"A morte de um fundador de ordem religiosa ou congregação quase sempre ocorre entre sinais ou associações à santidade por seus filhos espirituais, que buscam nas graças dos céus concedidas a ele, o reforço da missão à qual dedicou a vida e sobre a qual se dedicarão, a partir dali, os seus membros a exemplo do fundador. Nem sempre, porém, os sinais são tão evidentes ou claros quanto o que vimos no final da última semana, diante do falecimento do fundador dos Arautos do Evangelho.
"Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, 85 anos, morreu na
sexta-feira, 1 de novembro. Fundador dos Arautos do Evangelho, a entrega de sua
alma ocorreu em meio a diversos sinais vistos por muitos, e diante dos quais
não pairam dúvidas. Em primeiro lugar, se dá um dia após o aniversário de sua
Primeira Comunhão, ocasião em que pôde receber também pela última vez o Corpo
de Cristo. Aos que acusam os Arautos de uma devoção exagerada ou veneração
precipitada ao fundador, não se pode dizer que essa coincidência foi inventada
por eles. Depois, o dia 1 de novembro, data em que o mundo inteiro celebra o
Dia de Todos os Santos, exceto no Brasil, terra do Monsenhor, que repete talvez
o ditado que “santo de casa não faz milagres”. O Brasil é conhecido por ter
seus heróis valorizados mais fora do que dentro de nossas fronteiras, ao menos
oficialmente: a Igreja, no Brasil, transfere a solenidade para o domingo
seguinte, diferente da maior parte da Igreja Católica no mundo. Ainda assim, a
Solenidade do domingo marcou a despedida e última missa exequial do Fundador
que teve como mestre espiritual Plinio Corrêa de Oliveira, também chamado fora
do Brasil pelo título de Cruzado do Século XX.
"Uma foto que vem circulando entre seus membros mostra um arco-íris
bem acima da Basílica em que foi velado o corpo do Monsenhor, na cerimônia de
três dias que se encerrou neste domingo. Esta simbologia poderia ser comparada
àquela de uma outra foto, a do famoso raio no Vaticano. O raio como símbolo do
castigo e o arco-íris, da esperança. A tibieza de parte do clero será
certamente cobrada com altos juros, ao passo que a verdadeira esperança que a
Igreja oferece é aquela de sempre: o desejo pela santidade pela radicalidade do
serviço às almas, do apostolado vivo que parece só poder renascer no mundo
quando há uma ordem forte e devota de seu fundador. O amor ao fundador é, ao contrário
do que prega a malícia do mundo, o fermento da verdadeira ação da graça na Igreja,
tendo disso tanto exemplos na história: jesuítas, franciscano, dominicanos e
tantos outros, que tiveram seus fundadores como sinais visíveis de Deus na
Terra.
"A estrutura criada pelos Arautos do Evangelho tem sido
fundamental para a manutenção da vida religiosa, por meio de uma criteriosa
educação católica de meninos e meninas, buscando a preservação da inocência e a
verdadeira formação para a santidade entre uma multidão crescente de famílias.
Neste crescimento, decerto um tanto silencioso, avança aquela contrarrevolução
sonhada por Plinio Correa, posta em ação de maneira ainda mais profunda por
Monsenhor João ao seguir radicalmente os passos de seu mestre, o seu fundador.
"O exemplo contrarrevolucionário dos Arautos deveria servir
de grande alerta e admoestação a todos os que pensam enfrentar um mundo moderno
anticristão por meio de suas próprias forças, sejam políticas, retóricas ou
intelectuais, esquecendo-se que todo sucesso vem de Deus e que ninguém vencerá
absolutamente nada sem estar radicalmente unido a Ele. E esta união, defendida
por Plinio Corrêa, só poderia ser feita através da Virgem Maria, Mãe do
Redentor, canal de graças por onde o próprio Deus quis vir ao mundo e forma
perfeitíssima de acesso a Ele neste mundo. Não por acaso, todas as obras marianas
da história da Igreja tiveram uma profusão de graças e realizações incríveis, sendo,
porém, igualmente perseguidas em alguma medida pelas forças das trevas representadas
pelos poderes deste mundo.
"Os Arautos são radicais na devoção à Eucaristia: seus
membros, religiosos, religiosas e sacerdotes, recebem o Corpo de Cristo duas
vezes por dia, o máximo que é permitido. Isso se deve a uma percepção do
fundador, de que, se o mundo amplia a cada dia as oportunidades de pecado, como
vemos, é preciso que se amplie ainda mais as oportunidades de graça, sob pena
de não perseverar. Para eles, que são tidos como exagerados e radicais por um
mundo indiferente e tíbio, uma alma que não se esforce ao máximo para obter a
santidade por meio da graça, disponível exclusivamente na Igreja Católica, não
mantém estabilidade nem mesmo na obediência aos 10 mandamentos, não podendo,
portanto, salvar-se. Esta perceção vem de Plinio Corrêa, que viu o mundo caminhar
pelos passos da Revolução, que evoluiria até o culto ao demônio em sua mais radical
literalidade. Se vemos, hoje, o mal se apresentar de maneira cada vez mais
radical, não é na radicalidade que os bons precisam se enfileirar?
"A metáfora da guerra, da batalha, sempre foi a que mais
santificou na Igreja. Esta combatividade, no entanto, recebeu um recuo
gigantesco no século XX, sendo esta a razão principal da crise atual e não
outra".
Cristian Derosa, Instituto Estudos Nacionais
Jornalista e escritor, autor do livro O Sol Negro da Rússia:
as raízes ocultistas do eurasianismo, além de outros 5 títulos sobre jornalismo
e opinião pública. Editor e fundador do site do Instituto Estudos Nacionais