« É preciso admoestar aqueles que choram os próprios pecados
sem, porém, deixar de cometê-los. Eles devem ser exortados a tomar consciência,
seriamente, de que, para purificar-se, em vão são os seus prantos, se, depois,
mancham a própria conduta com novas iniquidades, porque, assim, derramam
lágrimas que purificam, mas depois voltam a contaminar-se (…).
Aquele que chora os pecados cometidos, mas não os abandona,
se submete à pena de uma culpa mais grave, pois despreza justamente aquele
perdão que pôde obter com as lágrimas e, por assim dizer, se revolve numa água
lamacenta. Subtraindo às suas lágrimas a pureza da vida, ele faz com que essas
mesmas lágrimas, aos olhos de Deus, se tornem lágrimas asquerosas. (…)
Lavai-vos, purificai-vos! (Is 1, 16) …). Negligencia
manter-se puro após o banho aquele que não conserva, após as lágrimas, a
inocência da vida. Lavam-se sem ficar limpos aqueles que não deixam de chorar
os pecados cometidos e cometem novamente aquilo pelo qual hão-de chorar. (…)
É preciso exortar aqueles que choram os pecados cometidos,
mas que não os abandonam, para que reconheçam que, aos olhos do severo Juiz,
são semelhantes à queles que, quando estão na presença de certos personagens,
os afagam com grande deferência, porém, uma vez longe deles, os atacam,
procurando-lhes inimizades e todos os prejuízos possíveis. Chorar um pecado não
significa demonstrar a Deus a humildade que nasce do consagrar-Se a ele? E cair
novamente no pecado após tê-lo deplorado não é cultivar orgulhosas inimizades
contra aquele ao qual se havia dirigido na oração? Assim atesta Tiago, que diz:
“Quem quiser ser amigo deste mundo, se torna inimigo de Deus” (Tg 4, 4). É
preciso exortar aqueles que choram os pecados cometidos, mas que não os
abandonam, a considerar com atenção que, muito frequentemente, a compunção dos
malvados não produz o fruto da justiça».
(São Gregório Magno, Regra Pastoral,
ed. Paulus, cap. 30, p.128)