Visualizações de página na última semana

domingo, 8 de maio de 2011

A mediocridade e o egocentrismo na história de Eça de Queiroz sobre o pé da Luisa Carneiro


Em 1907, Eça de Queirós publicou o livro "Cartas Familiares e Bilhetes de Paris". Nele encontramos a narrativa da indeferença diante de grandes hecatombes ocorridas no Oriente, de tragédias menores na Europa e da importância dada a um incidente, ocorrido com uma senhora conhecida, a Luísa Carneiro, que torceu um pé. Ao comentar o texto, o Professor Plinio Corrêa de Oliveira, numa reunião do dia 27 de agosto de 1971, aplica a história para os nossos dias e adverte para o perigo de sermos mediocres e egocentricos, interessando-nos apenas pelas nossos afazeres e pela nossa vida.

Mas eu não sei, meus amigos, se estas desgraças realmente vos interessam, vos comovem – porque a distância actua sobre a emoção exactamente como actua sobre o som. A mesma dura lei física rege desgraçadamente a acústica e a sensibilidade. É sempre em ambas o idêntico e tão racional princípio das ondulações, que vão decrescendo à maneira que se afastam do seu centro, até que docemente se mobilizam e morrem: se elas traziam um som que vinha vibrando – o som cala quando elas param: se traziam um terror que vinha tremendo – o terror finda quando elas findam.

Bruscas, grossas, frementes, rápidas em torno ao choque que as produziu, essas ondulações não são mais, nos horizontes remotos, do que um vago, quase liso arfar, que mal se diferença da inércia. Senão vede! Em Pequim, subitamente, uma tarde, ribomba um pavoroso trovão – e ao mesmo tempo pega fogo na vistosa cabaia de um mandarim muito ilustre, que morre queimado. Por todo Pequim a impressão é tremenda. Até o imperador, filho do Sol, nos seus grandes jardins, estremeceu, aterrado com aquele imprevisto troar de um céu puro: e nas vielas mais sórdidas os coolies mais piolhentos interromperam um momento o seu negro trabalho para lamentar com exclamações o mandarim muito ilustre. Mas aí está! A vinte ou trinta léguas de Pequim o terrifico trovão foi apenas um rumor que se confundiu com o rolar das carroças nas lajes – e, quando se contou nas lojas loquazes dos barbeiros o desastre do mandarim em chamas, só algum nédio funcionário, com sabão na bochecha, murmurou oficialmente algum «ah!» desinteressado e mole...

É que o som do trovão e a emoção do desastre vieram trazidos por ondulações, que, a trinta léguas de Pequim, seu centro vivo, já se alisavam, imobilizavam, morriam.

E quando aqui na Europa, de manhã, sabemos pelo telégrafo bisbilhoteiro do mandarim e do trovão, nem o nosso ouvido sente o mais ténue som, nem o nosso coração a mais ténue piedade.

Não ondularam até nós as ondulações acústicas e emotivas. E é com absoluta placidez que murmuramos: «Houve em Pequim um grande trovão; e – tem graça! – ardeu um mandarim!»

Mas então essa confraternidade humana – pela sublime força da qual nada do que é humano deve ser alheio ao homem? Não existe? Oh, certamente – mas para todo o homem, mesmo o mais culto, a humanidade consiste essencialmente naquela porção de homens que residem no seu bairro. Todos os outros restantes, à maneira que se afastam desse centro privilegiado, se vão gradualmente desarmonizando em relação ao seu sentimento, de sorte que os mais remotos já quase os não distinguem da Natureza inanimada. Quando qualquer de nós, no seu quieto e salubre bairro, ouve contar que uma furiosa peste matou trinta mil patagónios, fica exactamente penetrado daquela quantidade de compaixão que o invadiria ao saber que um furacão derrubara trinta mil árvores de um bosque. E de um bosque muito longínquo, de uma região muito desconhecida! Porque se as árvores destruídas fossem as do nosso doce Bosque de Bolonha, que nós amamos, tão ornadas e verdes em Maio, tão puramente vestidas de branca neve quando o Inverno se faz elegante e fino – a nossa mágoa teria uma intensidade infinitamente mais viva do que com a aniquilação desses vastos milhares de patagónios.

E esta estreiteza da emoção deriva de leis tão fatais que não se dá somente nas almas de caridade estreita – mas ainda nas mais ternas e nas mais largas, naquelas que parecem abrigar na sua amplidão do padecer humano... O bom senhor S. Vicente de Paulo, a quem o encontro de uma criancinha tremendo de frio ao canto de uma rua arrancava prantos desolados, que corriam enquanto ele corria com a criancinha sofregamente apertada nos seus braços, só teria um pálido e resignado suspiro quando ouvisse que, também na Tartária, em outras vielas regeladas, outras criancinhas tiritavam e choravam – se é que a homem tão ocupado com as misérias de França restava tempo para suspirar com as misérias da Tartária.

E até talvez o muito divino S. Francisco, o adorável pobrezinho de Assis, irmão de todos os seres e para quem os próprios passarinhos das veigas de Itália eram irmãos muito queridos, não sentisse a sua costumada ternura, tão alvoroçada e activa, pelos pobres da Noruega, e não se reconhecesse inteiramente irmão dos pardaizinhos da Finlândia!

A superior sapiência das nações já formulou esta lei naquele seu fino adágio: «O coração não sente o que os olhos não vêem.» Para chorar é necessário ver. A mais pequenina dor que diante de nós se produza e diante de nós gema, põe na nossa alma uma comiseração e na nossa carne um arrepio, que lhe não dariam as mais pavorosas catástrofes passadas longe, noutro tempo ou sob outros céus. Um homem caído a um poço na minha rua mais ansiadamente me sobressalta que cem mineiros sepultados numa mina da Sibéria – e um carro esmagando a pata de um cão, em frente à nossa janela, é um caso infinitamente mais aflitivo do que a heróica e adorável Joana d’Arc queimada na praça de Ruão!

A distância e o tempo fazem das mais grossas tragédias ligeiras notícias – onde nenhum espírito são, bem equilibrado, encontra motivo de angústia ou pranto. Hoje certamente ninguém, a não ser algum velho e alto dignitário da Igreja ou do Estado, assistiria, com os olhos secos e o coração quieto, ao suplício de Joana d’Arc – mas nenhum fisiologista garantiria a sanidade intelectual de um sujeito que, na solidão da sua alcova, com as janelas cerradas, se desfizesse em lágrimas por os Ingleses terem outrora supliciado Joana d’Arc.

No entanto, vós observais, amigos, que já repetidamente chorastes (porque sois bons) com dores humanas, não somente sucedidas longe do vosso bairro, mas fora do vosso século; e algum mesmo me mostrará, como emblema irrecusável da confraternidade humana, o lenço sentidamente humedecido na véspera ao escutar os adeuses de Luís XVI aos filhos na prisão do Templo, ou mesmo a antiga Inês de Castro balbuciando as suas súplicas aos pés do antigo Afonso IV!

Decerto! E mesmo já muitas vezes tereis sufocado generosos soluços com misérias e tormentos de criaturas que só viveram no mundo aéreo da imaginação e do sonho. Mas quando, onde foi que assim vos comovestes, tão humanamente? Quando? Onde? No teatro, ou nas páginas de um romance, ou mesmo através dos sinceros versos de um poema, quando a arte, encarnando os seres dolorosos que concebeu ou ressuscitando com flagrante e magnífica realidade as figuras mortas da história, torna durante um momento essas criaturas, não somente vossas contemporâneas, mas vossas vizinhas, moradoras no bairro em que morais, respiradoras do ar que respirais, e pertencentes portanto àquela porção de humanidade próxima e tangível, cujas dores se partilham, porque confinam com as nossas... E depois, tal sujeito – que choramingou, no fundo do seu camarote, assistindo à morte da Dama das Camélias, morta pela milésima vez, na sua alcova de lona e papelão – recolherá a casa e lerá no jornal, com absoluta indiferença, mastigando a torrada, que duzentas mulheres, com os filhinhos nos braços, morreram afogadas num naufrágio, longe, nos mares da Indochina! Sim, amigos, essas duzentas mães afogadas nas vagas indochinesas certamente vos serão estranhas, e como não existentes! Se elas tivessem naufragado nos mares dos Açores, já sem dúvida tão patética nova vos arrancaria algum vago murmúrio de simpatia. Mas se elas houvessem perecido, elas e os pobres filhinhos, na baía do Rio de Janeiro, que incomparável catástrofe – e como vós correríeis pelas ruas, pálidos cheios de espanto!

Que digo eu? Para vos comover nem seriam necessárias duzentas desgraçadas – bastaria que naufragassem duas, se vós as conhecêsseis de nome e de rosto! Porque, segundo a cruel lei física que regula os fenómenos da emoção – um empregado da Alfândega que caiu de um barco e desapareceu na baía do Rio de Janeiro vale, para o habitante do Rio, mil pescadores despedaçados sobre os rochedos nas costas da Islândia!

Ah, esta abominável influência da distância sobre o nosso imperfeito coração!

Bem recordo uma noite em que, numa vila de Portugal, uma senhora lia, à luz do candeeiro, que dourava mais radiantemente os seus cabelos já dourados, um jornal da tarde. Em torno da mesa outras senhoras costuravam.

Espalhados pelas cadeiras e no divã, três ou quatro homens fumavam, na doce indolência do tépido serão de Maio. E pelas janelas abertas sobre o jardim entrava, com um sussurro das fontes, o aroma das roseiras. No jornal que o criado trouxera e ela nos lia, abundavam as calamidades. Era uma dessas semanas também em que pela violência da Natureza e pela cólera dos homens se desencadeia o mal sobre a Terra.

Ela lia as catástrofes lentamente, com a serenidade que tão bem convinha ao seu sereno e puro perfil latino. «Na ilha de Java um terramoto destruíra vinte aldeias, matara duas mil pessoas...» As agulhas atentas picavam os estofos ligeiros; o fumo dos cigarros rolava docemente na aragem mansa – e ninguém comentou, sequer se interessou pela imensa desventura de Java. Java é tão remota, tão vaga no mapa! Depois, mais perto, na Hungria, «um rio trasbordara, destruindo vilas, searas, os homens e os gados...». Alguém murmurou, através de um lânguido bocejo: «Que desgraça!» A delicada senhora continuava, sem curiosidade, muito calma, aureolada de ouro pela luz. Na Bélgica, numa greve desesperada de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os mortos quatro mulheres, duas criancinhas... Então, aqui e além, na aconchegada sala, vozes já mais interessadas exclamaram brandamente: «Que horror!... Estas greves!... Pobre gente!...» De novo o bafo suave, vindo de entre as rosas, nos envolveu, enquanto a nossa loura amiga percorria o jornal atulhado de males. E ela mesma então teve um «oh!» de dolorida surpresa. No Sul da França, «junto à fronteira, um trem descarrilando causara três mortes, onze ferimentos...» Uma curta emoção, já sincera, passou através de nós com aquela desgraça quase próxima, na fronteira da nossa península, num comboio que desce a Portugal, onde viajam portugueses... Todos lamentaríamos, com expressões já vivas, estendidos nas poltronas, gozando a nossa segurança.

A leitora, tão cheia de graça, virou a página do jornal doloroso, e procurava noutra coluna, com um sorriso que lhe voltara, claro e sereno.... E, de repente, solta um grito, leva as mãos à cabeça:

– Santo Deus!...

Todos nos erguemos num sobressalto. E ela, no seu espanto e terror, balbuciando:

– Foi a Luísa Carneiro, da Bela Vista... Esta manhã! Desmanchou um pé!

Então a sala inteira se alvorotou num tumulto de surpresa e desgosto.

As senhoras arremessaram a costura; os homens esqueceram charutos e poltrona; e todos se debruçaram, reliam a notícia no jornal amargo, se repastavam da dor que ela exalava!... A Luisinha Carneiro! Desmanchara um pé! Já um criado correra, furiosamente, para a Bela Vista, buscar notícias por que ansiávamos. Sobre a mesa, aberto, batido da larga luz, o jornal parecia todo negro, com aquela notícia que o enchia todo, o enegrecia.

Dois mil javaneses sepultados no terramoto, a Hungria inundada, soldados matando crianças, um comboio esmigalhado numa ponte, fomes, pestes e guerras, tudo desaparecera – era sombra ligeira e remota. Mas o pé desmanchado da Luísa Carneiro esmagava os nossos corações... Pudera! Todos nós conhecíamos a Luisinha – e ela morava adiante, no começo da Bela Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro, dando à rua sombra e perfume.
Comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
É um tal primor de descrição, que a gente fica quase sem coragem de fazer um comentário. Porque depois de uma coisa elegantíssima, levíssima, entrar com o raciocínio e o bom senso...
Mas o que ele sustenta aqui não é de todo isento de verdade, há uma certa parcela de verdade. Quer dizer, se a caridade começa pelos mais próximos, é natural que a pessoa sinta mais o que acontece em relação aos circunstantes.
Depois, também é natural que, tendo o homem sensibilidade e sendo a sensibilidade algo que se impressiona com o que passa pelos sentidos, que também as coisas que atingem a sensibilidade causam ao homem uma impressão maior. Mas devemos distinguir o que é a impressão do que é um juízo que se faz a respeito do acontecimento. Devemos distinguir a pura reação emotiva do que é a atitude da inteligência e da vontade diante de um determinado ponto.
Por exemplo, se eu vir de repente um ônibus passar por cima de um gato e matá-lo, o seu sangue jorrar até mim e os seus miolos chegarem até ao meu sapato, evidentemente o facto me causa uma sensação de destruição que é maior do que saber que a esta hora está saindo para o cemitério da Consolação ou do Araçá o enterro de um homem que eu não conheço.
Quer dizer, isto está na estrutura do ser humano. É uma coisa razoável. Mas é razoável também que o ser humano dotado de razão e que conhece as limitações e contingências da sua estrutura - sobretudo depois do pecado original - que ele exerça  sobre si mesmo um efeito formativo e que saiba restabelecer, na medida do necessário, a escala dos valores.
De maneira tal que seja mais capaz de interesses, mais capaz de verdadeira dedicação pelas coisas que não o tocam de perto, mas que tocam a Igreja Católica, que tocam a salvação das almas, que tocam a realização dos planos da Providência, do que os pequenos fatos miúdos que o cercam. Porque, do contrário, nós devemos dizer que esse homem não só é irracional, mas - facto ainda mais grave - que não tem espírito de fé.
O que vem a ser o espírito de fé? É exatamente aquela excelência da fé, pela qual a pessoa julga os factos e as pessoas segundo os princípios da fé. É uma espécie de aplicação da fé no analisar os factos, as pessoas e as circunstâncias.
Ora, alguém ouve falar, por exemplo, que haverá uma novena na própria Paróquia e se interessa muito, mas ouve dizer, por exemplo, que Nossa Senhora apareceu em Fátima e a pessoa se interessa menos (porque Fátima é longe e é um outro continente), não julga as coisas nem de acordo com a razão, nem de acordo com o espírito de fé.
Quer dizer, é um acto de perfeita imbecilidade e no fundo de falta de fé, fora de dúvida. Por que? Porque é facto que Fátima está em Portugal. “X” nunca terá estado em Fátima nem saberá localizar Fátima no mapa, não teve nenhuma emoção porque não viu o bailado do sol e as cores que o firmamento tomou por ocasião da aparição de Nossa Senhora, não estava lá nem com Jacinta, nem com Francisco, nem com Lúcia. Mas tem inteligência e tem fé para julgar a importância do acontecimento e para se interessar mais por isso, do que por algum fatinho que lhe diz respeito de perto.
Entretanto, em qualquer dos casos, o facto é tão menor, que a pessoa tem que retificar, tem que adquirir uma segunda natureza, de acordo com a qual julgue as coisas na proporção da sua própria importância, e não em função de si mesmo. O ceder a esse pendor espontâneo, que ele descreve tão bem e que justifica com argumentos tão ruins, o homem faz o centro do universo não a Deus, Seus desígnios, Seus direitos, mas a si mesmo, e tudo tem importância na medida em que toca à minha pessoinha, segundo o que à minha pessoa importa.
Evidentemente isto é uma deformação. E é uma deformação muito grave - como acabo de dizer e é preciso insistir - porque conduz numa virtual negação da catolicidade da Igreja que se define como uma sociedade universal e sobrenatural, o Corpo Místico de Cristo e em que tudo vale na medida em que se relaciona com Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas a Igreja Católica se definiria assim: é uma sociedade que tem vida na medida em que Ela toca a mim e que é inerte, esclerosada, morta na medida em que está longe de mim...!
Se o mundo católico fosse medíocre como Eça de Queirós pinta aqui, não teria havido as Cruzadas, por exemplo. Porque as Cruzadas foram libertar o Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estava muito distante de todas as pessoas que para lá caminharam... Não teria havido cruzadas também para reduzir os bárbaros que atacavam o norte da Europa, ou para expulsar os maometanos...
Sabemos, por exemplo, que os monges de Cluny se interessaram enormemente pelas Cruzadas na Espanha e que isto foi um fator decisivo para a vitória que elas obtiveram na Espanha.
Eu pergunto: o que ia fazer ali um francês? Os sarracenos tinham sido esmagados em Poitiers e não voltariam mais. Não era interesse da França, era interesse da Igreja em terras da Espanha, como em qualquer outra terra. Por que? Porque a Igreja é universal!
Os missionários. Por que vieram evangelizar os índios? Por que vieram acompanhando os portugueses e os espanhóis? Eles vieram por causa de um interesse que era todo ele religioso e que não tinha nada com a emoção próxima,  sensível.
Quer dizer, toda vida da Igreja Católica seria diversa e seria incoerente com a sua própria missão, se os homens capitulassem diante desse vício, desse estado de espírito.
Alguém me dirá: “Mas Dr. Plínio, acontece que esse estado de espírito é profundamente enviscerado no homem...”
Eu digo: é por isso que eu estou falando. Se ele não fosse profundamente enviscerado, não adiantava falar. E a Igreja Católica tem exatamente os recursos sobrenaturais para destruir no homem defeitos profundamente enviscerados nele. O que   há de mais profundamente enviscerado no homem do que o pecado original? É uma coisa tremenda! Pois está bem. A Igreja existe tendo sua ordem moral como finalidade de ajudar o homem a combater todos os defeitos que o pecado original produz nele.
Os senhores compreendem que é preciso portanto uma vigilância para a gente habitualmente não ter esta mentalidade, para habitualmente não ser "marcusiano" e não se deixar impressionar pelas coisas que vê. Caso contrário, não tomaremos na devida conta o que não se vê...
É preciso saber, portanto, guardar distância em relação às coisas que vê, tratá-las com certa isenção, com certa soberania, para depois poder fazer o balanço entre as coisas, num plano mais elevado que o da sensação.
Porque no plano da mera sensação, a gente naufraga! O pé da Luizinha Carneiro nos interessa mais do que, por exemplo, a possibilidade de eleição de um novo Papa em Roma, com a designação de vários anti–papas.
Quer dizer, cai-se numa tal mediocridade e - me perdoem a palavra – numa tal asnice, numa tal vacuidade de espírito, que é verdadeiramente de  chorar. É uma tal desordem mental, uma tal incapacidade de dar às coisas o valor próprio que elas devem ter, que toda a boa formação segundo a doutrina católica fica falseada, todas  as perspectivas delas decorrentes ficam adulteradas completamente.
Se se quiser dizer que agir assim não é espontâneo, respondo que é verdade. Mas então há um mundo de ações triviais, deselegantes, censuráveis, até criminosas, que são espontâneas também! O espontâneo não justifica nada. Há uma coisa exatamente que é feita para canalizar, para retificar o natural, para corroborá-lo no que ele tem de bom e que se chama educação, formação espiritual, formação moral. De maneira que essa história de dizer que não é “natural” não justifica coisíssima nenhuma. E isto supõe de uma rotação, mas uma rotação viva, uma verdadeira vigilância.
Os senhores me dirão: “Mas Dr. Plínio, depois de uma leitura tão deliciosa como essa, o senhor impinge uma consideração  deste tipo!”
É exatamente, é como se faz com um doente: tem a cápsula e dentro o remédio amargo. Eu não pude pôr a coisa amarga dentro da cápsula, então dei a cápsula em separado. Ela é doce e agradável e o remédio amargo depois... Os senhores não me levem a mal.
Já é tarde e a Dona Luizinha Carneiro tem que dormir. De maneira que vamos encerrar a reunião, se não houver objeções ou perguntas.
(Pergunta: Qual a diferença entre impressão e juízo. E como fazer para uma pessoa que não tenha facilidade para analisar, como saber se está agindo bem...)
Pois não. Eu acho que a sensibilidade quase atrapalha. Digo “quase”. A questão não é saber o seguinte: foi desencadeada uma perseguição religiosa num lugar “X”  e eu estremecer no sentido sensível, nervoso, do termo. Não é isto. Mas é eu fazer um juízo a respeito da gravidade desse acontecimento, à vista das razões sobrenaturais e às vezes também materiais, que me levam a dar a este acontecimento toda sua gravidade. E depois ser capaz de cumprir, a propósito deste acontecimento, meu dever, que será de uma oração, de uma ação conforme o caso. Mas eu saber cumprir o dever a esse respeito. Se sei cumprir o meu dever a tal propósito, eu estou em ordem. É um sintoma prático, um pouco grosso, que deixa passar uma parte da realidade, mas que para um começo de vigilância nesta matéria, já serve bem.

Não sei se me exprimi com clareza.

Sei que existe uma perseguição religiosa muito violenta, vamos dizer, na Polônia. Se eu estou com o meu horário muito cheio, tenho uma série de obrigações que me são próximas e imediatas, não posso deixar deveres que eu tenho, para ficar rezando pela Polônia. Mas a minha oração deve ter o valor correspondente ao que um católico deve sentir, sabendo que na Polônia está havendo uma perseguição religiosa. Porque essas coisas se sentem muito mais pela qualidade do que pela quantidade. E isto Deus tem o direito de esperar de mim.

(Pergunta: As pessoas tendem a se interessar também muito mais pelo próprio setor em que trabalham do que por outro...)

Ah! Mas é a mesma coisa do "pé da Luisa Carneiro", acrescido de um adjetivo: megalomania! Quando eu estou numa roda de católicos praticantes, e alguém fala a respeito do próprio apostolado, fica quase impossível, às vezes, a gente manter uma conversa comum. Porque quando a gente conversa com cada um sobre o apostolado dele, ele se acende e fala... e todos os outros ficam dormitando. Quando aquele para de falar, a gente - para ver se anima a roda - passa a palavra para outro e vê se aquele falando os outros se interessam também. Mas é só aquele que se interessa. E quando a gente fala de um apostolado geral, que não concerne a nenhum dos presentes, dormem todos...

Mas é por que? Porque aquele indivíduo faz o apostolado tendo como centro o próprio eu. É o que ele faz que lhe interessa. No fundo, em grande parte, porque o agente é ele. Ele considera mais o agente do que a finalidade da ação. Então, por causa disso, por egocentrismo, ele se interessa só por aquilo que faz.

E é uma coisa lamentável, porque isto, os senhores sabem o que acarreta? Desvia os auxílios de Nossa Senhora do apostolado. Por quê? Porque o apostolado dá certo, por causa da graça. O fator de eficácia do apostolado é a graça. A graça não ajuda o apóstolo que procura fazer apostolado para aparecer, ou ao menos para fruir o próprio êxito. A graça ajuda o apóstolo que procura fazer o apostolado desinteressadamente, por amor à Igreja Católica. A esse a graça ajuda. Mas esse, se  faz o seu apostolado desinteressadamente, ele gostará tanto de ouvir falar do apostolado de outros como do seu próprio. E se o apostolado dos outros é mais importante, ele procurará evitar de falar sobre o seu próprio apostolado, para ter ocasião de se informar de como vai a Causa católica numa Ponte Nova (cidade brasileira do estado de Minas Gerais), por exemplo.

Não é como certa vez aconteceu. Fui à Europa, voltei, e fiz uma viagem a uma cidade de tamanho reduzido, onde visitei pessoas várias. Chego lá, começa a conversa, as pessoas do local começam a me contar uma torrente de coisas do Bispo da região, do Monsenhor local, do Cônego local, e que tinha feito não sei o que... bá, bá, bá, bá, durante uma hora e tanto. No fim a pergunta: “E como está a situação da Igreja na Europa? Você conta algo?”  É de cheio a mentalidade “pé da Luíza Carneiro”! É uma deformação! E o apostolado todo se deforma assim.

Dom Jean Baptiste Chautard explica eximiamente no seu livro “A Alma de Todo Apostolado” que se o apóstolo se acha entupido de egocentrismo, a graça para tocar as almas não atua.

Não sei se está claro isso. Muitas vezes há pessoas que se contristam porque o seu apostolado não é eficaz. Eu tenho vontade de dizer:  Meu caro, em que medida você se interessou pelo apostolado dos outros? Nesta medida, o seu apostolado poderia ser mais eficaz, porque já não estaria só você em cena, mas estaria a Causa católica. Mas se é você, você, você e Nossa Senhora entra no assunto a propósito de você... como é que você quer que este apostolado seja um veículo de graças?! Está todo entupido de egocentrismo! Como é que a graça pode passar através disso? É impossível. É só ler “A Alma de Todo Apostolado” de Dom Chautard. Dom Chautard explica isso eximiamente, magnificissimamente.


A tendência para a sublimidade na primeira infância.

“Quem é mais insensato: a criança que tem medo do escuro, ou o homem que tem medo da luz?” (Freehill)
Na primeira infância existe, em cada alma, sempre uma tendência para o sublime, o maravilhoso.
Mostrando para uma criança várias bolas de vidro, uma dourada, outra preta, outra castanho, outra azul celeste, outra verde esmeralda, outra vermelha esplendente, essa criança que ainda não sabe raciocinar, pois está no berço, tende a apanhar e tocar com as mãos uma das bolas.
Quais bolas? Ela é tendente a apanhar as que têm as cores mais vivas, mais sublimes! E afastará as outras com cores mais tristes e menos brilhantes. E será muito pouco provável que a criança escolha a bola castanha ou cinza. Aliás, se compreenderia bem o susto de um pai que visse o seu filho correr atrás de uma bola dessas. Pelo contrário, ele ficaria contente por ver a criança apanhar a bola dourada e outras com cores mais cintilantes e luminosas.
Uma criança estando num quarto escuro e vendo ao lado um quarto claro, a tendência dela será sair daquele quarto escuro e ir para o quarto claro. E será muito mais difícil passar do quarto claro para o escuro.
E tanto quanto possível a criança terá a tendência de adiar o seu sono, para dormir mais tarde. Embora o cansaço leve a criança a deitar-se logo, muitas vezes a imersão no sono dar-lh-á a impressão de que afundar-se no escuro é afundar-se na não vida, é afundar-se no não ser.
Frequentemente, a criança quando vai para o quarto, olha para trás e presta atenção aos pais, às pessoas, às coisas que estão a passar na sala, que está com a luz acesa, enquanto no quarto, a luz está apagada, ou a meia luz.
A criança quando acorda, alegra-se (como os passarinhos pela manhã). Isto é assim, porque é sempre o lado positivo e rutilante das coisas que atrai a criança, e não o lado escuro e pardacento das coisas. Não me refiro só a este lado, mas também àquilo que não tem brilho, que provoca repulsa nela, enquanto que a luz representa a entrada no ser.
Quando vai dormir à noite, ela vai triste. É preciso que os seus pais a mandem para a cama repetidas vezes, porque ela não quer, aquilo provoca-lhe tédio.

Se os senhores procurarem lembrar-se das suas infâncias, certamente encontrarão reações que vão nesse sentido.
Por aqui compreendemos a batalha que a revolução, o mal, teve que travar para levar o homem ao torpe, ao infame e ao feio, no qual se deleita hoje em dia.
Plínio Corrêa de Oliveira

sábado, 7 de maio de 2011

São João Gualberto, fundador da Ordem de Vallombrosa

     Por volta do ano mil, João Gualberto nasce fidalgo de boa linhagem, descendente de nobres senhores de Val di Pesa. Educado para a carreira das armas (da qual era seu api um dos mais luzidos cavaleiros) revelou desde a infância forte pendor para as práticas religiosas.
     Com a idade, todavia, e o paterno exemplo, entrou Gualberto a frequentar o mundo, a inebriar-se nos prazeres, a locupletar-se de ouro e jóias, a envaidecer-se com as suas galas, e, conseguintemente, a desculpar actos que antes lhe pareciam indignos de gente sã. Era, pois, uma alma que se insinuava por entre os labirintos da perdição, insensível às pobrezas, aos trabalhos e às misérias que nesta vida se padecem; e teria sido uma alma condenada para sempre, se Deus a não houvesse restuito à bem-aventurança por meio de um notabilíssimo milagre.
     Certo fidalgo de Val di Pesa matara, por zelos amorosos, o nebre Ugo, irmão de Gualberto e morgado da família. Semelhante delito exigia uma vingança terrível! Assim o decidira o pai de Gualberto e com isso ele concordara... Vingança! Vingança! O sangue lava-se com o sangue, a morte com a morte se paga! Gualberto já não é o pálido rapaz de quinze anos, impregnado de ideias religiosas, mas o guerreiro disposto a esqudrinhar todos os rincões do universo até se fazer encontradiço com o assassino do morgado.
     Ei-lo, pois, a caminho de Florença, um dia de Sexta-feira da Paixão, pela estrada quase deserta, montado no seu cavalo branco. Súbito , enxerga um vulto que se avizinha, a pé, em direcção oposta. O caminho é estreito, dois não podem passar ao mesmo tempo. João Gualberto sofreia o ginete e encara fito a fito no desconhecido. Céus! É ele! É o matador do seu irmão! Rápido, arranca do cinto a reluzente adaga para cravá-la no peito do inimigo! Chegou a hora tão desejada! Mandá-lo-á para as chamas infernais! Voluptoso istnate! Inesperada providência! Gualberto prepara o golpo, alça o ferro, vai ferir, quando repentinamente se lhe interiça o braço, fica-lhe hirto, rigído, teso, imóvel no ar. O inimigo ajoelhara-se! O inimigo abrira os braços em cruz, - como o Cristo no Calvário! - "Senhor!" gemia, com súplicas de vencido, "em nome da Paixão de Jesus Cristo que hoje celebramos, amerciai-vos de mim! Arrependido estou do meu crime e vos imploro que tenhais para comigo a mesma infinita clemência que teve Jeuss para com os maiores pecadores!"
     A atitude do mísero comove o cavaleiro. Baixando o punhal, estende-lhe a mão e fala-lhe desta maneira: "Não posso negar-vos o que em nome de Jesus Cristo me pedis! Rogai a Deus que me perdoe do acto que o meu braçao ia praticar!"
      Separaram-se. João Gualberto continuou o seu caminho até Florença, o outro a Val di Pesa. A porta da igreja de São Miniato estava aberta. A igreja regorgitava de povo. Gualberto entra, corre ao altar-mór, cai de joelhos, contempla em acendrado êxtase o grande Cristo de marfim. E reza, reza, reza. Súbito, julga perder a noção da realidade. O sangue gela-se-lhe nas veias. É crível o qu vê? É sonho? É delírio? Do alto da Cruz o Cristo fita-o com benegníssima ternura e acena-lhe com a cabeça para significar-lhe que aprovara a sua conduta!
     João Gualberto chora de alegria e sente dentro de si uma dolçura celestial. Todas as virtudes da sua infância resplandecem de novo no seu espírito milagrosamente regenerado. O seu destino mudara. Sai da igreja, precipita-se ao convento anexo, deita-se aos pés do abade, corta os longos cabelos, despoja-se dos vestidos airosos, enroupa-se no rude linho do hábito monástico, implora com ardente fé o resguardo de um albergue cristão, e daquela hora em diante desaparece do mundo!
     Inúteis foram as tentativas do pai-cavaleiro indo cercar o convento com os seus archeiros e aguazís para obter a libertação de Gualberto! Inúteis as suas ameaças de trucidar os frades e de pôr o fogo ao mosterio se lhe não restituissem o filho! Gualberto morrera para o mundo, desafeiçoara-se das suas vaidades, recolhera-se definitivamente ao seio da Religião! E foi um dos mais perfeitos santos da Igreja por suas rigorosas penitências, seus longos jejuns, suas flagelações corporais, suas vigílias sem termo, seus cilícios. Em breve era um novo homem, transformado pelo milagre, modelo de todas as virtudes, heróico até ao sacrifício!
     Por fim, ao cabo de algum tempo, e na companhia de outro frade do seu convento, embrenhou-se numa região onde cresciam pinheirais em grande quantidade, chamada por isso Vallombrosa (vale sombrio), e ali, com o devoto auxílio da Abadessa de Santo Hilário, fundou a Ordem de Vallombrosa, a qual, em 1070, o Papa Alexandre II aprovou, e na qual imperam o retiro, o silêncio, o desapego à vida terrena, a prática da pobreza, da penitência e da austeridade.
     A fama das suas virtudes em breve se espalhou por toda a Itália, a ponto de fazer o Papa Leão IX uma viagem a Passignano (onde João Gualberto já havia fundado um novo convento) especialmente para ver e lhe falar.
     A 12 de Julho de 1073, rodeado de todos os abades e superiores da sua Ordem, dos quais afectuosamente se despediu, recebeu a Extrema-Unção; e como era um justo, elevou-se ao etéreo reino dos justos! Canonizado pelo Papa Celestino II, começou a viver sobre os altares aquele brilhante gentilhomem de capa e espada, para quem durante muitos anos só valiam os ouropeis do luxo e os falazes prazeres da vida!

(Luis Guimarães Filho, Fra Angélico, ed. Vozes, pag 37-41)

Martírio de São Rómulo e companheiros

       No tempo do Imperador Domiziano, São Rómulo e seus quatro companheiros, Caríssimo, Marchiziano, Crescênzio e Dulcíssimo começaram a converter a população na Etruria. Logo foram chamados à presença do governador de Fiesole Reperziano. Intimados, sob terríveis ameaças, a prestar adoração aos ídolos e, ao mesmo tempo, a renegar o Cristo. Recusando-se todos a semelhante sacrilégio, foram, pois, cruelmente flagelados e postos numa escura masmorra, onde padeceram fomes e sedes terríveis.
       Passados muitos meses, quando o Governador mandou abrir as portas da prisão, certo de que os acharia a todos putrefatos, eis que, por milagre de Deus (o qual lhes apareceu no cárcere na mesma auréola luminosa com que no monte Tabor aparecera aos três apóstolos), estavam perfeitos de corpo e alma, entoavam, com vozes felizes, hinos ao Senhor!
       Ordenou-lhes pela segunda vez o magistrado, sob pena de mais crueis castigos, que renegassem o Cristo e adorassem os ídolos que eram a religião de César, mas, pela segunda vez, recusaram Rómulo e os seus companheiros obedecer àquela ordem por ser incompatível com a sua fé e o seu amor a Jesus. Foram, pois, ignominiosamente arrastados pelas ruas e por fim trucidados com adagas e punhais!
       A caminho do suplício, vendo uma camponesa a extrair água de um poço, aberto à beira da estrada, rogou-lhe o bispo que por favor algumas gotas lhe desse, tanta era a sede que lhe abrasava os lábios. Negando-se ela, porém, a praticar aquela obra de misericórdia, toda a água se converteu logo em copioso e verdadeiro sangue!
       Este poço ainda pode ser visto na parte subterrânea da catedral de Fiesole, chamada confessione, assim como uma inscrição gravada no mármore, que narra o facto:
"All'Egitto protervo il Cielo irato
l'acqua in sangue cangiò per pena e scorno,
e Dio a quei, che bere all'affetato
Romolo denegorno.
L'acqua di questo pozzo in sangue tinse,
nè di ber sangue l'empie brame estinse:
Ma tu, che chiara l'hai,
se al Dator grato, e fedel perseveri,
quà refrigeri e'n Ciel nettare avrai."

(Luis Guimarães Filho, Fra Angélico, ed. Vozes, pag. 35-36)

Guardai-vos de Vós mesmos

Sabeis quem vos tenta? Sabeis quem vos faz pecar?

Vós e mais vós! Cada um a cada um! unus quisque tentatur...

Guardai-vos de vós mesmos, ó meus irmãos, porque o inimigo está oculto no vosso corpo: é a vossa cobiça que vos alucina, é a vossa vaidade que vos embriaga, é a vossa soberba que vos cega, é o vosso desdém do inferno que vos castiga, é a vossa incúria em não preencher os deveres da Igreja que vos precipita nos tormentos... Por isso, dizia santo Agostinho: livre-te de ti mesmo para não caires em tentação, liberet te Deus a te ipso (dizia talvez Frei Giovanni da eminência do seu púlpito).

(Luís Guimarães Filho, Fra Angélico, Editora Vozes Ltda, pag. 28)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Encíclica de São Pio X sobre a perseguição da Igreja em Portugal

Español
IAMDUDUM IN LUSITANIA

Carta Encíclica de San Pío X

Sobre la persecución de la Iglesia en Portugal

Del 24 de mayo de 1911


Venerables hermanos: Salud y bendición apostólica

1. Graves persecuciones a la Iglesia en Portugal. 
Bien conocido tenéis todos, Venerables Hermanos, según creemos, con cuan increíble velocidad se ha caminado desde hace algún tiempo en Portugal para oprimir a la Iglesia con toda clase de atroces atropellos, Porque ¿quién ignora que desde que el régimen de gobierno se cambió en república se comenzó al punto y sin interrupción a decretar cosas que respiran un implacable odio a la Religión Católica? Vimos ser violentamente disueltas las comunidades de religiosos, y de éstos grandísima parte dura e inhumanamente ser lanzados fuera de la  frontera de Portugal. Vimos, por el pertinaz empeño de secularizar las costumbres civiles y borrar de la vida pública todo rastro de religión, ser borrados del número de las fiestas los días festivos de la Iglesia; arrancado del juramento su natural carácter religioso; establecida, sin pérdida de tiempo, la ley del divorcio; excluida de las escuelas públicas la enseñanza de la Doctrina cristiana. Por último, omitiendo otras cosas que fuera largo enumerar, vimos ser perseguidos con gran furor los Obispos, y arrojados de la sede de su dignidad dos dignísimos Obispos, el de Oporto y el de Beja, varones insignes, tanto por su integridad de vida cuanto por sus méritos en bien de la patria y de la Iglesia. Dando los nuevos jefes de la nación portuguesa tales y tantas muestras de su tiránico capricho, bien sabéis cuan paciente y moderada se ha portado con ellos esta Sede Apostólica. Pues con suma diligencia juzgamos oportuno evitar todo cuanto pudiera parecer hecho con ánimo hostil en contra de la república. Abrigábamos en efecto alguna esperanza que ellos por fin habían de adoptar resoluciones más sensatas y de algún modo dar satisfacción a la Iglesia por las injurias inferidas.

2. Propósito de separar la Iglesia y el Estado. 
Pero ha salido del todo fallida Nuestra esperanza; y he ahí que ponen por remate de su inicua labor la promulgación de la pésima y perniciosísima ley de la separación del Estado y la Iglesia. Ahora bien, tolerar con paciencia y pesar en silencio tan grave ultraje inferido a los derechos y dignidad de la Religión Católica, de ningún modo Nos lo permite la obligación de Nuestro Apostólico ministerio. Por lo tanto, con esta carta os ponemos por testigos a vosotros, Venerables Hermanos, y denunciamos toda la indignidad de este hecho a todos los cristianos.

3. Iniquidad de la ley proyectada.
Primeramente, ser la mencionada ley cosa absurda y monstruosa se patentiza considerando que establece que la vida pública ha de carecer de todo culto divino, como si los hombres, tanto individualmente, cuanto las reuniones y sociedades de hombres, no dependieran de Aquel que es creador y conservador de todas las cosas; además, porque esa ley exime a Portugal de la obligación de profesar la Religión Católica, de la Religión Católica, que fue el mejor baluarte y ornato de esta nación, y que profesa casi la totalidad de sus ciudadanos. Pero sea en buena hora; han tenido a bien romper el lazo que tan estrechamente tenía unidos el Estado y la Iglesia, reforzado por la solemne fidelidad debida a los pactos convenidos. Hecha esta separación, lógico, sin duda, era prescindir de la Iglesia y dejar gozar a ésta de la común libertad y derechos de que goza todo ciudadano y toda honesta reunión de ciudadanos. Todo lo contrario ha sucedido. Porque esta ley nombre tiene de separación, pero en realidad tiene la eficacia de reducir a la Iglesia a la última miseria en los bienes temporales por el despojo, y en lo que pertenece a su sagrada potestad, hacerla esclava de la república por la opresión.

4. En cuanto a los bienes externos.
Y lo primero, en lo que toca a los bienes externos, de tal modo se aparta de la Iglesia la república portuguesa, que no le deja absolutamente nada con que pueda atender al decoro de la Casa de Dios, sostener a los miembros del clero y ejercitar los múltiples oficios de caridad y piedad. Pues por lo mandado en esta ley, no sólo es despojada la Iglesia de la posesión de todos los bienes muebles e inmuebles, aunque adquirida con perfectísimo derecho, sino que se le quita del todo el poder de adquirir en adelante cosa alguna. Se establece, es verdad, que ciertas juntas de ciudadanos presidan el ejercicio del culto divino, pero se coarta en términos increíbles la facultad que a las tales se les concede para recibir lo que por ese motivo les fuere ofrecido.
Además, la ley extingue y anula las obligaciones en virtud de las cuales los ciudadanos católicos solían dar algún subsidio o estipendio a sus propios curas, prohibiendo se exija ya nada por ese título. Ciertamente permite que los católicos contribuyan a los gastos necesarios para el culto con alguna voluntaria suscripción, pero manda que de la suma reunida se tome la tercera parte para invertirla en la beneficencia civil. A todo esto pone el colmo el que por ley los edificios que se apliquen o construyan para uso sagrado, transcurrido cierto número de años, dejados a un lado sus legítimos dueños y sin que nada se les indemnice, pasan al dominio público.

5. En cuanto a la jerarquía de la Iglesia. 
Mas en lo que toca a la potestad sagrada de la Iglesia, mucho mayor y más pernicioso es el escarnio de esta Separación, que, como hemos dicho reduce a una servidumbre indigna a la misma Iglesia. Ante todo, no se hace caso de la Jerarquía, como si se ignorase su existencia. Si alguna mención se hace de los clérigos, es para prohibirles en absoluto mezclarse en la dirección del culto religioso. Todo el cuidado de éste queda en manos de juntas de legos ya formadas, o que en adelante se formarán, con fines benéficos y precisamente instituidas, según las normas de la ley civil, por autoridad de la república, para que de ningún modo dependan de la jurisdicción de la Iglesia.
Y si sobre la junta, a que debe pertenecer este cuidado, hubiere alguna discrepancia entre los clérigos y legos o entre los mismos legos, el asunto ha de ser decidido, no por la Iglesia sino por sentencia de la República pues sólo ella tiene autoridad sobre tales instituciones. Y hasta tal punto los que están al frente del Estado en Portugal no permiten la participación del clero en la dirección del culto divino, que claramente está mandado y  establecido no poder los dedicados al ministerio de la religión ser elegidos para las rectorías de las parroquias ni parte en la administración o régimen de las sobredichas juntas, prescripción la más injusta e intolerable que se puede imaginar, pues pone a los clérigos, en aquello mismo en que son superiores, en condición inferior a los demás ciudadanos.

6. En cuanto a la libertad de la Iglesia.
Parece increíble parece con qué lazos la ley portuguesa coarta y traba la libertad de la Iglesia; tan contrario es ese proceder a las costumbres de estos tiempos y a los públicos alardes de toda clase de libertades, tan indigno de toda acción humana y civil. Porque prohibido queda, bajo graves penas, imprimir cualquier acto de los Obispos y proponerlo al pueblo de cualquier modo aun dentro del recinto de los templos, sin anuencia de la república.
Además, vedado está fuera de los templos celebrar ceremonia alguna, sin consultar a la república, tener una procesión, llevar algún ornamento sagrado y aun el mismo traje talar. Está también prohibido poner, no sólo en los monumentos públicos, sino en las casas particulares señal alguna de Religión Católica; pero no se prohíbe lo que ofende a los católicos. Tampoco es lícito congregarse para practicar la religión y la piedad; a las tales sociedades se las tiene exactamente en el mismo concepto que a las perversas, formadas con criminales intentos. Aun más; estando permitido a todos los ciudadanos poder disponer de sus cosas a su arbitrio, contra todo derecho y justicia inoportunamente se cohíbe a los católicos esa libertad, si algo de lo suyo quieren aplicar en auxilio de los difuntos o para ayuda de los gastos del culto divino; y cuanto sobre esto está ya piadosamente establecido, con impía violentamente se aplica a otros fines, contrariando así al testamento y voluntad de sus dueños. Por último, lo que es más duro y grave, se atreve la república a invadir el reino de la autoridad eclesiástica y disponer sobre una cosa que, por pertenecer a la constitución misma de la sagrada Jerarquía, exige la mayor vigilancia de parte de la Iglesia, a saber: sobre la enseñanza y formación de la juventud destinada al sacerdocio. Ya que no sólo obliga a los clérigos seminaristas a dedicarse a los estudios de letras y ciencias, que preceden a la Teología, en los liceos públicos, donde integridad en la fe se vea expuesta a gravísimos peligros por razón de una enseñanza ajena de Dios y de la Iglesia, sino que en el régimen y vida doméstica de los seminarios se ingiere la república hasta el punto de atribuirse el derecho de designar a los maestros, aprobar los libros y dirigir los estudios sagrados de los clérigos. De este modo pone de nuevo en uso las anticuadas opiniones de los Regalistas, que eran gravosísima pretensión cuando estaba en vigor la concordia entre la Iglesia y el Estado; pero ahora que el Estado nada quiere con la Iglesia, ¿no es acaso pretensión contradictoria y loca? Pero, ¿qué decir cuando la ley parece hecha a propósito para corromper las costumbres del clero y provocar la rebeldía a sus superiores? Porque asigna determinadas pensiones del erario público a los que por mandato de sus Prelados tienen que abstenerse de celebrar, y premia con singulares gracias a los sacerdotes que, miserablemente olvidados de su obligación, atentaren contraer matrimonio, y lo que causa vergüenza referir, llega a extender las mismas gracias a la cómplice y frutos de la sacrílega unión si sobrevinieren.
Por último, poco sería que la república casi esclavizase a la Iglesia lusitana despojándola de sus bienes, si no pretendiera también, en cuanto está a su alcance, apartarle, por una parte, a ella del gremio de la unidad católica y de los brazos de la Iglesia Romana, y por otra, impedir que la Sede Apostólica con su autoridad y providencia mire por los asuntos de la religión en Portugal.
Pues por esta ley no es lícito promulgar los preceptos mismos del Romano Pontífice, si no lo permite la autoridad pública. Del mismo modo, no puede ejercer el ministerio sagrado el sacerdote que, en algún colegio constituido por autoridad Pontificia, ha conseguido los grados académicos en las ciencias sagradas, aunque haya estudiado privadamente el curso de Teología. En lo cual es manifiesto lo que pretende la república, esto es: hacer que los jóvenes clérigos que desean perfeccionarse e ilustrarse en esas sublimes ciencias no puedan acudir, ni aun con ese motivo, a esta ciudad de Roma, cabeza del pueblo católico, donde más fácilmente que en ninguna otra parte suele suceder que los entendimientos se amoldan a la pura verdad de la doctrina cristiana y los corazones a los sentimientos de fidelidad y sincera piedad para con esta Sede Apostólica. Estos, pues, dejadas otras cosas de no menor iniquidad, éstos son los principales capítulos de esta perversa ley.

7. Reprobación de la ley de separación. 
Por lo tanto, amonestándonos la conciencia de Nuestro deber Apostólico a mirar con toda vigilancia por la dignidad y lustre de la religión y a conservar intactos los sagrados derechos de la Iglesia Católica en medio de tamaño furor y audacia de los enemigos de Dios, Nos por Nuestra Apostólica autoridad reprobamos, condenamos y rechazamos la ley de separación de la república lusitana y de la Iglesia, ley que desprecia a Dios, desecha la profesión católica, rompe, violando el derecho natural y de gentes, los pactos solemnemente firmados entre Portugal y la Sede Apostólica, despoja a la Iglesia de la posesión de las cosas que justísimamente le pertenecían, destruye la libertad misma de la Iglesia, pervierte su divina constitución y, por último, injuria y ultraja la majestad del Romano Pontificado, el orden de los Obispos, el clero y pueblo de Portugal y aún a todos los católicos del mundo.
Y como vehementemente Nos lamentamos que tal ley haya sido dada, decretada y promulgada, y como presentamos solemne reclamación ante aquellos que la han formado o intervenido en eso, así decretamos y declaramos ser nulo e írrito y que por tal ha de ser tenido cuanto en esa ley se establece en contra de los derechos inviolables de la Iglesia.

8. Alabanza y exhortación a los Prelados y Clero. 
Sin duda las presentes dificultosísimas circunstancias por que atraviesa Portugal, después de haberse declarado allí públicamente la guerra contra la religión, Nos causan gran congoja y tristeza. Nos lamentamos ante el espectáculo de tantos males como afligen a una nación que amamos de lo íntimo del corazón; Nos angustiamos por el temor de los mayores males que seguramente la amenazan si los que gobiernan no tornan a lo que deben. Pero vuestro denodado valor, Venerables Hermanos que regís la Iglesia de Portugal, y el ardor de ese clero, que corresponde admirablemente a vuestro valor, Nos llenan de consuelo y dan esperanza que han de lucir Dios mediante, días mejores. Todos vosotros no atendíais, ciertamente, a vuestra seguridad y provecho, sino a vuestra obligación y dignidad, cuando indignados pública y libremente rechazasteis la inicua ley de Separación; cuando a una declarasteis que preferíais redimir la libertad de vuestro ministerio sagrado con la pérdida de vuestros bienes, a vender vuestra esclavitud por vil precio y por fin, cuando asegurasteis que ninguna  astucia o acometimiento de los enemigos podría jamás romper el vinculo que os une con el Romano Pontífice. En tended, pues, que estos vuestros ejemplos, dados en presencia de toda la Iglesia, de fidelidad, constancia y fortaleza han sido de gran gozo a todos buenos, de grande honor para vosotros y de no pequeño provecho en sus calamidades para Portugal. Seguid, por lo tanto, como habéis comenzado, defendiendo valerosamente la causa de la religión, con la cual va unida la salud común de la patria, pero atended sobre todo, a que entre vosotros, el pueblo cristiano y vosotros, y entre todos y esta Cátedra de San Pedro conservéis y afiancéis diligentemente gran unanimidad y concordia. Ya que el propósito, como dejamos dicho, de los autores de esta perversa ley no fue separar la Iglesia lusitana, que despojan y persiguen, de la república (como quieren aparentar), sino del Vicario de Jesucristo. Por eso, si con todo empeño procuráis vosotros oponeros y resistir al intento y maldad de esos hombres habréis mirado, como conviene, por el interés de los católicos en Portugal. Nos, en tanto, según exige el singular amor con que os amamos, suplicamos al Dios omnipotente proteja benigno vuestro celo y diligencia. Y a vosotros todos, Prelados del orbe católico restante, rogamos queráis cumplir en unos tiempos tan angustiosos el mismo deber con vuestros solícitos Hermanos de Portugal.

9. Bendición final.
En prenda de los divinos dones y en testimonio de Nuestra benevolencia, os damos de todo corazón a vosotros todos, Venerables Hermanos, y a vuestro clero y pueblo la Bendición Apostólica.
Dado en Roma junto a San Pedro, el día 24 de mayo, fiesta de Nuestra Señora Auxiliadora de los Cristianos, el año 1911, octavo de Nuestro Pontificado. PÍO X 

Italiano
Iamdudum in Lusitania
Lettera Enciclica di San Pio X

La chiesa cattolica in Portogallo
Noi riteniamo che a voi tutti sia ben noto, venerabili fratelli, come già da tempo sia in atto in Portogallo un indicibile susseguirsi di eventi volto ad opprimere la chiesa con misfatti di ogni genere. Chi ignora infatti che da quando ha assunto la forma di repubblica il governo di quella nazione ha immediatamente intrapreso, in un modo o in un altro, a decretare cose tali che manifestano un odio implacabile verso la religione cattolica? Abbiamo visto che sono state tolte di mezzo con la forza le famiglie dei religiosi, e questi, in massima parte, sono stati espulsi in modo rozzo e disumano dai confini del Portogallo. Abbiamo visto che, con la pervicace intenzione di profanare ogni civile disciplina e di non lasciare nessuna vestigia di realtà religiosa nei comportamenti della vita sociale, sono stati eliminati dal numero delle festività i giorni festivi della chiesa; il giuramento è stato privato dell'intrinseca caratteristica religiosa; è stata promulgata in gran fretta la legge relativa al divorzio; è stato eliminato l'insegnamento della dottrina cristiana dalle scuole pubbliche. Infine, lasciando da parte altre cose che sarebbe lungo elencare, in modo ancor più violento da costoro sono stati attaccati i sacri presuli, e due fra i più ragguardevoli vescovi, quello di Porto e quello di Beja, uomini illustri sia per integrità di vita che per grandi benemerenze verso la patria e la chiesa, sono stati cacciati dalle sedi della loro onorabile funzione. - Avendo poi i nuovi governanti del Portogallo prodotto tanti e tali esempi di imperioso arbitrio, voi sapete con quanta pazienza e moderazione si è comportata questa Santa Sede nei loro confronti. Con estrema attenzione infatti abbiamo ritenuto che si dovesse evitare di compiere qualsiasi cosa che potesse ritenersi compiuta in modo ostile verso la repubblica. Conservavamo infatti qualche speranza che costoro manifestassero infine progetti più ragionevoli, e finalmente, con un qualche accordo, dessero soddisfazione alla chiesa riguardo alle offese perpetrate. In verità ci siamo del tutto sbagliati: ecco che all'infame comportamento impongono quasi un compimento con la promulgazione di una pessima e dannosissima legge relativa alla separazione degli affari dello stato e della chiesa. A questo punto la coscienza dell'ufficio apostolico non Ci permette più in alcun modo di sopportare con rassegnazione e di lasciar correre nel silenzio una ferita così grave inferta al diritto e alla dignità della religione cattolica. Quindi, con questa lettera, facciamo appello a voi, venerabili fratelli, e denunciamo alla cristianità universale l'indegnità di questo fatto.
Prima di tutto, che la legge di cui parliamo sia qualcosa di assurdo e di mostruoso appare dal fatto che essa stabilisce che lo stato sia esente dal culto divino, come se non dipendessero da Colui che è il creatore e il conservatore di tutte le cose sia i singoli cittadini sia qualsiasi associazione di uomini e comunità: e così dispensa il Portogallo dall'osservanza della religione cattolica, di quella religione cioè che a questa gente fu sempre di presidio e ornamento e che la quasi totalità dei cittadini professa. Tuttavia ammettiamo: si è voluto rompere l'unione tra lo stato e la chiesa, unione che era stata stabilita con patti solenni. Posta questa separazione sarebbe stato senza dubbio coerente lasciar da parte la chiesa, e permettere che essa facesse uso della libertà e del diritto comuni, di cui fanno uso qualsiasi cittadino e qualsiasi onesta società di cittadini. Siamo invece di fronte al contrario. Questa legge infatti prende nome dalla separazione, ma da questo stesso fatto prende la forza di ridurre la chiesa in estrema povertà, spogliandola dei beni esterni, e di trascinarla con l'oppressione nell'asservimento allo stato, in quelle cose che spettano alla potestà sacra e allo spirito.
In primo luogo, per quanto riguarda le cose esterne, la Repubblica Portoghese si separa dalla chiesa in modo da non lasciarle assolutamente nulla per poter conservare il decoro della casa di Dio, nutrire i sacerdoti, adempiere i molteplici servizi della carità e della pietà. In realtà, con la prescrizione di questa legge, non solo la chiesa è privata del possesso di tutte le cose immobili e mobili che possiede, anche se queste sono state acquisite in modo giuridicamente valido; ma le è anche sottratto qualsiasi potere di acquisire qualcosa in futuro. Si dispone infine che determinate corporazioni di cittadini presiedano all'esercizio del culto divino; tuttavia la facoltà che è loro concessa di ricevere ciò che viene offerto per questo scopo, è singolarmente circoscritta in angusti confini. Inoltre la legge ha estinto e soppresso le obbligazioni con le quali i cittadini cattolici erano soliti offrire un qualche stipendio o sussidio al proprio parroco, proibendo che venga preteso qualcosa sul loro fondamento. Permette comunque che gli stessi cattolici provvedano con una volontaria raccolta di denaro alle spese da sostenersi per il culto divino; prescrive tuttavia che dalla somma conferita per questo scopo venga detratta la terza parte e questa venga utilizzata per le necessità della beneficenza civile. E a tutte queste cose, quasi a coronamento, si aggiunge con questa legge che gli edifici che in seguito dovesse succedere di comprare o costruire per gli usi sacri, questi, dopo che sia trascorso un determinato numero di anni, rimossi i legittimi possessori, e per senza alcuna indennità, vengano trasferiti allo stato.
Riguardo poi alle cose nelle quali la sacra potestà della chiesa si esercita in modo proprio, è molto più grave e molto più dannoso l'oltraggio di questa Separazione, che, come si è detto, diventa una indegna servitù della stessa chiesa. Prima di tutto, proprio la gerarchia, del tutto ignorata, non viene presa in considerazione. Se si fa una qualche menzione degli uomini dell'ordine sacro, questo avviene per proibire loro di occuparsi in un qualsiasi modo dell'ordinamento religioso del culto. Tutta questa cura è demandata ad associazioni di laici che siano già costituite, o che lo debbano essere in futuro, a scopo di beneficenza, e per di più istituite e a norma del diritto civile, per autorità dello stato repubblicano, senza che dipendano per alcun motivo dall'autorità della chiesa. Al punto che se, riguardo all'associazione cui questo dev'essere conferito d'ufficio, ci fosse dissenso fra chierici e laici, o non ci fosse accordo fra gli stessi laici, la cosa non viene affidata per una decisione alla chiesa, ma al giudizio dello stato. Anche nella disposizione del culto divino coloro che sono al governo in Portogallo non permettono che ci sia spazio per il clero, come è apertamente prescritto e stabilito; non possono, coloro che sono addetti ai ministeri religiosi, essere nominati nel collegio decanale delle parrocchie o essere fatti partecipi dell'amministrazione o del governo delle associazioni di cui abbiamo parlato: di questa disposizione non si può pensare nulla di più iniquo e intollerabile, dal momento che rende l'ordine dei chierici proprio in quella cosa nella quale è superiore, in una condizione inferiore a quella degli altri cittadini.
E quasi impossibile credere quali siano i vincoli con i quali la legge portoghese costringe e imprigiona la libertà della chiesa; quanto contraddica le istituzioni della nostra epoca ed anche le pubbliche proclamazioni di tutte le libertà; quanto sia indegna per qualsiasi essere umano e popolo civile. È anche proibito, con gravi pene, dare alle stampe qualsiasi atto dei vescovi, e per nessun motivo, neppure dentro le mura delle chiese, è lecito esporli al popolo, se non con l'autorizzazione dello stato. È inoltre proibito, fuori dei luoghi sacri, celebrare qualsiasi cerimonia senza l'autorizzazione del governo repubblicano, compiere una qualsiasi processione, portare ornamenti sacri e neppure la stessa veste talare. È parimenti vietato, non solo negli edifici pubblici, ma anche nelle case private, esporre qualcosa che sappia di religione cattolica; mentre non è affatto vietato ciò che offende i cattolici. Ancora, non è lecito costituire associazioni che abbiano lo scopo di praticare la religione o la pietà: le società di questo genere sono considerate alla stessa stregua di quelle infami che vengono costituite a scopo delittuoso. E per di più, mentre a tutti i cittadini è concesso di poter fare uso a proprio arbitrio delle proprie cose, ai cattolici invece, contro il giusto e il lecito, è fortemente ristretta una simile potestà, nel caso in cui vogliano che qualcosa del loro sia conferito a conforto delle opere delle persone pie o a sostegno delle spese per il culto divino: e le cose di questo genere che sono già state piamente stabilite, empiamente stravolte, vengono trasferite ad altro uso, violando i testamenti e le volontà di coloro che li hanno fatti. Infine lo stato - cosa questa amara e grave al massimo grado - non esita ad entrare nel dominio specifico dell'autorità della chiesa, e a prescrivere molte cose in quell'ambito che, riferendosi all'ordinamento stesso dell'ordine sacro, pretende per sé le migliori attenzioni della chiesa: parliamo della educazione e della formazione della gioventù consacrata. Non solo infatti costringe gli alunni del clero, per gli studi delle scienze e delle lettere che precedono la teologia, a frequentare i pubblici licei, dove l'integrità della loro fede, per il tipo di istruzione estraneo a Dio e alla chiesa, è sicuramente esposto a pericoli del tutto evidenti; ma il governo repubblicano si introduce anche nella vita e nella organizzazione interna dei seminari, e si arroga il diritto di designare i professori, di approvare i libri, di programmare gli studi sacri dei chierici. Sono rimessi così in vigore i vecchi decreti dei Regalisti; questi poi, dal momento che erano già colmi di pesantissima arroganza, mentre c'era ancora concordia fra lo stato e la chiesa, ora che lo stato vuole non avere nulla in comune con la chiesa, non sembreranno forse contraddittori e pieni di stoltezza? - Cosa si deve dire dato che questa legge innanzi tutto è stata fatta anche per corrompere i costumi del clero e per provocarne la defezione dai loro propositi? Assegna anche infatti una certa pensione a carico dell'erario a coloro che, per l'autorità dei vescovi, abbiano ricevuto l'ordine di astenersi dai sacramenti, e ricolma di straordinari benefici i sacerdoti che, miserevolmente dimentichi delle loro funzioni, abbiano avuto l’ardire di sposarsi, e, cosa disdicevole a riferirsi, estende gli stessi benefici alla compagna e alla prole della sacrilega relazione qualora sopravvivano.
Infine, lo stato non si accontenta di imporre alla chiesa del Portogallo, spogliata dei propri beni, un giogo quasi servile, ma ancora cerca, per quanto le è possibile, sia di farla uscire dal grembo della cattolica unità e dalla comunione della chiesa romana, sia di impedire che la sede apostolica estenda la sua autorità e provvidenza ai religiosi del Portogallo. Quindi, in base a questa legge, non è permesso divulgare le prescrizioni del romano pontefice, se non quando ufficialmente concesso. Ugualmente al sacerdote che, presso un qualche ateneo istituito dall’autorità pontificia, abbia conseguito i gradi accademici nelle discipline sacre, anche se abbia poi terminato il tempo della teologia in patria, non è concesso di esercitare le funzioni sacre. In questo appare chiaro che cosa voglia lo stato: fare in modo che i chierici adolescenti che desiderano perfezionarsi e conseguire una più raffinata cultura, non vengano, per tale motivo, in questa città, la capitale del cattolicesimo: dove, certamente in modo molto più agevole che in nessun luogo altrove, avviene che le menti si conformino all'incorruttibile verità della dottrina cristiana e gli animi alla sincera pietà e fiducia nella sede apostolica. Questi, tralasciandone altri, che tuttavia non sono di minore iniquità, sono dunque i principali capitoli di questa malvagia legge.
Pertanto, ammonendoCi la coscienza dell'ufficio apostolico, affinché, in tanto grande insolenza e audacia dei nemici di Dio, difendiamo con grande vigilanza la dignità e il decoro della religione, e salviamo i sacrosanti diritti della chiesa cattolica, Noi, la legge sulla separazione della repubblica portoghese e della chiesa, legge che disprezza Dio e ripudia la professione di fede cattolica; che abroga i patti solennemente concordati fra il Portogallo e la sede apostolica; che opprime la stessa libertà della chiesa e distrugge la sua divina costituzione; che infine colpisce di ingiuria e di offesa la maestà del pontificato romano, l'ordine dei vescovi, il clero e il popolo del Portogallo e allo stesso modo tutti i cattolici che si trovano su tutta la terra, in forza della Nostra autorità apostolica, la disapproviamo, condanniamo, rifiutiamo. Poiché deploriamo fortemente che una simile legge sia promulgata, ratificata, pubblicata, ed eleviamo solenne protesta a tutti coloro che ne furono autori o partecipi, per questo proclamiamo e annunciamo che qualsiasi cosa sia stato stabilito contro i diritti inviolabili della chiesa, è e deve essere ritenuto nullo e senza valore.
Senza dubbio questi difficilissimi tempi nei quali il Portogallo si trova in grande travaglio, dopo che è stata dichiarata guerra alla religione in nome dello stato, Ci procurano una grande preoccupazione e tristezza. Ci rattristiamo soprattutto per un così grande spettacolo di mali che opprimono una popolazione a Noi particolarmente diletta; soffriamo nell'attesa di cose ancora più violente che certamente la sovrastano, se, coloro che detengono il potere, non si dedicheranno in modo ragionevole alla loro funzione. - Ci consola però moltissimo la vostra esimia virtù, venerabili fratelli che guidate la chiesa portoghese, e l'ardore di questo clero così mirabilmente in sintonia con la vostra virtù, e arreca una buona speranza che potranno alfine ivi esserci, con l'aiuto di Dio, cose migliori. Voi tutti infatti, non avete di certo considerato una ragione di sicurezza o comodo, ma di dovere e di dignità, quando avete ripudiato l’iniqua legge della separazione con una indignazione aperta e libera; quando in modo unanime avete professato di volere piuttosto acquistare la libertà del servizio sacro con la perdita dei vostri beni, che procurarvi la schiavitù per un modesto compenso; quando infine negaste che mai per nessuna astuzia o violenza dei nemici la vostra unione con il vescovo di Roma potesse essere scossa. Queste testimonianze illustri di fede, di costanza e di grandezza d'animo che al cospetto della chiesa universale avete dato, sappiate che furono fonte di gioia per tutti i buoni, di onore per voi, di aiuto non piccolo allo stesso travagliato Portogallo. - Per questo continuate, come avete intrapreso, a perseguire con tutte le forze la causa della religione, con la quale è congiunta la salvezza stessa della patria comune; ma soprattutto cercate di conservare attentamente e di confermare il massimo consenso e la concordia voi stessi fra di voi, e il popolo cristiano con voi, e tutti con questa cattedra del beato Pietro. Questo infatti si prefiggono gli autori della legge sciagurata, come abbiamo detto: separare la chiesa portoghese, che depredano e opprimono, non dalla repubblica (come vogliono fare apparire), ma dal vicario di Gesù Cristo. Poiché se a questo progetto e delitto degli uomini voi attivamente cercherete di opporvi e resistere, già per mezzo vostro alle cose del Portogallo cattolico si sarà provveduto in modo adeguato. Noi intanto, per la singolare carità con cui vi amiamo, eleveremo suppliche a Dio onnipotente, perché venga in aiuto del vostro diligente impegno. - Preghiamo poi voi, vescovi del rimanente mondo cattolico, affinché vogliate mostrare la stessa cosa, in un tempo tanto critico del dovere, ai tormentati fratelli del Portogallo.
Auspice dei doni divini e a testimonianza della Nostra benevolenza, a voi tutti, venerabili fratelli, al clero e al vostro popolo, impartiamo con grande amore la benedizione apostolica.
Roma, presso san Pietro, 24 maggio 1911, festa di Maria Nostra Signora, aiuto dei cristiani, anno VIII del Nostro pontificato.

English

IAMDUDUM IN LUSITANIA

ENCYCLICAL OF POPE PIUS X
ON THE LAW OF SEPARATION IN
You are already, We think, well aware, Venerable Brethren, of the incredible series of excesses and crimes which has been enacted in Portugal for the oppression of the Church. For who does not know that, when the Republican form of Government was adopted in that country, there immediately began to be promulgated measures breathing the most implacable hatred of the Catholic religion? We have seen religious communities evicted from their homes, and most of them driven beyond the Portuguese frontiers. We have seen, arising out of an obstinate determination to secularize every civil organization and to leave no trace of religion in the acts of common life, the deletion of the feast days of the Church from the number of public festivals, the abolition of religious oaths, the hasty establishment of the law of divorce and religious instruction banished from the public schools. And then, to pass over in silence other enormities which would take too long to enumerate, the Bishops have been savagely attacked, and two of the most prominent of them, the Bishops of Oporto and Beia, men who are illustrious by the integrity of their lives and by their great services to their country and the Church, have been driven out of their sees and stripped of their honors.
2. Whilst the new rulers of Portugal were affording such numerous and awful examples of the abuse of power, you know with what patience and moderation this Apostolic See has acted towards them. We thought that We ought most carefully to avoid any action that could even have the appearance of hostility to the Republic. For We clung to the hope that its rulers would one day take saner counsels and would at length repair, by some new agreement, the injuries inflicted on the Church. In this, however, We have been altogether disappointed, for they have now crowned their evil work by the promulgation of a vicious and pernicious Decree for the Separation of Church and State. But now the duty imposed upon Us by our Apostolic charge will not allow Us to remain passive and silent when so serious a wound has been inflicted upon the rights and dignity of the Catholic religion. Therefore do We now address you, Venerable Brethren, in this letter and denounce to all Christendom the heinousness of this deed.
3. At the outset, the absurd and monstrous character of the decree of which We speak is plain from the fact that it proclaims and enacts that the Republic shall have no religion, as if men individually and any association or nation did not depend upon Him who is the Maker and Preserver of all things; and then from the fact that it liberates Portugal from the observance of the Catholic religion, that religion, We say, which has ever been that nation's greatest safeguard and glory, and has been professed almost unanimously by its people. So let us take it that it has been their pleasure to sever that close alliance between Church and State, confirmed though it was by the solemn faith of treaties. Once this divorce was effected, it would at least have been logical to pay no further attention to the Church, and to leave her the enjoyment of the common liberty and rights which belong to every citizen and every respectable community of peoples. Quite otherwise, however, have things fallen out. This decree bears indeed the name of Separation, but it enacts in reality the reduction of the Church to utter want by the spoliation of her property, and to servitude to the State by oppression in all that touches her sacred power and spirit.
4. First, so far as property is concerned, the Portuguese Republic severs itself from the Church in such a way that it leaves her nothing at all from which to provide for the decency of the house of God, the maintenance of the clergy and the exercise of the manifold duties of charity and piety. For by the articles of this decree not only is the Church despoiled of all the property, whether real or movable, which she holds by the strongest of titles, but she is deprived of all power of acquiring anything for the future. It is indeed provided that certain civil bodies shall have the care of exercise of religious worship; but it is astounding to see within what narrow limits permission to receive any offerings for this purpose is circumscribed. Moreover, the obligations under which Catholic citizens have been accustomed to assist or maintain their respective parish priests, these the decree abolishes and suppresses, forbidding anything to be henceforth demanded for this purpose. It allows Catholics to provide for the cost of divine worship by voluntary alms, but it requires that a third of the sum so contributed shall be set apart and employed for works of civil assistance. And to crown all, under this new law, the buildings which may be henceforth acquired or erected for the exercise of religion are, after the lapse of a given term of years, to pass from the rightful owners without any compensation and to become public property.
5. But in those matters with which it is the sacred prerogative of the Church to deal, much more seriously injurious is this mockery of Separation, which, as We have said, reduces the Church to shameful servitude.
6. First of all the Hierarchy is set aside as if its existence were unknown. And if men in holy orders are mentioned, it is only that they may be prohibited from having anything to do with the ordering of public worship. This work is entirely handed over to associations of laymen already established or to be established as societies of public assistance according to the regulations of the administrative under the power of the Republic and in no way depending on the authority of the Church. And if from the actions of the associations to which this duty is entrusted disputes arise between clerics and lay people or between lay people alone, the decision is to lie not with the Church but with the Republic, which claims all power over these bodies. Indeed, so completely do the rulers of the Portuguese Republic deny any place to the clergy in the organization of divine worship that they have definitely laid it down and provided that those who exercise the ministry of religion may not be coopted as members of the aforesaid parish associations or be allotted any part in their administration or direction. Than such a provision nothing can be imagined more unjust or more intolerable, for it puts the clergy at the beck of other citizens in the very matters upon which they are the rightful directors.
7. The way in which the Portuguese law binds and fetters the liberty of the Church is scarcely credible, so repugnant is it to the methods of these modern days and to the public proclamation of all liberty. It is decreed under the heaviest penalties that the acts of the Bishops shall on no account be printed and that not even within the walls of the churches shall there be any announcement made to the people except by leave of the Republic. It is, moreover, forbidden to perform any ceremony outside the precincts of the sacred buildings without permission from the Republic, to go round in procession, to wear sacred vestments or even the cassock. Furthermore, it is forbidden to place any sign which savors of the Catholic religion not only on public monuments, but even on private buildings; but there is no prohibition at all against so exposing what is offensive to Catholics. Similarly, it is unlawful to form associations for the fostering of religion and piety; indeed societies of this sort are placed on a level with the criminal associations which are formed for evil purposes. And whilst on the one hand all citizens are allowed to employ their means according to their pleasure, on the other, Catholics are, against all justice and equity, placed under restrictions like these if they wish to bequeath something for prayers for the dead, or the upkeep of divine worship; and such bequests already made are impiously diverted to other purposes in utter violation of the wills and wishes of the testators. In fine, the Republic - and this is harshest and gravest stroke of all - goes so far as to invade the domain of the authority of the Church, and to make provisions on points which, as they concern the constitution of the priesthood, necessarily claim the special care of the Church. We speak of the formation and training of young ecclesiastics. For not only does the Decree compel ecclesiastical students to pursue their scientific and literary studies which precede theology in the public lycees where, by reason of a spirit of hostility to God and the Church, the integrity of their faith plainly is exposed to the greatest peril; but the Republic even interferes in the domestic life and discipline of the Seminaries, and arrogates the right of appointing the professors, of approving of the textbooks and of regulating the sacred studies of the Clerics. Thus are the old decrees of the Regalists revived and enforced; but what was grievous arrogance whilst there was concord between Church and State, is it not now, when the State will have nothing to do with Church, repugnant and full of absurdity? And what is to be said of the fact that this law is positively framed to deprave the morals of the clergy and to provoke them to abandon their superiors? For fixed pensions are assigned to those who have been suspended from their functions by the authority of the Bishops, and benefices are given to those priests who in miserable forgetfulness of their duty shall have dared to contract marriage; and what is still more shameful to record, it extends the same benefits to be shared and enjoyed by any children there may be of such a sacrilegious union.
8. Lastly, it is not enough for the Republic, after having despoiled her of her property, to impose an almost slavish yoke upon the Church of Portugal; it even, on the one hand, strives as far as it can, to tear her from the bosom of Catholic unity and from the arms of the Roman Church, and on the other to prevent the Apostolic See from exercising its solicitude and its authority in the religious affairs of Portugal. Thus, in virtue of this Decree, it is not even lawful to publish, without permission publicly given, the commands of the Roman Pontiff. Similarly, a priest who has gained his degrees in sacred science in a college constituted by Papal authority, even though he has made his theological course in his own country, is not permitted to exercise his sacred functions. What the Republic in all this wants is plain; it is to prevent young clerics, who are desirous of improving themselves and finishing in the higher studies, from coming for this purpose to this City, the head of the Catholic world, where certainly more than anywhere else it is a fact of experience that minds are more imbued with the incorrupted truth of Christian teaching and by sincere piety and faith to the Apostolic See. These, to omit others which are equally pernicious, are the chief points of this wicked Decree.
9. Accordingly, under the admonition of the duty of Our Apostolic office that, in the face of such audacity on the part of the enemies of God, We should most vigilantly protect the dignity and honor of religion and preserve the sacred rights of the Catholic Church, We by our Apostolic authority denounce, condemn, and reject the Law for the Separation of Church and State in the Portuguese Republic. This law despises God and repudiates the Catholic faith; it annuls the treaties solemnly made between Portugal and the Apostolic See, and violates the law of nature and of her property; it oppresses the liberty of the Church, and assails her divine Constitution; it injures and insults the majesty of the Roman Pontificate, the order of Bishops, the Portuguese clergy and people, and so the Catholics of the world. And whilst We strenuously complain that such a law should have been made, sanctioned, and published, We utter a solemn protest against those who have had a part in it as authors or helpers, and, at the same time, We proclaim and denounce as null and void, and to be so regarded, all that the law has enacted against the inviolable rights of the Church.
10. Assuredly, these days of difficulty in which Portugal since the public proclamation of the Republic is so tormented, are to Us a source of great anxiety and sorrow. We are deeply grieved at the sight of so many evils, which are pressing upon a nation so dear to Us; We are torn with anxiety at the apprehension of worse things to come, which certainly threaten it unless the powers that be seriously consider the duty of their position. But in the midst of all this, your eminent virtue, Venerable Brethren, who govern the Church of Portugal, and the earnestness of the clergy which seconds that virtue, are no small consolation to Us, and afford good hope that with God's help things will one day take a turn for the better. For you all recently showed a sense not of security or of well-being, but of your duty and its dignity, when you openly and fearlessly repudiated this iniquitous Law of Separation; when with one voice you proclaimed that you would rather recover the freedom of your ministry, even at the loss of all your property, than suffer servitude for the sake of paltry pensions; when, in fine, you declared that never, either by promises or by force should your enemies be able to sunder you from your allegiance to the Roman Pontiff Those splendid proofs of faith, constancy, and greatness of mind which you have given in the sight of the whole Church - be assured that they have been a source of joy to all good men, as well as a credit to yourselves and a comfort to Portugal herself in her affliction. Wherefore, continue as you have begun, to defend with all your might the cause of religion with which the very welfare of your common fatherland is bound up; but see to it, first and above all else, that you carefully preserve and strengthen the greatest concord and unity between yourselves, then between yourselves and Christian people, and all of you with this See of Blessed Peter. For, as we have said, the purpose of the authors of this wicked law is not, as they would make out, to separate the Church of Portugal, which they despoil and oppress, from the Republic, but from the Vicar of Christ. If you strive to meet and resist such a design on the part of these men and such a crime with all your might, then certainly you will have done well for the good of Catholic Portugal. Meanwhile, We, for the singular love We bear you, shall be suppliants to Almighty God that He may in His goodness favor your zeal and your efforts. And We beg you, Bishops of the rest of the Catholic world, to fulfill the same duty on behalf of your suffering brethren in Portugal in their time of need.
11. As an earnest of divine gifts and a pledge of Our benevolence, We impart from Our heart to you all, Venerable Brethren, and to your clergy and people the Apostolic Benediction.
Given at St. Peter's, Rome, on the 24th day of May, on the feast of Our Lady Mary, the Help of Christians, in the year 1911, and the eighth of Our Pontificate. PIUS X

PORTUGAL
TO OUR VENERABLE BRETHREN, THE PATRIARCHS,
PRIMATES, ARCHBISHOPS, BISHOPS,
AND THE ORDINARIES OF OTHER PLACES
IN PEACE
AND COMMUNION WITH THE APOSTOLIC SEE
Venerable Brethren,
Health and Apostolic Benediction.

Os sete dons e doze frutos do Espírito Santo

Quais são os sete dons do Espírito Santo?

Sabedoria
Entendimento
Conselho
Fortaleza
Ciência
Piedade
Temor de Deus

E os doze frutos do Espírito Santo?

Amor
Alegria
Paz
Paciência
Longanimidade
Benignidade
Bondade
Mansidão
Modéstia
Continência
Castidade

sábado, 30 de abril de 2011

O que parece pão e vinho na Eucaristia é o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo

“Na noite em que Nosso Senhor Jesus Cristo foi entregue, tomando o pão e dando graças, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: Tomai e comei; isto é o meu Corpo. Depois, tomando o cálice e dando graças, disse: Tomai e bebei; isto é o meu Sangue”.

Tendo, portanto, pronunciado e dito sobre o pão: Isto é o meu Corpo, quem se atreverá a duvidar ainda? E tendo Ele afirmado e dito: Isto é o meu Sangue, quem ousará ainda duvidar, afirmando que não é o seu Sangue?

Recebamo-los, portanto, plenamente convencidos de que se trata do Corpo e Sangue de Cristo. Com efeito, sob a forma de pão é o Corpo que te é dado, e, sob a forma de vinho, o Sangue; de tal maneira que, ao receberes o Corpo e Sangue de Cristo, te transformes, com Ele, num só corpo e num só sangue. Deste modo, tendo assimilado em nossos membros o seu Corpo e o seu Sangue, tornamo-nos portadores de Cristo; tornamo-nos, como diz São Pedro, participantes da natureza divina (…).

Não deves olhar para o pão e vinho eucarísticos como se fossem elementos simples e vulgares. São realmente o Corpo e o Sangue de Cristo, segundo a afirmação do Senhor. Muito embora os sentidos te sugiram outra coisa, tens a firme certeza de que te ensina a fé.

Se foste bem instruído pela doutrina da fé, acreditas firmemente que o que parece pão não é pão, muito embora seja sensível ao gosto, mas é o Corpo de Cristo; e o que parece vinho não é vinho, ainda que tenha esse sabor, mas é o Sangue de Cristo. Já antigamente, bem a propósito, dizia David nos salmos: “O pão fortalece o coração do homem, e o óleo faz brilhar no seu rosto a alegria”. Fortifica, portanto, o teu coração, tomando esse pão espiritual, que fará brilhar a alegria no rosto da tua alma.

Oxalá que, de rosto iluminado por uma consciência pura e reflectindo como num espelho a glória do Senhor, possas caminhar de glória em glória, em Cristo Jesus, Nosso Senhor, a quem seja dada honra, poder e glória pelos séculos sem fim.

Das catequeses de Jerusalém do Século IV
(Cat. 22, Mystagogica 4, 1.3-6.9; Pg 33, 1098-1106)

sábado, 9 de abril de 2011

Oração e leitura

A oração purifica-nos, a leitura instrui-nos. Pratiquemos uma e outra coisa, porque ambas são boas. Mas se isso não é possível, é melhor orar do que ler.
Quem deseja estar sempre com Deus, deve orar e ler frequentemente. Quando oramos, falamos nós com Deus; quando lemos, fala Deus connosco.
Todo o nosso progresso vem da leitura e da meditação. O que ignoramos, aprendemo-lo com a leitura: o que aprendemos, conservamo-lo com a meditação. 
É dupla a vantagem que tiramos da leitura da Sagrada Escritura: ilumina-nos a inteligência e, subtraindo-nos às vaidades do mundo, leva-nos ao amor de Deus.
Dupla deve ser também a preocupação com que devemos ler: primeiro, procurar compreender a Escritura; segundo, explicá-la para proveito do próximo com a devida dignidade. Naturalmente, só quem procura compreender o que leu estará apto para explicar o que aprendeu.
O leitor diligente pensa mais em pôr em prática o que lê do que em adquirir a ciência. É menor desgraça desconhecer um ideal do que, tendo-o conhecido, não o atingir. Lemos para compreender o que é recto, e compreendemos para o pôr em prática.
Ninguém pode descobrir o sentido da Escritura Sagrada se não a lê assiduamente, como está escrito: “Tem-na em grande estima e ela te exaltará; se a recebes, ela será a tua glória”.
Quanto mais assíduos formos na leitura da palavra divina, tanto melhor a compreenderemos , como a terra que tanto mais frutifica quando melhor é cultivada.
Há alguns que têm boa inteligência; mas são negligentes em ler os textos sagrados; o seu desinteresse mostra o desprezo por aquilo que a leitura lhes poderia ensinar. Há outros, porém, que desejam saber, mas têm pouca inteligência. Estes, com uma leitura assídua, conseguem aprender aquilo que os mais inteligentes, pela sua preguiça, nunca aprenderão.
Assim como o menos inteligente consegue, pela sua aplicação, recolher o fruto do seu estudo diligente, assim também aquele que menospreza a inteligência que Deus lhe deu, se torna réu de condenação, porque despreza um dom recebido e o deixa sem fruto.
A doutrina que não é acompanhada pela graça de Deus, entra pelos ouvidos, mas não chega ao coração; faz ruído exteriormente, mas interiormente não aproveita ao espírito. A palavra divina só desce dos ouvidos ao mais íntimo do coração, quando a graça de Deus opera interiormente na alma.
Dos Livros das Sentenças de Santo Isidoro, Bispo Espanhol (Lib.3, 8-10: PL 83,679-682)