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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

As lágrimas mudam de natureza

"Mulher, porque choras?" Bem-amado Senhor, como podes perguntar porque é que ela chora? Não é verdade que ela te viu cruelmente imolado, atravessado por pregos, suspenso do madeiro como um salteador, entregue às zombarias dos ímpios? Como é que podes dizer-lhe: "Mulher, porque choras?" Ele não conseguiu arrancar-te à morte mas queria, ao menos, embalsamar o teu corpo, para o preservar da corrupção o máximo tempo possível... E eis que, para cúmulo, julga ter perdido esse corpo que ela tinha ainda a alegria de possuir. Com essa perda, toda a esperança se esfumou para ela, se nada pode guardar em memória de ti. Como é que, nesse momento, lhe podes perguntar: "Mulher, porque choras? Quem procuras?"    

Ó bom Senhor, vê que é a tua discípula fiel, resgatada pelo teu sangue, que está atormentada pelo desejo de te ver. Vais permitir que um tal sofrimento dure muito tempo? Agora que escapaste à corrupção, perdeste toda a compaixão? Agora que atingiste a imortalidade, esqueceste a misericórdia? Não, a tua doce bondade, Amigo, faz-te intervir sem tardar para que aquela que chora o seu Senhor não ceda à amargura do coração.      

"Maria!" Ó Senhor, tu chamaste a tua serva pelo seu nome de família e ela reconheceu imediatamente a voz familiar do seu Senhor. "Maria!" Palavra tão doce, tão transbordante de ternura e de amor! É-te impossível, Mestre, dizê-lo de forma mais breve e mais forte: "Maria! Eu sei quem tu és. Sei o que queres. Eis-me aqui! Não chores mais. Eis-me aqui, aquele que tu procuras." Imediatamente as lágrimas mudam de natureza: como poderiam elas estancar, quando agora brotam de um coração em festa?

Santo Anselmo (1033-1109), monge, bispo, doutor da Igreja
74ª oração