Visualizações de página na última semana

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A luz de Claudel continua a brilhar



Nascido em Villeneuve-sur-Fère, a 6 de agosto de 1868,numa família indiferente em matéria religiosa, Louis Charles Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper, mais conhecido pelo seu nome artístico de Paul Claudel, cedo se deixou prender pelos laços do materialismo, tão em voga na época em que viveu.

O primeiro choque sofreu-o quando lhe vieram parar às mãos as “Illuminations” e, alguns meses depois, “Une saison en enfer” de Rimbaud.

Durante as cerimónias do Natal de 1886 na Catedral de Notre Dame de Paris, Claudel, que tinha entrado para encontrar motivos artísticos para as suas composições literárias, para do lado direito, ao fundo, junto  da segunda coluna. Subitamente teve fé, acreditando em um Deus pessoal, transcendente, afável e paternal.

Vinha ao encontro de Claudel esse Deus que ele em criança conhecera e na mocidade desvairada nunca mais recordara. Este choque, maior que o de Rimbaud, havia de repercutir-se na sua vida inteira.

Apesar de ter pensado em dedicar-se à vida monástica, como beneditino, Claudel acabou por entrar para o corpo diplomático da França, em que serviu de 1893 a 1936. 

Ao se retirar da vida pública, recolhido no seu castelo de Brangues, intensificou os seus escritos.
A obra de Claudel é de um lirismo encantador, de uma força e amplidão que só Vitor Hugo atingiu. Reveste-a um caráter de universalidade que o escritor aprendeu no contacto direto com os homens espalhados por todas as partes da terra.

Foi, porém, no género dramático que o génio de Claudel melhor se realizou.

Os personagens dos seus dramas movem-se entre o Céu e a Terra. De um lado os esplendores celestes, do outro a sedução constante das misérias terrenas. Alegria verdadeira, só a possui quando neles a graça venceu a natureza.

Isto não quer dizer que lhes falte a verdade psicológica. É quando nos múltiplos problemas  exigências da vida se debatem que se lhes apresenta a ansiedade da salvação eterna. Claudel entrou na imortalidade concedida por Deus aos seus filhos e recebeu, já neste mundo, essa glória dos homens que tanto custo a chegar. 

A paixão pela Bíblia, livro que sempre amou, desde os primeiros anos da conversão, com ele morreu, depois de o ter consolado nos longos anos da velhice, pois o escritor viria a morrer aos 86 anos, em 1955.

Compete a nós católicos tornar conhecida a obra de um filho ardente e obediente da Igreja, de um escritor e poeta que soube encarar e cumprir a missão de reconduzir os homens a Deus, através das coisas criadas.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Das armas ao convento: a vida de Frei Luís de Sousa



Frei Luís de Sousa

Manuel de Sousa Coutinho, autor da vida do Beato Frei Bartlomeu dos Mártires é uma das estrelas de primeira grandeza, que brilham no firmamento dos grandes mestres da língua portuguesa. A clareza serena, suave e elegante do seu estilo e a fluência natural e espontânea da sua linguagem, fazem do quarto filho de Lopo de Sousa Coutinho, militar valente e um dos muitos que escreveram páginas gloriosas sobre a epopeia portuguesa em terras orientais, e de D. Maria de Noronha, dama da rainha D. Catarina, um dos melhores prosadores lusitanos.

Nascido em 1555, em Santarém, a vida de Manuel de Sousa Coutinho, ou Frei Luís de Sousa, como se chamava em religião, é uma destas existências agitadas e aventurosas, cheias de romanesco, aureoladas de sonhos fantásticos e carregadas de tragédias. Teria encetado, por algum tempo, os estudos universitários em Coimbra; mas, talvez depois da morte inesperada do pai, trespassado pela espada ao desmontar, cedo o vemos seguir a carreira das armas.

Aos 22 anos, navegando numa galé para Malta, onde pretendia alistar-se na Ordem de Malta, foi capturado pelos corsários na Sardenha e conduzido a Argel. No cárcere teve a ventura de conhecer Miguel Cervantes, o famoso autor de Don Quixote de la Mancha, de quem se tornou íntimo. Resgatado em 1577, resolve voltar à Pátria, todavia demora-se em Valência e aí trava amistosas relações com o humanista espanhol Jaime Falcão. Considerando-o como um mestre a quem devia todo o seu saber, nomeadamente o conhecimento da arte poética de Horácio, edita a obra do espanhol, intitulada Ópera Poética.

De volta a Portugal, depois da tremenda derrota de Alcácer Quibir, onde morreu o rei D. Sebastião, que não deixou herdeiro, e quando sobre a nação pairava a nuvem sombria da incerteza e da traição, contraiu matrimónio em 1583 com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal, filho de D. Manuel de Portugal, a quem Luís de Camões endereçou a Ode VII como gratificação pelo patrocínio à publicação de Os Lusíadas, morto cinco anos antes em terras africanas.

Nomeado capitão-mor de Almada, ali fixou residência numa esplêndida moradia onde costumava veranear. Entretanto, uma peste começa a flagelar a Capital, e os Governadores do Reino deixam Lisboa e vão-se instalar naquela vila, requisitando a casa de Manuel de Sousa Coutinho. Este, ferido por esta acintosa atitude, lançou-lhe o fogo, exclamando: “Ilumino a minha casa para receber os muito poderosos e excelentes Governadores destes Reinos”.

Desde este ato de intrepidez, a sua misteriosa vida reparte-se ainda por terras de Espanha e da América do Sul, muito provavelmente no Perú. Até que, regressando a Portugal, resolveu, por consentimento mútuo com a esposa, ingressar na religião, professando a 8 de Setembro de 1614, indo ele para o convento de São Domingos de Benfica e ela para o do Sacramento, tomando o nome de Sóror Madalena das Chagas. Esta separação dos dois esposos, talvez motivada pela morte da única e estremecida filha D. Ana de Noronha, despertou um tão forte interesse explicativo que veio a engendrar a obra-prima do teatro garretano – Frei Luís de Sousa, - cuja historicidade é bastante contestada.

Cortados os laços das mundanas vaidades e vivendo com os olhos em Deus na austeridade de um convento dominicano, Manuel de Sousa Coutinho (agora Frei Luís de Sousa) exerceu com desvelo o cargo de enfermeiro, o único que considerava digno da sua baixeza, e procurou trilhar, com humildade, pelas vias da santidade.

Mas o homem põe e Deus dispõe. Em 1616 falecia o cronista da Ordem, Fr. Luís de Cácegas, deixando um grande número de apontamentos e informes desarrumados. Frei Luís de Sousa é encarregado de pôr em “ordem e estilo” todo aquele precioso manancial.

A tarefa era árdua não só para quem já entrava na casa dos sessenta, mas ainda para quem, como ele, desejava sepultar no esquecimento do mosteiro toda influência do mundo. No entanto, obedece. O antigo humanista, agora oculto sob o hábito grosseiro e austero, ia revelar-se o “mais perfeito prosador da língua”, na expressão de Almeida Garret, ou “o principal entre os nossos escritores clássicos” como o considera Alexandre Herculano, que classifica de “maravilhoso o seu estilo”.

Efetivamente, o autor da Vida do Beato Frei Bartolomeu dos Mártires, da vida de S. Domingos e dos Anais de D. João III, é bem o modelo acabado do prosador, onde não cabe mais nada a fazer senão admirar, tanto a elegância da linguagem e simplicidade da forma, como o encanto das descrições e a propriedade de imagens. Em pleno período barroco, numa época em que o gogorismo dominou e manchou os grandes escritores do século, Fr. Luís de Sousa conseguiu ilibar-se desse modo contrafeito de escrever, onde a clareza da ideia é sacrificada à exuberância de elementos ornamentais.

Tinha razão o seu biógrafo D. Francisco Alexandre Lobo, bispo de Viseu, ao traçar o seguinte elogio: “em toda a parte procedeu como a corrente serena, que caminha sempre igual, sem topar em penedos e se despenhar em catadupas”.

domingo, 14 de outubro de 2012

Os Bispos, sucessores dos Apóstolos




Se a Igreja permanece intrépida no meio de tantas tempestades é porque foi instituída por Deus e goza da assistência permanente de Cristo que a seus Apóstolos prometeu estar com Ela até à consumação dos séculos.

Não fora a Igreja divina, há quantos séculos teria desaparecido da face da terra!

Origem da Igreja

Para libertar o homem do cativeiro do pecado Deus mandou à terra o Seu próprio Filho que, trazendo hipostaticamente unidas as naturezas divina e humanas, dando aos seus actos um valor infinito, como Mediador único e verdadeiro entre Deus e os homens e como eterno e Sumo-Sacerdote, consumando essencialmente pelo sacrifício da Cruz o seu múnus redentor, satisfez condigna, superabundante e infinitamente por todos os homens.

Mas ao vir Cristo ao mundo como Legado divino fundou o Seu reino na terra e propôs Sua doutrina como revelada pelo Pai para sucessivamente ser acreditada e seguida por todos os homens como condição indispensável à própria salvação.

Por isso, antes de chegar ao fim do mundo, “deve o Evangelho ser pregado a todas as nações” (Mc 13, 10).  “E o que acreditar e for batizado, será salvo; o que porém não acreditar será condenado” (Mc 16, 16).

Missão dos Apóstolos

Da intenção de Cristo urge, pois, que a doutrina revelada se conserve e seja levada a todos os homens para que acreditando se batizem, e batizando-se se salvem.

E assim, Jesus depois de cumprida a sua missão na terra, após a Ressurreição e antes de partir para o Pai, para de lá só voltar na consumação dos séculos cheio de poder e majestade, transferiu para os Apóstolos, tendo São Pedro como chefe, todo o poder que do Pai havia recebido, a própria Legação divina no seu tríplice múnus de Profeta, Sacerdote e Rei.

“Assim, como meu Pai me enviou, assim eu vos envio a vós. Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). “Eis que me foi dado todo o poder no Céu e na terra. Ensinai todas as gentes (…) ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei. Eis que estarei convosco até à consumação dos séculos”. (Mt 28, 18-20).

Pela eficaz assistência de Cristo a seus Apóstolos e pela necessidade de Sua doutrina, como meio de salvação, ser levada a todos os homens, indispensável se torna que os seus poderes sejam comunicados a outros, assegurando assim à Igreja uma hierarquia que goze de perenidade necessária, ou seja, de indefetibilidade relativa, condicionada, portanto, à existência de homens sobre a terra.

Se, portanto, a Igreja, como sociedade visível – que outra coisa não é que os próprios Apóstolos exercendo os múnus que lhes foram confiados por Cristo – é perene não só porque última e única economia de Redenção até ao fim do mundo, mas também porque goza da eficaz assistência do Espírito Santo, para que perene seja a sua hierarquia, duas condições se requerem: que perene seja o próprio múnus hierárquico, isto é, o tríplice poder de ensinar, santificar e governar, e que perene seja o modo hierárquico da constituição do sujeito do múnus.

Os Bispos, continuadores dos Apóstolos

Sendo a hierarquia da Igreja, como vimos, perene, importa saber quem foi o sujeito que após a morte dos Apóstolos obteve tal poder hierárquico.

Percorrendo as páginas da história da Igreja, dos escritos dos Padres Apostólicos e dos Santos Padres, nós vemos que, desde o tempo dos Apóstolos, as Igrejas eram presididas por homens de porte nobre e santidade esmerada, a quem chamavam Bispos.

Já o Apóstolo São João inclui no Apocalipse sete cartas aos “sete” anjos das sete Igrejas que enumera.

Analisando este texto, pelo próprio contexto, chegamos à conclusão que esses anjos não podiam significar anjos protetores das Igrejas porque se diziam dignos de louvor e repreensão pelos seus atos, nem as personificações das próprias Igrejas, pois estas são distintas, quer pelos símbolos quer pela explicação dos mesmos símbolos.

Por exclusão de partes resta-nos, pois, a opinião de Santo Agostinho que nos parece a mais provável e conforme ao texto: os anjos representam os Bispos das sete Igrejas.

Ora este facto de modo algum se poderia explicar se, por direito divino de sucessão, os Bispos não sucedessem aos Apóstolos no seu múnus ordinário.

O próprio concílio Vaticano explicitamente define que os Bispos são sucessores dos Apóstolos por instituição divina no poder ordinário de jurisdição.

Eusébio de Cesareia, Tertuliano, Santo Irineu e Hegesipo, ripostando aos que negavam a origem divina da Igreja ou a legitimidade de tal sucessão, apresentavam como argumento principal e mais convincente os catálogos dos Bispos de várias Igrejas remontando-os aos próprios Apóstolos.
Santo Inácio mártir, numa das suas cartas escritas a caminho do martírio, afirma que o Bispo ocupa o lugar de Deus e é mandado por Deus.

Se a Igreja sempre acreditou em tal sucessão e se só aos Bispos a atribuiu, é porque não duvida de que, por instituição divina, eles são os legítimos sucessores dos Apóstolos em todo o seu poder ordinário.

Assim como o Pai enviou o Filho, assim o Filho enviou os Apóstolos, e os Apóstolos os Bispos.
Causas da devoção ao Bispo

Daqui o amor, carinho e devoção que devemos ter ao nosso Bispo. O Papa como Bispo da Igreja Universal e o Bispo diocesano dentro dos seus limites jurisdicionais, são a presença viva e palpável de Deus que lhes conferiu, na pessoa dos Apóstolos, o múnus de mestres, legisladores e juízes.
Os Bispos receberam o seu poder dos Apóstolos: “Os Apóstolos foram feitos pregadores do Evangelho pelo Senhor; e Jesus mandado por Deus” (S. Clemente Romano, Epistola ad Corinthios, apud M. J. Rouet de Journel, Enchiridion Patristicum, nº 20). Cristo, portanto, por Deus, os Apóstolos por Cristo e os Bispos pelos Apóstolos.

Daqui, as causas desta devoção ao Bispo. De facto, seu poder vem diretamente de Deus. “Aquele que vos recebe a Mim recebe, e o que Me recebe, recebe Aquele que Me enviou” (Mt 10, 40).
Já aconselhava Flávio Josefo: “elegei bispos dignos do Senhor, homens mansos, verdadeiros e provados”  (Flavius Joseph, Antiquitates, Apud Konradus Kirch, Enchiridion Fontium Historiae Ecclesiasticae Atinquae” nº 6).

O Bispo é Cristo visível no meio de nós, é a vida da própria Igreja. Se a Igreja lhe falta a Hierarquia tal qual Deus a constituiu, logo ruirá nos seus fundamentos, pois faltar-lhe-á a seiva que a vivifica.
O Bispo “é a palavra que ilumina, a vontade que dirige, a fonte que dá vida e purifica e dessedenta. A Igreja sem Bispo seria um corpo sem cérebro, sem coração, portanto, sem vida” (D. Manuel, Bispo de Priene, em Ação Católica Portuguesa, setembro-outubro de 1955).

Por isso jamais a Santa Igreja sucumbirá pois que, na sua Hierarquia e pela eficaz assistência do Espírito Santo, Cristo está até à consumação dos séculos.

Ruem as instituições do mundo, esquecem-se os homens no tropel vertiginoso do tempo, a Igreja, contudo, louvada e venerada ou desprezada e perseguida, continua indefetível a sua missão de luz, paz e santificação.

Precisamos urgentemente de novos apologistas e reevangelizadores!



Quando o cristianismo começava a difundir-se pelo mundo, qual grão de mostarda que semeado dá origem a uma frondosa árvore, inimigos seus apareceram, procurando travar-lhe o passo. Não olhando a pessoas nem a coisas, o ódio ao cristianismo arquitetava toda a sorte de tramas e cruéis tormentos para o massacre dos valorosos defensores da fé. Os cristãos eram apresentados no circo, em cuja arena morriam despedaçados pelos dentes das feras; eram crucificados e, banhados em óleo, ardendo como tochas, outros eram presos e finalmente decapitados. O simples pretexto de que era uma nova religião, contrária à religião do Estado era motivo de captura.
Grandes luminares do Cristianismo de então se levantaram contra a injustiça e a calúnia. A golpes de pena, de lógica nos seus raciocínios, belamente expostos no seu “Apologeticum” insurgiu-se, por exemplo, Tertuliano.

Com as perseguições surgem também os primeiros escritos anticristãos. As suas doutrinas adulteram e mais ainda negam as verdades da Igreja. Insurgem-se contra supostos crimes cujos delinquentes eram os cristãos. Se a religião cristã preceitua o crime, e induz os seus seguidores a comer e beber o Sangue de Cristo, é forçoso destruí-la. É a vez de sair à liça e à luz do dia a verdade. “Não se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire” (Mt 5, 15).

Servindo-se da sua cultura superior e firmados na robustez da sua fé, surgem então homens que nos deixam as mais belas páginas da doutrina cristã tão importantes no estudo do dogma católico: as apologias. As calúnias forjadas por espíritos avessos ao cristianismo minavam as inteligências de muitos e lançavam-nas na dúvida.

Ao longo destes vinte e um séculos já percorridos depois do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o ódio de morte à Igreja não desarmou. Numa parte do mundo continua a perseguição; noutra a calúnia.

Olhando para o mundo anuímos na sua materialização. Os problemas na ordem do dia, as crises, dizem respeito, simplesmente, ao aspeto económico, político e social. Procurando as causas dos males, esquece-se uma que é a principal: a ausência de Nosso Senhor Jesus Cristo na sociedade.
Percorre-se a galeria dos grandes vultos que dirigem o mundo, e das figuras notáveis que, pela palavra escrita ou falada, orientam a opinião pública. Por muito otimistas que sejamos, temos de reconhecer que são poucos, desoladoramente poucos os homens que possuem conhecimento sério da doutrina de Cristo e menos ainda aqueles que, tendo-a na inteligência, a conservam no coração, para que os seus atos sejam em tudo projeção luminosa da fé cristã.

Triste realidade, mas… realidade! Jesus Cristo continua a ser o grande desconhecido dos nossos dias. Ao mundo que dramaticamente sofre por falta de luz sobrenatural na inteligência e de vida divina na alma, urge anunciar a mensagem cristã, o Evangelho.
A prosa suave e encantadora de Renan, de Strauss, traçou um Cristo muito deformado, não vendo em Nosso Senhor senão um homem superior que por hábeis engenhos e fraudes alucinava e enganava a população! É preciso difundir a verdadeira fisionomia de Jesus Cristo e o seu Evangelho.
Quando se visita não só o nosso país, mas toda a Europa, encontram-se formosíssimas igrejas e catedrais que atestam uma crença que existiu, mas que, infelizmente, se apagou ou escureceu. Espalhados pelos campos, em muitas aldeias, despontam numerosas capelas erigidas por gente que outrora compreendia o que é amar e servir a Deus.
Hoje, em torno da maioria delas ronda o ceticismo. Por dentro aridez e gelo, quando não é suspeição e ódio. Apagou-se nos espíritos a luz viva da fé e nos corações a chama de um amor puramente cristão. Povoações que com verdade e justiça foram reputadas fervorosas, com um passado glorioso, jardim de tantas vocações, por forças de doutrinas corruptoras e de desvairadas provocações do vício, por vezes originadas por quem dirige e tem obrigação de orientar, vieram tornar-se terríveis centros de perseguição e indiferentismo religioso.
Quantos homens por este mundo fora vegetam, morrem à míngua de Cristo porque não o conhecem ou não o querem conhecer?

São precisos novos apologistas, urgentemente! Contudo, o perfil destes novos defensores da fé e reevangelizadores do mundo deve obedecer a critérios específicos: “o mundo de hoje precisa de pessoas que anunciem e testemunhem que é Cristo quem nos ensina a arte de viver, o caminho da verdadeira felicidade, porque é Ele mesmo o caminho da vida; pessoas que tenham elas mesmas, antes de tudo, o olhar fixo em Jesus, o Filho de Deus: a palavra do anúncio deve estar sempre imersa numa relação profunda com Ele, numa vida intensa de oração. O mundo de hoje precisa de pessoas que falem com Deus, para poder falar de Deus” (Papa Bento XVI, Discurso 15 de Outubro de 2011).

sábado, 13 de outubro de 2012

Indulgências plenárias para o Ano da Fé



O Papa Paulo VI proclamou em 1967 um primeiro Ano da fé, para recordar o décimo nono centenário do martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo.
O segundo Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, irá de 11 de Outubro a 24 de Novembro de 2013 e está “particularmente dedicado à profissão da fé verdadeira e à sua interpretação recta com a leitura, ou melhor, a piedosa meditação das Actas do Concílio e dos Artigos do Catecismo da Igreja Católica, publicado pelo Beato João Paulo II, trinta anos após o início do Concílio, com a intenção clara de «induzir os fiéis a aderir melhor a ele e a promover o conhecimento e a aplicação do mesmo»”.
Para enriquecer com o dom de sagradas indulgências uma série de práticas especiais de piedade a serem realizadas durante este tempo, a Penitenciaria Apostólica apresentou um decreto, dando “a todos os fiéis a «oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado... nas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro; nas [suas] casas e no meio das [suas] famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo».
Além disso, todos os fiéis, individual e comunitariamente, serão chamados a dar testemunho aberto da sua fé diante dos outros, nas circunstâncias peculiares da vida quotidiana: «A própria natureza social do homem exige que ele exprima externamente os actos religiosos interiores, entre em comunicação com os demais em assuntos religiosos e professe de modo comunitário a própria religião» (Decl. Dignitatis humanae, 7 dic. 1965: AAS 58 [1966], 932).
Dado que se trata antes de tudo de desenvolver ao máximo nível — na medida do possível nesta terra — a santidade de vida e de alcançar, portanto, no grau mais alto a pureza da alma, será muito útil o grande dom das Indulgências que a Igreja, em virtude do poder que lhe foi conferido por Cristo, oferece a todos os que, com as devidas disposições, cumprirem as prescrições especiais para as obter. «Com a Indulgência — ensinava Paulo VI — a Igreja, valendo-se do seu poder de ministra da Redenção levada a cabo por Cristo Senhor, comunica aos fiéis a participação desta plenitude de Cristo na comunhão dos Santos, oferecendo-lhes em grandíssima medida os meios para alcançar a salvação» (Carta Ap. Apostolorum Limina, 23 de Maio de 1974: AAS 66 [1974] 289). Assim se manifesta o «tesouro da Igreja», do qual constituem «um desenvolvimento ulterior também os méritos da Bem-Aventurada Mãe de Deus e de todos os eleitos, desde o primeiro justo até ao último» (Clemente VI, Bula Unigenitus Dei Filius, 27 de Janeiro de 1343).
A Penitenciaria Apostólica, que tem o múnus de regular o que diz respeito à concessão e ao uso das Indulgências, e de estimular o espírito dos fiéis a conceber rectamente e a alimentar o desejo piedoso de as obter, solicitada pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, em consideração atenta da Nota com indicações pastorais para o Ano da fé, da Congregação para a Doutrina da Fé, com a finalidade de alcançar o dom das Indulgências durante o Ano da fé, estabeleceu as seguintes disposições, emitidas em conformidade com a mente do Augusto Pontífice, para que os fiéis sejam mais estimulados ao conhecimento e ao amor pela Doutrina da Igreja Católica e obtenham frutos espirituais mais abundantes.
Ao longo de todo o Ano da fé, proclamado de 11 de Outubro de 2012 até ao fim do dia 24 de Novembro de 2013, poderão alcançar a Indulgência plenária da pena temporal para os próprios pecados, concedida pela misericórdia de Deus, aplicável em sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, a todos os fiéis deveras arrependidos, que se confessem de modo devido, comunguem sacramentalmente e orem segundo as intenções do Sumo Pontífice:
      1) Cada vez que participarem em pelo menos três momentos de pregações durante as Missões Sagradas, ou então em pelo menos três lições sobre as Actas do Concílio Vaticano II e sobre os Artigos do Catecismo da Igreja Católica, em qualquer igreja ou lugar idóneo;
      2) Cada vez que visitarem em forma de peregrinação uma Basílica Papal, uma catacumba cristã, uma Igreja Catedral, um lugar sagrado, designado pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. entre as Basílicas Menores e os Santuários dedicados à Bem-Aventurada Virgem Maria, aos Santos Apóstolos e aos Santos Padroeiros) e ali participarem nalguma função sagrada ou pelo menos passarem um tempo côngruo de recolhimento com meditações piedosas, concluindo com a recitação do Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima, as invocações à Bem-Aventurada Virgem Maria e, segundo o caso, aos Santos Apóstolos ou Padroeiros;
       3) Cada vez que, nos dias determinados pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. nas solenidades do Senhor, da Bem-Aventurada Virgem Maria, nas festas dos Santos Apóstolos e Padroeiros, na Cátedra de São Pedro), em qualquer lugar sagrado participarem numa solene celebração eucarística ou na liturgia das horas, acrescentando a Profissão de Fé de qualquer forma legítima;
       4) Um dia livremente escolhido, durante o Ano da fé, para a visita piedosa do batistério ou outro lugar, onde receberam o sacramento do Batismo, se renovarem as promessas batismais com qualquer fórmula legítima.
Os Bispos diocesanos no dia mais oportuno deste tempo, por ocasião da celebração principal (por ex. a 24 de Novembro de 2013, na solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, com a qual será encerrado o Ano da fé) poderão conceder a Bênção Papal com a Indulgência plenária, lucrável por parte de todos os fiéis que receberem tal Bênção de modo devoto.
Os fiéis verdadeiramente arrependidos, que não puderem participar nas celebrações solenes por motivos graves (como, em primeiro lugar, todas as religiosas que vivem nos mosteiros de clausura perpétua, os anacoretas e os eremitas, os encarcerados, os idosos, os enfermos, assim como quantos, no hospital ou noutros lugares de cura, prestam serviço continuado aos doentes), obterão a Indulgência plenária nas mesmas condições se, unidos com o espírito e o pensamento aos fiéis presentes, particularmente nos momentos em que as Palavras do Sumo Pontífice ou dos Bispos diocesanos forem transmitidas pela televisão e rádio, recitarem em casa ou onde o impedimento os detiver (por ex. na capela do mosteiro, do hospital, da casa de cura, da prisão...) o Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima e outras preces segundo as finalidades do Ano da fé, oferecendo os seus sofrimentos ou as dificuldades da sua vida.