Na primeira infância existe, em cada alma, sempre uma tendência para o sublime, o maravilhoso.
Mostrando para uma criança várias bolas de vidro, uma dourada, outra preta, outra castanho, outra azul celeste, outra verde esmeralda, outra vermelha esplendente, essa criança que ainda não sabe raciocinar, pois está no berço, tende a apanhar e tocar com as mãos uma das bolas.
Quais bolas? Ela é tendente a apanhar as que têm as cores mais vivas, mais sublimes! E afastará as outras com cores mais tristes e menos brilhantes. E será muito pouco provável que a criança escolha a bola castanha ou cinza. Aliás, se compreenderia bem o susto de um pai que visse o seu filho correr atrás de uma bola dessas. Pelo contrário, ele ficaria contente por ver a criança apanhar a bola dourada e outras com cores mais cintilantes e luminosas.
Uma criança estando num quarto escuro e vendo ao lado um quarto claro, a tendência dela será sair daquele quarto escuro e ir para o quarto claro. E será muito mais difícil passar do quarto claro para o escuro.
E tanto quanto possível a criança terá a tendência de adiar o seu sono, para dormir mais tarde. Embora o cansaço leve a criança a deitar-se logo, muitas vezes a imersão no sono dar-lh-á a impressão de que afundar-se no escuro é afundar-se na não vida, é afundar-se no não ser.
Frequentemente, a criança quando vai para o quarto, olha para trás e presta atenção aos pais, às pessoas, às coisas que estão a passar na sala, que está com a luz acesa, enquanto no quarto, a luz está apagada, ou a meia luz.
A criança quando acorda, alegra-se (como os passarinhos pela manhã). Isto é assim, porque é sempre o lado positivo e rutilante das coisas que atrai a criança, e não o lado escuro e pardacento das coisas. Não me refiro só a este lado, mas também àquilo que não tem brilho, que provoca repulsa nela, enquanto que a luz representa a entrada no ser.
Quando vai dormir à noite, ela vai triste. É preciso que os seus pais a mandem para a cama repetidas vezes, porque ela não quer, aquilo provoca-lhe tédio.
Se os senhores procurarem lembrar-se das suas infâncias, certamente encontrarão reações que vão nesse sentido.
Por aqui compreendemos a batalha que a revolução, o mal, teve que travar para levar o homem ao torpe, ao infame e ao feio, no qual se deleita hoje em dia.
Plínio Corrêa de Oliveira