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terça-feira, 12 de julho de 2011

Frutos da civilização cristã

Quando a virtude impregna a sociedade, repercutindo no aspecto visível do homem, temos elegância e harmonia. Quando penetra nas acções, temos a cortesia, o “savoir vivre”. Quando impregna as emoções e sentimentos vemos a bondade dos corações e caridade. Entretanto, quando toca os pensamentos e ideias, a beleza transforma-se em Sabedoria, e a vida em sociedade num caminho de santidade.

Figuras de Maria no Antigo Testamento

Deus quis que sua Mãe Santíssima fosse entrevista nas mulheres mais insignes da Antiga Aliança, de modo que nela refulgissem, todas reunidas, as virtudes e os dons sublimes que se encontram, separadamente, naquelas criaturas privilegiadas.

Foram figuras de Maria no Antigo Testamento, por exemplo,: Eva; Sara; Raquel; Rebeca; Ester; Judite; Abigail; a mãe dos Macabeus; Betsabé, etc.

Eva

A primeira figura de Maria foi Eva, antes da culpa. No momento em que saiu das mãos do Criador, Eva era um deslumbramento. Sem sinal de imperfeição, nem física nem moral; a inocência e a graça adornavam seu rosto e a tratavam como à sua rainha. Suas paixões estavam perfeitamente sujeitas à razão e esta a Deus. Bem podia dizer-se dela que uma centelha da face divina resplandecia em toda sua pessoa. Ora, como não ver nessa primeira mulher uma figura expressiva de Maria? Como Jesus Cristo foi chamado pelos Padres o novo Adão, assim também a Virgem foi chamada a nova Eva. A primeira Eva foi Mãe de todos os viventes na ordem da natureza; a segunda Eva, Maria, o foi na ordem, desmesuradamente superior, da graça. Se lançarmos, porém, um olhar à primeira mulher depois da culpa, eis que Maria se nos apresente como totalmente diferente. Com efeito, Eva, falando com o Anjo das trevas, que lhe apareceu sob o aspecto de uma serpente, consentiu na prevaricação e arruinou todo o género humano; Maria, ao contrário, falando com o Anjo da luz, consentiu na reparação do género humano e o salvou. Eva ofereceu ao homem o fruto da morte; Maria, ao contrário, lhe deu o fruto da vida. Eva foi medianeira da morte, Maria foi medianeira da vida.

Sara

Outra figura expressiva da Virgem Santíssima é Sara, mãe de Isaac, o qual, por seu turno, era figura de Jesus. Com efeito, como essa mulher, embora mãe de um só filhinho, concebido por ela em idade tardia, mereceu por causa dele ser considerada a mãe de todo o povo eleito, assim Maria, ao dar à luz o Redentor divino, causa única da salvação do género humano, tornou-se por isso mesmo a mãe espiritual de todos os homens.

Raquel

Outro se diga de Raquel (Gen. 30,1 seg.). Esta mulher célebre, aureolada por uma beleza não comum, deu à luz a Benjamin, ou seja, o filho da dor, em Éfrata, isto é, em Belém, que quer dizer “casa do pão”; a Virgem Santíssima, a mais bela entre todas as mulheres, na mesma cidade deu à luz Jesus, filho de seu amor, pão vivo descido do céu, verdadeiro benjamim, o que vale dizer filho predilecto de seu divino Pai.

Rebeca

Rebeca, “donzela extremamente formosa, virgem belíssima e não tocada por homem algum” (Gen. 24,16), foi predestinada por Deus e preparada para o filho de Abraão, como Maria foi preordenada e preparada para o Filho de Deus.

Ester

Outra figura belíssima de Maria foi a rainha Ester, que salvou o seu povo. Lê-se no livro do mesmo nome (4-7) que o rei Assuero, por instigação do pérfido Aman, havia publicado um edito crudelíssimo de morte contra os hebreus. A belíssima Ester decidiu apresentar-se diante dele para implorar misericórdia para seu caro povo de Israel. Pôs-se a caminho e, penetrando no átrio interior do apartamento real, com ar de profundo respeito, colocou-se ante a porta da sala do trono. E ela, diz o Texto Sagrado, agradou tanto aos olhos de Assuero, que este a convidou a entrar; quando a viu perto de si, começou a dizer-lhe com grande benignidade: Que desejais, Rainha Ester? Que pedis? Mesmo que pedísseis a metade de meu reino, eu te daria. A estas palavras, Ester, animando-se, respondeu: Se encontrei graça diante de vós, e se vos apraz, ó rei, conceder-me o que desejo... salvai o meu povo! E sua prece não foi em vão. Assuero, em um inexprimível transporte de amor, concedeu quanto lhe fora pedido e Ester foi proclamada, merecidamente, por seus irmãos de raça a salvadora de Israel. Tal e tanto foi o poder de Ester sobre o coração de um rei tão grande e poderoso! No entanto, Ester não foi senão uma pálida figura de outra mulher, incomensuravelmente mais excelsa e poderosa: Maria, a qual pela eminente beleza espiritual de que era ornada, conseguiu cativar o amor do Altíssimo. Este não hesitou em mandar à terra o Redentor e rasgar assim, sobre o Calvário, o decreto de morte eterna, que mereceram nossos pais no Éden.

Judite

Judite é a mulher belíssima, íntegra e forte, que corta a cabeça ao grande inimigo de Israel, Holofernes, sem detrimento de sua própria castidade; essa prefigura de Maria, que esmagou a cabeça do inimigo do género humano, o demónio, sem nenhum detrimento de sua pureza virginal. A Maria se aplicam admiravelmente os elogios dirigidos a Judite pelos habitantes de Betúlia: “Tu és a glória de Jerusalém, a alegria de Israel, a honra do nosso povo! (Jdt 15,10).

Abigail

Outra bela figura de Maria foi Abigail. Tendo chegado a seu conhecimento que David, por causa de seu insensato marido, queria exterminar toda sua família, apresentou-se com grande coragem e prudência ao rei e lhe ofereceu dádivas dignas dele; depois, prostrada no solo, com palavras cheias de doçura e graça, soube aplacar tão bem a ira do rei, que não somente obteve quanto desejava, mas mereceu ouvi-lo dizer: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou a meu encontro hoje e benditas sejam tuas palavras que detiveram minha mão e não me deixaram derramar sangue, tomar vingança” (I Rs. 25). Entre todas as criaturas, não houve quem soubesse aplacar a cólera do Omnipotente, causada pela culpa dos homens, como Maria, cheia de graça e em tudo digna de atrair a benevolência de Deus.

A Mãe dos Macabeus

Não menos vivamente foi Maria prefigurada na célebre Mãe dos Macabeus. Esta mulher forte, de pé junto do patíbulo de seus filhos, deu provas de saber unir a uma delicada ternura materna uma fortaleza mais que varonil. Prefigurou Maria no Calvário, ao pé da Cruz de seu Filho.

Betsabé

Também Betsabé, que seu filho Salomão fez sentar-se em um trono resplendente, à sua direita, é uma figura vívida de Maria que, verdadeira Mãe do Rei dos Reis, agora está assentada no Céu, gloriosa, à sua destra, Rainha da terra e do Céu.

Prefiguras e símbolos de Maria Santissima no Antigo Testamento

Encontramos no Antigo testamento 11 prefiguras de Maria Santíssima:

a) O paraíso terrestre

Na primeira página da história do género humano, observa um pio Autor (G. Balelli, o. c. pág. 11), encontramos descrita em cores resplendentes a magnificência daquele Éden de delícias em que foram postos nossos progenitores, logo depois de criados por Deus. Naquela morada amena, tudo era ordem e beleza; aos campos ricos de messe, sucediam-se prados verdejantes, bosques frescos e jardins perfumados. Um rio limpidíssimo, dividindo-se em outros rios menores, corria a regar e tornar fecundo o terreno; enquanto no meio do jardim se erguia a árvore majestosa da vida, cujos frutos,
como diz seu próprio nome, tinham a virtude de manter afastada dos homens a morte. Ora, quem não vê nesse Éden um símbolo gentilíssimo de Maria? Não foi Ela, com efeito, um místico jardim, adornado de flores perfumadas, isto é, de santos pensamentos e afectos, e repleto dos frutos das boas obras? Um verdadeiro rio de graças não irrigou sempre sua alma? Não nasceu dela a árvore da verdadeira vida, Jesus?

b) A Arca de Noé

Outro belo símbolo de Maria foi a Arca de Noé. No meio do dilúvio universal, que recobriu toda a terra, semeando mortandade e ruínas, a Arca do grande e fiel Patriarca flutuava segura sobre as ondas, protegida por Deus, salvando do extermínio geral a raça humana. Outro tanto aconteceu no Novo Testamento. No meio do naufrágio universal de todos os homens sob o pecado de Adão, uma só foi a que ficou imune: Maria. Com efeito, enquanto todos os homens são concebidos e nascem na culpa, somente Maria foi concebida e nasceu sem pecado; só Maria permaneceu sempre bela e imaculada,
atraindo sobre si as complacências do Altíssimo. O crescer das águas ao redor da arca simbolizava a plenitude de graças recebida por Maria; o haver-se a arca levantado da terra recorda ao nosso pensamento a imunidade de Maria em face de todo apego à terra e a qualquer amor que não fosse inteiramente puro; o haver a arca chegado a grande altura nos diz que nenhuma criatura se elevou tão alto e alcançou a perfeição que atingiu a Mãe do Criador.

c) A escada de Jacob

Não menos eloquente é o símbolo da escada de Jacob. O santo patriarca Jacob, depois de ter recebido a bênção paterna, temendo a ira de seu irmão Esaú, fugiu para a Mesopotâmia. À noite, cansado da longa e fatigante caminhada, deitou-se sobre a terra nua para tomar um pouco de repouso. No sono, teve um sonho misterioso: pareceu-lhe ver uma longa escada que chegava da terra até o Céu; os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Vários intérpretes vêem nessa escada misteriosa um símbolo expressivo de Maria. Com efeito, não foi a Virgem Santíssima aquela mística escada que uniu o Céu à Terra, o mundo visível ao invisível, as coisas terrestres com as celestes? Não é por Maria, porventura, por esta misteriosa escada, que Deus desceu à terra, para entre os homens e que os homens sobem ao Céu, para Deus?

d) A sarça ardente

Quando Deus escolheu Moisés para libertador de seu povo, fez-lhe ouvir sua voz como vinda de uma sarça que, embora envolta em chamas, não se consumia. Esta sarça que arde e não se consome é um símbolo vivo da virgindade de Maria. Assim o afirma a Igreja no ofício da Senhora: “Na sarça que Moisés viu permanecer incólume no meio das chamas, nós reconhecemos tua admirável virgindade, ó santa Mãe de Deus”.

e) A Vara de Moisés

Símbolo expressivo de Maria foi também a vara com que o mesmo Moisés operou os prodígios mais estupendos. Com efeito, como o condutor do povo eleito operou por meio daquela vara tantos prodígios em favor do povo hebreu e fez brilhar ante os olhos de todos o poder que Deus lhe conferira para exterminar os inimigos de seu povo, assim Aquele que é poderoso operou e opera, continuamente, por meio de Maria, as coisas mais admiráveis em favor do povo cristão, protegendo-o contra todos os seus inimigos espirituais.

f) A Vara de Aarão

Mas também outra vara, a de Aarão, é um belo símbolo de Maria. Com efeito, para demonstrar que Aarão, irmão de Moisés, havia sido escolhido para seu sacerdote, Deus fez florescer a vara que lhe pertencia, de tal modo que, em uma só noite, “rebentaram os botões, nasceram as flores, abriram-se as folhas e formaram-se os frutos” (Num 17, 8).  Do mesmo modo, a Virgem, só pela obra de Deus, germinou “a flor dos campos e o lírio dos vales” (Cant. 2, 1).

g) O velo branco de Gedeão

Símbolo admirável de Maria foi também o velo de Gedeão que, em uma noite, se viu todo coberto de orvalho, enquanto a terra em torno estava enxuta; e, na noite seguinte, ficava enxuto, enquanto uma queda abundante de orvalho banhava todo o terreno circunjacente. Assim canta a Igreja “Desceste (ó Cristo) como a chuva sobre o velo (Maria) para salvar o género humano”.

h) A arca do Testamento

Símbolo de Maria foi, finalmente, a Arca do Testamento, guardada desveladamente pelos hebreus no lugar mais santo do Templo. Nela se conservavam as tábuas da lei e uma medida de maná. Com efeito, não esteve guardado no seio puríssimo da Virgem o próprio Autor da lei, Jesus, Aquele que devia ser preciosíssimo alimento das almas na Sagrada Eucaristia?

i) O Templo de Salomão

Símbolo de Maria foi ainda o Templo de Salomão, do qual disse Deus: “Escolhi e santifiquei este lugar a fim de que traga para sempre meu nome e estejam fitos nele meus olhos e meu coração, em todo o tempo” (II Par 7,16). A qual dos templos elevados por toda a parte à glória do Altíssimo se podem aplicar melhor essas palavras expressivas do que à Mãe de Deus? Não habitou Deus nela de um modo singularíssimo?

Plinio Correa de Oliveira, terciário carmelita

Havia três anos, jazia Israel na mais completa miséria. Tratava-se de um castigo merecido pelo país, por haver admitido o culto de Baal, recusando-se o rei a ouvir a advertência de Elias.

O principal instrumento do flagelo divino era uma inclemente e prolongada seca. Rios e fontes já não dessedentavam homens e animais, nem irrigavam as hortas e os pomares.

Tendo, porém, derrotado os pseudo-profetas do falso deus, e tocado o coração dos israelitas, Elias disse a Acab: “Sobe, come e bebe, pois estou ouvindo o barulho da chuva” (1 Reis, 18, 41). E a Sagrada Escritura narra o que se passou depois: “Enquanto Acab subia para comer e beber, Elias subiu ao cume do Carmelo, prostrou-se em terra e pôs o rosto entre os joelhos. Disse a seu servo: ‘Sobe e olha para o lado do mar’. Ele subiu, olhou e disse: ‘Nada!’ E Elias disse: ‘Retorna sete vezes’.

Na sétima vez, o servo disse: ‘Eis que sobe do mar uma nuvem, pequena como a mão de uma pessoa’.

Então Elias disse: ‘Vá dizer a Acab: prepara o carro e desce, para que a chuva não te detenha’.

Num instante o céu se escureceu com muita nuvem e vento, e caiu uma forte chuva” (1 Reis, 18, 42-44).

Constitui tradição na Igreja considerar que aquela nuvenzinha prefigurou, para Elias, a Virgem que haveria de vir para ser a Mãe do Messias. Assim como Israel perecia à falta de água e sobre ele desceu uma chuva torrencial, assim o mundo antigo, espiritualmente ressequido, seria regado pelas graças que choveriam abundantes a partir da vinda do Divino Salvador.

Esta bela narrativa bíblica vem nos remeter ao próprio cerne da vocação de uma gloriosa família religiosa: a Ordem do Carmo. Nascida da fervorosa devoção do grande Profeta Elias a Nossa Senhora, pode ela remontar sua origem até o Antigo Testamento.

Herdou ela de seu Fundador um rico e variado carisma, no qual se destacam as vertentes contemplativa, profética e mariana.

Ardoroso devoto de Nossa Senhora do Carmo, Dr. Plinio pertenceu à Ordem Terceira carmelitana, sendo assim membro efetivo da ilustre estirpe “eliática”. O acendrado amor que ele dedicou à Mãe de Deus, enquanto padroeira do Carmelo, transbordou em entusiásticas palavras de louvor, sobretudo na proximidade da festa d’Aquela que é aclamada como "Spes omnium carmelitarum", a Esperança de todos os carmelitas, celebrada pela Igreja no dia 16 de Julho.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Igreja católica defendeu os judeus

Apesar da propaganda anti-católica e alguns "historiadores" quererem denegrir a Igreja Católica, levando a suspeita sobre a conivência do Vaticano com o regime Nazi, os que viveram nesta época conturbada, dão o testemunho contrário.

De que valem teorias, contra testemunhas inequívocas? Dizia Voltaire na sua carta a Thiriot: "Menti, menti, ficará sempre alguma coisa (Mentez, mentez, il en restera toujours quelque chose!")...

Embaixador de Israel reconhece ajuda da Igreja a judeus

“Não é verdade que a Igreja e o Papa se opuseram a salvar os judeus"
ROMA, quinta-feira, 23 de junho de 2011 (ZENIT.org) - “Seria um erro declarar que a Igreja Católica, o Vaticano e o próprio Papa se opuseram às ações dirigidas a salvar os judeus”, afirmou hoje o embaixador de Israel junto à Santa Sé, Mordechay Lewy, por ocasião da entrega da medalha de “Justo entre as Nações” à memória do sacerdote orionita Gaetano Piccinini, no Centro Dom Orione de Roma.
Durante a 2ª Guerra Mundial, sobretudo durante a ocupação nazista de Roma, Piccinini, agindo com a ajuda da rede de casas da Pequena Obra da Divina Providência de Dom Orione, conseguiu salvar muitos judeus, entre eles os componentes da família de Bruno Camerini, quem pediu oficialmente a condecoração.
“A partir da redada no gueto de Roma, em 16 de outubro de 1943 – afirmou Lewy – e nos dias seguintes, mosteiros e orfanatos mantidos por ordens religiosas abriram as portas aos judeus e temos motivos para pensar que isso aconteceu sob a supervisão dos mais altos expoentes do Vaticano, que estavam, portanto, informados sobre estes gestos.”
Não somente não é verdade que a Igreja Católica e suas instituições se opuseram à salvação dos judeus, senão que “o certo é exatamente o contrário: prestaram ajuda sempre que puderam”.
“O fato de que o Vaticano – acrescentou o embaixador – não tenha podido evitar a partida do trem que levou ao campo de extermínio, durante os três dias transcorridos desde a redada de 16 de outubro até o dia 18, só pode ter aumentado a vontade, por parte vaticana, de oferecer seus próprios locais como refúgio para os judeus.”
Para Lewy, é verdade que “os judeus romanos tiveram uma reação traumática”. Estes, de fato, “viam na pessoa do Papa uma espécie de protetor e esperavam que ele os salvasse e evitasse o pior”.
“Todos nós sabemos o que aconteceu, mas devemos reconhecer que o trem que partiu em 18 de outubro de 1943 foi o único que os nazistas conseguiram organizar de Roma a Auschwitz.”
À pergunta de ZENIT sobre se estas considerações oferecem um olhar diferente sobre as polêmicas que se referem à figura do Papa Pio XII e à iniciativa da sua beatificação, Lewy respondeu: “O judaísmo não é monolítico e há opiniões diferentes no âmbito histórico”.
Sem entrar na questão da beatificação, que pertence à Igreja Católica, “o que nós sabemos não nos permite dizer que tudo foi branco ou preto, mas se equivoca quem nega que o Vaticano, o Papa e as instituições católicas tenham agido para salvar os judeus”.
Talvez possam surgir novos elementos com a abertura dos arquivos vaticanos, “mas não se pode esperar a verdade completa, porque, em tempos tão duros, muitas coisas não podiam sequer ser escritas”.
“Minha opinião pessoal – concluiu o embaixador – é que a verdade daquela época trágica, em sua totalidade, está oculta e assim permanecerá.”

domingo, 15 de maio de 2011

Alguns episódios da vida de Santo Antonino

Um dia, um jovem de dezasseis anos, António di Ser Nicolò Pierozzi Forciglioni, apresentava-se no convento de Fiesole, e pedia-lhe que lhe dessem o hábito dominicano. Vendo-o, porém, tão infante, e no intuito de, sem ofensa, desembaraçar-se daquela súplica, foi informado de que, para ser admitido na Ordem, era preciso saber de cor todo o Livro de Decretos. Sabia-o António de Ser Nicoló? Pois, quando o soubesse, voltasse a procurá-los....

Ora, não havia decorrido um ano, e eis que se apresenta pela segunda vez António Forciglioni, e, com certo garbo, declara saber na ponta da língua todos as leis canónicas incluídas nos Livros dos Decretos ! O mestre de noviços, Frei Dominici pode examiná-lo. O jovem nada receia. Frei Dominici, de facto, submete-o a um exame rigoroso, e verdadeiramente maravilhado com o talento precoce daquele menino prodígio (que não era outro senão o futuro santo Antonino), abre-lhe alegremente as portas do convento e dá-lhe, conforme prometido, a vestidura dominicana.

Feito em Cortona o noviciado e depois a profissão, tornou Santo Antonino a Fiesole, onde permaneceu alguns anos, vivendo sempre na mais perfeita austeridade, usando cilícios, disciplinando-se até ao sangue, dormindo sobre troncos de árvores, não comendo carne, não bebendo vinho...

Espalhou-se com a rapidez da luz a fama de santidade do ilustre dominicano: não era unicamente a sua enorme sabedoria, a sua vastíssima cultura, o seu talento singular que o faziam objecto da universal admiração; era, outrossim, o seu espírito de penitência, a sua humildade, a sua modéstia.

Quando prior do convento de S. Marco, não obstante ser o chefe de todos os religiosos, tomava a seu cargo os mais rudes misteres. Era ele quem varria o claustro e o refeitório e se ocupava do despejo do lixo. Mas ao mesmo tempo, zelosíssimo na observância dos seus deveres, nunca faltava ao coro, onde chegava antes de todos e depois de todos saía, era um confessor que remia inúmeros pecados com a virtude da sua palavra.
Os cidadãos florentinos recorriam à sua clemência quando alguma catástrofe lhes causava terror: este para que lhe salvasse o filho, desenganado pelos médicos, aqueles para que contivessem as iras do temporal, os trovões e as chuvas que tinham em sobressalto o Priorato de Baroncelli... E a tudo Santo Antonino acedia, com aquele satisfeito sorrir que mostrava os tranquilos gozos da sua alma!

Refere o reverendo Giuseppe Maria Brocchi, falecido reitor do Seminário de Florença, que indo uma vez Santo Antonino a caminho desta cidade, topou com uma menina toda banhada em prantos porque lhe caira das mãos e se fizera em pedaços uma jarra de louça que devia atestar de perfumantes rosas. Não ousava a pobre regressar a casa, temendo as iras paternas e os funestos efeitos do prejuízo causado.

Comovendo-se por aquelas lágrimas infantis, tomou Santo Antonino em suas mãos os fragmentos da jarra que estavam dispersos no chão, fez sobre eles o sinal da cruz, e restituiu o objecto à menina tão exactamente recomposto, que ninguém fora capaz de descobrir os lugares por onde se fendera.

Empossado do cargo de arcebispo no mosteiro de S. Gallo, entrou solenemente em Florença, indo a pé descalço até à Catedral, sob os olhos perplexos do povo que, em altas vozes, agradecia a Deus o ter-lhe dado tão piedoso e maravilhoso pastor de almas.

De uma feita, havendo-se escurecido os ares e aproximando-se um fortíssimo temporal, exclamou distraidamente: “che tempaccio!”; mas logo advertindo-se do desprimor daquelas palavras, foi tal o seu arrependimento que resolveu castigar-se pelas suas próprias mãos, entendendo que os bons exemplos devem ser dados pelos que ocupam as maiores dignidades eclesiásticas.

Cingiu-se, pois, com um cinto de ferro, fechando-o com um cadeado cuja chave arrojou ao rio Arno, decidido a manter aquela dura penitência até ao extremo da vida. Mas Deus, considerando que a pena era demasiada para a culpa, serviu-se dar-lhe, poucos dias depois, o anúncio do seu perdão. E foi assim que, ao receber Santo Antonino um belo peixe com que os seus devotos o regalavam, émulo daquele santo peixe de Tobias, tão celebrado na Escritura, eis que, ao serem-lhe abertas as entranhas, apareceu à vista de todos a chave do cinto de ferro! Então o bom arcebispo, compreendendo a ordem divina, pôs fim à dura penitência.

Durante o seu arcebispado abençoou numerosos sinos de Igreja, como os do Priorato de Santa Maria, em Villamagni, os da torre de Monticelli, a cujo tanger muitas vezes se aclamavam as tempestades, de modo que os povos desses sítios ainda hoje consagram a santo Antonino gratíssima veneração.

Fundou numerosas irmandades para o ensino da doutrina cristã, hospitais para abrigo dos peregrinos, e grande cópia de mosteiros e lugares pios para a reforma de pessoas religiosas e sustento da pobreza envergonhada.

Muitos litígios, assim entre cidadãos de Florença como entre bispos e prelados de outras províncias, eram submetidos ao seu arbitramento, em virtude da estima que inspirava a sua prudência, a sua doutrina e a sua justiça. A Santa Sé não dava curso aos apelos das decisões proferidas pelo arcebispo, a ponto de manifestar o Papa Nicolau V que muito útil seria à jurisprudência eclesiástica o registrar-se num livro especial todas as sentenças daquele doutíssimo padre. E acrescentava o Pontífice que não hesitaria em canonizá-lo, vivo, como havia canonizado São Bernardino, morto.

Foi secretário do conclave que elegeu Nicolau V e obteve cinco votos para o Papado.

Havendo-lhe um rico senhor de Florença pedido que excomungasse um negociante da mesma cidade que lhe devia uma certa soma de dinheiro (conforme era o costume da época), manifestou-lhe brandamente santo Antonino que por causar a excomunhão grande dano a quem a recebia, não lhe era aprazível cumprir o seu desejo. E para demostrar o que afirmava, proferiu a fórmula condenatória sobre um pão branquíssimo e tépido, o qual no mesmo instante se tornou negro como carvão!

“É desta mesma cor” – declarou Santo Antonino,  - “que fica a alma do excomungado”. E benzendo sem demora o mesmo pão, voltou este à sua alvura primitiva. Admirado com semelhante prodígio, espalhou-o o credor por toda a parte, contribuindo tal facto para o desaparecimento daquela terrível pena contra os maus pagadores.

Tinha o dom celestial do vaticínio. Via o futuro, as coisas distantes e as ocultas, isto é, os segredos do coração. E ao mesmo tempo escrevia sapientíssimos livros sobre Teologia, o que fez o Papa Adriano VI conferir-lhe o título de Doutor, na bula da sua canonização.

Rodeado dos seus religiosos dominicanos, que rezavam com ele o salmo “Miserere”, morreu beijando o Crucifixo, depois de recebida a Extrema Unção, em S. Gallo, perto de Florença, no dia 2 de Maio de 1459.

Dos seus conventos de Santa Maria Madalena, no Cistello, e de S. Domingos, em Ascoli, os frades Tuccio e Costanzo da Fabriano, viram-no subir ao Céu, no próprio dia da sua morte, como um vulto de fogo, e uma devota dominicana afirma tê-lo enxergado, numa visão, ao lado de Santo Tomás de Aquino.

Sepultado na igreja de S. Marcos, à esquerda da sala do coro, cento e trinta anos depois da sua morte, os mui ilustres senhores António e Averardo di Salviati construiram uma riquíssima capela na mesma Igreja, para onde, a 9 de Maio de 1589, o Cardeal Alexandre de Medicis, Arcebispo de Florença e futuro Leão XI, fez trasladar o seu corpo, em solene cortejo, no qual figuravam todos os príncipes, cardeais e prelados que haviam ido àquela cidade assistir aos esponsais de Fernando I; grão-duque da Toscana, com a sereníssima infanta Dona Cristina de Lorena.

E assim viveu e morreu um amigo de Fra Angélico, o douto e milagroso  Santo Antonino, que na galeria dos santos da nossa Igreja é uma das figuras mais dignas de reverência, pelo fervor e zelo da fé que lhe ardia no peito, pelas virtudes que louvou e os vícios que repreendeu.

sábado, 14 de maio de 2011

Fra Angélico, teologia em cores e imagens

O saber era o fundamento da Ordem Dominicana e todos os seus conventos deviam ser considerados estabelecimentos de instrução. A ciência era o pão nosso de cada dia dos Frades Pregadores. Dizia São Bernardo que, entre os homens instruidos, há os que querem saber para saber, os que querem saber para vender a sua ciência, e os que querem saber para ensinar aos outros; e que esta última forma de saber é honra e caridade.

Fazia parte do programa dominicano estudar para saber, e saber para ensinar. Fra Angélico ensinava pintando. Os seus quadros, à parte a unção religiosa que desprendem, são verdadeiras lições de teologia traduzidas em cores e imagens, mas da teologia de São Tomás de Aquino, que ele tratava de espalhar e difundir, de acordo com o espírito da Ordem e com a bula do Papa Urbano V, datada de 1369, na qual este Pontífice mandou respeitar e divulgar como verdadeiramente católica a doutrina do grande Santo.

Fra Angélico, apóstolo da arte cristã, casto de corpo e de espírito, genial na pintura e puríssimo na sua vida humana, indiferente à glória, às honras e às riquezas, que não invejava a fortuna alheia, que não sabia o que eram nem o interesse nem a cobiça, estava, como nenhum outro, à altura de cumprir a sublime missão de um artista cristão, que era de reproduzir os milagres operados em virtude e por virtude da fé, escrever a cores as páginas que o lherosimo, a agonia e o amor escreveram; pedir à linha, aos matizes, ao claro-escuro, que falem uma linguagem que só a alma compreenda. E, de facto, ele escreveu a cores toda a história religiosa do mundo, perpetuou na tela as cenas da Bíblia, deu forma tangível aos Anjos do Paraíso, foi o pintor da Fé, da Esperança e da Caridade!

Todas as tardes, à hora do Angelus ou Ave-Marias, postava-se à porta do Convento e ali esperava o cortejo dos mendigos do bairro, aos quais oferecia uma sopa, um óbulo, um vestido, acompanhando a dádiva de palavras afectuosas. E ao vê-los tão de perto, emagrecidos pela miséria, mas esclarecidos pela fé, Angélico retinha nos olhos as curvas dos corpos e a expressão dos semblantes dessa indigente multidão, para as reproduzir mais tarde naqueles quadros da Capela Nicolina, em que Santo Estêvão e São Lourenço fazem prédicas ao povo e distribuem esmolas aos pobres de Cristo.
A Capella Nicolina foi o último labor artístico de Angélico. Sentindo que a idade e o cansaço físico já não animavam para novas empresas, arrecadou conscienciosamente a paleta e o ponciel, contentando-se de remirar-se nas obras dos discípulos que amorosamente lhe alegravam os ócios da velhice. Foi grande até ao derradeiro dia; até à hora da morte foi o pintor famoso “ultra alios pictores italicos”.
No dia 18 de Março de 1455, aos 68 anos de idade, totalmente consagrados à arte e à religião, no convento dominicano de Santa Maria de Minerva, onde viveu os últimos oito anos da sua bem-aventurada existência, Fra Giovanni Angélico de Fiesole pediu a Unção dos Enfermos e expirou no Senhor.
A sua morte foi semelhante à sua vida: uma apoteose de sobrenatural formosura. Os frades não eram os únicos que assistiam o moribundo: certamente, em honra do  famosíssimo pintor, ali estavam também os Anjos dos seus quadros e dos seus painéis.
Luis Guimarães Filho, Fra Angelico, Ed. Vozes 

São Francisco de Assis por Tommaso de Celano

Doce nos costumes, de natureza plácida, afável na conversa, comodíssimo na exortação, fidelíssímo aos compromissos, próvido nos conselhos, eficaz nos negócios, gracioso em tudo, mente serena, ânimo doce, espírito sóbrio, suspenso na contemplação, assíduo na oração, e em tudo fervente. Constante no própósito, estável na virtude, perseverante na graça, e em tudo o mesmo. Veloz em perdoar, tardo a irar-se engenho livre, memória brilhante, subtil na dissertação, virtude estável, perseverante na graça, e simples em tudo. Rígido para consigo, pio para com os outros, discreto em tudo. Homem jucundíssimo, rosto alegre, vulto benigno, imunde de vileza, livre de insolência. Santo entre os santos, entre os pecadores como um deles. 
(Tommaso de Celano, tradução Luis Guimarães Filho, Fra Angélico, Ed Vozes, p.61)

Como era o noviciado dominicano no século XV?

Às duas horas da manhã, na melhor ocasião do sono, batia à porta da cela do noviço um vulto vestido de branco, murmurando com voz suave: “Benedicamus Domino! (Bendigamos o Senhor)”. Era o despertar das Matinas. Levantava-se, respondendo: “Deo Gratias! (Graças a Deus)”, e, rezando o “De Profundis”, encaminhava-se para a Igreja, onde o coro dos frades, ao qual a voz do novo discípulo de São Domingos se unia, já começara a entoar o “Aperi Domine os meus” (abri, Senhor, os meus lábios...).

E todos os dias, desde o princípio ao cabo do ano, cumpria-se os ditames do noviciado. Às três horas da manhã, depois de rezadas as Matinas, devia-se recolher ao leito mesquinho e duro; às cinco horas, novo despertar; às cinco e três quartos, a Prima e a meditação; às sete horas, a missa cantada e o pequeno almoço; às oito horas, a meditação no isolamento da cela: às oito e meia, a leitura do Evangelho; às nove horas, oratório do noviciado; às nove e meia, o estudo das Constituições, das Rubricas e do Latim; às dez e meia, conferência espiritual do padre mestre; às onze horas, nova meditação na cela; às onze e meia o coro; ao meio dia, o almoço e o recreio.

Encaminham-se os noviços em duas filas para o refeitório, e antes de, em uníssono, recitarem o “De Profundis”, deve, cada qual, com certa gravidade religiosa, lavar as mãos no atrium. Acercando-se da mesa, o prior toma assento debaixo de um Crucifixo, e, ao toque de uma sineta, convida os Irmãos. Adiantam-se estes, processionalmente, inclinam-se perante a Cruz e colocam-se defronte das mesas. “Benediticite”, exclama um dos noviços, e o chantre director do coro responde: “Senhor! Os olhos dos teus filhos voltam-se para ti, cheios de esperança!”

Antes de provar a magra comida, escutam os Irmãos o canto de qualquer versículo da Bíblia que é o alimento do seu espírito. O noviço comerá com os olhos baixos, ouvindo no mais imperturbável silêncio a leitura feita do púlpito, até que o prior a dê por terminada.

Finda a refeição, os irmãos-conversos recolhem as migalhas, em homenagem ao milagre de São Domingos, a quem dois Anjos apareceram distribuindo pão aos frades, uma vez em que, no convento de Santa Sabina de Roma, o grande patriarca se sentara com eles à mesa sem nada ter para lhes dar.

Após o recreio, vai o noviço à uma e meia da tarde recitar as Vésperas no coro; à uma e quarenta e cinco, isola-se no seu quarto para meditar; às três horas, novo oratório do noviciado, Vésperas e Completas do Ofício da Virgem e pintura; às quatro e quarenta e cinco, leitura de vidas de santos; às seis horas, Matinas e Laudes à Virgem; às seis e quinze, exercícios espirituais; às seis e quarenta e cinco, recitação do rosário em coro; às sete horas jantar e recreio, às oito horas canto das Completas e recolhimento às celas.

Mas, não bastava cumprir os horários, estar sempre de olhos baixos, recitar uma longa série de salmos, não faltar aos cantos do coro, observar o silêncio, viver em paz com a Comunidade, isolar-se na cela, castigar o corpo, jejuar com frequência, evitar o comércio social com o resto do mundo, satisfazer todos os exercícios da vida do asceta. "Só se pode dar um atestado de perfeito noviço àquele que obedecer de um modo absoluto e conformemente a todas as regras, à legítima vontade dos seus superiores".
Que diferença dos nossos dias...!!!!

(Luis Guimarães Filho, Fra Angélico, Ed. Vozes, pg 51-53; 54) 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Aprender a rezar com autenticidade - exemplos históricos

O Papa Bento XVI, na audiência geral de quarta-feira, 4 de Maio de 2011, ensinou o que é a oração e como os homens em todas as épocas rezaram, elevando a Deus os seus corações, aprenderam a viver mais intensamente o relacionamento com o Senhor.

"De facto, até as pessoas mais adiantadas na vida espiritual sentem necessidade incessante de voltar à escola de Jesus. Na verdade, é em Jesus que o ser humano se torna capaz de abeirar-se de Deus com a profundidade e a intimidade próprias duma relação entre pai e filho. Nesta relação, encontra a sua forma perfeita e definitiva o desejo de Deus inscrito no coração de cada homem e mulher. Dão testemunho deste desejo universal as variadas orações presentes nas antigas culturas do Egipto, Mesopotamia Grécia e Roma. Nestes exemplos de oração, ressalta a consciência que o ser humano tem da sua condição de criatura e da sua dependência de Outrem que está acima dele e é a fonte de todo o seu bem.

Queridos irmãos e irmãs:

"Hoje eu gostaria de iniciar uma nova série de catequeses. Após as catequeses sobre os Padres da Igreja, sobre os grandes teólogos da Idade Média, sobre as grandes mulheres, eu gostaria de escolher agora um tema muito importante para todos nós: o da oração, de maneira específica a cristã, isto é, a oração que Jesus nos ensinou e que a Igreja continua nos ensinando. É em Jesus, de fato, em quem o homem se capacita para se aproximar de Deus, com a profundidade e a intimidade da relação de paternidade e de filiação. Junto aos primeiros discípulos, com humilde confiança, nós nos dirigimos agora ao Mestre e lhe pedimos: "Senhor, ensina-nos a orar" (Lucas 11, 1).

"Nas próximas catequeses, aproximando-nos da Sagrada Escritura, da grande tradição dos Padres da Igreja, dos mestres de espiritualidade, da liturgia, queremos aprender a viver ainda mais intensamente nossa relação com o Senhor, quase uma "Escola de Oração". Sabemos bem que, de fato, a oração não se dá por garantida: é necessário aprender a rezar, quase adquirindo novamente esta arte; inclusive os que estão muito avançados na vida espiritual sentem sempre a necessidade de entrar na escola de Jesus para aprender a rezar com autenticidade. Recebemos a primeira aula do Senhor através do seu exemplo. Os Evangelhos descrevem Jesus em diálogo íntimo e constante com o Pai: é uma comunhão profunda, daquele que veio ao mundo não para fazer a sua vontade, mas a do Pai, que o enviou para a salvação do homem.

"Nesta primeira catequese, como introdução, eu gostaria de propor alguns exemplos de oração presentes nas culturas antigas, para revelar como, praticamente sempre e em todos os lugares, os homens se dirigiram a Deus.

"No Antigo Egipto, por exemplo, um homem cego, pedindo à divindade que lhe restituísse a vista, demonstra algo universalmente humano, como a pura e simples oração de petição de quem se encontra no sofrimento. Este homem reza: "Meu coração deseja ver-te... Tu, que me fizeste ver as trevas, cria a luz para mim. Que eu te veja! Inclina a mim teu rosto amado" (A. Barucq - F. Daumas, Hymnes et prières de l'Egypte ancienne, Paris 1980, trad. it. en Preghiere dell'umanità, Brescia 1993, p. 30).

"Nas religiões da Mesopotamia, dominava um sentimento de culpa arcano e paralisador, não carente de esperança da redenção e libertação por parte de Deus.

"Podemos apreciar assim esta súplica por parte de um crente daqueles antigos cultos: "Ó Deus, que és indulgente inclusive com as culpas mais graves, absolve o meu pecado... Olha, Senhor, teu servo esgotado e sopra a tua brisa sobre ele: perdoa-o sem demora. Levanta teu severo castigo. Dissolvidos estes laços, permite que eu volte a respirar; rompe as minhas correntes, liberta-me das minhas ataduras" (M.-J. Seux, Hymnes et prières aux Dieux de Babylone et d'Assyrie, Paris 1976, trad. it. in Preghiere dell'umanità, op. cit., p. 37). São expressões que demonstram como o homem, em sua busca de Deus, intuiu, ainda que confusamente, por um lado a sua culpa, mas também aspectos de misericórdia e de bondade divinas.

"Dentro da religião pagã da Grécia Antiga, assiste-se a uma evolução muito significava: as orações, ainda que continuem invocando ajuda divina para obter o favor celestial em todas as circunstâncias da vida quotidiana e para conseguir benefícios materiais, dirigem-se progressivamente a petições mais desinteressadas, que permitem ao homem crente aprofundar em sua relação com Deus e melhorar. Por exemplo, o grande filósofo Platão relata uma oração do seu mestre Sócrates, considerado justamente um dos fundadores do pensamento ocidental. Sócrates orava assim: "Fazei que eu seja belo por dentro. Que eu considere rico quem é sábio e que possua de dinheiro somente aquilo que o sábio possa tomar e levar. Não peço mais" (Obras I. Fedro 279c, trad. it. P. Pucci, Bari 1966). Ele queria ser sobretudo belo por dentro e sábio, não rico em dinheiro.

"Naquelas obras-primas da literatura de todos os tempos, as tragédias gregas, ainda hoje, depois de vinte e cinco séculos, lidas, meditadas e representadas, há orações que expressam o desejo de conhecer a Deus e de adorar sua majestade. Uma delas diz assim: "Sustento da terra, que sobre a terra tens a tua sede, sejas quem for, é difícil de saber, Zeus, seja a tua lei por natureza ou por pensamento dos mortais, a ti me dirijo: já que tu, procedendo por caminhos silenciosos, guias as vicissitudes humanas segundo a justiça" (Eurípides, Troiane, 884-886, trad. it. G. Mancini, en Preghiere dell'umanità, op. Cit., p. 54). Deus continua sendo um pouco nebuloso e, no entanto, o homem conhece esse Deus desconhecido e reza Àquele que guia os caminhos da terra.

"Também para os romanos, que constituíram aquele grande império no qual nasceu e se difundiu, em grande parte, o cristianismo das origens, a oração, ainda que se associasse a uma concepção utilitarista e fundamentalmente ligada à petição da protecção divina sobre a comunidade civil, abre-se, às vezes, a invocações admiráveis pelo fervor da piedade pessoal que se transforma em louvor e agradecimento. Disso é testemunha um autor da África romana do século II d.C., Apuleio. Em seus escritos, ele manifesta a insatisfação dos seus contemporâneos com relação à religião tradicional e o desejo de uma relação mais autêntica com Deus. Em sua obra-prima, intitulada "As metamorfoses", um crente se dirige a uma divindade feminina com estas palavras: "Tu és santa, tu és em todo tempo salvadora da espécie humana; tu, em tua generosidade, ofereces sempre auxílio aos mortais; tu ofereces aos miseráveis em aperto, o doce afeto de uma mãe. Nem dia nem noite, nem momento algum, por mais breve que seja, passa sem que tu o cumules dos teus benefícios" (Apuleio de Madaura, Metamorfosis IX, 25, trad. it. C. Annaratone, en Preghiere dell'umanità, op. cit., p. 79).

"No mesmo período, o imperador Marco Aurélio - que também era um filósofo que pensava na condição humana - afirma a necessidade de rezar para estabelecer uma cooperação frutífera entre acção divina e ação humana. Ele escreve em suas "Lembranças": "Quem te disse que os deuses não nos ajudam também no que depende de nós? Começa a rezar-lhes e verás" (Dictionnaire de Spiritualitè XII/2, col. 2213). Este conselho do imperador filósofo foi, efectivamente, colocado em prática por inúmeras gerações de homens antes de Cristo, demonstrando que a vida humana sem a oração, que abre nossa existência ao mistério de Deus, fica sem sentido e privada de referências. Em toda oração, de fato, expressa-se sempre a verdade da criatura humana, que experimenta, por um lado, fraqueza e indigência e, por isso, pede ajuda ao céu; e por outro, está dotada de uma dignidade extraordinária, porque se prepara para acolher a revelação divina, descobre-se capaz de entrar em comunhão com Deus.

"Queridos amigos, nestes exemplos de oração das diversas épocas e civilizações, surge a consciência do ser humano de sua condição de criatura e de dependência de Outro, que é superior a ele e fonte de todo bem. O homem de todos os tempos reza porque não pode fazer outra coisa a não ser perguntar-se qual é o sentido da sua existência, que permanece escuro e desconcertante quando não é colocado em relação com o mistério de Deus e do seu projecto sobre o mundo. A vida humana é uma mistura do bem e do mal, de sofrimento imerecido e de alegria e beleza, que, espontânea e irresistivelmente, nos conduz a pedir a Deus a luz e a força interior que nos socorra na terra e se abra a uma esperança que vai além dos confins da morte. As religiões pagãs continuam sendo uma invocação que da terra espera uma palavra do Céu. Um dos últimos grandes filósofos pagãos, que viveu já em plena época cristã, Proclo de Constantinopla, dá voz a esta espera, dizendo: "Insondável, ninguém te contém. Tudo que pensamos te pertence. São teus nossos males e nossos bens; de ti cada hálito nosso depende, ó Inefável, que nossas almas sentem presente, elevando-te um hino de silêncio" (Hymni, ed. E. Vogt, Wiesbaden 1957, en Preghiere dell'umanità, op. cit., p. 61).

"Nos exemplos de oração das diversas culturas que consideramos, podemos ver um testemunho da dimensão religiosa e do desejo de Deus inscrito no coração de todos os homens, que se realiza completamente e chega à sua plena expressão no Antigo e Novo Testamentos. A Revelação, de fato, purifica e leva à sua plenitude o original anseio do homem de Deus, oferecendo-lhe, na oração, a possibilidade de uma relação mais profunda com o Pai celeste.

"No início do nosso caminho na Escola de Oração, queremos agora pedir ao Senhor que ilumine nossa mente e nosso coração, para que a relação com Ele, na oração, seja sempre mais intensa, com carinho constante. E novamente lhe pedimos: "Senhor, ensina-nos a orar" (Lucas 11,1).”

[Tradução: Aline Banchieri.

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