Diante da maldade do mundo, da aparente extinção da Fé e da expansão das heresias na Europa dos anos 1840, Santo António Maria Claret, ainda noviço, em Roma, compôs uma oração para pedir o fim das heresias; outra para não se calar e pedir forças para denunciar os erros da sua época; e uma jaculatória para pedir longa vida, para ganhar mais almas para o céu.
Primeira súplica: Pelo fim das heresias
Ó Maria santíssima, concebida sem pecado original, Virgem e Mãe do Filho de Deus vivo, Rainha e Imperatriz dos Céus e da Terra! Já que sois Mãe de Piedade e de Misericórdia, dignai-Vos voltar os vossos ternos e compassivos olhos para este infeliz desterrado neste vale de lágrimas, angústias e misérias que, embora infeliz, tem a ditosa sorte de ser vosso filho. Ó minha Mãe, quanto Vos amo! Quanto Vos aprecio! Confio plenamente que me concedereis a perseverança no Vosso santo serviço e a graça final!
Em tempo oportuno, Minha Mãe, eu Vos suplico e Vos peço pelo fim de todas as heresias que devoram o rebanho do vosso Filho. Lembrai-vos, piedosíssima virgem, de que tendes poder de acabar com todas elas. Fazei isso por caridade, pelo grande amor que professais a Jesus Cristo, vosso Filho. Olhai para as almas redimidas com o preço infinito do Sangue de Jesus, impedi que voltem de novo ao poder do demónio, desprezando o vosso Filho e Vós mesma.
Eia, pois, Minha Mãe, o que falta? Desejais, por acaso, um instrumento para remediar tão grande mal? Aqui tendes um; ao mesmo tempo em que se reconhece o mais vil e desprezível, considera-se o mais útil para esse fim; para que resplandeça mais o Vosso poder e se veja mais visivelmente que sois Vós quem operais e não eu. Eia, Mãe amorosa, não percamos tempo: aqui me tendes, fazei de mim o que quiserdes, bem sabeis que sou todo vosso. Sei que assim o fareis, por vossa grande bondade, piedade e misericórdia. Rogo-vos pelo amor que tendes ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Amém.
Ó Imaculada Virgem e Mãe de Deus, Rainha e Senhora da Graça!
Dignai-Vos, por caridade, lançar um olhar compassivo para este mundo perdido. Reparai como todos abandonaram o caminho ensinado pelo Vosso Santíssimo Filho; esqueceram-se das suas santas leis e perverteram-se tanto, que se pode dizer: “Non est qui faciat bonum, non est usque ad unum” (Não há mais ninguém que faça o bem, nem um, nem mesmo um só).
Extinguiu-se neles a santa virtude da Fé, de modo que apenas vegetam. Ah! Extinguiu-se a Divina Luz, tudo é escuridão e trevas e não sabem por onde andam, e desorientados, andam apressadamente pelo largo caminho que conduz à eterna perdição.
E quereis, minha mãe, que eu, sendo um destes infelizes, olhe com indiferença a sua fatal ruína? Ah, não! Nem o amor que tenho a Deus nem o amor ao próximo podem tolerar semelhante coisa. Que caridade seria a minha se vendo os meus irmãos em tantas dificuldades, não os socorresse? Que caridade seria a minha se sabendo que num caminho há ladrões e assassinos que roubam e matam, e não avisasse os que para lá se dirigissem? Que caridade seria a minha, sabendo que o lobo devora as ovelhas do meu Senhor, eu me calasse? Que caridade seria a minha se ficasse calado ao ver como roubam as joias da casa de meu Pai, joias tão preciosas que custaram o Sangue e a Vida de um Deus, e ao ver que atearam fogo à Casa e à Herança de meu Amantíssimo Pai?
Ah! Não é possível ficar calado, minha mãe, em tais ocasiões; não, não me calarei, embora saiba que me farão em pedaços. Não quero ficar calado. Clamarei, gritarei, darei ordens aos céus e à terra, afim de se remediar tão grande mal. Não me calarei! E, se de tanto gritar, se enrouquecer ou emudecer a minha voz, levantarei as mãos ao Céu, arrancarei os cabelos, e os golpes no chão com os pés suprirão a falta de palavras.
Por isso, minha Mãe, começo desde agora a falar e a gritar. Acudo a Vós, sim, a Vós, que sois Mãe de Misericórdia, dignai-Vos prestar socorro a tão grande necessidade. Não digais que não podeis, porque sei que, na ordem da Graça, sois Omnipotente. Dignai-Vos, conceder a todos a graça da conversão, eu Vos suplico, porque, sem ela, nada faríamos e, então, enviai-me e vereis como se converterão. Sei que concedereis essa graça a todos os que a pedirem verdadeiramente; porém, se não a pedem, é porque não sabem da sua necessidade e, tão fatal é o seu estado, que não conhecem o que lhes convém, o que me move ainda mais à compaixão.
Portanto, eu, como primeiro e principal pecador, peço-Vos por todos os demais, oferecendo-me como instrumento da sua conversão. Ainda que esteja destituído de qualidades para semelhante missão, não importa, “mitte me”: (enviai-me), assim melhor se notará que, “gratia Dei sum id quod sum” (Pela graça de Deus, sou o que sou). Talvez medireis que eles, como enfermos inconscientes, não queiram escutar quem os quer curar, antes me desprezarão e me perseguirão de morte, não importa, “mitte me”, porque, “cupio esse anathema pro fratribus méis” (Envia-me, porque desejo ser anátema por amor dos meus irmãos). Ou ainda direis que não poderei sofrer tantas intempéries como o frio, calor, chuvas, nudez, fome, sede, etc., etc. Não há dúvida de que por mim mesmo nada posso suportar, porém confio em Vós e digo: “Omnia possum in ea quae me confortat” (Tudo posso nAquela que me conforta).
Ó Maria, minha Mãe e minha Esperança, consolo da minha alma e objeto do meu amor! Lembrai-Vos das muitas graças que Vos tenho pedido, e todas mas concedestes. Justamente agora verei esgotado esse manancial perene? Não. Não se ouviu nem se ouvirá jamais que nenhum devoto vosso tenha sido rejeitado por Vós. Vede, senhora, tudo que peço dirige-se à maior glória de Deus e Vossa, e para o bem das pessoas, por isso espero alcançar e alcançarei, e para que o concedais ainda mais rápido, não alegarei méritos meus, porque não tenho senão deméritos; direi, sim, como a Filha que sois do Eterno Pai, Mãe do Filho e Esposa do Espírito Santo, é muito bom que zeleis pela honra da Santíssima Trindade, da qual é viva imagem a alma do homem e, além disso, essa mesma imagem é banhada com o Sangue do Deus humanado.
Se Jesus e Vós tendes feito tanto pela minha alma, agora a abandonareis? É verdade que é merecedora desse abandono. Porém, por caridade Vos suplico, não a abandoneis. Peço-Vos, pelo que há de mais santo e sagrado no Céu e na terra, peço-Vos por Aquele mesmo que eu, ainda que indigno, hospedo todos os dias na minha casa, falo-Lhe como amigo, mando e me obedece, descendo do Céu à minha voz. Este é o mesmo Deus que Vos preservou da culpa original, que Se encarnou nas Vossas Entranhas, que Vos encheu de glória no Céu e Vos fez Advogada dos pecadores; e este, não obstante ser Deus, me ouve, me obedece cada dia.
Ouvi-me, pois, ao menos esta vez e dignai-Vos conceder-me a graça que Vos peço. Tenho certeza de que o fareis, porque sois minha Mãe, meu Alívio, meu Consolo, minha Fortaleza e meu tudo depois de Jesus. Viva Jesus, viva Maria. Amém!
Jaculatória para ganhar almas para o Céu
Ó Jesus e Maria! O amor que Vos tenho faz-me desejar a morte para poder estar unido a Vós no Céu; porém, tão grande é o amor, que me faz pedir longa vida, para ganhar almas para o céu!
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