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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Fumar é pecado?

Fumar "apodrece" o cérebro, danifica a memória e é prejudicial para a aprendizagem e o raciocínio, afirmam os cientistas britânicos responsáveis por um estudo realizado na King's College de Londres que envolveu 8.800 pessoas com mais de 50 anos e publicado na revista Age and Ageing (Idade e Envelhecimento). A pesquisa também mostrou que a hipertensão e sobrepeso parecem afetar o cérebro, embora em grau menor do que o tabagismo.Sem embargo, o tabagismo tem uma longa história no Vaticano e nos papas, a ponto de se poder prever, segundo a alternância de hábitos dos Papas do último século, que o sucessor de Bento XVI será não fumador, porque desde São Pio X, em 1903, até ao presente, encontramos uma alternância quase exata.

Tendência de nove Papas 
Giuseppe Sarto, São Pio X, que reinou até 1914, fumava charutos; Bento XV (1914-1922) não era fumador; Pio XI (1.922-1.939) fumava ocasionalmente: Pio XII (1939-1958) nunca;  João XXIII (1958-1963), como resultado da sua longa carreira diplomática, se inclinava para os cigarros.Mais recentemente, Paulo VI (1963-1978) figurou entre os que não gostavam do tabaco, enquanto  João Paulo I (1978), parece que também não, embora algumas testemunhas dizem que não foi sempre avesso a algumas tragadas. Ficamos com esta opção, apenas para não quebrar a série, que segue com um claro não-fumador, o desportista e atlético João Paulo II (1978-2005) e com Bento XVI (2005) que em algumas fases de sua vida foi fumador, e com preferências para a marca Marlboro. Se este padrão ou frequência continuar, do seu sucessor saberíamos, pelo menos, uma coisa: não terá o prazer do tabaco.

O fumo proibido na Igreja

Estes e outros dados são apresentados num interessante trabalho de John B. Buescher, licenciado em estudos religiosos da Universidade da Virgínia e publicado no jornal "The Catholic World Report".  Quando os espanhóis evangelizaram a América, um dos problemas que surgiram foi o costume dos índios de levarem para a igreja o tabaco. Isto fez com que em 1575 as autoridades eclesiásticas no México proibissem este hábito. Da mesma forma, um sínodo realizado em Lima, em 1583, proibiu os padres, "sob pena de condenação eterna", a administrarem os sacramentos e, especialmente, celebrar a missa, depois de terem mastigado tabaco. Mas o problema passou, rapidamente, da América para a Europa, levantando a pergunta sobre a aceitação da sua presença no interior dos templos e, sobretudo na liturgia. Buescher relata um fato ocorrido em Nápoles, quando um sacerdote claramente viciado, logo depois da comunhão, cheirou um pouco de rapé, o que provocou o vómito da hóstia no altar, na frente de uma horrorizada assembleia de fieis.
Este caso e outros menos dramáticos de falta de respeito na Missa, levou a Igreja a deixar bem claro que o consumo de tabaco era incompatível com a pureza e limpeza do altar, dos paramentos litúrgicos e até das mãos do padre, e por isso, devia abster-se do seu consumo, um tempo suficiente antes da celebração Eucarística.Também os fiéis pareciam tão viciados que foi necessário tomar medidas sobre o assunto. Em 30 de janeiro de 1642, o Papa Urbano VIII emitiu a bula "Cum Ecclesiae", em resposta ao pedido do reitor da catedral de Sevilha, declarando que quem fumasse ou mastigasse rapé nas igrejas da diocese seria punido de excomunhão "latae sententiae". Não era pois uma questão marginal ou menor, e referia-se também ao consumo do tabaco. Em 1650, Inocêncio X decretou uma pena semelhante para fatos idênticos nas basílicas de São João de Latrão e São Pedro, estendida também para os pórticos ou varandas de ambas as igrejas, também pelos danos causados ​pela ​fumaça nas pinturas e esculturas. Inocêncio XI reiterou depois esta mesma punição.Em 1725, Bento XIII, ele próprio fumador, revogou a sanção, mas não a proibição, e manteve a ordem de deixar o tabaco afastado do altar e do tabernáculo.

O tabaco e o jejum eucarístico 
Mas havia e há outra questão: o tabaco quebra o jejum eucarístico, uma vez que não é ingerido? O Príncipe dos moralistas, Santo Afonso de Ligório, ele mesmo fumador, no seu manual de instrução para os confessores, estabelece que não: "nem o tabaco fumado, nem o mascado, sempre que cuspido, e que a saliva se mantenha razoavelmente limpa".
Bento XIV foi também fumador e, a julgar pela anedota que recolhe Buescher, o tabaco aguçou a sua inteligência. Conta-se que um dia, ele ofereceu rapé para o superior de uma Ordem religiosa cheirar. Este, com displicência, não aceitou e disse: " Sua Santidade, eu tenho esse vício" Ao qual, replicou rapidamente o Papa: "Não deve ser um vício, porque se fosse, V. Exa. o teria". (Em caridade, empataram!)
O Beato Pio IX fumava tanto que, às vezes, tinha de mudar durante o dia a batina branca por causas das manchas do tabaco. Leão XIII gostava do tabaco e sofreu quando os médicos obrigaram-no a abandona-lo por razões de saúde.

Santos fumadores? 
Dos seus sucessores, já comentamos a evolução, com uma clara tendência à salubridade de hábitos, quebrada apenas por um cigarro ocasional.Aí temos um santo (São Pio X) e dois beatos (Pio IX e João XXIII) dados ao fumo. E isto, entre os Papas. Mas em outros âmbitos eclesiásticos é claro que não há conflito entre um bom charuto e a santidade.Bernadette Soubirous teve asma na infância e o seu médico prescreveu-lhe rapé. A sua caixa de rapé está em exibição em Lourdes.A venerável Maria Teresa de Lamourous afirma ter encontrado marcas de rapé no manto de Santa Teresa de Jesus, que é mantido num convento em Paris. E no processo de beatificação de São José de Cupertino, São João Bosco e São Felipe Neri foi estudado se o hábito de fumar estava em desacordo com as virtudes heróicas exigidas. E não foi encontrado obstáculo nele.E os dois modelos de santidade sacerdotal mais recentes, São João Maria Vianney (o Cura d'Ars) e o Padre Pio de Pietrelcina (Santo Padre Pio) tinham o hábito de cheirar rapé e até mesmo oferecê-lo sem problemas a outros.
Fumar enquanto se reza ou rezar enquanto se fuma... 
Depois, está a casuística. É típico a piada de quem pergunta a um jesuíta se pode fumar enquanto reza, ao que é respondido com uma recusa categórica. Mas ... rezar enquanto fuma? Neste caso, é claro que se pode.Os jesuítas que evangelizaram a América cultivaram o tabaco e consumiam-no, sem problemas.  Quando chegaram na China, nos séculos XVII e XVIII, influenciaram os chineses. A tal ponto que os convertidos ao catolicismo, passaram a ser chamados... "fumadores", ou, mais corretamente, os "que cheiravam" que era o modo habitual de se usar o tabaco, sob a forma de rapé. Várias outras ordens religiosas aceitavam normalmente que se cheirasse ou fumasse tabaco. No estudo acima referido são citados vários casos, quase até ao dia presente, onde a prática, também por causa do seu progressivo aumento de preço, problema quase inexistente antes, começou a ser visto como um luxo.Ou como um sinal de decadência. Em 1847, o jornal Dublin Review assinalava o fato de "fumar", como uma característica deplorável do clero irlandês, e também James Joyce no Dublineses, insiste nesta avaliação.Em setembro de 1957, Pio XII transmitiu ao Superior Geral dos jesuítas em Roma que os seus membros deviam renunciar, em nome da austeridade, a "artigos superficiais", e citou entre eles "o tabaco hoje tão difundido e visto com tanta indulgência".E, em 2002, João Paulo II proibiu no território do Vaticano que se fumasse em lugares fechados, ou até mesmo lugares públicos muito frequentados, sob pena de multa de 30 euros.Ascetismo e acomodação ao século, normalmente termos conflitantes, parece que, no fim, nesse ponto, acabaram coincidindo.Buescher termina o seu trabalho com um pensamento: o tabaco pode ser visto como um prazer privado, uma indulgência, um conforto, um meio de comunicação social, uma violação civil, um perigo para a saúde, um adição, um incómodo, e um "vício". Mas, o tabaco rapé em si é um pecado? A esta pergunta, ninguém responde...  com toda certeza e precisão!


(The Catholic World Report, Religión en Libertad, Sinais dos Tempos)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A ternura da canção “Maria durch ein Dornwald ging”

https://www.youtube.com/watch?v=0NA1b8TeMNI&playnext=1&list=PLB5D915F29443B85D&feature=results_main


“Maria ia através de uma floresta de espinhos. Nessa floresta de espinhos, há 7 anos não tinha folhagem. O que traz Maria sobre o seu coração? Uma criancinha sem dores, isso traz Maria sobre o seu coração. Uma criancinha sem dores traz Maria sobre o seu coração. Então, dos espinhos desabrocharam rosas”.
 O tema e pressuposto da música é de Nossa Senhora com o Menino Jesus. Nossa Senhora extremamente moça, e trazendo consigo o Menino na sua primeira infância. Traz uma ideia de juventude, de delicadeza, de virginal fragilidade e de virginal força. Que anda com o menino, mas vê-se que Ela está sozinha, porque a canção não se refere a mais ninguém. Ela está sozinha e traz sobre o seu coração, bem protegido o menino, numa floresta de espinhos. Uma floresta que há 7 anos não dá senão espinho. Então há uma espécie de risco, um contraste: como aquela flor de delicadeza, que é Nossa Senhora e Aquele Menino, o tesouro do universo, podem estar sujeitos a uma trajetória através de tantos espinhos. Que coisa horrorosa! E se acontecer de um espinho ferir o Menino e sair a gota de um sangue que, só por si, vale mais do que todo o céu e toda a terra? Como pode ser?
Por isso Ela O traz bem junto ao coração. Ela protege o Menino. Então a ideia que prevalece é a de Nossa Senhora, como que atemorizada pelos espinhos que cercam o Menino. Os espinhos são a natureza hostil, a natureza amaldiçoada daquele lugar que há 7 anos não dá nada. E o Menino que parece dormir, que parece estar fora do uso da razão, é o Homem‑Deus. De maneira que sabe tudo, pode tudo, dá a solução para tudo. Então, o perigo para Ele que são os espinhos, o agreste, o hostil do que O envolve, Ele resolve: pelo poder dEle, transformar em rosa, para a Mãe dEle cheirar!
Então, Nossa Senhora que vai atravessando e vendo que os espinhos se transformam em rosas perfumadas, orientadas para Ela. E compreende: foi uma amabilidade de seu Filho! Ela olha para Ele, Ele está dormindo! Está governando a natureza!
Tudo isso junto está nessa canção. O começo é um pouco jovial; depois vem a ternura, o respeito. Mas tudo tratado com tal voz — isso é uma lenda, não aconteceu — que é um pouco o tonus de uma pessoa que conta para um menino ouvir. E a ternura é um pouco para o Menino Jesus e um pouco para o menino que está ouvindo, a quem se conta uma coisa delicada, o menino fica contente. Isso explica os mil tons e entretons da canção.
Agora, lembrem‑se que é o povo dos grandes exércitos, das grandes invasões, das grandes batalhas. Na sua fase imperial última com os couraceiros, com capacetes, com águias em cima. É esse povo que na hora da ternura sabe cantar assim.
O que desbarata uma espécie de preconceito pacifista e sentimental, segundo o qual quem guerreia não tem sentimento. E talvez, pior ainda, que quem tem sentimento não guerreia.
O equilíbrio magnífico dessas coisas se encontra na alma alemã quando é católica. E quando é bem católica, quando é retamente católica.

(Plinio Corrêa de Oliveira, palavras sem correções do autor durante o jantar no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 3 de Janeiro de 1989).

A ternura e veneração do Stille Nacht


https://www.youtube.com/watch?v=WxrBhZvvSIQ

Um povo conhecido no mundo inteiro sobretudo como filosófico e militar, mais militar do que filosófico, é o povo alemão. Destacando‑se como um povo militar, eles são o povo da bravura, do blitzkrieg, da proeza militar, como já foram em certo sentido o povo da cavalaria e povo das cruzadas.
Agora, eles ao mesmo tempo têm uma delicadeza de alma para a canção de Natal de tal maneira, que eles compuseram a canção de Natal universal. Quer dizer, o Stille Nacht, heilige Nacht passou a ser a canção de Natal cantada no mundo inteiro.
Agora, por quê? Eles imaginaram o sentimento de ternura que deveria despertar em alguém que visse no Presépio uma criança fraquinha, com todas as debilidades físicas da infância, chorando, com frio, mas sendo o próprio Deus!
Imaginem um país de regime monárquico que estava nas condições em que estava a Espanha no tempo de Alfonso XIII. Quer dizer, o rei morreu, o filho não tinha nascido, mas a rainha anunciou que ela já tinha concebido. Era Alfonso XIII no claustro materno. Quando nasceu, era o rei de todas as Espanhas, uma criança que cabia no berço.
Pode-se conceber que esse contraste desperta ternura, compaixão, toda espécie de delicadeza de sentimentos.
Mas o que dizer quando se trata do Homem‑Deus? O que é um rei da Espanha, ou qualquer outro  grande do mundo, em comparação com o Menino‑Deus? Não é nada, absolutamente. Entretanto, tão fraco… e depois, destinado a sofrer tanto! Quando abre os seus braços para as pessoas, já forma uma cruz; e faz pensar na dor insondável pela qual vai passar... Depois, toda a ternura que O levou a isso por nós, para o nosso bem, para a nossa salvação, sem outra finalidade a não ser essa.
Tudo isso desperta a ternura no mais alto grau. E num paradoxo, porque é a ternura para com Deus! A ternura e a compaixão para quem é infinitamente mais do que nós é um sentimento paradoxal. Altamente paradoxal. Vejam bem, não é contraditória, é paradoxal. E, portanto, tem que ser uma compaixão altamente delicada, uma compaixão de um alto critério de sentimento para ser digna de ser apresentada àquele que de fato merece essa compaixão, mas que é Deus!
Então, essa é a fórmula. A compaixão humana para o que há de mais delicado, mas ao mesmo tempo admirativa e súplice. Aquele que tem pena, fazendo um pedido Àquele de quem tem pena... é outro paradoxo! Isso é de uma grande beleza.
Em qualquer canção de Natal alemã esses sentimentos estão ligados magnificamente, e formam o espírito do Natal alemão. Esse Natal lucra em ser considerado não só como Natal que foi na Terra Santa no dia em que Nosso Senhor nasceu, mas o Natal como o alemão o festeja. Quer dizer, tem que se imaginar a igrejazinha, a paroquiazinha toda coberta de neve, com o relógio iluminado por dentro, que está indicando 10 para a meia‑noite; os aldeões que estão vindo com os tamancos grandes, porque a neve está enchendo o caminho, e ainda caem os flocos; a igreja está bem aquecida. Todo o mundo entra depressa, para poder tirar os seus capotes e se sentir mais à vontade.
Ao longe estão as casinhas da aldeia, e vêem-se as fumaças que sobem das chaminés, e é a festa de Natal que já está preparada, a lareira que está acesa, as delícias que já estão no forno... As suculentas, deliciosas e substanciosas delícias da culinária alemã que estão no forno, e é a festa de Natal que segue à festa litúrgica.
Tudo isso constitui dentro da inocência da neve um quadro só, que completa os sentimentos da canção de Natal alemã.
Vamos ao Stille Nacht. Eu vou chamar atenção antes de começar para esse misto de submissão de espírito, reverência e compaixão de um lado, e de outro lado alta cogitação. Começa “Stille Nacht... heilige Nacht...” E acompanha-se na música as alternativas. Cada vez que é baixo, é a ternura vigilante que pousa sobre o berço, que nada toque no Menino, que nada moleste o Menino. Deixe o Menino... O Menino está chorando, mas a Mãe o consola... Aquele desvelo! Mas depois, em certo momento, a ideia de que é Deus que está ali. Então... “heilige Nacht!” É preciso dizer que a tradução portuguesa não dá bem o sentido da palavra alemã, e desnatura. Só para fazer versinho de pé quebrado em português eles se afastam do texto alemão. O alemão tem outro sabor.
O schlaf in himmlischer Rhu quer dizer “dorme em celestial tranquilidade”. O pensamento é: o Menino está dormindo, mas a tranquilidade com que Ele dorme, aquele Menino lá não é um Menino da Terra, é um Menino do Céu. A tranquilidade dEle é a tranquilidade do céu. Então, uma ênfase dada na palavra himmlischer, que quer dizer celeste.
O próprio dessa canção é que a própria inflexão da voz, faz um comentário do sentido da palavra que está sendo cantada. Schlaf in himmlischer Rhu, dorme em celestial tranquilidade. Primeiro diz mais alto: dorme em celestial tranquilidade! Depois, para acentuar a ideia de quem está dormindo ali... então, é mais baixo: schlaf in himmlischer Rhu...
Eu gosto muito da música quando cada nota comenta um sentido da palavra. Isso vai muito de acordo com meu gosto de música. Na canção, tão despretensiosa, Stille Nacht, que um técnico de música dirá que é uma cançãozinha popular, eu não ligarei, eu não me incomodo com a técnica. Eu a respeito de passagem e de longe!
Aqui há um conceito de música, que é só superado pelo Gregoriano e por Tomás Luis de Victoria. Uma beleza!
Plinio Corrêa de Oliveira, palavras sem correções do autor durante um jantar no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 3 de Janeiro de 1989.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Tu és Pedro




Neste mundo cada vez mais agitado, em que fugitiva se encontra a verdadeira paz, nascida da tranquilidade na ordem, a figura do Papa Bento XVI é a afirmação categórica da perenidade da Igreja.
Vinte e um séculos já se passaram…
E, a barca de Pedro, assolada por tremendas tempestades, a que força humana jamais poderia resistir, permanece incólume sobre as vagas do mar encapelado deste século XXI agitado furiosamente pelo materialismo, ateísmo, amoralidade, individualismo e indiferentismo religioso.
Vinte e um séculos de luta! Vinte e um séculos de vitória!
Durante dois mil anos, alguns homens têm trabalhado afanosamente para destruir a Igreja de Cristo.
Como nos primeiros tempos do cristianismo, também hoje as potências do inferno, numa luta sem tréguas, procuram aniquilar, se isso fosse possível, a Igreja de Deus.
Perseguem-se os cristãos, matam-se e caluniam sacerdotes, ultrajam-se os religiosos, profanam-se as religiosas, prendem-se bispos e padres, desorientam-se as inteligências mal formadas com falsas teorias, enfraquecem-se as vontades com o indiferentismo ou o relativismo religioso, envenenam-se as consciências com os média, ou com a internet, destroem-se as imagens sagradas, ultraja-se sacrilegamente o divino Prisioneiro do Amor e incendeiam-se templos com o intuito diabólico de destruir a Igreja de Cristo.
E os séculos passam e caem os homens, vencidos pela morte, comparecendo a juízo perante o Senhor que perseguiram. E, enquanto desmoronam-se as suas falsas teorias, os mártires e os santos são glorificados e a Igreja prossegue a sua obra de paz, de amor, de salvação e de bênção.
Primado do Papa
"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18).
Foi esta a promessa feita há vinte e um séculos por Cristo, ao fundar a sua Igreja como sociedade perfeita, com o objetivo único de conduzir os homens para a vida eterna, sobre a rocha inabalável de Pedro.
A Igreja, por vontade de Cristo, é uma casa que deve ser edificada; um reino dos céus que deve ser governado; uma religião que ata ou desliga os laços sociais no próprio Céu” (Joachim Salaverri, Sacrae Theologiae Summa, Madrid, 28, 1952, p. 727).
Pedro, pois, por mandato expresso do Senhor, foi constituído como a pedra angular, o fundamento natural e o princípio de unidade deste maravilhoso edifício, erguido pelas mãos divinas. Ele é o ecónomo, o vice-rei deste reino, cujo soberano é o próprio Deus ou o árbitro supremo, para decidir em todas as questões de religião.
 “Jesus Cristo prometeu a Pedro o sumo pontificado da Sua Igreja” (Leão XIII, Satis congnitum).
Poucos dias depois da sua Ressurreição conferira, direta e imediatamente para toda a sua Igreja, o primado a Pedro ao dar-lhe o poder de apascentar a sua grei: “Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Disse-lhe:  Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15-17).
Os cordeiros e ovelhas de Cristo não são outra coisa senão os fiéis, como o próprio Senhor explica na parábola do bom Pastor, onde as ovelhas, são aqueles que O conhecem, seguem e amam apaixonadamente.
“Embora Cristo ~como diz São Cipriano – depois da sua Ressurreição, a todos os apóstolos conferiu igual poder, todavia, para que se manifestasse a unidade, pela sua autoridade, colocou o princípio dessa unidade num, constituindo uma cátedra” (S. Cirpino, De catholicae Ecclesiae unitate, apud Balverri Sacrae Theologiae Summa, Madrid, 1952, p. 567).
São Jerónimo acrescenta que sobre Pedro foi fundada a Igreja; e, embora o que Cristo conferira aqui a Pedro, o mesmo seja dado a todos os apóstolos noutro lugar, todavia elegeu, dentre os doze, um, como cabeça (S. Jerónimo, Adversus Joviniarum, 1, 26, ML,XXIII, col. 247).
E de Santo Efrem este testemunho tão claro e expressivo: “Simão, meu discípulo, eu te constitui fundamento da Santa Igreja. Chamei-te antes pedra, porque susterás todos os edifícios. Tu és o inspetor daqueles que edificam a Igreja na terra. Se algo de mau quiserem edificar, tu, fundamento, reprime-os. Tu és a cabeça da fonte da qual dimana minha doutrina, tu és a cabeça dos meus discípulos” (S. Efrem, Sermones in Hebdomadam sanctum, 41, edit. Lamy, p. 412).
Verdadeiramente, Pedro na Terra é o Vigário de Cristo porque obteve aquele mesmo poder que o Senhor teve na terra por direito próprio.
E ao criar a Igreja tendo Pedro por cabeça, como sociedade hierárquica e monárquica, constituiu-a duradoura até ao fim dos séculos, de tal maneira que na sua essência jamais poderá desfalecer: “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt. 18, 20).
Porque goza de especial assistência de Deus até ao fim do mundo, e porque conta com a promessa de Cristo de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra Ela, a sua Igreja durará até ao fim dos séculos.
O Papa, sucessor de São Pedro
Mas se a Igreja é perene, sendo o Primado o seu fundamento, este forçosamente será também perene.
Já dizia São Leão Magno: “Pedro, através dos tempos e sempre, vive nos seus sucessores e exerce o seu juízo”.
Necessário se torna, pois, que exista alguém que, obtendo por direito divino este Primado, o perpetue através dos séculos.
E se não fora o Romano Pontífice, a ninguém mais se atribuiria tal sucessão.
Por isso, o Papa é, realmente, e por direito divino, o sucessor de São Pedro, o doce Cristo na terra, como lhe chamou Santa Catarina de Sena.
Sempre a Igreja o reconheceu como tal e sempre a sua autoridade se exerceu sobre a Igreja universal, como comprovam inúmeros documentos de todos os tempos.
Santa Inácio mártir, na sua carta aos Romanos, saúda a Igreja de Roma com gloriosos epítetos, reconhecendo, assim, implicitamente, a preeminência desta sobre as outras igrejas da cristandade.
Santo Irineu afirma que a suprema autoridade em questões de doutrina, pertence, unicamente, à Sé de Roma.
São Cipriano, combatendo os cismáticos que negavam a unidade da Igreja, diz que “uma única Igreja, e uma única cátedra pela voz do Senhor, foi fundada sobre Pedro”, ao mesmo tempo que chama à Sé de Roma, “Cátedra de Pedro e igreja principal, onde se origina a unidade sacerdotal”.
O Papa é, pois, por direito divino, o sucessor de São Pedro, o chefe supremo da Cristandade, a quem Deus confiou o supremo poder de reger, santificar e governar a sua Igreja.
Por isso, os cristãos o veneram e amam.
Dizia, por exemplo, Mendès France, descendente de uma família portuguesa, Primeiro ministro da França em 1954, após o seu encontro com o Papa Pio XII: “Só hoje conheci a verdadeira grandeza!”
Também o grande estadista Winston Churchill, depois da sua receção pelo Papa, afirmava: “Acabo de me encontrar com o maior homem do mundo”.
Hoje em dia, podemos dizer de Bento XVI que é, de fato, a figura máxima da humanidade.
A sua missão, porque divina, é missão de paz e de concórdia entre os homens, missão de justiça e de amor, num mundo afogado no prazer e no vício.

sábado, 3 de novembro de 2012

A solicitude da Providência Divina para com o homem

O eterno Pai, com inefável benignidade, volveu o seu olhar de clemência para esta alma, dizendo-lhe:

“Filha caríssima, quero usar de misericórdia para com o mundo e exercer a minha providência para com os homens em todas as suas aspirações. Mas o homem, ignorante, orienta para a morte o que Eu dou para vida, e assim se torna cruel para consigo mesmo; apesar disso, continuo sempre a exercer para com ele a minha Providência. Por isso quero que o saibas: tudo o que faço ao homem procede da minha infinita Providência.

Com providência o criei e, ao contemplar-Me nele, fiquei encantado com a beleza da minha criatura, porque foi do meu agrado criar o homem à minha imagem e semelhança com especial providência.

Dotei-o de memória para que recordasse os meus benefícios e tornei-o participante do meu poder de Pai eterno. Dotei-o também de inteligência, a fim de que, na sabedoria de meu Filho, conhecesse a minha vontade e compreendesse a ardente caridade paterna com que distribuo todas as minhas graças. Dotei-o ainda de vontade para amar, fazendo-o participante da clemência do Espírito Santo, para que pudesse amar o que vê e compreende com a sua inteligência.

Tudo isto é obra da minha suave Providência, tendo apenas em vista tornar o homem capaz de Me conhecer e amar na alegria inefável da minha visão eterna. Entretanto, como já te disse outras vezes, as portas do Céu fecharam-se pela desobediência de vosso primeiro Pai, Adão, e por causa desta desobediência vieram ao mundo todos os males.

Para libertar o homem da morte causada pela sua desobediência, providenciei com toda a clemência, dando-vos o meu Filho Unigénito, para remediar por meio d’Ele as vossas necessidades. Exigi-Lhe uma grande obediência para libertar a humanidade daquele veneno, que, pela desobediência do vosso primeiro pai, tinha alastrado pelo mundo. Cheio de amor pelo homem e com verdadeira obediência, Ele entregou-Se generosamente à morte ignominiosa da sacratíssima cruz; e, mediante a sua morte santíssima, deu-vos a vida, não pela eficácia da natureza humana mas pelo poder da sua divindade”.
Do diáologo de Santa Catarina de Sena, sobre a Divina Providência (Cap. 134, ed. Latina, Ingolstad 1583, ff. 215v-216) 2º Leitura do Sábado da XXX semana do Tempo Comum.

A misericórdia e a paciência de Deus


Rei Salomão - Livro da Sabedoria
Tudo dispusestes, Senhor, com número, peso e medida. O vosso grande poder está sempre à vossa disposição. Quem poderá resistir à força do vosso braço? Diante de Vós, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho da manhã caindo sobre a terra.

De todos Vos compadeceis porque sois omnipotente e, a fim de trazer os homens à penitência, não olhais para os seus pecados. Vós amais tudo quanto existe e não odiais nada do que fizestes; porque, se odiásseis alguma coisa, não a teríeis criado. E como poderia subsistir, se Vós não a quisésseis? Vós tratais com indulgência todas as coisas, porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida.

O vosso espírito incorruptível está em todas as coisas. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados, para que se afastem do mal e acreditem em Vós, Senhor. Não é por temor de alguém que tardais em castigar as suas faltas. Quem ousaria perguntar: “Que fizestes?”. Quem se oporia à vossa sentença? Quem poderia acusar-Vos pela destruição de povos que criastes? Ou quem se levantaria contra Vós, para defender homens culpados?

Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. Não há rei nem soberano que possa enfrentar-Vos em defesa daqueles que castigastes.

Vós sois justo e tudo governais com justiça; e julgais indigno do vosso poder  condenar quem não merece castigo. O vosso poder é o princípio da justiça, e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omnipotência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano, e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais tempo para o arrependimento.
Leitura do Livro da Sabedoria 11, 21b – 12, 2.11b-19 - Leitura do Sábado da XXX semana do Tempo Comum