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sexta-feira, 5 de julho de 2024

Santo António Maria Zaccaria, a Eucaristia e a Contra Reforma Católica



No dia 5 de julho celebramos Santo António Maria Zaccaria que, numa época de grandes desafios para a Igreja Católica, com o aparecimento do protestantismo, fundou os padres Barnabitas e renovou o fervor cristão.

Mesmo antes do Concílio de Trento (1545-1563) ter empreendido a Contra Reforma Católica, um desejo difuso de renovação moral e material tinha surgido em muitos corações, face às novas doutrinas e teorias de Lutero. A decadência das antigas Ordens Religiosas, a indiferença ou hostilidade de numerosos bispos, a ignorância e a desordem que reinavam numa grande faixa do clero secular, dificultaram os esforços dos bons católicos, de personalidades isoladas, dos prelados e das irmandades em afirmarem piedosa, vigorosa e entusiasticamente a doutrina católica.

Coube às novas congregações, nascidas na Itália na primeira metade do século XVI, e especialmente aos Jesuítas, dar um contributo importante para a renovação da fé católica. Muitas vezes, pensamos que a Companhia de Jesus esteve na origem deste movimento e que as outras Ordens, também dedicadas ao ensino, à pregação e às missões, eram apenas imitações da Companhia de Jesus. Mas não foi bem assim.

A série de novas congregações começou em maio de 1524 com os Teatinos, criados em Roma por Gaetano di Thiene. Seguiram-se os Barnabitas, fundados em Milão em 1530 e aprovados pelo Papa Clemente VII em 1533, um ano antes dos jesuítas que nasceram em Paris, em agosto de 1534, e organizaram-se definitivamente em 1539. Os religiosos somascos, finalmente, surgiram por volta de 1528 em Somasco, perto de Bérgamo, por iniciativa de um veneziano Jerónimo Emiliani, tendo sido institucionalizados em 1540, sob o nome de Clérigos Regulares de Saint Maïeul.

Médico, aristocrata, rico e culto

Voltemos a Santo António Maria Zaccaria. Tal como acontece com os criadores de Ordens semelhantes do século XVI, o fundador dos Barnabitas, pertencia à aristocracia. Era um homem rico e culto. Nascido em Cremona em 1502, perdeu o pai quando ainda era bebé e foi criado por sua mãe, a nobre senhora Antonietta Piscarolo. Profundamente piedosa, educada e firme, trabalhou para aliviar a angústia que reinava em Milão devastada pela guerra entre os Sforza e os ocupantes franceses, aliados de Veneza. A criança recebeu uma sólida educação e, em 1518, ingressou na Universidade de Pavia. Mas, a partir de 1520, desistiu de fazer carreira no mundo e doou todos os seus bens à mãe. A pedido dos seus parentes, porém, concordou em estudar medicina na famosa Universidade de Pádua, entre 1520 e 1524, onde obteve a licenciatura.

O jovem manteve-se afastado do ambiente mundano dos estudantes, num momento em que a revolta de Lutero contra a Igreja perturbava a mente das pessoas. Embora inscrito na lista de serviço dos nobres que gozavam de certos privilégios e precedências, Zaccaria levava uma vida simples e retirada. Aproximava-se frequentemente dos sacramentos e, respondendo ao apelo da sua vocação, decidiu dedicar-se ao apostolado.

Sinal divino no dia da sua ordenação

Para grande espanto dos seus compatriotas, após o seu regresso a Cremona, abandonou a prática da medicina, arte na qual, no entanto, tinha começado de forma brilhante, e mergulhou no estudo da teologia.

Zaccaria explicava os fundamentos da religião às pessoas do povo e especialmente às crianças que iam à igreja de San Vitale todas as noites para conversar com ele.

Em 1528, sob a influência do dominicano Battista di Crema, famoso teólogo, foi ordenado sacerdote. Este religioso foi, ao mesmo tempo, diretor espiritual de Santo Antonio Maria Zaccaria e São Gaetano di Thiene, futuro fundador dos Teatinos e capelão da Condessa de Guastalla, Luisa Torelli.

Como na vida de muitos outros santos, a ordenação do médico-catequista de 26 anos foi marcada por um sinal divino. Durante a cerimónia extremamente simples, contrariamente aos costumes vigentes, “no momento em que as suas mãos trémulas apresentaram a Santa Hóstia à adoração dos fiéis - escreve o Padre Dubois, seu biógrafo - vimos o altar ficar envolto numa luz ofuscante e Anjos, respeitosamente prostrados em torno do celebrante, unindo-se à adoração dele”. A notícia desta maravilha, atestada por muitos dos seus amigos, espalhou-se por toda a parte e a partir de então, o jovem sacerdote passou a ser conhecido como “homem angélico”, ou “anjo de Deus”. O relato deste prodígio, manteve-se na tradição barnabita, onde a Eucaristia e os anjos têm um grande papel.

Em meados de 1530, Zaccaria seguiu o Padre di Crema até Milão, estabelecendo-se na capital lombarda, no convento de Nossa Senhora das Graças. Sob a influência do dominicano, a condessa Torelli, viúva pela segunda vez depois de casamentos que terminaram tragicamente, converteu-se e dedicou a sua pessoa e os seus bens ao serviço de Deus. Também ela se instalou em Milão para criar um círculo de pessoas que desejavam levar, como ela, uma “vida perfeita” na fé, nascendo assim o primeiro grupo de mulheres que posteriormente daria origem às Irmãs Angélicas de São Paulo.

O primeiro campo de atuação de Zaccaria foi a Irmandade da Sabedoria Eterna, liderada pelo Bispo Landini, uma das numerosas associações piedosas que se formaram, no final do século XV e início do século XVI, em Roma, Génova, Cremona, Vicenza, Verona e Milão, para reavivar a piedade popular e aliviar os doentes e os pobres. Zaccaria foi ali recebido e rapidamente exerceu grande influência sobre a instituição, cujo quadro de colaboradores, inicialmente muito reduzido, aumentou consideravelmente. “O Anjo de Deus” formou uma amizade espiritual com dois colegas: Bartolomeo Ferrari, milanês, por uma semelhança quase total com o destino de Zaccaria, era um órfão, patrício, ex-estudante de direito em Pavia, que tinha deixado o mundo para receber as primeiras ordens menores e ensinar catecismo às crianças, no oratório do Sabedoria Eterna e Giacomo Antonio Morigia também de uma ilustre linhagem milanesa, mas o seu itinerário foi completamente diferente do dos seus dois companheiros. A sua mãe, uma mulher mundana, sonhava fazer dele um cavaleiro brilhante, mas, depois de uma juventude tempestuosa, tocado pela fé, dedicou-se a cuidar dos doentes. A sua dedicação, durante uma epidemia de peste, rendeu-lhe grande popularidade entre os desfavorecidos.

Fundação dos Clérigos Regulares de São Paulo

Em 1530, Ferrari, aspirante ao sacerdócio, e Morigia, um simples leigo, decidiram colocar-se sob a autoridade do padre Zaccaria para formar uma sociedade clerical cujos membros acederiam ao sacerdócio e exerceriam o seu apostolado através da pregação e da catequese.

A instituição tomaria o nome de Clérigos Regulares de São Paulo, em homenagem ao apóstolo querido do seu superior. Com dois padres milaneses que solicitaram a sua admissão, os primeiros membros da comunidade, instalados numa pequena casa que lhes foi posta à disposição pela Condessa Torelli, praticaram durante um ano a prática da piedade e da caridade. Em 18 de fevereiro de 1533, o Papa Clemente VII autorizou-os a viver em comunidade, a fazer votos religiosos e a redigir regras adaptadas à sua vocação específica.

A intenção principal de Zaccaria não era a de criar uma ordem destinada a espalhar-se pelo mundo inteiro, mas ter um grupo de seguidores operando em Milão e na Lombardia.

Embora o grupo inicial de clérigos fosse pequeno, os fundadores, confrontados com a expansão dos seus seguidores, tiveram de abandonar a casa da Irmandade e mudar-se para uma residência mais espaçosa, perto da Ponte Fabbri (ferreiros) e da pequena igreja de Santa Catarina, que rapidamente encheu-se de fiéis. Os clérigos de São Paulo percorriam as ruas, de crucifixo na mão, discursando aos transeuntes nas praças e cruzamentos mais movimentados, reunindo muitas pessoas que paravam para ouvir as “conferências espirituais” diárias. Eles se tinham tornado num meio de santificação para as famílias. Em pouco tempo, foi constituída uma Congregação de casados que se reunia aos domingos e feriados.

Como em todas as épocas, não faltaram prelados que, tomados pelo espírito do mundo, se levantaram em nome de uma linguagem muito violenta, "estilo bárbaro", das Epístolas de São Paulo e dos seus comentadores, como Zaccaria, que faziam delas a matéria preferida para os seus sermões, cheios de simplicidade, com força persuasiva e imagens marcantes que estavam ao alcance das pessoas comuns.

Grande devoto e promotor da devoção eucarística

Antonio Maria Zaccaria popularizou novas formas de piedade para com o Santíssimo Sacramento, como a Comunhão frequente, em memória do “prodígio” da sua ordenação, ou a Exposição Eucarística. Até então Jesus Sacramentado estava sempre coberto por um véu e só era mostrado em raras circunstâncias.

Em 1534, durante o casamento de Francesco Maria Sforza, Duque de Milão, o Padre Zaccaria organizou uma procissão na qual um ostensório foi levado solenemente pelas ruas e os Clérigos de São Paulo difundiram a devoção da Adoração das Quarenta Horas - que desempenharia um papel tão importante na Contra Reforma na Saboia.

Uma outra inovação do Padre Zaccaria foi a de mandar tocar os sinos em todas as sextas-feiras, às três horas da tarde, em memória da morte de Cristo, costume aprovado pelo Papa Bento XIV (1740-1758).

Em 1535, Antonio Maria Zaccaria conseguiu a aprovação do Papa Paulo III e fundou a congregação das Irmãs Angélicas de São Paulo, destinada a auxiliar os sacerdotes no seu ministério e a renovar o fervor cristão numa sociedade cada vez mais protestantizada.

O primeiro grande grupo de Clérigos e Angélicas fora de Milão ocorreu em Vicenza, a pedido do Cardeal Ridolfi, bispo do lugar onde, graças ao zelo dos recém-chegados, a piedade foi reavivada e dois mosteiros voltaram à observância das suas regras. Outras instalações seguiram-se em Verona e outras cidades do norte da Itália.

O zelo reformador da jovem congregação perturbou muitos eclesiásticos. Suscitou críticas, calúnias e inúmeras dificuldades, nomeadamente um julgamento em Milão, em 1534, e outro em Roma, em 1551, que levou Zaccaria a colocar a sua obra sob a obediência direta da Santa Sé. Por bula de 24 de julho de 1535, Paulo III renovou a aprovação do seu antecessor e declarou que os Clérigos de São Paulo se reportariam “imediatamente”, sem intermediários, ao Papado. O fundador recusou para si o cargo de primeiro Superior, para o qual foi eleito Padre Morigia, em abril de 1536.

Em 1539, Zaccaria foi para Guastalla, convidado pela Condessa Torelli para pregar uma missão. Entregou-se com tanto dedicação que caiu de cansaço e, sentindo aproximar-se o fim, pediu para ser transportado para Cremona, para a casa de sua mãe, onde faleceu, aos 37 anos, a 5 de julho de 1539.

O seu corpo foi sepultado em Milão, na cripta da Igreja das Angélicas, porque os Clérigos ainda não possuam um templo. A fama do fundador deu origem imediatamente a um culto popular que o Beato Pio IX sancionou, em 1848, com o reconhecimento das virtudes heroicas de Zaccaria.

Leão XIII colocou-o, em 1890, entre os beatos e depois entre os santos, em 27 de maio de 1897. Em 1891, os seus restos mortais foram encontrados durante as escavações na igreja das Angélicas e transferido para a igreja da Ordem dos Barnabitas. No dia 7 de agosto de 1909, a sua colossal imagem apareceu na Basílica de São Pedro, em Roma, ao lado da dos grandes fundadores de Ordens Religiosas.

A morte prematura de Zaccaria desorganizou a instituição, pois faltavam constituições aprovadas, uma residência para a sua sede e uma igreja. O Padre Morigia governou habilmente a comunidade durante este delicado período de transição. Em 1545, conseguiu adquirir a igreja de São Barnabé e os terrenos que dela dependiam, para construir uma residência onde os religiosos se instalaram em Junho de 1547. Foi a partir desta altura, treze anos após a sua fundação, que o povo passou a chamar os religiosos Padres de São Barnabé de Barnabitas.