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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A cidade de Deus de Santo Agostinho e a luta do bem contra o mal

 


Santo Agostinho escreveu um livro famoso intitulado “A Cidade de Deus” no qual defende a existência no mundo de apenas duas forças, dois princípios vitais, dois elementos ativos, dois Estados (a civitas de que fala é o Estado, e não “cidade” como se costuma dizer): o de Deus e o do demónio, numa perpétua, completa e irreconciliável luta entre si, a Cidade de Deus e a cidade do demónio.

Trata-se da concepção de que todos os factos do mundo reduzem-se numa luta entre o bem e o mal, entre a Igreja Católica e o poder das trevas, entre aqueles que dentro da Igreja representam o bom espírito, de um lado, e do outro, o poder das trevas. A luta entre esses dois princípios opostos resulta de dois amores e que a oposição desses dois amores constitui a fonte do ódio entre eles. A fonte desses amores e dos ódios é, na Cidade de Deus, o amor de Deus até o esquecimento de si mesmo; na cidade do demónio, cada um se ama a si próprio até o aquecimento de Deus. Ou seja, é o confronto entre a procura do absoluto e o egoísmo (cfr. op. cit. XIV, 28).

O ponto de partida da cidade do demónio e do mal espírito é o pensar em si, nos seus interesses, nos seus prazeres, nos seus deleites, nas suas coisinhas, o ter-se a si mesmo como minúsculo centro do universo, com o egoísmo todo voltado para suas satisfações.

Na Cidade de Deus vive-se para o Criador, não a pensar em si, mas todos estão voltados inteiramente para as realidades supra-terrenas que a Revelação nos indica, têm o espírito voltado para o metafísico, para o espírito religioso que se dirige para as mais altas coisas e que prepara as condições da alma para receber o dom inapreciável da fé católica.

Esses dois princípios estão numa oposição completa e a história do mundo é feita da luta entre eles.

Alguém dirá: “Mas essa concepção é muito intransigente!” São Luiz Grignion de Montfort escreveu que tudo quanto Deus cria é bem criado, porque Deus não faz nada de errado. E Ele só fez uma inimizade, mas que essa inimizade é bem feita, porque Ele faz tudo bem feito. A inimizade que Ele criou é esta: entre os bons e os maus, entre os filhos da luz e os filhos das trevas, entre Nossa Senhora e a Serpente.

Plinio Corrêa de Oliveira

Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova!


"Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração... Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava... Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.

Tu estavas dentro de mim e eu fora... "Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior". Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só me afastavam cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava... Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo...

Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e o Teu grito rompeu a minha surdez... "Fizeste-me entrar em mim mesmo... Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava". Em meio à luta, recorri ao meu grande amigo Alípio e disse-lhe: “Os ignorantes arrebatam-nos o céu e nós, com toda a nossa ciência, debatemo-nos na nossa carne”. Assim encontrava-me, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”... Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha... Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.

Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: "Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.

Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus... de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus... de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus... a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e dei-me conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.

Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo pela Tua Paz. "Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo". Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!

E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!...

Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora - e fora Te buscava, e lançava-me, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo.... Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou a minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, desejei-Te. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos pela Tua Paz!

Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

Comprovado o corpo incorrupto de Santa Teresa de Ávila

 


Hoje, 28 de agosto de 2024, foi novamente aberto o túmulo de Santa Teresa de Ávila e ficou comprovado que o seu corpo continua incorrupto desde 1582. 

A última vez que o túmulo tinha sido aberto foi em 1914.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O prazer, a felicidade e o perigo do abuso


O prazer é como um tempero, é como um sal que dá à felicidade um certo sabor. São Tomás de Aquino diz que o homem, para existir, precisa ter algo, por menor que seja, que lhe dê algum prazer.

Se imaginássemos um homem que não tivesse nem um grão de felicidade, esse homem desapareceria. E a Providência Divina, que é materna e bondosa, permite duas coisas: Primeiro, que a grande maioria dos homens tenha pelo menos uma parcela de felicidade, não uma felicidade inteira, que não existe nesta vida; segundo, também faz com que aqueles a quem Ela mais ama passem por períodos dos quais a felicidade desaparece completamente. São os grandes períodos da vida de um homem. É quando se faz noite para ele e a felicidade desaparece, inclusive a consolação sobrenatural. E ele entra no túnel obscuro, plumbeamente pesado, de uma infelicidade grande.

Mas os males críticos, muito agudos, não duram. Ou conduzem à morte ou passam logo. Assim também, é preciso ver essas partes trágicas da existência como permitidas por uma disposição especial da Providência, em geral com pouca duração.

Por outro lado, o prazer é uma cilada. Ele facilmente convida para o abuso. Não quero dizer que se deva abster-se dele, mas sim que se deve tomar cuidado com o prazer; como em relação a certos remédios, que tomados em dose muito pequena podem ser úteis, e até indispensáveis; mas ai de quem errar a dosagem! Fica envenenado. É assim também com o prazer.

Plinio Corrêa de Oliveira

sábado, 27 de julho de 2024

Como nasce a devoção a Nossa Senhora nas almas?


Em geral, a devoção viva a Nossa Senhora começa quando alguém se vê em apuros espirituais ou temporais, ou os dois, e pede a Nossa Senhora para deles ser salvo.

Maria Santíssima ao mesmo tempo que salva a pessoa de tais dificuldades, opera algo na alma, na ordem imponderável e na ordem da graça, que ela adquire como que uma vivência da condescendência maternal, risonha, afável, bondosa de Nossa Senhora e com isso fica com a esperança viva de que em outras circunstâncias difíceis será atendida de novo.

Esse "pede-pede" de todas as graças – sobretudo a do amor a Deus, que é a que se deve mais suplicar – acaba indo num crescendo de tal maneira que Nossa Senhora vai se tornando mais exorável, mais materna, de uma assistência mais meticulosa, à medida que a pessoa vai crescendo nessa espécie de vivência, desta espécie de providência risonha e afável da Mãe do Céu para com cada um.

De tal maneira que as pessoas, às vezes, acabam pedindo a Nossa Senhora verdadeiras bagatelas, coisinhas que são insignificantes e que Ela dá como uma mãe deseja dar aos filhos coisas grandes e pequenas, e que tem um sorriso particularmente afetuoso para as coisas pequenas que se lhe pedem.

Há aí uma espécie de aurora da confiança, de aurora da verdadeira compreensão de quais são as nossas relações com Nossa Senhora, e ainda que a alma passe por provações muito longas, muito duras, períodos de aridezes, períodos de dificuldades, algo disso fica. É como uma luz que acompanha a pessoa a vida inteira, inclusive nos últimos e mais amargos transes da morte.

Assim também nós: ao apresentarmos os nossos pedidos a Nossa Senhora, por pequenos que sejam, devemos fazê-lo com inteira confiança de que Ela condescende com o que suplicamos.

Se não fizermos assim, a nossa devoção para com Ela nunca será perfeitamente verdadeira. Devemos ter para com Nossa Senhora uma espécie de à vontade, de desembaraço, de intimidade de filho que às vezes até quando Lhe contrista, se Lhe apresenta com toda a confiança, certo de obter o Seu auxílio e o Seu sorriso.

É este o ponto de partida inefavelmente suave de uma devoção viva a Nossa Senhora.

Cf. Plinio Corrêa de Oliveira, Conferência, 18 de maio de 1964

terça-feira, 23 de julho de 2024

Reprimenda de Nosso Senhor ao Papa

Nosso Senhor Jesus Cristo declarou a Santa Brígida da Suécia:

“Declaro o meu desgosto contigo, cabeça de minha Igreja [Clemente VI], tu que te sentas em minha cátedra. Concedi esta cátedra a Pedro e aos seus sucessores para que sentem com uma tríplice dignidade e autoridade: primeiro, para poderem ter o poder de atar e desatar as almas do pecado; segundo, para poder abrir o Céu aos penitentes; terceiro, para que fechem o Céu aos condenados e àqueles que me desprezam. Porém tu, que deverias estar libertando almas, és realmente um assassino de almas. Designei a Pedro como o pastor e o servente das minhas ovelhas, mas tu as dissipas e as perde, és pior que Lucifer.

Ele tinha inveja de Mim e não pretendia matar a ninguém além de Mim, de forma que pudesse governar no meu lugar. Mas tu és pior, visto que, não só Me matas ao apartar-Me de ti pelo teu mau trabalho, senão que, também matas as almas devido o teu mau exemplo. Eu redimi almas com meu sangue e as encomendei a ti como um amigo confiável. Mas tu as devolves ao inimigo de quem eu as redimi. És mais injusto que Pilatos. Ele tão somente Me condenou à morte. Mas tu não só Me condenas como se Eu fosse um pobre homem indigno, como condenas também as almas dos meus eleitos e deixas livres os culpados. Mereces menos misericórdia que Judas. Ele tão somente me vendeu. Mas tu, não só me vendes, senão que também vendes as almas dos meus eleitos em troca do teu próprio proveito e vã reputação. Tu és mais abominável que os judeus. Eles tão somente crucificaram o Meu corpo, mas tu crucificastes e castigastes as almas dos meus eleitos, para quem a tua maldade e transgressão são mais afiadas que uma espada.

Assim, posto que és como Lucifer, mais injusto que Pilatos, menos digno de misericórdia que Judas e mais abominável que os judeus, minha ira para contigo está justificada

Santa Brígida da Suecia, El libro de las revelaciones celestiales, I, 41, 2016, p. 64-65.

Ser reto e prestar atenção em si mesmo


A maior parte das pessoas tem preguiça de pensar. E por causa disso tem preguiça de prestar atenção em si mesmas.

Se a pessoa fosse verdadeiramente inocente ela gostaria de pensar. O pensamento é para a alma inocente como a respiração é para o corpo.

Por falta de inocência e por preguiça, as pessoas começam a fazer as análises incompletas de si próprias, não olham inteiramente para os seus defeitos e começam a imaginar qualidades que não tem. Porque quem não quer ver os defeitos que tem, imagina qualidades que não tem.

A partir desse momento forma uma falsa ideia da sua própria pessoa e toma um itinerário errado na vida. Não sabe bem o que lhe apetece e, o pior, é que apetece fazer o que não lhe convém

E assim, o indivíduo sonha que é para ter uma vida que não é para ele. Vive a vida que ele não sonhou, nota que dá tudo errado e fica frustrado.

Para vermos como Nossa Senhora ajuda sempre nas mudanças de vida, de um modo inimaginável, vale a pena ler as “Confissões” de Santo Agostinho. Ele chegou a um ponto em que estava sozinho, angustiado, vacilante, agnóstico, corrupto, com um filho ilegítimo. De repente ele ouve uma voz que lhe diz: “Tolle, lege; tolle, lege”, “Toma e lê; toma e lê”. Era a voz de Deus mandando ler um trecho da epístola de São Paulo aos Romanos, que resolveu o seu problema e completou a sua conversão.

A partir daquele momento ele converteu-se e tornou-se num grande Doutor da Igreja. Ele escreveu essa biografia, à qual ele deu o título de Confissões, para se confessar a si próprio, diante do mundo inteiro, pelos seus defeitos.

E a morte dele foi a mais bela morte de penitente que se possa imaginar. Ele foi elevado a Bispo - um luminar da Igreja Católica! Mas Bispo da minúscula cidadezinha de Hipona, no norte da África, uma cidade romana, de cultura e de língua, cercada pelos vândalos, que vinham da Germânia, atravessaram a França, a Espanha e desceram pela África. E cercaram várias cidades. No caminho estava Hipona. E ela ia ser tomada pelos bárbaros, pagãos. Ele moribundo, provavelmente já com a vista enfraquecida, mandou que os salmos de David, os salmos penitenciais, fossem escritos num muro, diante do seu leito, em letras bem grandes para ele poder ler. E ele até ao fim da vida lia os salmos pedindo perdão, para ele ser recebido por Deus.

Uma alma que com tanta retidão e tanta lealdade se examinou a si mesma, com tanta retidão ensinou e confiou na misericórdia de Deus e de Nossa Senhora, com certeza, as portas do Céu - é de fé! ele é um santo canonizado - abriram-se e ele entrou pelo eixo reto que conduz até Deus. Porquê? Porque ele tinha sido reto a vida inteira.

Plinio Corrêa de Oliveira

sábado, 20 de julho de 2024

As três fases da vida, espelhadas na oração da Salve Rainha


Na “Salve Rainha” encontramos as três fases da vida dos homens: a juventude, a maturidade e o declínio.

Juventude: A oração começa com “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa”, a saudação alegre do ser ainda pequeno, balbuciando carícias respeitosas, mimando com palavras de doçura, com as lisonjas de uma criança que tenta persuadir a Mãe.

Maturidade: “A Vós bradamos, os degradados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Esta criança, tão sincera, tão simplesmente feliz, cresceu e conhecendo já as derrotas voluntárias do pensamento e da vontade, as suas repetidas caídas e faltas, junta as mãos e, soluçando, pede ajuda. Já não louva Nossa Senhora a sorrir, mas a chorar.

Declínio: “Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre”. Finalmente a velhice chegou. A pessoa atormentada pela recordação dos conselhos negligenciados, arrependida por ter fechado o coração a tantas graças, torna-se mais temerosa, mais fraca. Com medo da sua salvação, aterrorizada com a sua libertação, com a destruição da sua prisão carnal que sente estar próxima, a alma pensa na eterna inanição daqueles a quem o Juiz condena e, de joelhos, implora à Advogada da terra, a Consulesa do Céu.

“Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”. E, a este cerne da oração que Pedro de Compostela ou Hermano de Reichenau, O.S.B. preparou, São Bernardo, num acesso de hiperdulia, acrescentou as três invocações finais, selando com três brados de amor, que reconduzem a oração à doce adoração do seu início.

Cf. Joris-Karl Huysmans, A caminho, 1897, Paris, P.-V. Stock, Éditeur, p. 248

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Um Papa que apostatou, converteu-se e morreu mártir




No ano de 308, foi eleito para a Cátedra de Pedro, o Papa São Marcelo, que encontrou a Igreja numa situação desastrosa. Os locais de reunião e alguns cemitérios foram confiscados e as atividades ordinárias foram interrompidas. Além disso, ocorriam alguns desentendimentos internos causados pelo grande número de pessoas que tinham renunciado a fé durante o período de perseguição e que pretendiam ser readmitidos à Eucaristia, sem que tivessem feito um ato de arrependimento.

Uma vez eleito, Papa Marcelo assumiu de imediato o compromisso de reorganizar a Igreja. Forte defensor das antigas tradições, endureceu a sua posição e exigiu penitência para todos os relapsos, que queriam ser readmitidos. A sua posição gerou divisões e o imperador Magêncio, responsabilizou o Papa pelas desordens e expulsou-o de Roma. Algum tempo depois, foi preso e levado ao Circo Máximo para sacrificar aos ídolos. Se não o fizesse, seria entregue às feras.

O Papa ficou com medo e jogou incenso, sinal de veneração, diante de um ídolo. Portanto, ele também se tornava um relapso, renunciava através do seu gesto a Nosso Senhor Jesus Cristo e pode recuperar imediatamente a sua liberdade.

Envergonhado, o Papa Marcelo fugiu para a região dos Balcãs e ficou alguns dias por lá. A Igreja estava acéfala – sem cabeça e perseguida – apenas aparentemente, pois ele continuava a ser Papa.

Imaginemos a noite escura pela qual passaram os católicos perseguidos, com lutas internas, com a apostasia do Papa, vivendo nas catacumbas... Parecia que a Igreja estava acabada.

Mas, a Igreja é imortal! Pouco tempo depois, o Papa Marcelo regressou, foi admitido no trono de São Pedro e foi novamente levado ao Circo Máximo. Quando chegou a sua vez, recusou-se veementemente a adorar os ídolos, e as feras o devoraram.

A Igreja venera-o com o título de São Marcelo.

São Marcelo, mártir, rogai por nós!

(Cfr. Plino Corrêa de Oliveira, 20 de outubro de 1988, reunião em Madrid)

 

Só é digno de vencer quem passa pelo improvável, impossível e imprevisível!



Todos nós temos de lutar contra os nossos defeitos e contra o mal. O demónio muitas vezes age em nós, e não o faz na hora dos bons resultados. Ele atua quando surge uma situação psicológica especial, que é a seguinte: Quando algo se repete muitas vezes, quando demora muito para realizarmos as nossas esperanças, quando algo parece não ter grandes resultados, então o demónio insinua-nos: “Isso já não terá resultado, pode ficar para outro dia, não vale um sacrifício tão grande! Porquê dar a vida por um ideal, por uma vocação?”

Estas tentações são um perigo real, porque na realidade as coisas de Deus — as verdadeiras coisas de Deus — passam pelo improvável, muitas vezes passam pelo impossível e pelo imprevisível. Só os homens que têm a coragem de enfrentar o improvável e o imprevisível são dignos de vencer.

Se queremos ser dignos da vitória, devemos preparar o nosso espírito para as aparências de fracasso, as aparências de um atraso muito grande, as aparências de algo que não está resolvido; porque, de um momento para o outro, a tentação e o mal que combatemos desaparecem, o passo na vida espiritual que esperávamos é alcançado e quando menos esperamos, a Providência Divina vem e resolve o caso!

(Cfr. Plino Corrêa de Oliveira, 20 de outubro de 1988, reunião em Madrid)