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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Nossa Senhora e as almas do Purgatório





O Catecismo da Igreja Católica (1030,1031 e 1032) explica que a "Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados". "Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após a sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu.”.

"Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico (DS 856), a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos".

As almas do Purgatório são caras à Santíssima Virgem; são almas predestinadas e santas, almas que muito A amam e que, em sua maior parte, A serviram com fidelidade durante sua vida sobre a Terra. Nas almas do Purgatório Maria vê as filhas bem-amadas do Padre Eterno, as esposas de seu Divino Filho, os templos do Espírito Santo, as imagens de Deus que brilharão um dia no Céu com maravilhoso fulgor. Ela vê nessas almas o preço do Sangue do seu adorável Jesus, as flores imortais que ornarão a sua própria coroa durante a eternidade. Nelas, Maria vê os seus próprios filhos.

Padre Jourdain

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A Igreja é a minha pátria e a minha família! Ninguém poderá afundar a barca de Jesus!


Muitas ondas e fortes tempestades nos ameaçam, mas não tememos ser submersos, porque nos apoiamos na rocha firme.

Por mais que o mar pareça enfurecido, nunca poderá quebrar esta rocha; por mais que as vagas se levantem, nunca poderão afundar a barca de Jesus.

Que havemos de temer? A morte? Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. O exílio? Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe. A confiscação dos meus bens? Nada trouxemos para este mundo e também nada daqui podemos levar. Desprezo as ameaças do mundo! Não me interesso pelos seus bens e favores. Não temo a pobreza nem ambiciono riquezas; não receio a morte nem desejo viver, senão para vosso proveito. Por isso, recordo-vos a situação presente e peço a vossa caridade para que tenhais confiança.

Na verdade, ninguém nos poderá separar porque aquilo que Deus uniu, o homem não pode separar. Pois está dito do homem e da mulher: Assim deixará o homem o seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e serão dois como uma só carne. Ora, o que Deus uniu, não o separe o homem. (cf. Gn 2,24; Mt 19,5-6). Se não é possível romper o vínculo conjugal, será ainda mais impossível separar a Igreja de Deus. Podem até combate-la, mas sem poder prejudicar aqueles com quem lutam. É assim com as ondas que não dissolvem a rocha, mas desfazem-se em espuma contra ela.

Nada é forte como a Igreja. Os seus inimigos deveriam deixar de lutar para não perderem as forças. Não entrem em guerra contra o céu. Se lutarem contra um homem, podem sair vitorioso ou derrotado, mas se lutarem contra a Igreja, não poderão vencer porque Deus é mais forte do que todas as coisas. Gostariam de competir com o Senhor? Seriam mais fortes do que Ele? (1 Cor 10, 22). O que Deus estabeleceu, quem tentará abalar? Não conhecem o seu poder!

A Igreja é mais forte que o céu. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão (Mt 24,35). Que palavras? Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18).

Se não acreditais na retórica, acreditai pelo menos nos factos. Quantos tiranos quiseram derrubar a Igreja? Que torturas foram utilizadas para tal: fornalhas, animais ferozes, espadas afiadas! E não funcionou. Onde estão os inimigos? Foram entregues ao silêncio e ao esquecimento. E onde está a Igreja? Ela brilha mais que o sol. As obras dos inimigos morreram, as obras da Igreja são imortais. Se os seus membros não foram vencidos quando eram poucos, como poderiam ser vencidos agora que a piedade encheu o universo?

Como a cidade recuperou a calma, o espírito maligno tentou abalar a Igreja. O demónio impuro e canalha, não conseguiu apoderar-se dos muros e pensa que vai abalar a Igreja! A Igreja seria constituída por muros? Não! Ela consiste na multidão de devotos, ligados não por ferros de uma coluna, mas estreitamente unidos pela fé. Não quero dizer que tal multidão exceda o ardor do fogo, mas que, se houver apenas uma pessoa fiel, ninguém será capaz de a vencer. Considere novamente as feridas que os mártires infligiram ao mal. Aconteceu muitas vezes que uma terna donzela, uma virgem, entrou na arena. Na aparência era mais frágil e maleável que a cera e tornou-se mais firme que a rocha. O corpo foi rasgado, mas não conseguiram tirar-lhe a fé. O corpo foi consumido, mas a mente foi revigorada. A substância foi removida, mas a piedade permaneceu. Não conseguiram vencer uma única mulher e pretendem vencer um povo tão numeroso! Não ouvis a palavra do Senhor: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, Eu estou no meio deles? E não estará presente o Senhor no meio de um povo tão numeroso, unido pelos vínculos da caridade? Estarei eu porventura confiado às minhas próprias forças? Não. Eu tenho a promessa do Senhor, tenho comigo a sua palavra escrita: este é o meu bordão, esta é a minha segurança, este o meu porto tranquilo. Ainda que todo o mundo se perturbe, eu tenho a sua resposta por escrito, leio a sua Escritura: esta é a minha muralha, esta é a minha fortaleza. Que diz a Escritura? Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo (Mt 28,20).

Cristo está comigo; a quem hei de temer? Ainda que se lancem contra mim as ondas do mar ou o furor dos príncipes, tudo isto para mim é mais desprezível do que uma teia de aranha. E se a vossa caridade não me retivesse aqui, não recusaria partir hoje mesmo para onde quer que fosse. Porque digo sempre: Senhor, seja feita a vossa vontade; não o que quer este ou aquele, mas o que Vós quereis que eu faça. Esta é a torre que me abriga, esta é a pedra firme que me sustenta, este é o bordão que não me deixa vacilar. Seja o que Deus quiser. Se Ele quer que eu permaneça aqui, fico Lhe agradecido. Se me chama para qualquer outro lado, sempre Lhe darei graças.

Onde eu estiver, ali estareis vós também; e onde estiverdes vós, ali estarei também. Somos um só corpo; e nem o corpo se separa da cabeça, nem a cabeça do corpo. Ainda que estejamos em lugares distantes, ficamos sempre unidos pela caridade e nem a própria morte poderá separar nos. Porque o corpo morre, mas a alma sobrevive; e a minha alma sempre se recordará do meu povo.

Esta é a minha pátria e a minha família; vós sois os meus pais, meus irmãos e meus filhos; sois membros do mesmo corpo; sois a minha luz, uma luz mais amável que a luz do dia. Que brilho pode haver para mim mais agradável que a vossa caridade? O brilho da luz do dia é-me útil na vida presente; mas a vossa caridade prepara-me uma coroa para a vida futura.

São João Crisóstomo, Homilia “Nada teme aquele que tem sua vida em Cristo".

 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Tribunal de Justiça de São Paulo, Brasil, confirma sentença de extinção de processo contra os Arautos do Evangelho

 A decisão concluiu que não havia omissões na sentença original que exigissem a intervenção do Ministério Público como autor da ação.

 


O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por meio da Vara da Infância e da Juventude, rejeitou os embargos de declaração opostos pelo Ministério Público em relação à sentença que julgou extinta a ação civil pública movida contra a associação religiosa Arautos do Evangelho. A decisão, assinada pela Juíza Dra. Cristina Ribeiro Leite Balbone Costa, concluiu que não havia omissões na sentença original que exigissem a intervenção do Ministério Público como autor da ação.

Ação extinta por ilegitimidade ativa

O caso teve origem em uma ação movida pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que foi extinta por ilegitimidade ativa, decisão fundamentada no Tema 607 do Supremo Tribunal Federal, em caráter de repercussão geral. A sentença original já havia determinado que não havia desistência infundada ou abandono da ação por parte da associação legitimada, nem irregularidades formais que justificassem a continuidade do processo.

O Tribunal destacou que o Ministério Público, responsável pela instauração do inquérito civil para apuração dos fatos, não solicitou seu ingresso na ação como autor e que o inquérito foi trancado definitivamente por decisão do Superior Tribunal de Justiça. Assim, a substituição do polo ativo da ação foi considerada inviável.

Decisão reafirma a ausência de irregularidades por parte dos Arautos do Evangelho

A rejeição dos embargos representa mais um importante passo no restabelecimento da verdade, encerrando um capítulo controverso que envolvia a associação religiosa e reafirmando a legalidade dos procedimentos adotados. Os pais dos jovens envolvidos expressaram alívio e satisfação com a decisão, que reafirma a ausência de irregularidades por parte dos Arautos do Evangelho. A decisão traz um desfecho claro e ampara a associação, permitindo que continue suas atividades sem o peso das acusações previamente levantadas.

Gaudium Press - 03/09/2024 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A cidade de Deus de Santo Agostinho e a luta do bem contra o mal

 


Santo Agostinho escreveu um livro famoso intitulado “A Cidade de Deus” no qual defende a existência no mundo de apenas duas forças, dois princípios vitais, dois elementos ativos, dois Estados (a civitas de que fala é o Estado, e não “cidade” como se costuma dizer): o de Deus e o do demónio, numa perpétua, completa e irreconciliável luta entre si, a Cidade de Deus e a cidade do demónio.

Trata-se da concepção de que todos os factos do mundo reduzem-se numa luta entre o bem e o mal, entre a Igreja Católica e o poder das trevas, entre aqueles que dentro da Igreja representam o bom espírito, de um lado, e do outro, o poder das trevas. A luta entre esses dois princípios opostos resulta de dois amores e que a oposição desses dois amores constitui a fonte do ódio entre eles. A fonte desses amores e dos ódios é, na Cidade de Deus, o amor de Deus até o esquecimento de si mesmo; na cidade do demónio, cada um se ama a si próprio até o aquecimento de Deus. Ou seja, é o confronto entre a procura do absoluto e o egoísmo (cfr. op. cit. XIV, 28).

O ponto de partida da cidade do demónio e do mal espírito é o pensar em si, nos seus interesses, nos seus prazeres, nos seus deleites, nas suas coisinhas, o ter-se a si mesmo como minúsculo centro do universo, com o egoísmo todo voltado para suas satisfações.

Na Cidade de Deus vive-se para o Criador, não a pensar em si, mas todos estão voltados inteiramente para as realidades supra-terrenas que a Revelação nos indica, têm o espírito voltado para o metafísico, para o espírito religioso que se dirige para as mais altas coisas e que prepara as condições da alma para receber o dom inapreciável da fé católica.

Esses dois princípios estão numa oposição completa e a história do mundo é feita da luta entre eles.

Alguém dirá: “Mas essa concepção é muito intransigente!” São Luiz Grignion de Montfort escreveu que tudo quanto Deus cria é bem criado, porque Deus não faz nada de errado. E Ele só fez uma inimizade, mas que essa inimizade é bem feita, porque Ele faz tudo bem feito. A inimizade que Ele criou é esta: entre os bons e os maus, entre os filhos da luz e os filhos das trevas, entre Nossa Senhora e a Serpente.

Plinio Corrêa de Oliveira

Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova!


"Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração... Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava... Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.

Tu estavas dentro de mim e eu fora... "Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior". Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só me afastavam cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava... Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo...

Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e o Teu grito rompeu a minha surdez... "Fizeste-me entrar em mim mesmo... Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava". Em meio à luta, recorri ao meu grande amigo Alípio e disse-lhe: “Os ignorantes arrebatam-nos o céu e nós, com toda a nossa ciência, debatemo-nos na nossa carne”. Assim encontrava-me, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”... Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha... Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.

Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: "Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.

Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus... de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus... de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus... a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e dei-me conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.

Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo pela Tua Paz. "Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo". Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!

E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!...

Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora - e fora Te buscava, e lançava-me, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo.... Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou a minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, desejei-Te. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos pela Tua Paz!

Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

Comprovado o corpo incorrupto de Santa Teresa de Ávila

 


Hoje, 28 de agosto de 2024, foi novamente aberto o túmulo de Santa Teresa de Ávila e ficou comprovado que o seu corpo continua incorrupto desde 1582. 

A última vez que o túmulo tinha sido aberto foi em 1914.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O prazer, a felicidade e o perigo do abuso


O prazer é como um tempero, é como um sal que dá à felicidade um certo sabor. São Tomás de Aquino diz que o homem, para existir, precisa ter algo, por menor que seja, que lhe dê algum prazer.

Se imaginássemos um homem que não tivesse nem um grão de felicidade, esse homem desapareceria. E a Providência Divina, que é materna e bondosa, permite duas coisas: Primeiro, que a grande maioria dos homens tenha pelo menos uma parcela de felicidade, não uma felicidade inteira, que não existe nesta vida; segundo, também faz com que aqueles a quem Ela mais ama passem por períodos dos quais a felicidade desaparece completamente. São os grandes períodos da vida de um homem. É quando se faz noite para ele e a felicidade desaparece, inclusive a consolação sobrenatural. E ele entra no túnel obscuro, plumbeamente pesado, de uma infelicidade grande.

Mas os males críticos, muito agudos, não duram. Ou conduzem à morte ou passam logo. Assim também, é preciso ver essas partes trágicas da existência como permitidas por uma disposição especial da Providência, em geral com pouca duração.

Por outro lado, o prazer é uma cilada. Ele facilmente convida para o abuso. Não quero dizer que se deva abster-se dele, mas sim que se deve tomar cuidado com o prazer; como em relação a certos remédios, que tomados em dose muito pequena podem ser úteis, e até indispensáveis; mas ai de quem errar a dosagem! Fica envenenado. É assim também com o prazer.

Plinio Corrêa de Oliveira

sábado, 27 de julho de 2024

Como nasce a devoção a Nossa Senhora nas almas?


Em geral, a devoção viva a Nossa Senhora começa quando alguém se vê em apuros espirituais ou temporais, ou os dois, e pede a Nossa Senhora para deles ser salvo.

Maria Santíssima ao mesmo tempo que salva a pessoa de tais dificuldades, opera algo na alma, na ordem imponderável e na ordem da graça, que ela adquire como que uma vivência da condescendência maternal, risonha, afável, bondosa de Nossa Senhora e com isso fica com a esperança viva de que em outras circunstâncias difíceis será atendida de novo.

Esse "pede-pede" de todas as graças – sobretudo a do amor a Deus, que é a que se deve mais suplicar – acaba indo num crescendo de tal maneira que Nossa Senhora vai se tornando mais exorável, mais materna, de uma assistência mais meticulosa, à medida que a pessoa vai crescendo nessa espécie de vivência, desta espécie de providência risonha e afável da Mãe do Céu para com cada um.

De tal maneira que as pessoas, às vezes, acabam pedindo a Nossa Senhora verdadeiras bagatelas, coisinhas que são insignificantes e que Ela dá como uma mãe deseja dar aos filhos coisas grandes e pequenas, e que tem um sorriso particularmente afetuoso para as coisas pequenas que se lhe pedem.

Há aí uma espécie de aurora da confiança, de aurora da verdadeira compreensão de quais são as nossas relações com Nossa Senhora, e ainda que a alma passe por provações muito longas, muito duras, períodos de aridezes, períodos de dificuldades, algo disso fica. É como uma luz que acompanha a pessoa a vida inteira, inclusive nos últimos e mais amargos transes da morte.

Assim também nós: ao apresentarmos os nossos pedidos a Nossa Senhora, por pequenos que sejam, devemos fazê-lo com inteira confiança de que Ela condescende com o que suplicamos.

Se não fizermos assim, a nossa devoção para com Ela nunca será perfeitamente verdadeira. Devemos ter para com Nossa Senhora uma espécie de à vontade, de desembaraço, de intimidade de filho que às vezes até quando Lhe contrista, se Lhe apresenta com toda a confiança, certo de obter o Seu auxílio e o Seu sorriso.

É este o ponto de partida inefavelmente suave de uma devoção viva a Nossa Senhora.

Cf. Plinio Corrêa de Oliveira, Conferência, 18 de maio de 1964

terça-feira, 23 de julho de 2024

Reprimenda de Nosso Senhor ao Papa

Nosso Senhor Jesus Cristo declarou a Santa Brígida da Suécia:

“Declaro o meu desgosto contigo, cabeça de minha Igreja [Clemente VI], tu que te sentas em minha cátedra. Concedi esta cátedra a Pedro e aos seus sucessores para que sentem com uma tríplice dignidade e autoridade: primeiro, para poderem ter o poder de atar e desatar as almas do pecado; segundo, para poder abrir o Céu aos penitentes; terceiro, para que fechem o Céu aos condenados e àqueles que me desprezam. Porém tu, que deverias estar libertando almas, és realmente um assassino de almas. Designei a Pedro como o pastor e o servente das minhas ovelhas, mas tu as dissipas e as perde, és pior que Lucifer.

Ele tinha inveja de Mim e não pretendia matar a ninguém além de Mim, de forma que pudesse governar no meu lugar. Mas tu és pior, visto que, não só Me matas ao apartar-Me de ti pelo teu mau trabalho, senão que, também matas as almas devido o teu mau exemplo. Eu redimi almas com meu sangue e as encomendei a ti como um amigo confiável. Mas tu as devolves ao inimigo de quem eu as redimi. És mais injusto que Pilatos. Ele tão somente Me condenou à morte. Mas tu não só Me condenas como se Eu fosse um pobre homem indigno, como condenas também as almas dos meus eleitos e deixas livres os culpados. Mereces menos misericórdia que Judas. Ele tão somente me vendeu. Mas tu, não só me vendes, senão que também vendes as almas dos meus eleitos em troca do teu próprio proveito e vã reputação. Tu és mais abominável que os judeus. Eles tão somente crucificaram o Meu corpo, mas tu crucificastes e castigastes as almas dos meus eleitos, para quem a tua maldade e transgressão são mais afiadas que uma espada.

Assim, posto que és como Lucifer, mais injusto que Pilatos, menos digno de misericórdia que Judas e mais abominável que os judeus, minha ira para contigo está justificada

Santa Brígida da Suecia, El libro de las revelaciones celestiales, I, 41, 2016, p. 64-65.

Ser reto e prestar atenção em si mesmo


A maior parte das pessoas tem preguiça de pensar. E por causa disso tem preguiça de prestar atenção em si mesmas.

Se a pessoa fosse verdadeiramente inocente ela gostaria de pensar. O pensamento é para a alma inocente como a respiração é para o corpo.

Por falta de inocência e por preguiça, as pessoas começam a fazer as análises incompletas de si próprias, não olham inteiramente para os seus defeitos e começam a imaginar qualidades que não tem. Porque quem não quer ver os defeitos que tem, imagina qualidades que não tem.

A partir desse momento forma uma falsa ideia da sua própria pessoa e toma um itinerário errado na vida. Não sabe bem o que lhe apetece e, o pior, é que apetece fazer o que não lhe convém

E assim, o indivíduo sonha que é para ter uma vida que não é para ele. Vive a vida que ele não sonhou, nota que dá tudo errado e fica frustrado.

Para vermos como Nossa Senhora ajuda sempre nas mudanças de vida, de um modo inimaginável, vale a pena ler as “Confissões” de Santo Agostinho. Ele chegou a um ponto em que estava sozinho, angustiado, vacilante, agnóstico, corrupto, com um filho ilegítimo. De repente ele ouve uma voz que lhe diz: “Tolle, lege; tolle, lege”, “Toma e lê; toma e lê”. Era a voz de Deus mandando ler um trecho da epístola de São Paulo aos Romanos, que resolveu o seu problema e completou a sua conversão.

A partir daquele momento ele converteu-se e tornou-se num grande Doutor da Igreja. Ele escreveu essa biografia, à qual ele deu o título de Confissões, para se confessar a si próprio, diante do mundo inteiro, pelos seus defeitos.

E a morte dele foi a mais bela morte de penitente que se possa imaginar. Ele foi elevado a Bispo - um luminar da Igreja Católica! Mas Bispo da minúscula cidadezinha de Hipona, no norte da África, uma cidade romana, de cultura e de língua, cercada pelos vândalos, que vinham da Germânia, atravessaram a França, a Espanha e desceram pela África. E cercaram várias cidades. No caminho estava Hipona. E ela ia ser tomada pelos bárbaros, pagãos. Ele moribundo, provavelmente já com a vista enfraquecida, mandou que os salmos de David, os salmos penitenciais, fossem escritos num muro, diante do seu leito, em letras bem grandes para ele poder ler. E ele até ao fim da vida lia os salmos pedindo perdão, para ele ser recebido por Deus.

Uma alma que com tanta retidão e tanta lealdade se examinou a si mesma, com tanta retidão ensinou e confiou na misericórdia de Deus e de Nossa Senhora, com certeza, as portas do Céu - é de fé! ele é um santo canonizado - abriram-se e ele entrou pelo eixo reto que conduz até Deus. Porquê? Porque ele tinha sido reto a vida inteira.

Plinio Corrêa de Oliveira