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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Guerra Cristera: Viva Cristo, Rei!


Sem dúvida, o séc. XX foi a época histórica em que mais mártires verteram o seu sangue como consequência da sua Fé em Cristo.

A perseguição religiosa em Espanha, durante a Guerra Civil (Julho de 36 a Abril 1939), levou a um derramento de sangue, superior àquele perpetrado nas perseguições do império romano. Em menos de um ano, 12 bispos, 4.172 sacerdotes, 2.365 religiosos e 283 religiosas foram assassinados. Calcula-se que igual número de leigos tenha tido a mesma sorte, apenas pelas suas convicções religiosas.

Mas já dez anos antes (1926 a 1929), no México, uma enorme multidão de mártires tinha sido massacrada em nome de uma utopia comuno-anarquista, durante a Guerra Cristera.

A 2 de Outubro de 1927, o Cardeal Gasparri, Secretário de Estado do Vaticano, numa entrevista ao New York Times, conta os horrores da perseguição sofrida pela Igreja Católica no México e denuncia o silêncio das nações, por tolerarem tão selvagem perseguição em pleno séc. XX. Referia-se aos massacres perpetrados pelas tropas coloradas (vermelhas) sobre as populações suspeitas de apoiar os rebeldes cristeros.

Para se entender esta guerra e o seu paradigmático brado: “Viva Cristo, Rei!”, retrocedamos até à tomada de posse (através do Pacto da Embaixada) do General Victoriano Huerta, um índio de Jalisco, para o cargo de Presidência do México em 1913.
Durante a ditadura militar de Huerta, num acto solene na Catedral Metropolitana da Cidade de México, o país é consagrado ao Sagrado Coração de Jesus. Pela primeira vez, o grito Viva Cristo-Rei! (que, daí a uns anos, tanto se ouviria quer no México quer em Espanha) pôde ser escutado a 6 de Janeiro de 1914.

Apenas como curiosidade, a 17 de Maio de 1927, nos primeiros momentos da insurreição que ficaria conhecida pela Cristíada, receberam os bispos mexicanos do Papa Pio XI, no meio de outras orientações espirituais, “ a concessão da indulgência plenária, in articulo mortis, a todos os que, confessados ou comungados, ou pelo menos contritos, pronunciassem com os lábios, ou com o coração, a jaculatória Viva Cristo-Rei!, aceitando a morte como enviada pelo Senhor para remissão das nossas culpas” . Como em cada execução organizada às ordens do governo mexicano os abatidos gritavam aquela jaculatória, ficaram conhecidos como Cristeros.

Com o advento da revolução liberal, com a sua característica virulência anti-cristã, sobe ao poder o ex-seminarista Benito Juárez, advogado de extracção social humilde. Juárez promoveu a Constituição de 1857, de inspiração jacobina e, quatro anos depois, as Leis de Reforma, declaradamente hostis à Igreja. Foram estatizados o património e os bens da Igreja, suprimidas as ordens religiosas, secularizados os cemitérios, hospitais e organizações de beneficência católicos. No seu afã persecutório tentou mesmo criar uma Igreja cismástica, como hoje existe na China. Toda essa pressão deu origem a pontuais levantamentos de católicos indignados prontamente abafados em banhos de sangue (1858-61). A intolerância liberal chegou ao ponto de obrigar os funcionários públicos a jurarem concordar e zelar pelo cumprimento destas medidas e a deportar ou encarcerar os bispos e sacerdotes que manifestaram a sua indignação. Com insurreições isoladas, sobretudo nos Estados de Jalisco, Michoacán, Puebla e Tlaxcala, o governo aguentou-se com o forte apoio dos americanos. Visto com o distanciamento que o tempo permite, Juárez comportou-se como um autêntico agente do imperialismo americano, levando o país quase à bancarrota. Foi durante o período de Juárez que se deu a efémera aventura de Maximiliano da Áustria, às ordens do imperador Napoleão III. Apanhada entre dois fogos, a Igreja foi ainda mais vexada e perseguida, embora os juaristas tentassem o seu apoio para o que diziam ser a causa nacional. O pobre imperador títere viria a ser derrotado e fuzilado em Querétaro e Juárez regressou ao poder até ser substituído por outro ex-seminarista, Lerdo de Tejada que retomou a perseguição à Igreja Católica, favorecendo despudoradamente o protestantismo sob orientação americana. Ainda sem ter cumprido um ano de mandato, proibiu as manifestações religiosas fora dos templos o que provocou novos levantamentos armados do povo católico, na guerra denominada dos Religioneros.
Esta época da História do México foi marcada por inúmeras conspirações e sublevações, revoltas indígenas de revindicação agrária, em guerras marcadas por uma crueldade atroz, no meio de contínuas ingerências dos E.U.A..

Durante a presidência de Venustiano Carranza, a perseguição à Igreja recrudesceu; proibiram-se as missas de Defuntos e todas as outras, a não ser ao Domingo e em condições especiais, a água do baptismo tinha de ser da torneira e o Sacramento da Penitência só podia ser administrado a moribundos, em voz alta e na presença de um funcionário público. Esta sanha anti-cristã teve o seu cume na Constituição de 1917. Cinco dos artigos da constituição mexicana de 1917 visavam especialmente minimizar a influência da Igreja Católica na sociedade mexicana. O artigo 3º exigia uma educação laica e anti-católica nas escolas. O artigo 5º tornava ilegal as Ordens religiosas. O artigo 24º proibia o culto, em público, fora das igrejas, enquanto que o artigo 27º praticamente eliminava os direitos de propriedade das organizações religiosas. Finalmente, o artigo 130º retirava aos membros do clero direitos cívicos básicos; padres e religiosos estavam proibidos de usar os seus hábitos, não tinham direito de voto e estavam proibidos de comentar assuntos da vida pública na imprensa.

Carranza foi deposto devido às maquinações e complots do seu antigo aliado Álvaro Obregón, em 1919. Apesar de partilhar do sentimento anticlerical o seu antecessor, aplicou as medidas anticlericais de forma selectiva e apenas em áreas em que o sentimento católico era mais fraco. Mas foi com Obregón no poder que se içaram bandeiras comunistas nas Catedrais da cidade do México e de Morelia, que um funcionário da própria casa do presidente fez explodir uma bomba no altar da veneradíssima Virgem de Guadalupe e que o Delegado Apostólico Monsenhor Philippi foi expulso.

Esta trégua precária entre o governo e a Igreja terminou com a eleição de Plutarco Elías Calles em 1924. Calles aplicou as leis anticatólicas com toda a sanha e arbitrariedade por todo o país, acrescentando a sua própria legislação anticatólica: em Junho de 1926, promulgou a Lei de Reforma do Código Penal, que viria a ficar conhecida como Lei Calles que previa penas específicas para padres e religiosos que se atrevessem a violar os postulados da Constituição de 1917. Como exemplo, o uso vestes religiosas em público era penalizado em 500 pesos (embora, na prática, pudesse ser motivo para execução in situ, por desobediência). Um padre que criticasse o governo podia ser condenado a cinco anos de prisão.

Em resposta a estas medidas, a resistência das organizações católicas começou a intensificar-se. Entre elas, a Associação Católica da Juventude Mexicana (fundada em 1913), a Legião Feminina de Santa Joana d’Arc e a União Popular, um partido político católico fundado em 1925. A mais importante destas organizações viria a ser Liga Nacional Defensora da Liberdade Religiosa, fundada em 1924. A 11 de Julho de 1926 os bispos mexicanos votaram unanimemente a favor da suspensão de todas as manifestações públicas de culto, como resposta à Lei Calles. Para manter o protesto de indignação pacífico, promoveram um boicote comercial contra o governo que seria especialmente bem sucedido no México centro-ocidental (os estados de Jalisco, Guanajuato, Aguascalientes, Zacatecas). Os católicos residentes nestas regiões deixaram de ir aos cinemas e teatros e não utilizavam os transportes públicos; os professores deixaram de leccionar nas escolas seculares. No entanto, esta medida de resistência cívica não alcançou totalmente o seu objectivo porque, mais do que ao governo de Calles, afectou a burguesia endinheirada que fez pressão sobre a hierarquia para acabar com a acção, o que viria a acontecer em Outubro de 1926. Por esta razão os ricos ficaram malvistos e a sua reputação ainda piorou quando pagaram ao exército federal e à polícia para protecção. Mas, colateralmente, a iniciativa permitiu cimentar e testar uma organização civil a nível nacional que viria a dar frutos preciosos no futuro. Juntaram mais de 2 milhões de assinaturas para solicitar ao Congresso a derrogação das leis mas de nada valeram. Considerando este tipo de resistência cívica como sendo uma forma de insubordinação, Plutarco Calles ordenou o encerramento de numerosas igrejas católicas. Esgotadas as vias pacíficas, aos militantes católicos apenas lhes restava a insurreição armada.

Em Guadalajara, no dia 3 de Agosto de 1926, cerca de 400 católicos armados encerraram-se na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Envolveram-se num tiroteio com tropas do governo, rendendo-se apenas quando ficaram sem munições. Este confronto terá causado a morte a 18 pessoas e 40 feridos.
No dia seguinte, em Sahuayo, Michoacán, a igreja paroquial local foi invadida por 240 soldados governamentais, assassinando o padre da paróquia e o seu vigário. Em 14 de Agosto, agentes governamentais levaram a cabo a eliminação da delegação da Associação Católica da Juventude em Chalchihuites, Zacatecas, executando o seu director espiritual, o padre Luis Bátiz Sainz.

A partir daqui os acontecimentos suceder-se-iam de forma muito rápida. Um bando de camponeses sob a liderança de Pedro Quintanar, ao tomar conhecimento da morte do padre Bátiz, ocupou a tesouraria local e ergueu o estandarte da rebelião. Outro levantamento foi liderado pelo presidente da Câmara de Pénjamo, Guanajuato, Luis Navarro Origel, com início em 28 de Setembro. Os seus homens foram derrotados pelo exército federal em terreno aberto, junto daquela localidade, mas retiraram-se para as montanhas onde continuaram como guerrilheiros. Seguiu-se um outro levantamento em Durango, liderado por Trinidad Mora em 29 de Setembro e, em 4 de Outubro, a sublevação acaudilhada pelo antigo general Rodolfo Gallegos, no Sul de Guanajuato.

Entretanto, os rebeldes em Jalisco (particularmente na região a Norte de Guadalajara) começaram a reunir as suas forças. Esta região tornou-se o foco principal da rebelião liderada por René Capistran Garza, líder da Associação Católica da Juventude Mexicana, que teve início a 1 de Janeiro de 1927.
Contudo, a insurreição teve formalmente início com a publicação de um manifesto de Garza, no dia de Ano Novo, intitulado A la Nación. Nele declarava que é chegada a hora da batalha e a hora da vitória pertence a Deus. Com esta declaração, o estado de Jalisco que parecera mais ou menos calmo desde os acontecimentos de Guadalajara, inflamou-se. Grupos de rebeldes, movimentando-se na região conhecida como Los Altos, a Nordeste de Guadalajara, começaram a ocupar aldeias, equipados apenas com antigos mosquetes e paus. O seu grito de batalha era ¡Viva Cristo Rey! ¡Viva la Virgen de Guadalupe!

No início, o governo de Calles não levou esta ameaça muito a sério. Os rebeldes conseguiam bons resultados frente aos bandos rurais dos agrários e face às milícias da Defesa Social, mas foram derrotados pelas tropas federais que guardavam as principais cidades. Por esta altura, o exército federal contava com cerca de 80 mil homens. Quando o comandante federal de Jalisco, general Jesús Ferreira, iniciou a campanha contra os insurrectos, afirmou sobranceiramente que se trataria mais de uma caçada que de uma campanha militar.

Porém, os rebeldes, que na sua grande maioria não tinha experiência militar prévia, planeavam bem as suas acções armadas. Os mais bem sucedidos líderes rebeldes foram Jesús Degollado (farmacêutico), Victoriano Ramírez (trabalhador rural) e dois padres , Aristeo Pedroza e José Reyes Vega. Apenas cinco padres participaram activamente na luta armada, embora tenha havido 15 capelães e, de uma maneira ou de outra, 25 sacerdotes apoiaram, de perto, os cristeros.

Para muitos Cristeros, as motivações religiosas da rebelião eram reforçadas por outras preocupações de natureza social. Na região dos Altos de Jalisco, ponto fulcral da rebelião cristera, a estrutura da propriedade da terra tinha evoluído para uma forte concentração do tipo rancho com um sistema que só podia levar ao empobrecimento crescente enquanto, que os proprietários acumulavam lucros. Apesar de muitos dos agrários serem ao mesmo tempo católicos convictos, não é de admirar que tal panorama de injustiça social fosse o alfobre em que a semente da revolta florescesse mais facilmente. E a tropa cristera, reunida à volta dos seus ícones sagrados era essencialmente constituída por meeiros e peões. Era no seu padrecito que confiavam e era em Cristo que punham a sua esperança de se libertarem da opressão e do desespero. Era o sacerdote do México rural que ensinava os pobres a ler e escrever contrariando os desejos dos terratenentes mais reaccionários e o laicismo imposto pelo governo. Os proprietários de terra, mesmo os católicos, ora apoiavam o governo, por conveniência, ora os cristeros por medo. Muitos optaram por se retirar para o estrangeiro.

No dia 23 de Fevereiro de 1927, os Cristeros derrotaram pela primeira vez as tropas federais em San Francisco del Rincón, Guanajuato seguindo-se outra vitória em San Julián, Jalisco. Contudo, a rebelião seria quase extinta em 19 de Abril, quando o controverso padre Vega liderou o assalto a um comboio que pensava levar um carregamento de dinheiro e armas. Durante o tiroteio que se seguiu, o seu irmão foi morto e o padre Vega mandou incendiar as carruagens do comboio, causando a morte de 51 passageiros. Esta atrocidade colocou grande parte da opinião pública contra os Cristeros.
O governo começou a transferir os civis para os grandes centros populacionais, impedindo-os de fornecer mantimentos aos rebeldes. Ao chegar o Verão, a rebelião estava quase totalmente dominada. Garza abandonou a liderança em Julho, após uma tentativa falhada de obtenção de fundos nos Estados Unidos. Mas o movimento rebelde ganhou nova vida com os esforços de Victoriano Ramírez, conhecido como El Catorce . Este era analfabeto mas um comandante guerrilheiro nato. Fez ressuscitar a rebelião, permitindo à Liga Nacional Defensora da Liberdade Religiosa contratar um estratega, um mercenário que exigiu o dobro do salário de um general federal. Enrique Gorostieta era um católico não praticante, ao ponto de fazer troça da religião das suas próprias tropas. 
Apesar da sua falta de piedade, fez um bom trabalho no treino das tropas rebeldes, produzindo unidades disciplinadas e uniformizadas. 

Gradualmente, os Cristeros começaram a assumir o controlo do conflito.

A 21 de Junho de 1927, foi formada em Zapopan a primeira unidade feminina de Cristeros (a brigada de Santa Joana d’Arc). Fundada por 17 mulheres, em pouco tempo contava com 135 membros. A sua missão consistia em conseguir dinheiro, armas, provisões e informações para os homens combatentes; também auxiliavam os feridos. Em Março de 1928 havia cerca de 10.000 mulheres envolvidas. Muitas contrabandeavam armas para as zonas de combate, transportando-as escondidas em carroças carregadas de cereais ou cimento. No final da guerra chegaram a cerca de 25 000.

Os Cristeros mantiveram a iniciativa do ataque em 1928 e 1929, com o governo federal a enfrentar uma nova crise: uma revolta entre os militares, liderada por Arnulfo R. Gómez em Veracruz. Os Cristeros tentaram tirar partido dessa vantagem atacando Guadalajara, em finais de Março. O ataque falhou mas os rebeldes conseguiram tomar Tepatitlán de Morelos, a 19 de Abril. O padre Vega foi morto nesta batalha. Por outro lado, a sublevação de Veracruz foi prontamente controlada e, subitamente, os Cristeros tiveram de se confrontar com dissenções internas . A 2 de Junho, Gorostieta foi morto numa emboscada, montada por uma patrulha federal na Fazenda El Valle. Mas, nesta altura, os rebeldes contavam já com cerca de 50 000 homens armados e pareciam ser capazes de manter a rebelião por muito tempo, tendo assumido o comando Jesús Degollado.

Existe alguma controvérsia sobre se as acções dos Cristeros eram ou não apoiadas pelo episcopado ou pelo Papa. Oficialmente, o episcopado mexicano nunca apoiou explicitamente a rebelião mas, de acordo com vários documentos e testemunhos, os rebeldes sentiam ter da parte do episcopado o reconhecimento da legitimidade da sua causa que nunca os condenou. O bispo de Guadalajara, José Francisco Orozco Y Jiménez, permaneceu junto dos rebeldes; apesar de rejeitar formalmente a revolta armada, não estava disposto a abandonar o seu rebanho. Muitos historiadores modernos consideram-no o verdadeiro líder do movimento. 

Há, no entanto, historiadores que dizem que exceptuando dois casos, o episcopado era intrinsecamente hostil ao movimento. Após o ataque ao comboio liderado pelo padre Vega, os bispos foram expulsos do México mas continuariam a tentar influenciar o resultado do conflito a partir do exterior.

Em Outubro de 1927 o embaixador dos Estados Unidos no México, Dwight Whitney Morrow, iniciou uma série de contactos com Calles, sempre ao pequeno-almoço , em que os dois discutiam toda uma variedade de assuntos, desde os levantamentos religiosos, ao petróleo e à irrigação. Morrow, protestante e banqueiro, dizia pretender que o conflito terminasse por razões humanitárias mas o intuito que tinha em vista era encontrar uma aberta para conseguir o monopólio americano para a exploração do petróleo do México. Para melhor convencer os bispos, socorreu-se inicialmente do padre John Burke da National Catholic Welfare Conference. A Santa Sé encontrava-se também envolvida na busca da paz mas aconselhava prudência perante as iniciativas americanas.

O mandato presidencial de Calles aproximava-se do fim e o presidente eleito, Álvaro Obregón, deveria tomar posse a 1 de Dezembro. Porém, foi assassinado por um católico radical a 17 de Julho, facto que pôs seriamente em causa o processo de paz então em curso.

O Congresso nomeou Emílio Portes Gil presidente interino em Setembro, marcando novas eleições para Novembro de 1929. Portes Gil era mais aberto em relação à Igreja do que Calles havia sido, permitindo a Morrow e Burke reiniciar a sua iniciativa de paz.

Portes Gil terá dito a um correspondente estrangeiro em Maio de 1929 que o clero católico poderia, quando assim o desejasse, retomar o exercício dos seus ritos e práticas com uma única obrigação - a de respeitar as leis do país. No dia seguinte, o arcebispo exilado Leopoldo Ruíz y Flores emitiu uma declaração afirmando que a hierarquia tinha decidido suspender o culto porque não era capaz de aceitar a forma arbitrária como as leis eram implementadas e aplicadas no país.

Morrow conseguiu o acordo entre as partes a 21 de Junho de 1929. O pacto informal que ele elaborou em inglês, os chamados arreglos ,permitiria retomar o culto católico no México e fazia três concessões: apenas os padres nomeados por superiores hierárquicos seriam obrigados a registar-se, a educação religiosa seria permitida nas igrejas (mas não nas escolas), e todos os cidadãos, incluindo o clero, poderiam efectuar petições para reformar as leis. Mas o ponto mais importante dos arreglos era que a Igreja recuperaria o direito a usufruir das suas propriedades e os padres recuperavam o direito de viver nessas mesmas propriedades. Legalmente falando, a Igreja não podia possuir propriedade imobiliária, e as suas antigas instalações permaneciam propriedade federal. No entanto, a Igreja tomou o controlo destas instalações e o governo nunca voltou a tentar ficar com elas. Era um arranjo conveniente para as duas partes e o apoio da hierarquia da Igreja aos rebeldes cessou. Para muitos católicos a hierarquia tinha aceite o suborno.

Os acordos conduziram a guerra a um desfecho pouco comum. Nos últimos dois anos, muitos oficiais anticlericais que eram hostis ao governo federal por outras razões haviam-se juntado aos rebeldes. Quando os arreglos vieram a público, apenas uma minoria dos rebeldes regressou a suas casas: aqueles que sentiam que a sua guerra tinha sido ganha. Uma vez que as opiniões da Liga e dos rebeldes, que tanto sangue tinham derramado, não tinham sido ouvidas nas conversações, muitos deles sentiram-se traídos e alguns continuaram a combater. Os protestos não se fizeram esperar, e Roma teve de proibir que se falasse mais sobre o acordo que não protegeu a vida daqueles que se havia revoltado pela perseguição à liberdade do exercício religioso. Criou-se uma profunda divisão entre o alto clero, considerado pouco solidário quando não traidor, e aqueles que, desconfiados, insistiam em levar a guerra por diante. Então a hierarquia da Igreja ameaçou os rebeldes de excomunhão o que levou muitos, apesar da forte sensação de traição mas obedecendo, a depor as armas e, gradualmente, a rebelião foi terminando. Os oficiais, temendo ser julgados como traidores, tentaram manter a rebelião. Os seus esforços falharam e muitos foram capturados e fuzilados, enquanto outros escaparam para San Luis Potosí onde o general Saturnino Cedillo lhes concedeu refúgio.

A 27 de Junho, ouviram-se os toques dos sinos no México, pela primeira vez em quase três anos. A guerra custou a vida a cerca de 90 000 pessoas: 56 882 no lado federal e cerca de 30 000 no dos Cristeros. A estes números há que somar os numerosos civis (e Cristeros desarmados) assassinados em ofensivas anticlericais após o fim da guerra e que ainda tinham de levar a um segundo levantamento em 1934, conhecido como La Segunda. Conforme declarado por Portes Gil, a Lei Calles permaneceu nos livros, mas não foi feita qualquer tentativa organizada por parte do governo federal com vista à sua aplicação efectiva. Ainda assim, em várias localidades, a perseguição de padres católicos prosseguiu, baseada na interpretação da lei feita pelas autoridades locais.

Em 1993 o governo do México concedeu à Igreja um precário reconhecimento legal como associação religiosa e estabeleceu relações diplomáticas com a Santa Sé. As provisões anticlericais continuam em vigor em 2005, apesar de já não serem aplicadas.
A 20 de Novembro de 2005, em Guadalajara, (Estado de Jalisco, México) perante cerca de 80.000 pessoas, o Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito para a Congregação da Causa dos Santos, proclamou Beatos Servos de Deus, 13 cristeros, sendo 10 leigos e 3 sacerdotes que caíram assassinados durante a perseguição religiosa dos anos callegistas.

Com efeito, a Igreja católica reconheceu como mártires várias pessoas que foram executadas durante as insurreições cristeras. O mais conhecido é talvez o jesuíta Padre Miguel Agustín Pro que, em 23 de Novembro de 1927, foi oficialmente fuzilado, sem julgamento prévio, pelo facto de o governo considerar que as suas actividades sacerdotais desafiavam a sua autoridade . Quiseram fazer dele um exemplo dissuasor para prevenir o alastramento da revolta e levar os cristeros à rendição; para isso, publicitaram a execução (esperando que se acobardasse), divulgando as imagens por todos os meios de comunicação. O efeito conseguido acabou por ser o contrário. Os cristeros inspiraram-se no exemplo de martírio do Padre Pro e redobraram de força, recrudescendo a revolta. Foi beatificado em 1988.

Em 21 de Maio de 2000, o Papa João Paulo II canonizou um grupo de 25 mártires desse período que haviam sido beatificados a 22 de Novembro de 1992. Na sua maioria, eram padres que não tendo pegado em armas, se tinham no entanto recusado a abandonar os seus paroquianos, tendo sido assassinados pelas tropas governamentais.

[1] Alguns autores negaram a existência deste documento oficial mas López Beltrán publica uma foto do mesmo na sua obra

[2] Os dois padres-comandantes, o padre Vega e o padre Pedroza, eram soldados natos. O padre Vega tinha reputação de beber excessivamente e de ignorar frequentemente o seu voto de castidade. Por seu lado, o padre Pedroza era eticamente impoluto e firme e fiel aos seus votos sacerdotais. Porém, o facto de ambos terem pegado em armas tornou-se problemático do ponto de vista da teologia sacramental católica. Ironicamente, para não dizer hipocritamente, foram os defensores da teologia da libertação, cúmplices frequentes dos movimentos marxistas terroristas quem mais se encarniçou contra a memória dos cristeros e dos padres que os apoiaram.

[3] Segundo a lenda esta alcunha teve origem no facto de, após a sua evasão da prisão, ter morto todos os catorze homens que tinham sido enviados em sua perseguição. Teria depois enviado uma mensagem ao presidente da Câmara, e seu tio, dizendo-lhe que no futuro não deveria enviar tão poucos homens atrás dele.

[4] Mário Valdés, que muitos historiadores crêem ter sido um agente governamental, conseguiu inflamar os ânimos contra El Catorce, levando à execução deste após uma condenação por um arremedo de tribunal marcial.

[5] O que lhe valeu o epíteto nos órgãos de comunicação social dos E.U.A. de diplomata bacon and eggs.

[6] Estes arranjos traduziram-se por duas declarações separadas, uma por Portes Gil e outra pelo Arcebispo de Morelia, Leopoldo Ruíz y Flores, em nome de todo o Clero católico (o que era falso) e na qualidade de Delegado Apostólico Ad Referendum sem no entanto ter cumprido as orientações do Papa. Como se diria na gíria, deixou-se papar... Tinha vindo dos E.U.A., num vagão de comboio, incomunicável, acompanhado apenas por Pascual Díaz y Barreto, o único bispo que havia mostrado empenho em conseguir um acordo com os callistas. Morrow impediu que o clero mexicano ou representantes dos rebeldes ou da Liga tivessem acesso aos dois negociadores, então instalados em casa do banqueiro Legorreta.. Apenas os sacerdotes americanos Edmund Walsh, S.J., Wilfrid e Parsons e o embaixador do Chile. O resultado ficou à vista

[7] Usaram como justificação a sua (falsa) participação num atentado a Obregón. O verdadeiro autor para poupar a vida de Pro, entregou-se mas acabariam todos fuzilados.

JLAndrade e JAMiranda

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Oração, diálogo com Deus e luz da alma


A oração, ou diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim, como os nossos olhos corporais são iluminados ao receber a luz, assim também a alma que se eleva para Deus é iluminada pela sua luz inefável. Falo da oração que não se limita a uma atitude exterior, mas brota do íntimo do coração; falo da oração que não se limita a determinados momentos ou ocasiões, mas se prolonga dia e noite, sem interrupção.
Com efeito, não é só no momento determinado para rezar que devemos elevar a Deus o nosso espírito; também no meio das mais variadas tarefas – como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo – é preciso conservaar sempre viva a aspiração e lembrança de Deus, a fim de que todas as nossas obras, condimentadas com o sal do amor de Deus, se convertam em alimento agradável para o Senhor do Universo. E podemos realmente gozar, durante toda a vida, as vantagens preciosas que daí resultam, se dedicarmos ao Senhor todo o tempo que nos for possível.
A oração é luz da alma, verdadeiro conhecimento de Deus, mediação entre Deus e os homens. Por meio da oração, a alma é elevada até aos Céus e une-se ao Senhor num abraço inefável; como criança que, chorando, chama por sua mãe, a alma deseja o leite divino, pede que sejam ouvidos os seus apelos e recebe dons superiores a tudo o que é natural e visível.
A oração é venerável mensageira que nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Refiro-me evidentemente à oração que não consiste apenas em palavras. A oração é desejo de Deus, piedade inefável, que não provém dos homens mas da graça divina, como diz o Apóstolo: “Não sabemos o que devemos pedir em nossas orações, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis.
Se o Senhor, na sua generosidade, concede a alguém o dom da oração, é uma riqueza inestimável e um alimento celeste que sacia a alma: quem chega a saboreá-lo, sente-se abrasado no desejo eterno do Senhor, como num fogo ardentísssimo que inflama a sua alma.
Se queres ver restaurada em ti aquela morada que Deus edificou no primeiro homem, adorna a tua casa com a modéstia e a humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça, enfeita-a com o outro das boas obras, e, em lugar das paredes e dos mosáicos, ornamenta-a com a fé e com a grandeza de ânimo; e, por cima de tudo, como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a oração. Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplêndido palácio real para O receber, e poderás tê-l’O contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo da sua presença.
(São João Crisóstomo, Supp. Homilia 6 de precatione: PG 64, 462-466)

Jejum e purificação espiritual


Em todo o tempo, irmãos caríssimos, “a terra está cheia da misericórdia do Senhor”, e todos os fiéis encontram na própria natureza motivos de adoração a Deus, uma vez que o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm, nos falam da bondade e omnipotência d’Aquele que os criou, e a admirável beleza dos elementos postos ao nosso serviço reclamam da criatura racional uma justa acção de graças.
Mas quando se aproximam estes dias que comemoram de modo especial os mistérios da redenção humana e que precedem imediatamente as festividades pascais, devemos preparar-nos com a maior diligência por meio da purificação espiritual.
Na verdade, é próprio da festa da Páscoa fazer com que toda a Igreja se alegre pelo perdão dos pecados, não só aqueles que então renascem pelo Santo Baptismo, mas também os que pertencem desde há muito à família dos filhos adoptivos.
É sem dúvida o banho da regeneração que nos faz homens novos; mas todos têm necessidade de se renovarem quotidianamente para remediar a ferrugem inerente à nossa condição mortal, e não há ninguém que não tenha de se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos sem excepção devemos empenhar-nos para que, no dia da nossa redenção, ennhum de nós se encontre ainda nos seus vícios de outrora.
Portanto, irmãos caríssimos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo o tempo, deve praticá-lo agora com maior solicitude e devoção, para que se cumpra a santa instituição apostólica do jejum quaresmal, que consiste não só na abstenção dos alimentos, mas também e sobretudo em abster-se do pecado.
A estes santos jejuns nada virá juntar-s emelhor do que a boa obra que é a esmola; sob este nome de obras de misericórdia incluem-se muitas e louváveis acções de bondade, nas quais todos os fiéis podem manifestar igualmente a sua disposição de espírito, por mais diversos que sejam os recursos de cada um.
Se verdadeiramente amamos a Deus e ao próximo, nenhum obstáculo impedirá a nossa boa vontade. Quando os Anjos cantaram:“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”, proclamavam bem-aventurado, não só pela virtude da benevolência mas também pelo dom da paz, todo aquele que, por amor, se compadece do sofrimento alheio.
São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite a todos os verdadeiros cristãos, tanto ricos como pobres, tomar parte na distribuição das esmolas; e embora nem todos possam ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade que manifestam.
(Papa São Leão Magno, Sermão 6 da quadragesima, 1-2: PL 54, 285-287)

Para que serve a penitência?


Fixemos atentamente o nosso olhar no sangue de Cristo e comprenderemos como é precioso aos olhos de Deus seu Pai esse sangue que, derramado, para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.
Percorramos todas as idades do mundo e veremos que em todas as gerações o Senhor concedeu o “tempo favorável da pentência” a todos os que a Ele se quiseram converter, Noé proclamou a penitência, e todos os que o escrutaram foram salvos. Josnas anunciou aos ninivitas a destruição iminente, mas eles, fazendo penitência pelos seus pecados, aplacaram a ira de Deus com as suas orações e obtiveram a salvação, apesar de não pertencerem ao povo de Deus.
Nunca faltaram ministros da graça divina que, inspirados pelo Espírito Santo, pregaram a penitência. O próprio Senhor de todas as coisas falou da penitência, empenhando as suas palavras com juramento: “Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas o seu arrependimento; e acrescentou aquela admirável sentença: “Deixa de praticar o mal, ó casa de Israel. Diz aos filhos do meu povo: Ainda que os vossos pecados cheguem da terra aos céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais negros que o cilício, se vos converterdes a Mim de todo o coração e disserdes: ’Pai’, Eu vos tratarei como um povo santo e ouvirei as vossas súplicas”.
E querendo levar à penitência todos aqueles a quem amava, confirmou esta sentença com a sua vontade omnipotente.
Obedeçamos, portanto, à sua excelsa e gloriosa vontade e, implorando humildemente a sua misericórdia e benignidade, refugiemo-nos na sua clemência e convertamo-nos sinceramente, abandonando as obras más, as contendas e as invejas ue conduzem à morte.
Sejamos humildes de coração, irmãos caríssimos, evitemos toda a espécie de soberba, vaidade, insensatez e coólera e ponhamos em prática o que está escrito. Diz o Espírito Santo: “Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico na sua riqueza; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, procurando-O a Ele e praticando o direito e a justiça”.
Recordemos sobretudo as palavras do Senhor Jesus, quando nos recomendava a benevolência e longanimidade: “Sede misericordiosos e alcançareis misericórdia; perdoai e sereis perdoados; como tratardes o próximo, assim sereis tratados; dai e dar-se-vos-á; não julgueis e não sereis jugados; sede benévolos e obtereis benevolência; com a medida com que medirdes, vos será medido”.
Observemos fielmente estes mandamentos e preceitos do Senhor; vivamos sempre, com toda a humildade, fiéis ás suas santas palavras; e lembremo-nos do texto sagrado. “Para quem voltarei o meu olhar senão para o humilde e manso de coração, para aquele que teme as minhas palavras?
Deste modo, imitando as obras grandiosas dos nossos ilustres antepassados, corramos de novo para a meta que nos foi proposta desde o princípio, que é a pas. Contemplemos atentamente o pai e Criador do universo, e coloquemos toda a nossa esperança na magnificência e generosidadedo dom da paz que nos oferece.
(Papa São Clemente I, Carta aos Coríntios, cap, 7,4 – 8,3; 8,5 – 9,1; 13, 1-4; 19, 2: Funk 1, 71 – 73 – 77 – 78.87)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cardeais-Bispos, Cardeais-Presbíteros, Cardeais-Diáconos


No dia 18 de Fevereiro de 2012, no Consistório Ordinário Público, o Papa Bento XVI nomeou 22 novos Cardeais da Santa Igreja Romana, atribuindo aos novos Purpurados um Título ou Diaconia em Roma.

Este costume remonta às origens do Colégio Cardinalício, quando era uma instituição exclusiva da província romana e composto apenas pelo clero daquela diocese.

Posteriormente, foi-lhes reservado o privilégio da eleição do Bispo de Roma e, mais tarde, o Colégio foi aberto a outros bispos de outras Dioceses. Contudo, permaneceu o costume de todos os cardeais terem um título ou diaconia, simbólicos, em Roma, para poderem, consequentemente, elegerem o Papa, Bispo de Roma.

No interior do Colégio Cardinalício existem três ordens hierárquicas: dos Cardeais-Bispos, Cardeais-Presbíteros e Cardeais-Diáconos.

À primeira ordem, a dos Cardeais-Bispos, o Papa eleva aqueles purpurados mais destacados ou com mais tempo de serviço no Sacro Colégio. Eles são apenas seis, entre os quais, o Cardeal-Bispo de Óstia que serve de Deão do Sacro Colégio.

Na segunda ordem são inscritos os arcebispos e bispos residenciais, que compõem a maioria do Colégio.

E na terceira ordem estão os membros da Cúria Romana ou prelados que o Papa quer honrar com a dignidade cardinalícia. Estes últimos, depois de 10 anos de pertença ao Sacro Colégio, podem tornar-se Cardeais-Presbíteros.

Muito bonitas são as regras do Protocolo da Santa Igreja. Por causa da fidelidade ao Papado, os Patriarcas orientais quando nomeados Cardeais, apesar de não serem romanos, são admitidos automaticamente como eleitores do Bispo de Roma. Nas cerimónias, eles têm precedência sobre os Cardeais-Presbíteros e vêm logo depois dos Cardeais-Bispos.

Os novos cardeais, cuja lista abaixo reproduzimos, juntamente com os títulos recebidos, receberam durante a cerimónia um barrete vermelho porque a eles foi confiada a missão de servir a Deus, à Igreja e ao próximo, com uma entrega absoluta e sem condições, até ao derramamento de sangue, se necessário, como diz a fórmula da sua imposição e como indica a cor vermelha das suas vestes.

Cardeais-Presbíteros

1. Card. GEORGE ALENCHERRY, Título de São Bernardo nas Terme
2. Card. THOMAS CHRISTOPHER COLLINS, Título de São Patrício
3. Card. DOMINIK DUKA, O.P., Título dos Santos Marcelino e Pedro
4. Card. WILLEM JACOBUS EIJK, Título de São Calisto
5. Card. GIUSEPPE BETORI, Título de São Marcelo
6. Card. TIMOTHY MICHAEL DOLAN, Título de Nossa Senhora de Guadalupe no Monte Mario
7. Card. RAINER MARIA WOELKI, Título de São João Maria Vianney
8. Card. JOHN TONG HON, Título da Regina Apostolorum
9. Card. LUCIAN MUREŞAN, Título de Santo Atanásio

Cardeais-Diáconos

1. Card. FERNANDO FILONI, Diaconia de Nossa Senhora de Coromoto em San Giovanni di Dio
2. Card. MANUEL MONTEIRO DE CASTRO, Diaconia de São Domingos de Gusmão
3. Card. SANTOS ABRIL Y CASTELLÓ, Diaconia de São Ponciano
4. Card. ANTONIO MARIA VEGLIÒ, Diaconia de São Cesário no Palatio
5. Card. GIUSEPPE BERTELLO, Diaconia dos Santos Vito, Modesto e Crescência
6. Card. FRANCESCO COCCOPALMERIO, Diaconia de São José dos Falegnami
7. Card. JOÃO BRAZ DE AVIZ, Diaconia de Santa Helena fora da Porta Prenestina
8. Card. EDWIN FREDERICK O’BRIEN, Diaconia de São Sebastião no Palatino
9. Card. DOMENICO CALCAGNO, Diaconia da Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria na Via Ardeatina
10. Card. GIUSEPPE VERSALDI, Diaconia do Sagrado Coração de Jesus no Castro Pretorio
11. Card. JULIEN RIES, Diaconia de Santo Antônio de Pádua na Circonvallazione Appia
12. Card. PROSPER GRECH, O.S.A., Diaconia de Santa Maria Goretti
13. Card. KARL JOSEF BECKER, S.J., Diaconia de São Juliano Mártir

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Virtudes infusas no pensamento de São Tomás


As virtudes infusas, isto é, produzidas diretamente por Deus em nós, sem o nosso concurso, destinam-se a aperfeiçoar as faculdades da nossa alma: inteligência e vontade. Em primeiro lugar, proporcionando-as, de certa forma, ao seu objeto de conhecimento e amor, ou seja, Deus "como Ele é em si mesmo". A inteligência e a vontade recebem um grupo de virtudes, puramente sobrenaturais, às quais dá-se o nome de virtudes teologais, porque tem Deus como objeto. São elas a fé, a esperança e a caridade.

A primeira, na ordem da geração e na ordem lógica, é a fé, mas a mais excelente é a caridade.

A fé é uma virtude que eleva a inteligência, sugerindo-lhe certas verdades que por si só nunca poderia atingir e, ao mesmo tempo, inclina a inteligência a aquiescer.

A esperança e a caridade ordenam a vontade, não em função dos bens naturais, mas em relação ao próprio Deus, tal como a fé no-Lo revela.

A fé e a esperança podem existir em estado imperfeito sem a caridade, mas só com ela podem chegar a Deus.

A esperança orienta os nossos desejos, nosso querer, para a Bem-aventurança, que a fé revela à inteligência, mas a caridade ou amor sobrenatural faz com que a alma inteira adira o seu Soberano Bem. Ela é um amor de dileção, quer dizer de escolha por Deus. Ela prefere-O a tudo, tem sede de conhecê-Lo mais e não só O ama, mas tudo o que vem dEle. Ora, tudo o que existe (excepto o mal, que é uma privação) tem Deus como causa primeira. É, pois, por Deus que a alma procurará todas as coisas boas, todo aperfeiçoamento pessoal, todo serviço ao próximo, tudo será feito por amor de Deus, por caridade.

Virtudes morais infusas

As virtudes de justiça, força, prudência, temperança, puramente humanas, não podem pretender entrar nesta ordem da caridade, que as ultrapassa infinitamente. Também, as virtudes morais infusas de justiça, força, prudência, temperança são dadas à alma ao mesmo tempo que a caridade e a graça.

As virtudes morais, humanas ou civis, como as qualifica São Tomás, regulam os costumes segundo a razão.

As virtudes morais infusas regulam os costumes dos cristãos segundo o julgamento da fé. O seu justo meio desloca-se, pois a atividade moral não é mais medida através de um exemplar ideal de perfeição humana (o homem virtuoso é a regra da virtude, segundo Aristóteles) mas na própria perfeição divina, “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” (Mt 5, 43-48).

A conexão das virtudes morais civis faz-se na virtude da prudência: a conexão das virtudes cristãs morais e teologais opera-se na virtude da caridade.

As virtudes morais infusas são poderes de ação sobrenatural, mas não são faculdades. É preciso que o exercício ou ascése venha a dar à virtude infusa o bom instrumento da virtude adquirida correspondente, para que a virtude infusa possa desenvolver-se na alma e produzir atos perfeitos com segurança, facilidade e alegria. Pois, no terreno das virtudes infusas, são as faculdades humanas que agem por si próprias, apesar dos seus atos terem um alcance sobrehumano.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Interpretar sempre a favor do próximo


No seu livro Introdução à vida devota, ou Filoteia, São Francisco de Sales, bispo de Genebra e doutor da Igreja, dá conselhos que deveriam ser seguidos pelos jornalistas ou por quem trabalha no mundo da informação:
“Quando falo dos outros, minha boca ao servir-se da língua é comparável a um cirurgião que manuseia o bisturi numa operação delicada entre nervos e tendões: o golpe que eu faço vibrar, deve ter uma alta precisão para não expressar nem mais nem menos do que a verdade. "
"Seu modo de falar tem que ser tranquilo, sincero, puro, simples e expressar a verdade.
“Fique longe do duplo sentido, da astúcia e das invenções. Deve-se atuar sempre desta maneira, interpretando sempre a favor do próximo, e se um facto tiver cem aspectos, detenha-se e preste atenção ao mais belo. "
"O homem justo, quando não pode justificar nem o facto nem a intenção de quem sabe por outros meios que é um homem de bem, se nega a julgar, esquece, deixa a sentença só a Deus...
Quando não é possível justificar o pecado, façamos, pelo menos, que seja digno de compaixão, atribuindo-lhe a causa mais compreensível que se possa pensar, como a ignorância ou a debilidade. "

sábado, 28 de janeiro de 2012

Compaixão e Misericórdia, comportamentos cristãos

Séneca, o mais famoso dos moralistas da antiquidade, definia, no seu Tratado da Clemência, a compaixão como um vício do coração (misericordia animi vitium est). Também Cícero no seu discurso “Pro Murena” dizia que só um estúpido, insensato ou maldoso poderia entregar o seu coração à compaixão. Concluindo, o mesmo filósofo afirma: O sábio é sem compaixão (Sapiens non miseretur).
Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo contrário, personificou a compaixão de Deus e a misericórdia, que é a acção que segue todo o sentimento de compaixão.
Muitas vezes o Evangelho nos mostra Jesus compadecido com a multidão, porque era como ovelhas sem pastor (Mc. 6, 30-43), ou ainda quando moveu-se de íntima compaixão pela viúva de Naim que acompanhava ao cemetério o seu único filho (Lc 7, 11-17), aquele em quem tinha posto todas as suas esperanças de vida.
A compaixão segundo Jesus, é uma escuta, mas também uma implicação, uma preocupação verdadeira com os outros, o cumprimento do primeiro mandamento da Lei de Deus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc. 12, 31).
Exatamente o contrário da posição pagã!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Prática de intolerância de certos judeus ortodoxos contra os sacerdotes



Marco Tosatti do jornal La Stampa publica no seu blogue esta noticia do dia 15 de janeiro sobre o radicalismo anti-cristão de certos judeus ultraortodoxos:

A Liga Anti Difamação (ADL), solicitou ao Grande “Rabinado” de Israel que denunciasse publicamente "a prática repugnante de judeus ultraortodoxos, que remonta a várias décadas, de cuspir na direção de sacerdotes cristãos quando eles se encontram na rua."

"Este ato odioso é uma prática repugnante de perseguição contra um outro grupo confessional e uma profanação do nome de Deus segundo a lei judaica", disse Abraham H. Foxman, diretor nacional da ADL. "Essa representação do ódio e da intolerância não tem lugar em Israel e é contrária aos valores judaicos que devem tratar todas as pessoas com respeito e bondade."

A ADL enviou para os grandes rabinos Shlomo Amar e Yona Metzger uma carta, instando-os a se reunir com os líderes Haredi para pôr fim a esta prática e instar esta comunidade ao respeito pelas outras religiões e da coexistência pacífica.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O fanatismo da luta de género

Deus criou o homem e a mulher. Para os defenseros da teoria do género, esta afirmação já não é verdadeira. A pessoa nasce com um sexo, mas ecolhe depois com qual ela quer viver! Já há pais que não educam mais os seus filhos como meninos ou meninas, mas deixam-nos escolher. Em Maio de 1968, vivemos a revolução sexual, no século XXI vivemos uma revolução para assexuar os homens, degradando ainda mais o ser humano, "criado a imagem e semelhança de Deus".

O problema dos fanáticos da igualdade de géneros chegou agora até à nossa língua. Em França, onde existe um grupo de 40 Académicos, dotados até hoje de espada para defender a língua, símbolo da unidade nacional, o debate está aceso.

Gendre, le désaccord

La France est sans doute l'un des seuls pays au monde où les esprits s'échauffent sitôt que l'on évoque une réforme, même prudente, de la grammaire ou de l'orthographe. En 1990, la disparition de certains accents circonflexes - voute ou paraitre - et la soudure de quelques mots composés - portemonnaie ou pingpong - avaient fait frémir les puristes : l'aval de la prestigieuse Académie et du Conseil supérieur de la langue française n'avait pas suffi à apaiser la sainte colère des défenseurs de l'orthodoxie.

Une petite décennie plus tard, la féminisation des noms de titres et de métiers avait plongé la France dans une bataille linguistique sans merci : lorsqu'Elisabeth Guigou ou Martine Aubry s'étaient fait appeler "Madame la ministre", les Académiciens avaient solennellement demandé l'aide du président de la République "en une affaire qui, dans les hauteurs de l'Etat, porte atteinte à la langue française".

En France, on ne plaisante pas avec la langue. Elle a son histoire, bien sûr, mais aussi son gardien : quai Conti, quarante académiciens dotés d'un bicorne, d'une cape, d'un habit vert et d'une épée veillent sur le bon usage du français avec une attention jalouse. Cette compagnie de lettrés tient son mandat du cardinal de Richelieu : les lettres patentes de Louis XIII consacrant son existence ont été enregistrées par le Parlement en 1637. Dans ce texte, Louis, roi de France et de Navarre, appelé par Dieu à la conduite de l'Etat français, proclame sa volonté d'enrichir la langue "de tous les ornements convenables à la plus illustre et à la plus ancienne de toutes les monarchies qui soient dans le monde". L'Académie, conclut-il, aura pour mission de "rendre le langage français non seulement élégant mais capable de traiter tous les arts et toutes les sciences".

Aujourd'hui, certaines féministes rêvent pourtant de bousculer ce bel ordonnancement linguistique régi par une institution vieille de bientôt quatre siècles. Le monde a changé, proclament-elles, il serait bon que la langue française en prenne acte. L'objet de leur courroux est une règle de grammaire dont l'énoncé leur semble provenir d'un autre monde : "Le masculin l'emporte sur le féminin."

Au nom de ce principe, l'adjectif qui qualifie plusieurs noms de genres différents s'accorde automatiquement au masculin : les garçons et les filles sont ainsi prêts pour l'école, de la même manière que les hommes et les femmes sont beaux. L'adjectif se met en effet au "genre indifférencié, c'est-à-dire au masculin", résume Le Bon Usage de Maurice Grevisse. "Dans les représentations, cette règle fait des femmes et du féminin les invisibles de la langue", s'insurge Clara Domingues, docteure ès lettres et secrétaire générale de l'association L'égalité, c'est pas sorcier.

Pour tenter de "révolutionner les écrits, les correcteurs d'orthographe et nos habitudes", L'égalité, c'est pas sorcier, la Ligue de l'enseignement, Le monde selon les femmes et Femmes solidaires ont lancé une pétition - "Que les hommes et les femmes soient belles !" -, qui demande à l'Académie française de réformer l'accord de l'adjectif (Petitions24.net). "Cette règle de grammaire apprise dès l'enfance sur les bancs de l'école façonne un monde de représentations dans lequel le masculin est considéré comme supérieur au féminin", affirme ce texte, qui a déjà recueilli plus de 3 300 signatures.

Les pétitionnaires demandent l'application d'un nouveau principe, la règle de proximité : lorsque les noms sont de genres différents, l'adjectif s'accorderait avec le mot le plus proche. Par la grâce de ce dispositif égalitaire, les manteaux et les vestes seraient blanches et non plus blancs, tandis que les garçons et les filles nous sembleraient gentilles, et non plus gentils. "Cette règle serait souple, note Clara Domingues. Il suffirait de l'enseigner à l'école et de laisser ensuite vivre la langue."

Les signataires savent bien que leur requête sera le plus souvent accueillie par des soupirs de lassitude et des haussements d'épaules exaspérés. Que de simagrées, diront certains. Est-ce une priorité en ces temps de crise mondiale, se demanderont d'autres. L'égalité hommes-femmes se joue ailleurs que dans les règles de l'accord de l'adjectif, concluront les moins malveillants.

Mais les associations tiennent bon. "Dès l'enfance, cette règle inscrit dans le symbolique l'idée que l'un des sexes est supérieur à l'autre, souligne Henriette Zoughebi, vice-présidente (PCF) chargée des lycées au conseil régional d'Ile-de-France. Je le dis en songeant à ma carrière professionnelle de bibliothécaire et à mon amitié pour les livres : c'est la langue qui permet de dire le réel, c'est elle qui transforme, ou non, les choses. Si l'on veut donner de la visibilité aux femmes dans l'espace social, il faut adopter la règle de proximité, qui est à la fois simple et souple : elle redonne de la liberté et du jeu à la langue."

Contrairement à ce que certains pourraient penser, la règle de proximité n'a rien d'une élucubration féministe du XXIe siècle. En grec ancien, l'adjectif épithète qualifiant des noms de genres différents ne se mettait pas systématiquement au masculin, comme il le fait aujourd'hui en français : il s'accordait avec le nom le plus proche, en vertu de la fameuse règle de proximité. Le Grand Dictionnaire des lettres (Larousse) souligne qu'en latin il en était de même : "Au latin remonte l'accord de l'épithète, s'il y a plus d'un nom support, avec le plus rapproché, précise l'ouvrage. Cet usage domine (irrégulièrement) en ancien français."

Et de citer la Chanson de Roland, qui applique, lorsqu'elle raconte la mort du chevalier à Roncevaux, la règle de proximité défendue par les féministes de 2012. "La langue du Moyen Age pratiquait ordinairement l'accord avec le donneur le plus proche, confirme l'ouvrage de Grevisse. Les auteurs du XVIIe et même ceux du XVIIIe suivaient encore assez souvent l'ancien usage."

A cette époque où l'Académie française voit le jour, la règle de proximité est encore très présente mais elle fait l'objet de débats : elle chagrine le poète François de Malherbe (1555-1628) mais elle ne déplaît pas au grammairien Claude Favre de Vaugelas (1585-1650) - l'un des premiers membres de l'Académie ! -, qui recommande d'écrire "le coeur et la bouche ouverte" ou "des travaux et des chaleurs excessives".

Dans ses Remarques nouvelles sur la langue française (1675), l'abbé Bouhours estime cependant que ces phrases ont, "ce me semble, quelque chose qui fait de la peine" : il avoue n'avoir "jamais pu se résoudre" à appliquer une règle qui "laisse ainsi un substantif en l'air" - le malheureux nom masculin, auquel l'adjectif ne fait plus écho. Racine, lui, utilise tour à tour les deux constructions, écrivant, par exemple, dans Athalie (1691) : "Surtout j'ai cru devoir aux larmes, aux prières, consacrer ces trois jours et ces trois nuits entières."

La règle précisant que le masculin l'emporte sur le féminin finit par s'imposer au XVIIIe pour des raisons qui ne doivent pas grand-chose à la linguistique : à cette époque, la supériorité masculine va tout simplement de soi. "Lorsque les deux genres se rencontrent, il faut que le plus noble l'emporte", affirme l'abbé Bouhours en 1675. "Le genre masculin est réputé plus noble que le féminin à cause de la supériorité du mâle sur la femelle", complète élégamment, en 1767, le grammairien Nicolas Beauzée.

"Cette règle grammaticale qui instaure la domination du masculin sur le féminin est historiquement très datée : elle nous renvoie à la monarchie absolue, au Roi-Soleil et au catholicisme triomphant, regrette Jacqueline Costa-Lascoux, directrice de recherches au CNRS. La langue, c'est l'architecture de la pensée. Nous sommes au XXIe siècle : adoptons donc la règle de proximité, qui est plus simple et plus esthétique. Elle sonne mieux à l'oreille, elle offre plus de liberté dans l'écriture, et surtout, elle est plus égalitaire."

Il existe un endroit où cette règle, que beaucoup d'enfants utilisent spontanément pour des raisons d'euphonie, est appliquée : les éditions Cogito ergo sum, une toute petite maison qui a publié quatre ouvrages depuis sa fondation, en avril 2011.

Au début de chaque livre, une note de l'éditeur indique que, pour l'accord de l'adjectif, il applique la règle de proximité. "On ne peut pas parler d'égalité hommes-femmes sans poser la question de la langue, car la grammaire porte l'empreinte de la domination masculine, affirme le fondateur de Cogito ergo sum, Frédéric Seaux. C'est un détail, mais un détail symbolique d'une importance incroyable ! Je sais, bien sûr, que la langue est un héritage, mais il ne faut pas hésiter à la bousculer, il faut qu'elle soit vivante. Nous essayons d'apporter notre petite pierre à l'édifice de l'égalité, mais c'est une goutte d'eau dans la mer : il faudra sans doute plusieurs générations pour que la règle de proximité finisse par être réintroduite."

Car l'Académie veille. Et l'Académie n'aime guère les révolutions. En présentant les ajustements orthographiques de 1990, le secrétaire perpétuel de cette vénérable assemblée, Maurice Druon, avait fermement écarté l'idée d'une "réforme bouleversante qui eût altéré le visage familier du français" : il préconisait au contraire de "sages" aménagements correspondant à "l'évolution de l'usage". Autant dire que la règle de proximité ne correspond pas à ces critères.

"La règle de l'accord de l'adjectif est d'un usage constant depuis trois siècles, et je n'ai pas l'impression qu'elle fasse l'objet de débats chez les grammairiens, ni que l'usage, chez les Français, soit hésitant, note Patrick Vannier, chargé de mission au service du dictionnaire de l'Académie. L'Académie ne cède pas aux modes, elle s'inscrit dans la durée. Et c'est normal : nous sommes tous attachés à la langue que nous avons apprise. Les réformes de l'orthographe demandent toujours du temps pour s'installer dans l'usage."

L'Académie française, qui a attendu 1980 pour accueillir sa première Immortelle - Marguerite Yourcenar -, sait ce que patience veut dire : bien que les femmes aient massivement investi le monde du travail, la dernière édition de son dictionnaire considère encore qu'une présidente n'est pas une femme qui exerce les fonctions de président mais l'épouse d'un président, comme la présidente de Tourvel dans Les Liaisons dangereuses.

Cette touche surannée qui ramène les femmes plus de deux siècles en arrière est un peu la marque de fabrique de l'Académie : lors du débat sur la féminisation des noms, à la fin des années 1990, elle avait élaboré une distinction acrobatique entre la fonction - qui fait abstraction du sexe et qui ne peut être féminisée - et l'activité - qui peut l'être car elle relève d'une identité personnelle. Elle recommandait donc très sérieusement d'écrire : "Le médecin des hôpitaux, Mme Isabelle Martin, est nommé directeur de l'hôpital d'Alençon. Dans sa nouvelle activité de directrice, elle n'exercera plus son métier de chirurgienne." L'Académie a pour mission de rendre la langue "pure", précisait le statut de 1635...

Dans un vieux pays comme la France, la langue peine à s'adapter à l'immense révolution qu'a représentée, depuis les années 1960, l'égalité hommes-femmes. D'autres contrées se sont laissé plus facilement bousculer par l'évolution des moeurs : c'est le cas du Québec, où l'on emploie couramment les termes "auteure" ou "écrivaine". "Comme quoi le phénomène social que constitue l'accession des femmes au marché du travail peut réellement affecter la structure de la langue", conclut Geneviève Prevost, universitaire à Paris-V, dans La Féminisation des noms de métiers (L'Harmattan, 1998). Le très sérieux Office québécois de la langue française évoque d'ailleurs, pour l'accord de l'adjectif, deux constructions : la règle "habituelle", qui veut que le masculin l'emporte sur le féminin, et la règle de proximité, qui n'est pas "incorrecte grammaticalement". "A quand la France ?", demandent malicieusement les pétitionnaires d'Internet.

Anne Chemin no Le Monde do dia 15 de Janeiro de 2012