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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cristo que sofreu por nós

A Cristo Jesus deves toda a tua vida, pois que Ele deu a sua vida pela tua e suportou amargos tormentos para que tu não suportasses tormentos eternos. Que poderá haver para ti de duro e medonho, se te lembrares que aquele que era de condição divina na luz da sua eternidade, antes do nascer da aurora, no esplendor dos santos, ele mesmo resplendor e imagem da substância de Deus, veio à tua prisão, enterrar-se até ao pescoço, como se diz, no fundo do teu lodo? (Fil 2,6; Sl 109,3; Heb 1,3; Sl 68,3)
O que é que não te parecerá doce, quando tiveres reunido no teu coração todas as tristezas do teu Senhor e te lembrares, primeiro, das condicionantes da sua infância, depois, das fadigas da sua pregação, das tentações dos seus jejuns, das suas vigílias de oração, das suas lágrimas de compaixão, das maquinações que armaram contra ele... e, depois, das injúrias, dos escarros, das bofetadas, das chicotadas, do escárnio, da troça, dos pregos, de tudo o que suportou para nossa salvação?
Que compaixão imerecida, que amor gratuito assim provado, que estima inesperada, que doçura surpreendente, que bondade invencível! O rei da glória (Sl 23) crucificado por um escravo tão desprezível! Quem é que alguma vez ouviu tal, que alguma vez viu algo semelhante? «É que dificilmente alguém morria por um justo» (Rom, 5,7). Mas ele, foi por inimigos e por injustos que morreu, escolhendo deixar o céu para nos conduzir ao céu, ele, o doce amigo, o sábio conselheiro, o apoio firme. Que daria eu ao Senhor por tudo aquilo que me deu? (Sl 115,3)
S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja
Sermões diversos, nº 22

A Páscoa anunciada pelos patriarcas, profetas e todo o seu povo

O mistério da Páscoa realizou-se no corpo do Senhor. Mas Ele já tinha anunciado os seus sofrimentos pelos patriarcas, pelos profetas e por todo o seu povo; tinha-os confirmado por meio de um selo, visível na Lei e nos profetas. Esse futuro inaudito e grandioso foi preparado desde longa data; pré-figurado desde há muito, o mistério do Senhor tornou-se visível hoje, porque antigo e novo é o mistério do Senhor. […]
Queres, pois, ver o mistério do Senhor? Contempla Abel, como Ele assassinado, Isaac, como Ele preso, José, como Ele vendido, Moisés, como Ele exposto, David, como Ele acossado, os profetas, como Ele maltratados em nome de Cristo. Contempla, por fim, a ovelha imolada na terra do Egipto, que atingiu o Egipto e salvou Israel pelo seu sangue.
Também pela voz dos profetas foi anunciado o mistério do Senhor. Moisés disse ao povo: “A tua vida estará como em suspenso diante de ti. Tremerás de noite e de dia não acreditarás no teu próprio viver” (Dt 28, 66). E David: “Por que se amotinam as nações, por quê este burburinho insano dos povos? Sublevam-se os reis da terra, os príncipes conspiram entre si contra o Senhor e contra o seu ungido” (Sl 2, 1-2). E Jeremias: “E eu, como manso cordeiro, conduzido ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: […] ‘Arranquemo-la a terra dos vivos, que o seu nome caia no esquecimento’.” (Jer 11, 19). E Isaías: “Foi maltratado e resignou-se, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador. Sem defesa, sem justiça o levaram, quem meditou no seu destino?” (Is 53, 7-8).
Muitos outros acontecimentos foram anunciados por numerosos profetas acerca do mistério da Páscoa, que é Cristo. […] Foi Ele quem nos livrou da servidão do mundo, como da terra do Egipto, e nos arrancou à escravidão do demónio, como à mão do Faraó.

Militão de Sardes (?-c. 195), bispo - Homilia pascal, 57-67

Herança preparada no Céu

Consideremos a recompensa que Abraão pede ao Senhor. Não Lhe pede riquezas, como um avaro, nem vida longa, como quem teme a morte, nem poder, antes pede um digno herdeiro do seu trabalho. “Que me dareis, Senhor Deus, vou-me sem filhos” (Gn 15, 2). […] Agar deu à luz um filho, Ismael, mas Deus diz-lhe: “Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das tuas entranhas” (Gn 15, 4). De quem fala Ele? Não se trata de Ismael, mas de Santo Isaac. […] Em Isaac, filho legítimo, podemos ver o verdadeiro filho legítimo, o Senhor Jesus Cristo, que, no começo do Evangelho de São Mateus, é chamado filho de Abraão (Mt 1, 1). Ele mostrou ser um verdadeiro filho de Abraão, fazendo resplandecer a descendência do seu antepassado; foi graças a Ele que Abraão, olhando para o céu, pôde ver brilhar a sua posteridade como as estrelas (Gn 15,5). O apóstolo Paulo afirma: “Uma estrela difere da outra em resplendor. Assim também é a ressurreição dos mortos” (1 Co 15, 41-42). Ao associar à sua ressurreição os homens que a morte mantinha na terra, Cristo fê-los participar no reino dos céus.
A filiação de Abraão apenas se propagou pela herança da fé, que nos prepara para o céu, nos aproxima dos anjos, nos eleva até às estrelas. Disse Deus: “’Será assim a tua descendência.’ Abraão confiou no Senhor” (Gn 15, 5-6). Ele acreditou que, pela sua encarnação, Cristo seria seu herdeiro. Para to fazer compreender, o Senhor afirmou: “Abraão viu o Meu dia e alegrou-se.” Deus considerou-o justo porque não pediu explicações, antes acreditou sem a menor hesitação. É bom que a fé se sobreponha às explicações, pois de outro modo parecia que estávamos a exigi-las ao Senhor nosso Deus, como quem as exige a um homem. Que inconveniência, acreditar nos homens quando eles dão testemunho de outro, e não acreditar em Deus, quando fala de Si! Imitemos, pois, Abraão, para herdarmos o mundo pela justificação da fé, que o tornou a ele herdeiro da terra.
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja - Abraão, Livro I, 19-20

As lágrimas mudam de natureza

"Mulher, porque choras?" Bem-amado Senhor, como podes perguntar porque é que ela chora? Não é verdade que ela te viu cruelmente imolado, atravessado por pregos, suspenso do madeiro como um salteador, entregue às zombarias dos ímpios? Como é que podes dizer-lhe: "Mulher, porque choras?" Ele não conseguiu arrancar-te à morte mas queria, ao menos, embalsamar o teu corpo, para o preservar da corrupção o máximo tempo possível... E eis que, para cúmulo, julga ter perdido esse corpo que ela tinha ainda a alegria de possuir. Com essa perda, toda a esperança se esfumou para ela, se nada pode guardar em memória de ti. Como é que, nesse momento, lhe podes perguntar: "Mulher, porque choras? Quem procuras?"    

Ó bom Senhor, vê que é a tua discípula fiel, resgatada pelo teu sangue, que está atormentada pelo desejo de te ver. Vais permitir que um tal sofrimento dure muito tempo? Agora que escapaste à corrupção, perdeste toda a compaixão? Agora que atingiste a imortalidade, esqueceste a misericórdia? Não, a tua doce bondade, Amigo, faz-te intervir sem tardar para que aquela que chora o seu Senhor não ceda à amargura do coração.      

"Maria!" Ó Senhor, tu chamaste a tua serva pelo seu nome de família e ela reconheceu imediatamente a voz familiar do seu Senhor. "Maria!" Palavra tão doce, tão transbordante de ternura e de amor! É-te impossível, Mestre, dizê-lo de forma mais breve e mais forte: "Maria! Eu sei quem tu és. Sei o que queres. Eis-me aqui! Não chores mais. Eis-me aqui, aquele que tu procuras." Imediatamente as lágrimas mudam de natureza: como poderiam elas estancar, quando agora brotam de um coração em festa?

Santo Anselmo (1033-1109), monge, bispo, doutor da Igreja
74ª oração

Não temais!

"Eu sei que procurais Jesus, o crucificado. Não está aqui". Assim falava o anjo às mulheres, ele que tinha aberto o túmulo por essa razão. Não tinha sido para fazer sair Cristo, que já não estava lá, mas para lhes fazer saber que Cristo já não estava lá. "Ressuscitou, tal como tinha dito... Vinde ver o lugar onde o Senhor tinha sido depositado" (Mt 28,5-6). Vinde, mulheres, vinde. Vede o lugar onde tínheis depositado Adão, onde o género humano tinha sido sepultado. Compreendei que o seu perdão foi tão grande quão grande tinha sido a injustiça feita ao Senhor...

Quando as mulheres entram no sepulcro, tomam parte no acto de sepultar Jesus, tornam-se participantes da própria Paixão. Ao saírem do sepulcro, erguem-se na fé antes de ressuscitarem na cerne. "Deixaram o túmulo, trémulas e cheias de alegria"... A Escritura diz: "Servi o Senhor com temor e estremecei de júbilo por ele" (Sl 2,11).

"E Jesus veio ao seu encontro e disse-lhes: "Salve!" Cristo vem ao encontro daquelas que correm com fé, para que reconheçam com os seus olhos Aquele em quem tinham acreditado pela fé. Quer confortar com a sua presença aquelas que tinham ficado a tremer pelo que lhes tinha sido dito... Vem ao seu encontro como um mestre, saúda-as como um familiar, devolve-lhes a vida por amor, guarda-as pelo temor. Saúda-as para que o sirvam amorosamente, para que o receio não as faça fugir. "Salve!" "Elas aproximaram-se e agarraram-lhe os pés"... "Salve!", quer dizer: Toquem-me. Quis ser agarrado, Ele que suportou que o amarrassem...
Diz-lhes: "Não temais". O que o anjo tinha dito, o Senhor di-lo também. O anjo tinha-as confirmado, Cristo vai torná-las mais fortes ainda. "Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que devem ir para a Galileia. Lá me verão". Erguendo-se de entre os mortos, Cristo tomou consigo o homem, não o abandonou. Chama-lhes, por isso, seus irmãos, àqueles que pelo corpo tinha tornado seus irmãos de sangue; chama-lhes irmãos, àqueles que adoptou como filhos de Seu Pai. Chama-lhes irmãos, àqueles que, como herdeiro pleno de bondade, quis tornar seus co-herdeiros.

S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja - Sermão 80

Manifestações de Deus

Todas as criaturas estão vivas na mão de Deus; os sentidos só se apercebem da acção da criatura, mas a fé crê na acção divina em todas as coisas. Ela vê que Jesus Cristo vive em tudo e opera em toda a extensão dos séculos, que o mais pequeno momento e o mais pequeno átomo encerram uma porção desta vida escondida e desta acção misteriosa. A acção das criaturas é um véu que encobre os mistérios profundos da acção divina.

Após a sua ressurreição, Jesus Cristo surpreendia os discípulos com as suas aparições, apresentando-Se-lhes em figuras que O disfarçavam; mal Se revelava, desaparecia. Este mesmo Jesus, sempre vivo e sempre operante, continua a surpreender as almas cuja fé não é suficientemente pura e penetrante. Não há momento algum em que Deus Se não apresente, seja sob a forma de uma dor, de uma obrigação ou de um dever. Tudo quanto se faz em nós, em nosso redor e através de nós encerra e encobre a Sua acção divina, o que faz com que sejamos constantemente surpreendidos e não conheçamos as Suas operações senão quando elas deixaram de subsistir.

Se perfurássemos o véu e estivéssemos vigilantes e atentos, Deus revelar-Se-nos-ia sem cessar e usufruiríamos da Sua acção em tudo aquilo que nos acontece. Perante cada coisa, diríamos: “É o Senhor!” E detectaríamos em todas as circunstâncias que recebemos um dom de Deus, que as criaturas são instrumentos frágeis, que nada nos falta, e que o permanente cuidado de Deus O leva a conceder-nos aquilo que nos convém.

Jean Pierre de Caussade (1675-1751), jesuíta - Abandono na Providência divina

Da Palavra à Eucaristia

O próprio Salvador, que a Palavra da Escritura coloca diante dos nossos olhos na sua humanidade, mostrando-no-Lo em todos os caminhos que percorreu nesta terra, habita entre nós escondido sob as aparências do pão eucarístico, vem todos os dias até nós como Pão da Vida. Nestes dois aspectos, torna-Se próximo de nós e sob estes dois aspectos deseja que O procuremos e O encontremos. Um chama o outro. Quando vemos o Salvador diante de nós com os olhos da fé, tal como a Escritura no-Lo retrata, aumenta o nosso desejo de O acolher em nós no Pão da Vida. Por sua vez, o pão eucarístico aviva o nosso desejo de conhecer o Senhor sempre com maior profundidade, a partir da Palavra da Escritura, e dá forças ao nosso espírito, com vista a uma melhor compreensão.
Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa - Para 6 de Janeiro de 1941

Bem-aventurados os que têm fome da Eucaristia

O profeta diz: "Vós que tendes sede, ide à fonte" (Is 55,1). É a fonte dos que têm sede, não a dos que estão saciados. Ela chama pelos que têm fome e sede, aos quais chama bem-aventurados (Mt 5,6), aqueles cuja sede nunca se esgota e que têm tanto mais sede quanto mais já beberam dessa fonte. Devemos, pois, desejar, irmãos, a fonte da sabedoria, o Verbo de Deus nas alturas - devemos procurá-la, devemos amá-la. Nessa fonte estão escondidos, como diz o apóstolo Paulo, "todos os tesouros da sabedoria e da ciência" (Col 2,3); ela convida todos os que têm sede a vir saciar-se.
Se tens sede, vai beber à fonte da vida. Se tens fome, come o pão da vida. Felizes aqueles que têm fome desse pão e sede dessa fonte. Bebendo e comendo sem fim, continuam a desejar beber e comer; doce é esse alimento e doce essa bebida. Comemos e bebemos mas temos ainda fome e sede; o nosso desejo está satisfeito mas não cessamos de desejar. Foi por isso que David, o rei profeta, exclamou: "Provai e vede como o Senhor é bom" (Sl 33,9). Por isso, irmãos, sigamos aquilo a que somos chamados. A Vida, a fonte de água viva, a fonte da vida eterna, a fonte da luz e a nascente de toda a claridade convida-nos ela mesma a vir e a beber (Jo 7,37). Aí encontraremos a sabedoria e a vida, a luz eterna. Aí beberemos a água viva, que brota para a vida eterna (Jo 4,14).
S. Columbano (563-615), monge, fundador de mosteiros - Instrução espiritual, 12,3

Fortalecer na fé, um dom gratuito de Deus

O fundamento em que nos apoiamos é a fé. Sem fé, inútil esperar conseguir qualquer conforto espiritual... Que suporte poderia dar a Sagrada Escritura a alguém que não acreditasse que ela é a Palavra de Deus e que essa Palavra é verdadeira? Encontra-se nela bem pouco proveito se não se acredita que é a Palavra de Deus ou se, mesmo admitindo-o, se pensa que ela pode conter erros! Segundo a fé é mais ou menos forte, assim as palavras da Sagrada Escritura farão mais ou menos bem.
Esta virtude da fé, nenhum homem a pode adquirir por si mesmo, nem a pode dar a outro... A fé é um dom gratuito de Deus e, tal como diz S. Tiago: "Todo o bem, toda a perfeição vem-nos do alto, do Pai das luzes" (Tg 1,17). É por isso que nós, que por muitas razões sentimos que a nossa fé é fraca, Lhe pedimos que a fortaleça.
S. Tomás More (1478-1535), estadista inglês, mártir Diálogo do Reconforto nas Tribulações

Se não nascerdes de novo, não entrareis no reino dos Céus

Vamos expor de que maneira nós, renovados em Cristo, nos consagrámos a Deus.

Os que estiverem persuadidos e acreditarem no que nós ensinamos, e prometerem viver em conformidade com essas verdades, exortamo-los a pedir a Deus o perdão dos pecados, com orações e jejuns, e também nós oramos e jejuamos em plena solidariedade com eles.
Depois, conduzimo-los ao lugar onde se encontra água e aí são regenerados tal como nós o fomos, isto é, recebem o Baptismo da água em nome do Criador e Senhor Deus de todas as coisas, do nosso Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo.

Jesus Cristo disse de facto: Se não nascerdes de novo, não entrareis no reino dos Céus. Não se trata, evidentemente, de voltar a entrar no seio materno.

Foi dito também pelo profeta Isaías como podem evitar os pecados aqueles que os cometeram e fazem penitência. São estas as suas palavras: Lavai-vos e purificai-vos; tirai a malícia das vossas almas e aprendei a praticar o bem…Vinde então para dialogarmos, diz o Senhor. Ainda que os vossos pecados sejam como o escarlate, Eu os tornarei brancos como a lã (Is 1, 16s) …

Esta maneira de agir recebemo-la dos Apóstolos. No nosso primeiro nascimento, fomos gerados, sem disso termos consciência, por um instinto natural na mútua união dos nossos pais. Mas para termos também um nascimento que não seja fruto da simples natureza e da ignorância, mas sim de uma escolha consciente, e obtermos pela água o perdão dos pecados cometidos, sobre o que desejar ser regenerado e fizer penitência dos pecados, é pronunciado o nome do Criador e Senhor de todas as coisas, nome que é somente invocado sobre aquele que é conduzido à água do Baptismo, porque ninguém é capaz de atribuir um nome ao Deus que está acima de todo o nome…

A esse Baptismo dá-se o nome de “iluminação” porque os iniciados nesta doutrina ficam iluminados na sua inteligência. Mas a purificação daquele que é iluminado, faz-se também em nome de Jesus Cristo, crucificado sob Pôncio Pilatos, e em nome do Espírito Santo que, pelos Profetas, predisse tudo o que dizia respeito a Jesus.

São Justino (c. 100-160), filósofo, mártir - Primeira Apologia