiros se reuniram para se dar mutuamente a absolvição.


Os seus corpos foram - a maior parte - transportados para o cemitério de Vaugirard, onde grandes fossas tinham sido preparadas de antemão. Um certo número foi lançado num poço do convento dos Carmelitas. Mais tarde buscas foram feitas e encontrou-se grande quantidade de crânios e ossos trazendo a marca dos golpes recebidos, como se pode constatar na cripta da igreja do Carmo de Paris, onde foram recolhidos.

Um Jesuíta, Padre Saurin, que conseguiu escapar, relata como era bem diferente o clima vivido pelas duas partes. De um lado, reinava a serenidade, enquanto fora ouvia-se o grito da multidão, os tiros de canhões e o rufar dos tambores.

O Padre de la Pannonie, que apesar de ter ficado ferido, sobreviveu à tragédia do Carmo contou : « Não ouvi nenhum dos que foram massacrados reclamar!”.

Entre as três mil vítimas do massacre de setembro de 1792, 191 pessoas, mortas pela sua fé, foram beatificadas por Pio XI no dia 17 de outubro de 1926: três bispos, cento e vinte sete padres seculares, cinquenta e seis religiosos e cinco leigos. Dentre eles, encontrava-se também São Salomon Leclercq, irmão das Escolas Cristãs, canonizado em 2016 pelo Papa Francisco.

Ainda hoje é possível venerar as relíquias destes santos na cripta erigida no século XIX sob a igreja de Saint Joseph des Carmes, situada na Rua de Vaugirard, 74.


Na escada do martírio, lê-se numa pedra comemorativa, situada no jardim do Seminário do Instituto Católico de Paris, os seguintes dizeres: Hic ceciderunt (Aqui eles caíram [morreram]).


Martírio para evitar a protestantização e republicanização da Igreja

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, numa reunião do dia 1 de setembro de 1967 comentou o martírio dos contra-revolucionários, no Convento do Carmo:

“Temos aqui algumas centenas, duas centenas, perto de três centenas de sacerdotes que colocados entre o martírio e a apostasia preferiram o martírio. Foram fiéis à sua consciência sacerdotal, e evitaram assinar um ato que importava, praticamente, de um lado, na apostasia, ou melhor, na protestantização da Igreja francesa e, de outro lado, na proclamação da república dentro da Igreja. Na protestantização da Igreja porque o Papa ficava apenas como autoridade honorífica.

Mas segundo essa lei votada pelos revolucionários, o Papa perdia toda a força no que diz respeito à autoridade doutrinária. O livre exame passava a vigorar na Igreja francesa. Depois, era a republicanização, porque todos os cargos importantes da Igreja passavam a ser escolhidos por sufrágio universal, sem nenhuma interferência do Papa. Os bispos, depois de eleitos, simplesmente mandavam avisar ao Papa que tinham sido eleitos, e lhe prestavam uma homenagem que era um puro cumprimento. Quer dizer, a Igreja ficava completamente esfacelada. Eles não podiam aceitar isso e preferiram morrer.

Fidelidade e misericórdia

É evidentemente uma coisa muito bela vermos isso, mas no caso destes padres parece-me ver uma beleza particular. Sabemos que o clero na França estava numa situação [difícil]. Muito decénio antes da Revolução Francesa, São Luís Maria Grigninon de Montfort foi maltratado pelo episcopado e pelo clero. Ele foi objeto de um desprezo, de um pouco caso tal, que uma vez até à boca dele subiu o travo da amargura e ele, habitualmente tão conformado, tão humilde, tão alegre, teve este comentário, depois de ter ido a um convento onde o trataram ultrajantemente: “eu não supunha que fosse possível tratar desta forma um sacerdote”.

Arrebenta a tormenta e os historiadores verificam esta coisa bonita: que muitos desses sacerdotes resolveram corresponder à graça nesse extremo e que houve grandes mártires, não só entre os padres bons, mas também entre os padres ruins. Isso me lembra o Bom Ladrão e lembra tantos outros fatos da história da Igreja. Pessoas que não merecem, mas que a misericórdia divina acolhe e que eleva até o mais alto dos Céus.


Os senhores percebem com facilidade como isso é encorajador, como isso é alentador e como isso nos deve dar também esperanças quando da realização dos grandes acontecimentos previstos por Nossa Senhora em Fátima. Em vez de considerarmos tais acontecimentos com terror, devemos considerá-los como uma ocasião de grandes graças. Como o momento em que a Providência divina chama para junto de si até os seus filhos relapsos, até os filhos com que está descontente; em que Ela consegue, por maravilhas da graça, levar às honras dos altares gente que, segundo a ordem natural das coisas, sem isso nunca teria chegado a essas honras e talvez até estivesse no inferno.

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