“Celebramos
[no dia 8 de setembro] o nascimento da Bem-aventurada Virgem Mãe, de quem
nasceu Aquele que é a Vida de todos.
Hoje
nasceu a Virgem Maria, de quem quis nascer a Salvação de todos, a fim de dar
àqueles, que nascem para morrer, o poder de renascerem para a Vida.
Hoje
nasceu a nossa nova Mãe, que anulou a maldição de Eva, a nossa primeira mãe. Assim,
por Ela, herdamos agora a bênção, nós que, pela nossa primeira mãe, tínhamos
nascido sob o golpe da eterna maldição.
Ela
é certamente uma nova Mãe, aquela que renovou em juventude os filhos
envelhecidos; Aquela que curou o mal de uma velhice congénita, bem como de
todas as formas de envelhecimento que lhe tinham sido acrescentadas.
Ela
é certamente uma Mãe nova que, por um prodígio singular, pode conceber
permanecendo virgem e que trouxe ao mundo Aquele que criou todas as coisas. Que
maravilhosa novidade é esta Virgindade fecunda!
Mas
bem mais maravilhosa é ainda a novidade do Fruto que Ela trouxe ao mundo.
Deixemos a palavra Àquela que entrou neste mistério, à própria Maria, que nos
explique como e quem Ela deu à luz: Como a flor da vinha difunde o seu perfume.
Muito
tempo antes do nascimento de Maria, o Espírito, que viria habitar nela, dizia
em seu nome: “Como a vinha em flôr, canta Ela, produzi um doce odor” (Sl 24,
17).
É
como se Ela dissesse: Assim como a flor não se altera por ter dado o seu perfume,
o mesmo acontece com a Pureza de Maria, ao ter dado à luz o Salvador” (Guerrico
d'Igny, Natividade de Maria, II Sermão).
Sobre
a Natividade de Nossa Senhora, o Professor Plinio Corrêa de Oliveira comentou, numa
conferência do dia 8 de setembro de 1966:
Culto
de hiperdulia
“O
que a Santa Igreja faz é imensamente sábio, pleno de tato. Considerem, por
exemplo, o seguinte: o culto de latria ou adoração, a Igreja presta somente a
Deus, portanto a Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Verbo Encarnado. O culto de
dulia, de veneração, de mediação, a Igreja presta aos santos. Mas a Nossa
Senhora Ela presta um culto que nem é simplesmente o de dulia, nem é de nenhum
modo o de latria, mas é o culto de hiperdulia, que é uma veneração como a
nenhum outro santo se presta, sem nenhum paralelo, sem nenhum termo de
comparação, de tal maneira Nossa Senhora está acima de todas as criaturas.
Excluindo
a festa do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo e o nascimento de São João
Batista, a Natividade que a Igreja celebra em seu calendário litúrgico é a de
Nossa Senhora. E, além disto, há inúmeras outras festas a Ela dedicadas,
enquanto para cada santo existe – em via de regra – uma festa no calendário e
mais nada. Como também, em uma outra ordem de coisas, a Igreja permite e até
estimula imagens dos santos, mas não permite que haja no mesmo altar mais de
uma imagem do mesmo santo. Entretanto para Nossa Senhora, Ela permite que haja
tanto no altar central como nos nichos ou altares laterais das igrejas outra
imagem de Nossa Senhora.
Isto
tudo para dar a entender que Nossa Senhora não tem termo de comparação nenhum,
e introduzir este princípio teológico em mil realidades do calendário, da
liturgia, da vida de piedade, com um tato e senso de proporções, que indica bem
o espírito sapiencial da Igreja Católica e o oceano de sabedoria que nEla há.
Por
que a Igreja festeja especialmente o santo natal de Nossa Senhora? Porque a Mãe
de Deus foi tão grande que a data em que Ela entra no mundo, marca uma nova era
na história do povo eleito.
Antes
e depois de Nossa Senhora
Nós
podemos dizer que a história do Antigo Testamento se divide – sob este ponto de vista – em duas partes:
antes e depois de Nossa Senhora. Porque se a história do Antigo Testamento é
uma longa espera do Messias, esta espera tem dois aspectos: 1) o momento exato
que não tinha chegado para a vinda do Messias, a Divina Providência estava
portanto permitindo que esta espera se prolongasse pelos séculos dos séculos;
2) e depois o momento abençoado em que a Providência faz nascer Aquela que
conseguirá que o Messias venha: Nossa Senhora.
Então,
Sua vinda ao mundo é a chegada da criatura perfeita, da criatura que encontra
plena graça diante de Deus, da única criatura cujas orações têm o mérito
suficiente para acabar com esta espera, e fazer que, por fim, o rogo de toda a
Humanidade, o sofrimento de toda Humanidade, o padecimento de todos os justos e
a fidelidade de todos aqueles que tinham sido fiéis, consiga aquilo que sem
Nossa Senhora não se teria obtido.
Houve
os Patriarcas, os Profetas, houve inúmeras almas fiéis do povo eleito; deverá
ter havido uma ou outra alma fiel em meio à gentilidade; houve sofrimentos ao
longo dos séculos de espera do Messias. Mas nada disso foi suficiente para
atrair a misericórdia divina e fazer chegar o momento da Redenção. Entretanto
quando Deus quis, Ele fez nascer a criatura perfeita que haveria de conseguir
isto. Então a entrada desta criatura perfeita no mundo dos vivos é o começo de
Sua trajectória que durante todo o tempo atraiu bênçãos, atraiu graças,
produziu santificação.
Já
então todas as relações dos homens com Deus se modificaram, e começou então na
porta do Céu, que estava trancada, como que a filtrar luzes e deixar filtrar
esperanças de que ela seria aberta pelo Salvador que deveria vir. Isto tudo se
deu desde o primeiro momento do nascimento de Nossa Senhora...
A
presença dEla na terra era ocasião de graças insignes porque era a criatura
mais contemplativa de todos os tempos, em relação a qual nenhuma outra
contemplativa nem teve, tem ou terá paralelo. Ela possuía uma irradiação
pessoal e uma ação de presença tão rica em bênção que era o prenúncio da vinda
de Nosso Senhor.
E
então a entrada desta bênção, a entrada desta graça, desta ação direta e
pessoal na história do mundo é incomparável! E por causa disso, a Natividade de
Nossa Senhora é uma festa que nos deve ser caríssima, é uma festa que nos deve
falar muito, pois é a festa do início da derrubada do paganismo.
Prenúncio
do Reino de Maria
Nós
poderíamos dizer que há alguma relação disto com a situação do mundo
contemporâneo? Existe!
Na
época presente há como que uma nova interferência de Nossa Senhora na história
do mundo que atua nas trevas do neo-paganismo.
O
fato de Nossa Senhora suscitar almas que já anseiam pelo Reino de Maria, que
pedem a vinda do Reino de Maria, lutam para que o Reino de Maria venha, estas
almas são – “mutatis mutandis”, ou seja, com todas as devidas adaptações e
reservas – como que Nossa Senhora no Antigo Testamento. Ainda não veio o
triunfo do Imaculado Coração de Maria, mas sim algo que é o prenúncio desse
triunfo e que já começa a difundir as suas graças, começa a determinar também
movimentos entusiásticos de adesão. Isto é algo como uma Natividade que se
repete e que prepara o Reino de Maria, profetizado por Ela em Fátima.
Os
senhores vêm, portanto, que esta data é da maior significação. Oremos a Ela
pedindo que - pondo como fundamento a Sua Natividade - assim como Ela veio à
terra e imediatamente começou a pedir o advento do Messias e que acabasse
aquele estado de coisas envolto pelo pecado, que Ela nos dê um desejo ardente
do Reino de Maria. Um desejo que nos arrebate por inteiro, um desejo
sapiencial, refletido, ponderado, sério, profundo que não deixe em nossa alma
apego a mais nada. Esta seria, então, a nossa oração hoje”. (Plinio Corrêa de
Oliveira, Conferência, 8/9/1966)