Dizia Santo Agostinho que o amor nos faz cantar de alegria.
Imbuídos de espírito cristão e da alegria pelo nascimento de
Deus que Se fez homem para nos resgatar e abrir-nos as portas do Céu, a piedade
leva-nos a cantar nas igrejas, nas ruas e nas casas, músicas admiráveis de
candura e beleza.
Uma destas músicas de Natal muito conhecida é o Adeste
Fideles, cuja origem é muito controversa.
Para alguns, apesar de muitos estudiosos discordarem, o
manuscrito mais antigo desta música teve a assinatura de D. João IV, conhecido
como o Restaurador, pela reconquista da independência de Portugal, na época
dominado pela Espanha de Felipe II. Este rei era compositor amador, cujas obras
teriam desaparecido no terremoto de Lisboa de 1755. Para além do Adeste
Fideles, D. João IV teria composto o Crux Fidelis, hino cantado na
Sexta-feira Santa, durante a Adoração da Santa Cruz.
Para alguns historiadores, o texto foi retirado de um livro
litúrgico cisterciense do século XV ou XVI.
A canção teria sido obra de John Francis Wade um organista
católico do século XVIII, que viveu numa comunidade católica inglesa, exilada
em França, após o fracasso do levante ou revolta jacobita de 1745, que visava
restaurar um monarca católico no trono da Inglaterra, da Casa de Stuart.
Outros atribuem-na a Dom Jean-François-Étienne Borderies,
feroz opositor à Constituição Civil do Clero, que exigia dos sacerdotes um
juramento à Constituição Civil, que interferia na vida, organização e poder da
Igreja Católica, durante a Revolução Francesa, tendo por isso sido obrigado a
refugiar-se na Inglaterra. Posteriormente, foi nomeado Bispo de Versalhes.
Finalmente, o “Portuguese Hymn”, “Hino Português”, assim ficou
conhecido o Adeste Fideles em várias publicações inglesas, porque esta
composição era cantada na capela da Embaixada de Portugal em Londres, que até à
legalização do culto católico na Inglaterra, com a promulgação do Roman
Catholic Relief Act de 1829, era um dos únicos locais em que ele podia ser
celebrado em território britânico. Vincent Novello, que foi Organista da Capela
Portuguesa, publicou em 1811 uma coletânea intitulada “A Collection of
Sacred Music, as Performed at the Royal Portuguese Chapel in London” onde
aparecia o “Adeste fideles”, tendo sido por isso o grande propagador da música
entre os católicos de todo o mundo. Na obra de Novello, atribui-se a autoria da
música a John Reading, protestante, organista do Winchester College.
A música espalhou-se de tal maneira, que na Escócia, Robert
Menzies, um missionário do século XVIII, relatou que a canção “rapidamente se
tornou moda em [Edimburgo]; meninos assobiavam em todas as ruas; até foi dito
que os melros da praça juntavam-se ao coro!”.
Mais tarde, o Adeste Fideles foi incluído, numa versão “pseudo-gregoriana”, no próprio “Liber Usualis” editado na sequência da reforma litúrgica de São Pio X, no início do século XX.
Na versão atual, a letra é composta de oito versos em latim.
Os quatro primeiros versos foram, provavelmente, compilados por John Wade em
1740-43; Dom Jean-François-Étienne Borderies teria acrescentado três em 1822, e
o último, datado de 1850 de um autor desconhecido é cantado apenas na
celebração da Epifania.
Segue abaixo a letra em latim:
1. Adeste Fideles laeti triumphantes,
Venite, venite in Bethlehem.
Natum videte, Regem Angelorum;
Refrão:
Venite adoremus,
venite adoremus,
venite adoremos Dominum!
2. Deum de Deo, lumen de
lumine,
gestant
puellae viscera.
Deum verum, genitum non factum; (refrão)
3. Cantet nunc io chorus Angelorum
cantet nunc aula caelestium:
Gloria in excelsis Deo!
4. Ergo qui natus, die
hodierna,
Jesu, tibi sit gloria.
Patris
aeterni Verbum caro factum;
5. En grege relicto, Humiles
ad cunas,
vocati pastores approperant.
Et
nos ovanti gradu festinemus;
6. Aeterni Parentis splendorem aeternum,
velatum sub carne videbimus.
Deum infantem, pannis involutum;
7. Pro nobis egenum et foeno cubantem,
piis foveamus amplexibus.
Sic nos anamtem quis non redamaret?
8. Stella duce, Magi, Christum adorantes,
aurum, thus, et myrrham dant munera.
Jesu infanti corda praebeamus;