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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pobres e ricos


Não há dúvida de que os pobres alcançam o dom da humildade com mais facilidade que os ricos, na medida em que aqueles, no meio das suas privações, se familiarizam facilmente com a mansidão, ao passo que estes, no meio das riquezas, se habituam facilmente à arrogância. Todavia, também não faltam ricos que usam da abundância, não para sua orgulhosa ostentação mas para obras de caridade, considerando que o melhor lucro é o que se gasta para aliviar a miséria do próximo.

O dom desta virtude pode encontrar-se, portanto, em todo o género e categoria de homens, porque podem ser iguais na disposição interior, embora diferentes nos bens da fortuna; e pouco importam as diferenças nos bens terrenos, quando há igualdade nos valores do espírito. Bem-aventurada aquela pobreza que não se deixa dominar pelo amor dos bens temporais, nem põe toda a sua ambição em aumentar as riquezas deste mundo, mas deseja acima de tudo a riqueza dos bens celestes!

Depois do Senhor, os Apóstolos foram os primeiros a dar-nos o exemplo desta magnânima pobreza. À voz do divino Mestre deixaram tudo o que tinham; num momento, passaram de pescadores de peixes a pescadores de homens e conseguiram que muitos, imitando a sua fé, seguissem o mesmo caminho. Com efeito, entre aqueles primeiros filhos da Igreja, "todos os crentes tinham um só coração e uma só alma"; deicavam todas as suas posses e haveres para abraçarem generosamente a mais perfeita pobreza e enriquecerem-se de bens eternos; assim aprendiam da pregação apostólica a encontrar a sua alegria em não ter nada deste mundo e tudo possuir em Cristo.

Por isso, quando o apóstolo São Pedro subia para o templo e o coxo lhe pediu esmola, disse-lhe: "Não tenho ouro nem prata; mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda". Que há de mais sublime que esta humildade? Que há de mais rico que esta pobreza? Não tem a força do dinheiro, mas concede os dons da natureza. Aquele a quem sua mãe deu à luz enfermo de nascimento, a palavra de Pedro o tornou são; e aquele que não pôde dar a imagem de César gravada numa moeda ao homem que lhe pedia esmola, restaurou nele a imagem de Cristo dando-lhe a saúde.

E este tesouro não enriqueceu apenas aquele homem que recuperou a possibilidade de andar, mas também os cinco mil homens que, ante esta cura milagrosa, acreditaram na pregação do Apóstolo. Assim, aquele pobre, que não tinha nada que dar a um pedinte, distribuiu tão abundantemente a graça divina que não só restituiu o vigor aos pés ao coxo, mas também a saúde da alma a tantos milhares de crentes: encontrou-os sem forças na infidelidade judaica e resitutiu-lhes a agilidade para seguirem a Cristo.

São Leão Magno, Sermão sobre as bem-aventuranças, Sermo 95, 2-3: PL 54, 462