No Catecismo Romano, também
conhecido como Catecismo do Concílio de Trento ou Catecismo de São Pio V, uma
obra de referência, indispensável para os Párocos, catequistas e formadores,
encontramos uma detalhada explicação sobre o Sacramento do Crisma, o seu
significado, a sua forma, ritos e cerimónias.
«Sempre
foi um imperioso dever, que os pastores
se esmerassem em explicar o Sacramento da Confirmação. Hoje em dia, porém,
devem expô-lo com maior empenho e cuidado, porque na Santa Igreja de Deus
muitos deixam absolutamente de receber o Crisma; e, de quantos o recebem,
raríssimos são os que procuram alcançar, plenamente, os devidos frutos da
graça sacramental.
Urge,
portanto, instruir os fiéis acerca da natureza, eficácia e sublimidade deste Sacramento.
Escolha-se para esse fim não só o dia de Pentecostes, ocasião principal em que
é administrado, mas também outros dias que os pastores julgarem mais oportunos.
Os
fiéis chegam assim a reconhecer que não lhes será lícito menosprezar este
Sacramento, mas que devem recebê-lo com respeito e piedade.
Do
contrário, poderia advir o dano gravíssimo de lhes ser inútil este dom de Deus,
em vista de sua culposa negligência.
Explicação
etimológica
A
começar pela explicação do nome, deve ensinar-se que a Igreja lhe chama "Confirmação " , porque no momento em que o Bispo unge com o santo Crisma,
pronunciando a fórmula solene: " Eu marco -te com o sinal da
Cruz, e confirmo -te com o Crisma da salvação, em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo ": - o baptizado torna-se mais firme pela virtude da nova
graça, e começa a ser um perfeito soldado de Cristo, se não puser nenhum
obstáculo à eficácia do Sacramento.
O
Crisma, verdadeiro Sacramento
A
doutrina dos Papas
A Igreja
Católica sempre reconheceu que a Confirmação
tem o caráter próprio de verdadeiro Sacramento. Atestam-no o Papa Melcíades e
muitos outros dos mais santos Pontífices da mais remota antiguidade.
São
Clemente não podia asseverar esta verdade de maneira mais enérgica e positiva,
quando declarou: "Todos devem empenhar-se por renascer em Deus, sem mais
demora, para serem afinal assinalados pelo Bispo, isto é, para receberem os
sete dons do Espírito Santo; em hipótese alguma, poderia ser perfeito cristão
quem deixasse de receber este Sacramento, não por motivos imperiosos, mas por
voluntária negligência. Esta é a tradição que recebemos de São Pedro, e assim
ensinaram os outros Apóstolos, por ordem de Nosso Senhor ".
Pelo
seu magistério, confirmaram esta mesma fé Urbano, Fabiano e
Eusébio, pontífices
romanos, que, cheios do mesmo Espírito, derramaram seu sangue por Jesus Cristo.
É
o que patenteiam os seus decretos.
A
doutrina dos Santos Padres
Acresce, ainda, a
doutrina unânime dos Santos Padres. Entre eles, temos São Dionísio Areopagita,
Bispo de Atenas. Ao explicar a maneira de se fazer o santo Crisma, exprimia-se
nos termos seguintes: " Os sacerdotes revestem o baptizado de uma túnica
própria, de cor branca, para o conduzirem ao pontífice; este o marca com uma
unção sagrada e verdadeiramente divina, e o faz participante da sacrossanta
Comunhão".
Eusébio
de Cesaréia fazia, por sua vez, conceito tão elevado deste Sacramento, que não
hesitou em afirmar que o herege Novato não pudera merecer o Espírito Santo, porque,
recebendo o Batismo em doença grave, não
fora marcado com o sinal do Crisma.
Da
mesma doutrina, temos testemunhos cabais no livro que Santo Ambrósio compôs
acerca dos catecúmenos, e nos livros que Santo Agostinho lançou contra as
cartas do donatista Petiliano. Ambos estavam inteiramente convencidos do
caráter sacramental da Crisma, a ponto de o enunciarem e demonstrarem por meio
de textos da Sagrada Escritura. O primeiro refere ao Sacramento da Confirmação
aquelas palavras do Apóstolo: "Não contristeis o Espírito Santo, no qual
fostes assinalado s " . O segundo, porém, aplica aquela passagem do Salmo:
" Como o azeite derramado na cabeça, que desce sobre a barba , sobre a
barba de Aarão"; e mais o texto do Apóstolo: " O amor de Deus está
difundido em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado " .
Sacramento diverso do
Baptismo
1) Pela graça específica
Não
obstante Melcíades haver dito que o Batismo se une intimamente à Confirmação,
não se deve crer, todavia, que ambos constituam um só
Sacramento, pois de um a
outro vai uma grande diferença. Como é sabido, torna-os realmente distintos a variedade,
não só da graça que cada um deles confere, mas também da matéria sensível que
significa a própria graça.
Pela
graça do Batismo, são os homens gerados para uma vida nova . Pelo Sacramento da
Confirmação, os que foram gerados tornam-se varões, depois de deixarem o que
tinham próprio de crianças.
Por conseguinte,
quanto o nascer difere do crescer na vida natural, tanta é também a diferença
entre o Batismo que nos gera espiritualmente, e a Confirmação, cuja virtude faz
os cristãos crescerem até a perfeita robustez da alma.
Mais
ainda. Era também necessário constituir-se outra espécie de Sacramento, para as
ocasiões em que a alma entrasse numa nova ordem de dificuldades.
Se
havermos mister da graça batismal para munir da fé a nossa alma, desde logo se
reconhece a máxima conveniência de que o espírito dos fiéis seja confirmado por
uma outra graça, para evitar que nenhum perigo ou receio de penas, de castigos
, e até da própria morte, os tolha de confessar a verdadeira fé.
Pela
matéria específica
Ora
, sendo este o efeito próprio da unção com o específica
santo Crisma, conclui-se
com segurança que este Sacramento difere, essencialmente, do [próprio] Batismo.
O
Papa Melcíades exprimiu aliás, em termos precisos, a diferença que existe entre
ambos os Sacramentos. " Pelo Batismo, diz ele, o homem alista-se na milícia;
pela Confirmação, equipa-se para a luta. Na fonte batismal, o Espírito Santo
confere a plenitude da inocência; na Confirmação, dá a consumação da graça. No
Batismo, renascemos para a vida ; depois do Batismo, somos confirmados para a luta.
No Batismo, somos purificados; depois do Batismo, somos munidos de força . A
regeneração garante de per si a salvação aos que se batizam em tempo de paz; a
Confirmação arma e adestra para os embates da guerra".
Pela
definição formal da Igreja
Esta
é também a doutrina sustentada por vários Concílios, mormente pelo Sagrado
Concílio de Trento,
de sorte que a ninguém é permitido formular outra opinião, nem de longe
opor-lhe a menor dúvida.
Instituição
por Cristo
Já falamos,
em geral, da necessidade de ensinar-se por quem foram instituídos todos os Sacramentos.
Agora, é preciso fazer outro tanto acerca da Confirmação, a fim de que os fiéis
se compenetrem, mais ao vivo, da santidade deste Sacramento.
Por conseguinte,
os pastores terão de explicar que Cristo Nosso Senhor não só o instituiu, mas
até determinou, conforme atesta o romano pontífice São Fabiano o rito da unção
com o Crisma, bem como as palavras que a Igreja Católica emprega em sua
administração.
Desta
verdade facilmente se convencerá todo aquele que acreditar no caráter
sacramental da Confirmação; pois todos os Sacros Mistérios 264 transcendem as
forças da natureza humana, e só por Deus mesmo poderiam ser instituídos.
Vejamos
agora quais são as suas partes. Passemos a explicar a matéria em primeiro
lugar.
A
matéria em si
Ela
se chama "crisma", palavra tirada do em
si grego,
que os escritores profanos empregam para designar qualquer espécie de óleo para
ungir. Por tradição geral, os escritores eclesiásticos adaptaram-lhe o sentido
de só indicar o unguento composto de azeite doce e bálsamo, e que o Bispo
consagra com rito solene.
Portanto,
a matéria da Crisma consiste na mistura de dois ingredientes. Esta combinação
de elementos diversos simboliza as muitas graças que o Espírito Santo outorga
aos crismados, bem como exprime, de maneira notável, a sublimidade do próprio
Sacramento.
A Santa
Igreja e os Concílios sempre ensinaram que essa é a matéria
do Sacramento. Atestam-no
São Dionísio e muitos outros Padres de máxima autoridade, entre os
quais sobressai o Papa Fabiano, declarando que os Apóstolos receberam do Senhor
a maneira de fazer o Crisma, e no-la transmitiram.
O
seu simbolismo: O azeite doce
Com
efeito, melhor do que o Crisma, não podia nenhuma matéria exprimir as graças
próprias deste Sacramento.
O
azeite doce, cuja natureza gordurosa tem a propriedade de fixar-se e
difundir-se, exprime a plenitude da graça que o Espírito Santo faz transbordar de
Cristo, a Cabeça, sobre os outros [que são os seus membros], e a derrama "
como o unguento que goteja p e la barba de Aarão até a orla de sua
veste ". Na verdade,
" Deus ungiu-o com o óleo da alegria , de preferência aos Seus
companheiros ". E " d e Sua plenitude é que todos nós recebemos [a
nossa parte] ".
O
bálsamo
Com
o seu odor delicado, o bálsamo não simboliza outra coisa senão a fragrância d e
todas as virtudes, que os fiéis exalam de si, quando são
aperfeiçoados pelo Sacramento da Confirmação, a ponto de poderem exclamar com o
Apóstolo: " Somos para Deus um suave odor de Cristo".
Outra
propriedade tem ainda o bálsamo. É a de preservar da
corrupção todas as coisas que dele forem impregnadas. Torna-se, portanto, muito
próprio para designar a eficácia deste Sacramento. O fato é que, apercebidos da
graça celestial da Confirmação, os ânimos dos fiéis podem facilmente defender-se
do contágio do pecado.
A
sua sagração
A
consagração do Crisma é feita pelo Bispo com solenes cerimónias. O Papa
Fabiano, muito insigne pela santidade de vida e pela glória do martírio,
deixou-nos escrito que Nosso Senhor assim o ordenou na última Ceia, quando
ensinou aos Apóstolos a maneira de preparar o Crisma.
Isto
não obstante, a própria razão pode demonstrar por que deve ser assim.
Em quase
todos os Sacramentos, Cristo instituiu de tal sorte a matéria,
que lhe deu pessoalmente
uma santificação especial. Ao declarar: " Se alguém
n ã o renascer da água e
do Espírito [Santo], não pode entrar no reino d e Deus "; não só quis que
a água fosse o elemento do Batismo, mas fez também que, pelo Seu próprio
Batismo, a água tivesse dali por diante a virtude de santificar.
Esta
é a razão de São João Crisóstomo afirmar: ''A água batismal não
poderia eliminar os
pecados dos crentes, se não fora santificada pelo contato com o Corpo do
Senhor". Ora, como o Senhor não santificara, por uso e contato pessoal, a
matéria da Confirmação, era mister que ela fosse consagrada por meio de santas
e
religiosas fórmulas. Essa consagração não incumbe a outrem, senão ao
Bispo, que foi instituído
ministro ordinário do Sacramento.
A forma
Cumpre,
agora, explicar a outra parte essencial do Sacramento: a forma segundo o teor
que se emprega na sagrada unção.
É preciso
aconselhar aos fiéis que, ao serem crismados façam interiormente actos de amor,
confiança e devoção, sobretudo quando ouvirem pronunciar as palavras
sacramentais, para que [de sua parte] não se erga nenhum óbice à graça
celestial.
O
Seu teor
A
forma completa da Crisma resume-se nas seguintes palavras: "Eu marco -te
com o sinal da Cruz, e confirmo -te com o Crisma da salvação, em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo" .
Se quisermos,
um simples raciocínio pode mostrar-nos a justeza destas palavras, porquanto a
forma sacramental deve abranger tudo o que exprime a natureza e a substância do
próprio Sacramento.
O
seu sentido
Ora,
são três os pontos essenciais que nos cumpre realçar na Confirmação: o poder
divino, que opera no Sacramento como causa primária; o vigor do coração e do
espírito, que a sagrada unção comunica aos fiéis para a sua salvação; por
último, o sinal com que é marcado quem vai descer à liça das hostes cristãs.
Ao
primeiro ponto se referem claramente as palavras finais: "em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo ". Ao segundo, as palavras do meio: "confirmo
-te com o Crisma da Salvação ". Ao terceiro, as palavras iniciais: "
Eu marco -te com o sinal da Cruz".
Em
rigor, não dispõe a razão de elementos bastantes, para provar que essa é a
forma autêntica e perfeita do Sacramento; mas a autoridade da Igreja
Católica não permite que
disso tenhamos a menor dúvida, conforme o que sempre aprendemos do
seu magistério oficial.
O
ministro
Os
pastores devem, também, ensinar a que pessoas incumbe, em primeiro lugar, a
administração deste Sacramento. Já que muitos correm, como diz o
Profeta, sem serem enviados, é preciso especificar quais são, na verdade, o s
ministros legítimos, para que o povo fiel possa receber [validamente] a
graça sacramental da Confirmação.
O
bispo
Ora,
doutrina é da Sagrada Escritura que só o Bispo tem o poder ordinário de
administrar este Sacramento. Lemos nos Atos dos Apóstolos que, tendo
Samaria acolhido a palavra de Deus, foram enviados para lá Pedro e João, que
oraram por eles, a fim de receberem o Espírito Santo; pois não
baixara sobre nenhum deles, porquanto só tinham sido
batizados.
Desta
passagem inferimos que o ministro do Batismo, por ser apenas diácono, não tinha nenhuma
faculdade de crismar; que tal ofício era reservado a ministros superiores, quer
dizer, aos [próprios] Apóstolos. Ainda mais. Chega-se à mesma
conclusão, onde quer que a Sagrada Escritura venha
a falar deste Sacramento.
Em
prova do mesmo argumento, não faltam os ilustres pareceres dos Santos
Padres e Soberanos Pontífices,
de um Urbano, de um Eusébio, de um Dâmaso, de um Inocêncio,
de um Leão, conforme averiguamos claramente em seus decretos.
Santo
Agostinho, por sua vez, protesta energicamente contra o péssimo
costume que havia, entre
os cristãos do Egito e de Alexandria, onde os sacerdotes se atreviam a
administrar o Sacramento da Confirmação.
A
razão dessa exclusividade
O
motivo de se reservar aos bispos o exercício de exclusividade
tal ministério, podem os
pastores explicá-lo por meio da seguinte analogia. Na construção de casas, os
operários desempenham o papel de ajudantes inferiores. São eles que p reparam e
assentam a pedra,
a argamassa, a madeira, os outros materiais, e assim erguem a construção.
Mas
a última demão do edifício fica na responsabilidade do mestre-de-obras.
Ora,
o mesmo se dá também com este Sacramento. Como simboliza, por assim dizer, o
remate de um edifício espiritual, era conveniente que por nenhum outro fosse
administrado, senão por quem tivesse a plenitude do sacerdócio.
O
padrinho de Crisma
Para
a Confirmação, é costume tomar-se um padrinho, analogamente
como se faz para o Batismo, conforme já foi explicado.
Se
aqueles que se adestram como gladiadores, precisam de alguém
que lhes mostre, teórica
e praticamente, como prostrar o adversário com golpes certeiros, sem
expor a própria vida; tanto mais carecem os fiéis de um guia e conselheiro, uma
vez que pelo Sacramento da Confirmação se guarnecem, por assim dizer, de
poderosas armas, para entrarem na liça espiritual, onde se põe
em jogo a salvação eterna.
Assim,
pois, se justifica a obrigação de admitir padrinhos também na
administração deste
Sacramento. Daí nasce a mesma afinidade espiritual, com impedimento de Matrimónio,
como a que já foi explicada, quando se falou dos padrinhos de Batismo.
O
sujeito da Crisma
Acontece,
muitas vezes, que os fiéis antecipam levianamente a recepção da Crisma, ou a
retardam por culposa negligência.
E
nada diremos daqueles que , num requinte de impiedade, chegam até a desprezá-la
e rejeitá-la.
Em
vista disso, os pastores têm a obrigação de explicar quem está obrigado a
crismar-se, e em que idade, e em quais condições é preciso fazê-lo.
Em
primeiro lugar, começarão por ensinar que este Sacramento não é
de tal necessidade, que
sem ele não possa haver salvação.
Todos
os cristãos
Mas,
embora não seja absolutamente necessário, ninguém deve deixar de recebê-lo;
devemos antes de tudo evitar qualquer negligência, numa matéria de tanta
santidade, que se torna para nós uma fonte de copiosas graças divinas. Além
disso, todos os cristãos devem procurar, com o maior fervor, os meios comuns
que Deus lhes instituiu, para a própria santificação.
Ora,
ao relatar o milagre da primeira efusão do Espírito Santo, fez São Lucas a
seguinte descrição: " De repente, veio do céu um bramir como de vento que
passava impetuoso, e encheu a casa inteira ". E pouco depois acrescentou:
" Ficaram todos eles cheios do Espírito Santo ".
Sendo
aquela casa figura e imagem da Santa Igreja , tais palavras nos levam a
concluir que o Sacramento da Crisma, cuja origem datava daquele dia, fora
instituído para todos os cristãos.
Isso
é também fácil de comprovar pela finalidade do próprio Sacramento.
Para
se tornarem perfeitos no Espírito de Cristo
Os
que devem ainda crescer na vida espiritual, até se tornarem perfeitos
seguidores da religião cristã, precisam para isso receber a força que advém
da unção com o sagrado
Crisma. Ora, nessa grande necessidade se acham todos os cristãos.
Assim
como é lei da natureza que os homens cresçam desde o nascimento até chegarem à
idade perfeita, embora não o consigam às vezes na devida proporção ; assim
também a Santa Igreja Católica, nossa mãe comum, deseja ardentemente levar ao
estado de cristãos perfeitos aqueles que ela regenerou pelo Batismo.
Este
efeito, porém, é operado pelo Sacramento da unção mística. Logo, torna-se
evidente que a Crisma diz respeito a todos os fiéis sem distinção.
Em
que idade?
Aqui
cabe um reparo. Depois do Batismo, todos podem de per si ser crismados,
mas é de menos conveniência que tal aconteça, antes de alcançarem as crianças o
uso da razão.
Portanto,
se não parece necessário esperar até os doze anos, há contudo
muita conveniência em
protelar a recepção deste Sacramento até aos sete anos de idade.
Não
foi a Crisma instituída como meio indispensável para a salvação, mas ela deve
pela sua virtude tornar-nos fortes e corajosos nas lutas, que
temos de travar pela fé
de Cristo. Ora, ninguém, certamente, há-de julgar que as crianças, antes de
atingirem o uso da razão, já sejam capazes de tais refregas.
A
preparação
Desta
doutrina se tira uma consequência prática. Os que se crismam em idade adulta,
para receberem a graça e os dons deste Sacramento, devem não só apresentar-se
com fé e devoção, mas também arrepender-se, cordialmente, de todos os pecados
mais graves que tiverem cometido.
Confessar-se
Por
conseguinte, os pastores cuidarão, outrossim, que os fiéis confessem antes os
seus pecados. Exortá-los-ão, paternalmente, à prática do jejum e de outras
obras de piedade.
Estar
em jejum
Convém
admoestá-los a que renovem o louvável se possível costume de receber a
Confirmação em jejum natural, conforme se fazia na Igreja primitiva.
E
não será difícil conseguir estas disposições, desde que os fiéis compreendam os
dons deste Sacramento e seus admiráveis efeitos.
Efeitos:
Produz uma graça nova
Os
pastores explicarão que, de comum com todos os outros Sacramentos, tem a Crisma
por efeito conferir uma graça nova, a não ser que haja
algum óbice da parte de
quem a recebe.
Como
j á tivemos ocasião de provar, os sagrados e místicos sinais [dos Sacramentos]
possuem a virtude não só de simbolizar, mas até de produzir a graça. Daí nasce
que a Confirmação também perdoa e remite pecados, pois não se concebe que a
graça possa, de algum modo, coexistir com o pecado.
Aperfeiçoa
a graça do Batismo
Além
destes efeitos, comuns a todos os Sacramentos, o primeiro efeito peculiar da
Confirmação é aperfeiçoar a graça do Batismo.
Os
que se fizeram cristãos pelo Batismo, são como crianças recém-nascidas, que por
então se conservam ainda fracas e mimosas. Pelo Sacramento da Crisma é que ,
depois, adquirem maior resistência contra
os assaltos da carne, do mundo e do demónio. O seu espírito é confirmado numa fé
inabalável, para que
possam proclamar e engrandecer o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Deste
efeito é que, por certo, se deriva o nome do próprio Sacramento.
Corolário:
A Crisma não é uma ratificação do Batismo
O
termo " Confirmação " não tem por origem um costume de outrora,
segundo o qual as crianças
batizadas, quando atingiam a adolescência, seriam levadas à presença do Bispo,
para ratificarem a fé aceita por ocasião do Batismo. Assim o imaginaram alguns
[inovadores], cuja ignorância ombreava com a sua impiedade. Nesse caso, nenhuma
diferença haveria entre a Confirmação e a catequese. Mas, de tal costume,
ninguém pode alegar prova que seja autêntica. Pelo contrário, a origem dessa
denominação está no fato de que Deus, pela virtude do Sacramento, confirma em
nós o que começou a operar no Batismo, conduzindo -nos a uma sólida perfeição
da vida cristã.
Faz
crescer espiritualmente
E o
Sacramento não só confirma, mas até aumenta em nós a graça, consoante o que
doutrinava Melcíades : "O Espírito Santo desce, de modo salutar, sobre as
águas do Baptismo, e confere na fonte baptismal a plenitude da inocência. Na
Confirmação, porém, dá crescimento na graça".
Ele
não dá um simples aumento, mas um desenvolvimento prodigioso.
A Sagrada
Escritura exprime-o na belíssima comparação que faz com uma investidura. Pois
Nosso Senhor disse com referência a este Sacramento: "Deixai-vos ficar na
cidade, até serdes revestidos da força que vem do alto".
Corolário:
O exemplo dos apóstolos
Se
os pastores quiserem mostrar a divina eficácia deste Sacramento - o que sem
dúvida fará grande impressão no ânimo dos fiéis - basta que lhes exponham tudo
quanto sucedeu aos Apóstolos.
Antes
da Paixão, e até na hora que ela ia começar, tão fracos e tímidos se
mostraram, que na prisão
de Nosso Senhor logo deitaram a fugir.
O próprio
Pedro fora designado para ser a pedra fundamental da Igreja, e dera provas de
firme constância e grande coragem; no entanto, aterrado com o que lhe dizia uma
pobre mulher, negou não só uma vez, mas por duas e três vezes, que era
Discípulo de Jesus Cristo. E todos, depois da Ressurreição, se fecharam no
interior de uma casa, com medo dos Judeus.
Mas,
no dia de Pentecostes, receberam todos o Espírito Santo, em tal plenitude, que
logo se puseram, com arrojada coragem, a espalhar o Evangelho, não só no país dos
Judeus, mas também pelo mundo inteiro, como lhes havia sido ordenado; sentiam
até um gozo inexprimível, por serem julgados dignos de sofrer, pelo Nome de
Cristo, afrontas, tormentos e crucificações.
Imprime
um caráter
Outro
efeito da Crisma é a impressão de um caráter sacramental. Por conseguinte, não
pode jamais reiterar-se, como já foi dito a respeito do Baptismo, e como ainda
se dirá, mais por extenso, na explicação do Sacramento da Ordem."
Se
os pastores, com amor e zelo, insistirem nestas explicações, é infalível que os
fiéis reconhecerão a grandeza e a utilidade do Sacramento, e se disporão a
recebê-lo com fé e piedade.
Resta
agora expor, resumidamente, os ritos e cerimónias, que a Igreja Católica usa na
administração deste Sacramento. Os pastores compreenderão a oportunidade de
tais explicações, se quiserem reportar-se ao que acima se disse a respeito das cerimónias.
Ritos
e cerimónias:
A
unção na testa
Os
crismados são, pois, ungidos na testa com o sagrado Crisma. Pela
virtude deste Sacramento, o Espírito Santo Se derrama na alma dos fiéis,
aumenta-lhes a força e a coragem, para que possam bater-se varonilmente nas
lutas espirituais, e resistir aos mais traiçoeiros dos inimigos.
Portanto,
a unção na testa significa que, doravante, os crismados não devem abster-se da
livre profissão do nome cristão, e que não os deve tolher nenhum medo ou
vergonha, cujos sinto mas se manifestam principalmente na fronte.
Ademais,
o sinal [da Cruz] distingue os cristãos dos outros homens,
assim
como as insígnias distinguem os militares dos paisano s . Convinha, pois, que
fosse impresso na parte mais visível do corpo.
Corolário:
O dia de Crisma por excelência
Na
Igreja de Deus, conservou-se o religioso costume de preferir a data de
Pentecostes para a administração da Crisma, por ser precisamente o dia em que
os Apóstolos foram fortalecidos e confirmados pela virtude do Espírito Santo.
A
recordação desse prodígio divino faz ver aos fiéis a natureza e a sublimidade
dos Mistérios, que devemos considerar no Sacramento da Confirmação.
A
pancada na face
Depois
da unção, o bispo dá com a mão uma leve pancada na face de quem acaba de ser
confirmado, lembrando-lhe assim que dali por diante deve estar pronto, qual forte
campeão, a sofrer intrépido todas as adversidades, por causa do Nome de Cristo.
O
ósculo de paz
Em
último lugar, dá-lhe ainda o ósculo da paz, para o crismado compreender que
acaba de conseguir a plenitude das graças celestiais e aquela paz que "excede
toda a noção humana".
Sejam
estes pontos um ligeiro apanhado da doutrina, que os pastores deverão explanar
acerca do Sacramento da Crisma, não em linguagem seca e inexpressiva, mas
repassada de tanto zelo e piedade, que as instruções calem profundamente no
espírito e coração dos fiéis.»
(Catecismo
Romano, Serviço de Animação Eucarística Mariana, pp 241-257)