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terça-feira, 27 de setembro de 2011

A descoberta do talento de Giotto

Nos arredores de Florença, Cimabue, pintor, criador de mosaicos e o introdutor da perspectiva na pintura durante o Renascimento, passeava a cavalo, quando se deparou com um pastor de tenra idade, a desenhar carneiros sobre uma pedra com um pedaço de carvão.

Os animais e a lã eram tão reais, tão perfeitos, que o insígne Cimabue levou o pastor para a cidade a fim de estudar a arte da pintura.

Esse pastor de carneiros veio a ser, anos depois, o imortal Giotto, que resplandece em todo o século áureo de Florença, vindo até a sobrepujar Cimabue, escurecendo a glória do seu protector.

Deus Existe: Como o ateu mais famoso do mundo mudou de ideias

Por mais de cinco décadas, o filósofo Inglês Antony Flew foi um dos ateus mais veementes no mundo. Em 2004, na Universidade de Nova York, em 2004 deixou a sua plateia estupefacta ao anunciar que já aceitava a existência de Deus e que estava particularmente impressionado com o testemunho do Cristianismo.
No seu livro, cujo título original é Deus Existe: Como o ateu mais famoso do mundo mudou de ideias (Nova York: Harper One, 2007), Flew não só desenvolve os seus próprios argumentos sobre a existência de Deus, mas argumenta contra as opiniões de importantes cientistas e filósofos sobre a questão de Deus.
A sua investigação levou-o a examinar, entre outros, os trabalhos críticos de David Hume sobre o princípio da causalidade e os argumentos de cientistas de renome, como Richard Dawkins, Paul Davies e Stephen Hawking. Outro dos pensamentos sobre Deus que tomou como referência foi o de Albert Einstein, já que, ao contrário do que afirmam ateus como Dawkins, Einstein foi claramente crente.
A principal razão que levou Flew a mudar radicalemnte de opinão decorre das recentes investigações científicas sobre a origem da vida, que mostram a existência de uma "inteligência criadora". "" Creio que o ADN tem demonstrado, devido à incrível complexidade dos mecanismos que são necessários para se gerar a vida, que tem de haver uma inteligência superior no funcionamento unitário de elementos tão extraordinariamente diferentes uns dos outros", afirma.
"É a enorme complexidade dos muitos elementos envolvidos nesse processo e a enorme subtileza dos modos que tornam possível que trabalhem juntos. Esta grande complexidade dos mecanismos que se dão na origem da vida é que me levou a acreditar na participação de uma inteligência", acrescenta Flew.

Sobre a teoria de Richard Dawkins de que o chamado "gene egoísta" é responsável pela vida humana, Flew qualifica-a de “exercício supremo de mistificação popular". "Os genes, evidentemente, não podem ser egoístas ou altruístas, assim como qualquer outra entidade não consciente não pode competir com outra ou fazer escolhas."

"Agora acredito que o universo foi criado por uma inteligência infinita e que as intrincadas leis do universo revelam o que os cientistas têm chamado de a Mente de Deus. Acredito que a vida e a reprodução tiveram origem numa fonte divina ", diz ele.

"Porque apoio isto, depois de ter defendido o ateísmo por mais de meio século? A resposta simples é que esta é a imagem do mundo, tal como a vejo, que emerge da ciência moderna. A ciência destaca três dimensões da natureza que apontam para Deus." "A primeira é o facto de que a natureza obedece a leis. A segunda, a existência de vida organizada de modo inteligente e dotada de propósito, que se originou a partir da matéria. A terceira é a própria existência da natureza. Mas nesta viagem não me guiei apenas pela ciência. Também me ajudou o estudo renovado dos argumentos filosóficos clássicos", assinala.

"A minha saída do ateísmo não foi causada por nenhum fenómeno novo, nem por um argumento em particular. De facto, nas últimas duas décadas, toda a estrutura do meu pensamento mudou. Isto foi resultado da minha avaliação contínua das evidências da natureza. Quando finalmente reconheci a existência de Deus não foi por uma mudança de paradigma, porque o meu paradigma continua", conclui ele."

Após a publicação do livro, choveram críticas dos seus colegas por causa da mudança efectuada, entre elas a de Mark Oppenheimer, num artigo intitulado A Mudança De Um Ateu.

Oppenheimer caracteriza Flew como um velho senil que é manipulado e explorado pelos cristãos evangélicos para os seus próprios propósitos. Além disso, acusa-o de ter assinado um livro que nunca escreveu. No entanto, Flew, de 86 anos de idade, responde de forma conclusiva: "O meu nome está no livro e representa exactamente a minha opinião. Não permito a publicação de um livro com o meu nome com o qual não esteja cem por cento de acordo."

"Eu precisava de alguém para o escrever porque eu tenho 84 anos”', disse ele. “Foi esse o papel de Roy Varghese. A ideia de que alguém me manipulou porque sou velho é perfeitamente errada. Posso estar velho, porém é difícil que alguém me manipule. Este é o meu livro e representa o meu pensamento é", sentenciou.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Continua a perseguição religiosa contra os cristãos no mundo

O silêncio dos meios de comunicação social no que se refere à perseguição religiosa é aflictivo. Parece ser mais importante saber o que aconteceu numa festa social, por exemplo, em que o actor ou a atriz da última telenovela derramou um copo de vinho sobre a sua roupa muito cara (facto imaginário), do que o terror vivido por milhões de cristãos simplesmente por professar o seu amor a Jesus Cristo e a sua Igreja.

Por todo o mundo, seja através do radicalismo e da perseguição dos laicistas, como pelo ódio de fundamentalistas islámicos ou budistas, ou ainda pelo autoritário regime comunista vigente na China e na Corea do Norte, muitos cristãos sofrem em pleno século XXI, quotidianamente, um longo martírio.

O joven Raymond Ibrahim, um egípcio especializado em relações entre o Islão e o Cristianismo, que actualmente vive nos Estados Unidos relata no seu blog uma série de incidentes ocorridos nos últimos meses, que vão de ataques a símbolos cristãos, como conversões forçadas, chegando a assassinados por ódio à Fé Cristã.

Vejamos alguns exemplos:

  • Indonésia: Duas igrejas foram incendiadas, os funcionários desculparam e minimizaram estas atrocidades, afirmando tratar-se apenas de edifícios de papelão e não igrejas reais. O Presidente de Câmara afirmou que as igrejas não podem ser construídas em ruas com nomes muçulmanos, nem em regiões onde a maioria dos habitantes seja muçulmana.
  • Irão: Órgãos do governo promoveram uma campanha de queima de Bíblias, confiscando e destruindo 7.000 delas, sendo muitas em público. Comparando os cristãos aos “talibãs e parasítas”, as autoridades prenderam numerosos cristãos. Depois de longos interrogatórios, muitos foram libertados,  mas não se sabe ao certo quantos continuam desaparecidos.
  • Iraque: Duas igrejas foram bombardeadas, deixando 23 feridos, na primeira, e muitos danos materiais na segunda. Uma terceira igreja foi atacada, mas a bomba foi desactivada antes de explodir.
  • Nigéria: Duas igrejas foram bombardeadas, incluindo uma igreja baptista em desuso debido a anteriores ataques muçulmanos. Quando os autores dos ataques foram presos, uma terceira igreja Católica foi incendiada.  Naquilo que se chama “morte silenciosa”, 10 cristãos foram assassinados por muçulmanos que procuram apagar o cristianismo do Norte da Nigeria. Testemunhos insistem em afirmar que o exército está a ajudar e permitir os assassinatos.
  • Eritreia: Oito cristãos foram mortos nas prisões do país, a maioria sob condições severas e depois de longa tortura, simplesmente por se terem negado a retractar-se da sua Fé Cristã.
  • Índia: Uma mulher foi desvestida e flagelada por uma turba de muçulmanos, por se ter convertido ao cristianismo. Pouco depois, recebeu nova ameaça: “ou voltas para o islão ou morres”! Noutro caso, três cristãs foram atacadas e ameaçadas de serem “flageladas e queimadas vivas se continuassem a adorar Cristo”.
  • Irão: Um pastor protestante continua preso, sendo torturado, à espera da sua execução por negar-se a retractar-se da Fé Cristã.
  • Malasia: A policia religiosa saudita invadiu uma igreja para “encontrarar provas de proselitismo em relação aos muçulmanos” e verificar a denuncia de que “muçulmanos estavam a romper o jejum (do ramadão) na Igreja” . Uma Campanha foi lançada pelos muçulmanos no Facebook para apoiar a invasão e para “prevenir a apostasia”. Ela já conta com 23 mil apoiantes.
  • Noruega: Um muçulmano convertido ao cristianismo, e que se encontra detido, foi torturado com água fervente pelos seus companheiros de cela que o ameaçaram: “Se não regressares ao islão, matamos-te!”. Se for deportado e regresar ao seu país, onde as leis civis são regidas pelo corão, corre o risco de ser condenado à morte por lapidação, pena para os que abandonam o islão.
  • Pakistão: Fundamentalistas muçulmanos sequestraram una menina cristã de 14 anos e apontando uma pistola à sua cabeça disseram-lhe que devia converter-se ao islão.  Outra mulher foi sequestrada, drogada e torturada durante dois anos, porque se converteu ao cristianismo. Mais recentemente, dois cristãos que regressavam da Igreja foram atacados por muçulmanos e golpeados com barras de ferro por se recusarem a converter-se ao islã e pagar a jizya, ou “protecção” em dinheiro. Uma família cristã de 26 pessoas, incluindo mulheres e crianças, viviam em escravidão por mais de 30 anos, obrigados a trabalhar numa quinta pertencente a um rico muçulmano proprietário de terras. Só agora conseguiram recuperar a sua liberdade, graças à ajuda da Igreja Católica. Por outro lado, um grupo de muçulmanos atacou um grupo de cristãos que estavam a ver um filme sobre Jesus Cristo, destruindo o projector. Um cristão foi golpedado até permanecer inconsciente no Dia da Independência. Os muçulmanos diziam-lhe: “Como podes celebrar a independência se és cristão? Converte-te ao islão, se queres unir-te às celebrações!”
  • Sudão: Uma adolescente cristã de 16 anos conseguiu escapar dos seus sequestradores muçulmanos que a golpearam, violaram e trataram de a obrigar a converter-se ao islão. Cada vez que tentava rezar recebia golpes e era chamada de “infiel” . Quando a sua mãe foi dar parte na policía, os agentes aconselharam-na, a converter-se, ela também, ao islão, assim a sua filha voltaria mais rapidamente para casa. Uma crise humanitaria se está a desenvolver na região da frontera com o Sudão, onde os cristãos e suas igrejas são o alvo de uma campanha sistemática de limpeza étnica por parte do regime islámico do Sudão.
  • Uganda: Ao saber que a sua filha de 14 anos tinha abraçado o cristianismo, o pai, seguidor da escola islamita Hanafi, prendeu-a num quarto, quase sem comida e água por vários meses. Quando, finalmente, foi resgatada, estava viva, mas pesava apenas 20 kg.
  • Bangladesh: Um pastor e outros líderes religiosos foram brutalmente atacados na própria esquadra de policía por terem protestado e tentado fazer valer os seus direitos diante da invasão de um lugar cristão pelos muçulmanos. Um activista cristão previamente torturado fugiu para Hong Kong. Sua esposa e filhos são frequentemente ameaçados de morte pelos muçulmanos.
  • Egipto: Logo depois do final do jejum do Ramadão, milhares de muçulmanos arrasaram uma aldeia predominantemente cristã (copta), disparando armas automáticas, saqueando e lançando cocktails molotov contra várias casas; agrediram um sacerdote copta, roubando todos os seus pertences e incendiando a sua casa; um outro fiel copta foi morto e a sua casa assaltada. Por outro lado, diante de uma esquadra de policía um outro fiel copta foi atacado selvagelmente por um grupo de 7 muçulmanos. Os seus ferimentos foram tão graves que perdeu um olho, e levou 20 pontos na cabeça, mas graças a Deus, ainda vive. No mesmo lugar, ao saírem da igreja, algumas raparigas foram sexualmente acossadas por jovens muçulmanos que atiraram pedras contra as janelas da igreja, quebrando cinco delas.
  • Somália: Enquanto no Ocidente se fala da fome nos cornos da África e os cristãos se mobilizam para enviar ajuda humanitária, Al-Shabab (“a juventude”, ou partido da juventude), um grupo fundamentalista islámico está a controlar a chegada do material e está a impedir, intencionalmente, que esta chegue à minoria cristã: “Qualquer somalio que os islamitas suspeitem de ser cristão, o até amigo dos cristãos, não recebe nenhuma ajuda alimentar”.
  • Reino Unido: Uma família muçulmana foi ameaçada de morte porque a filha se casou com um cristão, um delito segundo a “sharia”, lei do islão.
  • Uzbekistán: As autoridades continuam a presionar as igrejas e cristãos, fabricando provas e falsas acusações,  para passar multas excessivas e confiscar a toda literatura cristã.
Estes são factos denunciados em Agosto de 2011, mas certamente há muitos outros de que não temos conhecimento pois a imprensa não dá realce. É claro que não refletem o conjunto dos muçulmanos, mas apenas alguns fundamentalistas, que querem servir os seus interesses e não os de Deus.  

Actividades da Santa Sé em 2010

Muitas vezes nos perguntamos: o que faz a Santa Sé? Para onde vai o dinheiro recolhido pela Igreja?

No livro a “Actividade da Santa Sé”  Libreria Editrice Vaticana (pp. 1343, € 80) encontramos algumas respostas a estas perguntas e aprendemos, por exemplo, que em 2010:

A secção disciplinar da Congregação para a Doutrina da Fé abriu 643 procedimentos, dos quais 82% dizem respeito aos “delicta graviora” (em que se encaixa o abuso sexual de menores praticado por clérigos), 8% de “delitos contra a fé”, 3% de “casos de aparições” e 7% de questões de vários gêneros.

A Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos sacramentos tratou de algumas centenas de casos relativos à solicitação de dispensa papal a fim de desposar depois de um matrimônio “rato mas não consumado”. Dispensa que foi concedida em 301 casos e negada em 2. 

A Congregação para a Evangelização dos Povos concedeu, através da Pontifícia Obra da Propagação da Fé (cujo fundo de solidariedade todavia foi “notavelmente” reduzido por causa da recessão econômica), mais de 85 milhões de dólares de auxílios às dioceses em território de missão. Outros 30 milhões foram ainda distribuídos através da pontifícia obra São Pedro Apóstolo. E outros 19 milhões através da Pontifícia Obra da Infância Missionária.

A Rota Romana, cuja jurisprudência serve de modelo para todos os tribunais eclesiásticos do mundo, no ano judiciário de 2010 emitiu 175 sentenças definitivas no tocante à nulidade matrimonial, a maioria das quais (93 contra 82) favorável à nulidade.

O Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, sob indicação do papa, constituiu quatro grupos de estudo em vista de uma possível revisão de algumas matérias do código de direito canônico, relacionadas a questões de direito penal, direito processual, direito matrimonial e direito patrimonial, e às relações entre o código da Igreja latina e o das Igrejas orientais.

Um comissão mista, com peritos da Comissão “Ecclesia Dei” e da Congregação para o Culto Divino, foi constituída para a “atualização” das memórias dos santos e a “possível inserção de novos prefácios” no missal romano pré-conciliar de 1962, ao qual Bento XVI deu plena cidadania em 2007.

A Elemosineria Apostólica, em resposta a quase sete mil cartas de pedido de auxílio provenientes de indivíduos e famílias, doou “com discrição” e “quotidianamente”, em nome do papa, uma soma “próxima a um milhão de euros”. Soma inteiramente coberta com as contribuições recebidas pelos pergaminhos com bênção apostólica solicitados pelos fiéis: 115.500 pergaminhos entregues diretamente pela elemosineria e 112.000 distribuídos através de quase oitenta entes conveniados.

Abandonar a Igreja por causa de escândalos? Conselhos do Papa

Mesmo diante dos pecados e escândalos no seio da Igreja, provacados pelos maus sacerdotes, os cristãos não devem abandoná-la. Dentro do avião que o conduzia a Berlim (22/9/2011), o Papa Bento XVI explicou aos jornalistas o que é pertencer à Igreja nesta ocasião:
:

Antes de tudo, temos de distinguir o motivo específico pelo qual se sentem escandalizados por estes crimes registrados nos últimos tempos. Posso compreender que, à luz dessas informações, sobretudo se forem pessoas próximas, a pessoa diga: “Esta já não é a minha Igreja. A Igreja era, para mim, força de humanização e de moralização. Se os representantes da Igreja fazem o contrário, já não posso viver com esta Igreja”. Esta é uma situação específica. Geralmente, os motivos são múltiplos, no contexto do secularismo da nossa sociedade. Em geral, estes abandonos são o último passo de um longo trajeto de afastamento da Igreja. Neste contexto, parece-me importante perguntar-se: “Por que estou na Igreja? Estou na Igreja como em uma associação esportiva, uma associação cultural etc., na qual encontro resposta para os meus interesses e, se não for assim, vou embora? Ou estar na Igreja é algo mais profundo?”. Eu diria que é importante reconhecer que estar na Igreja não quer dizer fazer parte de uma associação, mas estar na rede do Senhor, que pesca peixes bons e maus das águas da morte, para levá-los às terras da vida. Pode ser que, nesta rede, eu esteja junto a peixes malvados e sinto muito, mas é verdade que não estou por causa deste ou daquele outro, mas porque é a rede do Senhor, que é algo diferente de todas as associações humanas, uma rede que toca o fundamento do meu ser. Falando com essas pessoas, acho que temos de ir até o fundo da questão: o que é a Igreja? Qual é a sua diversidade? Por que estou na Igreja, ainda que se deem escândalos terríveis? Assim, é possível renovar a consciência do caráter específico de ser Igreja, povo de todos os povos, que é povo de Deus; e aprender, dessa maneira, a suportar também os escândalos e trabalhar contra os escândalos, fazendo parte precisamente dessa grande rede do Senhor.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A Igreja Melquita

Quando se fala nos cristãos do Oriente, pensa-se geralmente nos "ortodoxos", que, em 1054, com o Grande Cisma, cortaram os laços com o Papa. 

Contudo, existem muitos cristão no Médio Oriente, fieis ao Soberano Pontífice. A Igreja melquita ou greco-católica é uma destas Igrejas de tradição bizantina em plena comunhão com Roma.

O nome melquita vem de melekh que em hebraico significa "Rei". Durante muito tempo, todos aqueles que ficaram ao lado do Imperador Marciano de Bizâncio no Concilio de Calcedónia no ano de 451, defendendo a realidade das duas naturezas de Cristo, foram pejorativamente apelidados de "reais" ou melquitas pelos monofisistas.

Vale a pena recordar, alguns dos principais debates teológicos que tiveram lugar nos primeiros séculos, concretamente IV e V, na tentativa de compreender o mistério de Cristo e que levaram à criação de muitas igrejas heréticas.

Como é que Jesus pode ser Deus e homem? O arianismo negou a divindade de Jesus e foi condenado no Concílio de Niceia, convocado pelo imperador Constantino em 325.

Os nestorianos reclamam--se de Nestório (381-451), patriarca de Constantinopla, que deu origem ao nestorianismo e que ensinava ser Maria a mãe de Cristo-homem e não mãe de Deus (theotokos).

Os coptas são monofisitas, afirmam que Cristo tem uma só natureza - a natureza divina.

O monofisismo foi condenado em 451, no Concílio de Calcedónia, que formulou a definição da fé de que em Cristo há duas naturezas - a natureza divina e a natureza humana - que subsistem numa só pessoa, e teve como  consequência a formação de Igrejas independentes: coptas, jacobitas, arménios, nestorianos.

Os melquitas são os cristãos de rito bizantino que pertencem aos patriarcados de Alexandria - no Egipto -, de Antioquia - na Síria -, e de Jerusalém - na Palestina.

Infelizmente, embora o cristianismo tenha berço por estas terras, o número de cristãos no Médio Oriente é hoje minoritário, rondando apenas os 6 milhões, uns 4% da população da região. No Libano, a Igreja Melquita conta com 260.000 almas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pobres e ricos


Não há dúvida de que os pobres alcançam o dom da humildade com mais facilidade que os ricos, na medida em que aqueles, no meio das suas privações, se familiarizam facilmente com a mansidão, ao passo que estes, no meio das riquezas, se habituam facilmente à arrogância. Todavia, também não faltam ricos que usam da abundância, não para sua orgulhosa ostentação mas para obras de caridade, considerando que o melhor lucro é o que se gasta para aliviar a miséria do próximo.

O dom desta virtude pode encontrar-se, portanto, em todo o género e categoria de homens, porque podem ser iguais na disposição interior, embora diferentes nos bens da fortuna; e pouco importam as diferenças nos bens terrenos, quando há igualdade nos valores do espírito. Bem-aventurada aquela pobreza que não se deixa dominar pelo amor dos bens temporais, nem põe toda a sua ambição em aumentar as riquezas deste mundo, mas deseja acima de tudo a riqueza dos bens celestes!

Depois do Senhor, os Apóstolos foram os primeiros a dar-nos o exemplo desta magnânima pobreza. À voz do divino Mestre deixaram tudo o que tinham; num momento, passaram de pescadores de peixes a pescadores de homens e conseguiram que muitos, imitando a sua fé, seguissem o mesmo caminho. Com efeito, entre aqueles primeiros filhos da Igreja, "todos os crentes tinham um só coração e uma só alma"; deicavam todas as suas posses e haveres para abraçarem generosamente a mais perfeita pobreza e enriquecerem-se de bens eternos; assim aprendiam da pregação apostólica a encontrar a sua alegria em não ter nada deste mundo e tudo possuir em Cristo.

Por isso, quando o apóstolo São Pedro subia para o templo e o coxo lhe pediu esmola, disse-lhe: "Não tenho ouro nem prata; mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda". Que há de mais sublime que esta humildade? Que há de mais rico que esta pobreza? Não tem a força do dinheiro, mas concede os dons da natureza. Aquele a quem sua mãe deu à luz enfermo de nascimento, a palavra de Pedro o tornou são; e aquele que não pôde dar a imagem de César gravada numa moeda ao homem que lhe pedia esmola, restaurou nele a imagem de Cristo dando-lhe a saúde.

E este tesouro não enriqueceu apenas aquele homem que recuperou a possibilidade de andar, mas também os cinco mil homens que, ante esta cura milagrosa, acreditaram na pregação do Apóstolo. Assim, aquele pobre, que não tinha nada que dar a um pedinte, distribuiu tão abundantemente a graça divina que não só restituiu o vigor aos pés ao coxo, mas também a saúde da alma a tantos milhares de crentes: encontrou-os sem forças na infidelidade judaica e resitutiu-lhes a agilidade para seguirem a Cristo.

São Leão Magno, Sermão sobre as bem-aventuranças, Sermo 95, 2-3: PL 54, 462

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Silêncio, oração e vida religiosa


Em todas as épocas, homens e mulheres que dedicaram suas vidas a Deus em oração - como os monges e freiras - estabeleceram suas comunidades em lugares particularmente bonitos (como o Monto Saint Michel, apresentado na foto), nos campos, colinas, vales montanhosos, na ribeira de lagos ou junto do mar, ou mesmo em pequenas ilhas. Estes lugares combinam dois elementos muito importantes para a vida contemplativa: a beleza da criação, que remete ao Criador, e ao silêncio, garantido pelo afastamento de grandes cidades e estradas. O silêncio é a condição ambiental que melhor favorece o recolhimento, escuta de Deus e meditação. Já o facto de apreciar o silêncio, para deixar, por assim dizer, "encher-se" de silêncio, predispõe-nos à oração. O grande profeta Elias no Monte Horeb - isto é, no Sinai - assistiu a uma onda de vento, depois a um terramoto, relâmpagos e fogo, mas não reconheceu neles a voz de Deus; reconheceu-a, entretanto, numa leve brisa ( cf 1 Reis 19,11-13). Deus fala no silêncio, mas é preciso saber ouvi-Lo. Por isso, os mosteiros são oásis em que Deus fala à humanidade; e neles encontra-se o claustro, um lugar simbólico, porque é um espaço fechado, mas aberto para o céu. (…)

O silêncio e a beleza do lugar onde vive a comunidade monástica - beleza simples e austera – constituem um reflexo da harmonia espiritual que a comunidade procura alcançar. O mundo é pontilhado com esses oásis do espírito, alguns muito antigos, especialmente na Europa, outros mais recentemente, outros restaurados por novas comunidades. Olhando as coisas sob um prisma espiritual, estes lugares são as espinhas dorsais do mundo! Não é por acaso que muitas pessoas, especialmente em períodos de descanso, visitam estes lugares e param ali por alguns dias: mesmo a alma, graças a Deus, tem suas exigências!

(Bento XVI, Audiência Geral, Castel Gandolfo 10/8/2011)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Crer no Reino de Maria

Nós somos tudo quanto devemos ser, quando cremos na B. (nas promessas de Fátima) e no Reino de Maria. E não é na B. (no triunfo de Maria) para uma data tão remota que é como se ela não viesse, mas é numa data que tem proporção com a duração da nossa vida.
(Plinio Correa de Oliveira, reunião SD 2/2/1970).

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pio XII salvou mais de 11 mil judeus

Segundo notícia publicada pela Agência Zenit no dia 29 de Julho de 2011 mais uma documentação foi apresentada pelos historiadores, mostrando como o Papa Pio XII salvou, por uma acção directa, a vida de mais de 11 mil judeus em Roma durante a II Guerra Mundial."O representante da fundação Pave the Way na Alemanha, o historiador e pesquisador Michael Hesemann, descobriu muitos documentos originais de grande importância ao pesquisar os arquivos da igreja de Santa Maria dell'Anima, a igreja nacional da Alemanha em Roma.
A Pave the Way, com sede nos Estados Unidos, fundada pelo judeu Gary Krupp, anunciou o achado em declaração enviada a ZENIT.
“Muitos criticaram Pio XII por guardar silêncio durante as prisões e quando os trens partiram de Roma com 1.007 judeus, que foram enviados para o campo de concentração de Auschwitz”, declarou Krupp. “Os críticos não reconhecem nem sequer a intervenção direta de Pio XII para dar fim às prisões, em 16 de outubro de 1943”.
“Novos achados provam que Pio XII agiu diretamente nos bastidores para impedir as prisões às 2 horas da tarde do mesmo dia em que elas começaram, mas não conseguiu deter o trem que tinha aquele destino tão cruel”, acrescentou.
Segundo um estudo recente do pesquisador Dominiek Oversteyns, havia em Roma 12.428 judeus no dia 16 de outubro de 1943.
“A ação direta do papa Pio XII salvou a vida de mais de 11.400 judeus”, explica Krupp. “Na manhã de 16 de outubro de 1943, quando o papa soube da prisão dos judeus, enviou imediatamente um protesto oficial vaticano ao embaixador alemão, que sabia que não teria resultado algum. O pontífice mandou então seu sobrinho, o príncipe Carlo Pacelli, até o bispo austríaco Alois Hudal, cabeça da igreja nacional alemã em Roma, que, conforme relatos, tinha boas relações com os nazistas. O príncipe Pacelli disse a Hudal que tinha sido enviado pelo papa e que Hudal devia escrever uma carta ao governador alemão de Roma, o general Stahel, pedindo que as prisões fossem canceladas”.
A carta do bispo Hudal ao Generale Stahel dizia: “Precisamente agora, uma fonte vaticana [...] me informou que nesta manhã começou a prisão dos judeus de nacionalidade italiana. No interesse de um diálogo pacífico entre o Vaticano e o comando militar alemão, peço-lhe urgentemente que dê ordem para parar imediatamente estas prisões em Roma e nas regiões circundantes. A reputação da Alemanha nos países estrangeiros exige esta medida, assim como o perigo de que o papa proteste abertamente”.
A carta foi entregue em mãos ao general Stahel por um emissário de confiança do papa Pio XII, o sacerdote alemão Pancratius Pfeiffer, superior geral da Sociedade do Divino Salvador, que conhecia Stahel pessoalmente.
Na manhã seguinte, o general respondeu ao telefone: “Transmiti imediatamente a questão à Gestapo local e a Himmler pessoalmente. E Himmler ordenou que, considerado o status especial de Roma, as prisões sejam interrompidas imediatamente”.
Estes fatos são confirmados também pelo testemunho obtido durante a pesquisa do relator da causa de beatificação de Pio XII, o padre jesuíta Peter Gumpel.
Gumpel declarou ter falado pessoalmente com o general Dietrich Beelitz, que era o oficial de ligação entre o escritório de Kesselring e o comando de Hitler. O general Beelitz ouviu a conversa telefônica entre Stahel e Himmler e confirmou que o general Stahel tinha usado com Himmler a ameaça de um fracasso militar se as prisões continuassem.
Institutos religiosos isentos de inspeções nazistas
Outro documento, “As ações para salvar inumeráveis pessoas da nação judaica”, afirma que o bispo Hudal conseguiu, através dos contatos com Stahel e com o coronel von Veltheim, que “550 instituições e colégios religiosos ficassem isentos de inspeções e visitas da polícia militar alemã”.
Só numa destas estruturas, o Instituto San Giuseppe, 80 judeus estavam escondidos.
A nota menciona também a participação “em grande medida” do príncipe Carlo Pacelli, sobrinho de Pio XII. “Os soldados alemães eram muito disciplinados e respeitavam a assinatura de um alto oficial alemão... Milhares de judeus locais em Roma, Assis, Loreto, Pádua e outras cidades foram salvos graças a esta declaração”.
Michael Hesemann afirma que é óbvio que qualquer protesto público do papa quando o trem partiu teria provocado o recomeço das prisões.
Ele ainda explica que a fundação Pave the Way tem no seu site a ordem original das SS de prender 8.000 judeus romanos, que deveriam ser enviados para o campo de trabalho de Mauthausen e ser retidos como reféns, e não para o campo de concentração de Auschwitz. Pode-se pensar que o Vaticano acreditasse em negociar a libertação deles.
Soube-se também que o Vaticano reconheceu que o bispo Hudal ajudou alguns criminosos de guerra nazistas a fugir da prisão no fim do conflito.
Por causa de sua postura política, o bispo era persona non grata no Vaticano, e foi repreendido por escrito pelo secretário de Estado vaticano, o cardeal Giovanni Battista Montini (futuro papa Paulo VI), por sugerir que o Vaticano ajudasse os nazistas a fugir.
Gary Krupp, diretor geral da Pave the Way, comentou que a fundação “investiu grandes recursos para obter e difundir publicamente todas estas informações para historiadores e peritos. Curiosamente, nenhum dos maiores críticos do papa Pio XII se deu ao trabalho de vir até os Arquivos Vaticanos abertos (e abertos completamente, desde 2006, até o ano de 1939) para fazer estudos originais. Também não consultaram o nosso site gratuito”.
Krupp afirma ter a sincera esperança de que os representantes dos peritos da comunidade judaica romana pesquisem o material original, que se encontra a poucos passos de sua casa.
“Creio que descobriram que mesma existência hoje da que o papa Pio XII chamava ‘esta vibrante comunidade’ deve-se aos esforços secretos deste papa para salvar cada vida”, disse. “Pio XII fez o que pôde, quando estava sob a ameaça de invasão, de morte, cercado por forças hostis e com espiões infiltrados”.
Elliot Hershberg, presidente da Pave the Way Foundation, acrescenta: “No serviço de nossa missão, nos empenhamos em tentar oferecer uma solução para esta controvérsia, que atinge mais de 1 bilhão de pessoas”.
“Temos usado nossos links internacionais para obter e inserir em nosso site 46.000 páginas de documentos originais, artigos originais, testemunhos oculares e entrevistas com especialistas para oferecer esta documentação pronta a historiadores e especialistas.”
“A publicidade internacional deste projeto tem levado, a cada semana, nova documentação, que mostra como estamos nos movendo para eliminar o bloqueio acadêmico que existe desde 1963.”