Santo do dia
11
de janeiro
Santo
Teodósio, o Cenobiarca
Não
foram apenas as areias da Tebaida que ilustraram e santificaram a penitência
nos primeiros séculos da era cristã. Se o Egipto teve os seus Paulo, António,
Macário, etc., a Síria, a Palestina tiveram, também, os seus; a vida monástica
ou cenobita seduziu, nesses países, inúmeros pessoas que deram aos fiéis o
exemplo das mais altas virtudes, e durante a perseguição dos emperadores pagãos
ou heréticos, o socorro, através das suas exortações e inabalável ortodoxia.
Foi este o duplo serviço prestado admiravelmente à Igreja do seu tempo por São
Teodósio, apelidado de cenobiarca, isto é o chefe dos cenobitas.
Ele
era da cidade de Gariso, na Capadócia (atual Turquia), onde nasceu por volta do
ano 423. A situação financeira confortável dos seus pais, muito piedosos, permitiu
que ele se dedicasse ao estudo das Sagradas Escrituras. E foi tão bem sucedido,
que começou a explicá-las ao povo. Até aos vinte e oito anos, exerceu esta
função. Mas o desejo ardente de sair do seu país para encontrar e servir da
Deus, como Abraão, levou-o a partir para Jerusalém. Passando pela Antioquia, quis
conhecer e consultar São Simão Estilista, cuja fama era universal. Mal, ele
entrou no pátio, no centro do qual se elevava a coluna do Santo, que este,
advertido por inspiração divina, exclamou: "Bem-vindo, Teodósio, homem de
Deus!". Simão convidou-o a subir, a vir até ele, abraçou-o afectuosamente
e previu o seu futuro. Era o ano 451, tendo, o Quarto Concílio de Calcedónia,
que condenaria Eutiques, acabado de começar.
Confortado
por esta visita, o jovem retomou o seu caminho. E começou por colocar-se sob a
orientação de um santo eremita chamado Longino, que o iniciou na vida anacoreta.
Pouco tempo depois, devido às insistentes orações de uma piedosa mulher chamada
Icélia, Longino aconselhou-o a dirigir-se à capela que ela tinha construído em
honra de Nossa Senhora. Ali começaram a chegar muitos peregrinos, atraídos pela
sua fama de santidade, que não parava de aumentar. São Teodósio que tinha vindo
de tão longe para encontrar Deus na solidão ficou assustado. E fugiu para o
topo de uma montanha próxima, onde havia uma caverna, que segundo a tradição,
teria albergado, por uma noite, os Reis Magos, quando retornaram de Belém. A
vida que ele começou a levar ali era de grande austeridade. Só se alimentava do
indispensável para viver: tâmaras, comendo até o caroço amolecido na água, vagens
e ervas. Durante trinta anos, não comeu sequer um pedaço de pão. Todo o seu
tempo, dia e noite, era dedicado à meditação e à oração, mantendo assim intacta,
pela contínua mortificação, a pureza perfeita de alma e de corpo. Ao mesmo
tempo, a alegria interior em que vivia transparecia nos seus traços fisionómicos
e nos seus atos: uma felicidade contagiante, uma trato afabilíssimo, uma caridade
sempre pronta para ajudar.
Numa
altura, tão diversa da nossa, em que tantos corações estavam apaixonados pela
perfeição, onde tantos aspirantes à santidade procuraram um guia, um pai, Teodósio
não pôde passar despercebido. Os discípulos abundaram rapidamente ao redor
dele; ele achou que, para os receber, deveria procurar um lugar mais espaçoso e
para tal começou a caminhar em direção ao Leste. Nas suas mãos levava um
turíbulo apagado, rezando e pedindo a Deus que o acendesse no lugar onde eles
deveriam estabelecer-se.
Em
vão caminhou até ao Mar Morto. Deu meia volta e eis que o turíbulo se acendeu
quando entraram na gruta dos Reis Magos, de onde tinham saído, pois era ali que
Deus queria que eles permanecessem. Teodósio começou a construir um mosteiro,
com muitas lauras ou celas para seus filhos. Parecia uma pequena aldeia, onde
habitações separadas se sucediam, reunindo um grupo mais ou menos numeroso de
cenobitas, ou seja de religiosos reunidos para uma vida comunitária. Como o
número de discípulos não parava de aumentar, Teodósio teve de construir várias
igrejas, segundo as diferentes origens e ritos: uma para os gregos, uma para os
arménios, uma para os árabes, uma para os Bessos, povo do Norte que falava a
língua esclavónia (da região da atual Croácia). Uma estava reservada para os penitentes,
para aqueles a quem uma vida solitária no deserto serviria para reparar as enormes
ofensas cometidas contra Deus e até para aqueles que tinham sido possessos ou que
tivessem oferecido as suas vidas ao demónio, mas que se tinham arrependido.
O
mosteiro, pela grande caridade de Teodósio, estava aberto a todas as misérias: não
se recebia pior os pobres, do que os penitentes ou aspirantes à vida perfeita. Muitos
faziam a viagem só para ver, consultar, admirar o santo, desfrutar das suas
conversas, aprender com ele os segredos de Deus. Teodósio recebia a todos com
muita bondade, oferecendo sempre um conselho para atingir um grau superior de
perfeição e repartindo com largueza os bens do mosteiro. Muitas vezes, a
dispensa se esvaziava, antes mesmo que as mãos pedintes estivessem cheias. Mas
a caridade divina vinha rapidamente em auxílio à caridade humana e os recursos
eram milagrosamente multiplicados.
Contudo,
estes não são, nem de longe, os únicos milagres concedidos pela poderosa
intercessão de Teodósio. Perto dele viveu outro Santo, Sabas, cujo nome
venerado manteve e ainda mantém as ruínas do seu Êremo.
Uma
estreita amizade não tardou a ligar Sabas a Teodósio. Eles gostavam de se
encontrar, conversar sobre os mistérios do Céu; juntos procuravam outros meios
de dilatar a glória de Deus pela fé.
O
bispo e patriarca de Jerusalém, Salusto, tinha para com ambos a mais profunda
admiração. Para estender a sua influência, resolveu dar-lhe maior autoridade. A
Teodósio, confiou o título de cenobiarca e o governo supremo de todos os
mosteiros que se tinham formado na região. A Sabas, atribuiu a direção de todos
aqueles que por aquelas terras se tinham reunido para levar uma vida eremita. Era
um verdadeiro exército que iria apoiá-los nas lutas futuras. Porque a Igreja,
tendo desfrutado de uma longa paz graças à ortodoxia dos imperadores, iria ver
levantar-se contra ela, novamente, dias difíceis.
Cenas da vida de São Teodósio |
Entretanto,
Anastácio, que subiu ao trono em 491 após o reinado de Zenão, começara dando
grandes esperanças. Mas, rapidamente, deixou-se vencer pela heresia eutiquiana,
que negava que a natureza humana de Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria tivesse
subsistido depois da sua união com a natureza divina. O Concílio de Calcedónia já
tinha condenado esta teoria em 451. Mas heresia não tinha morrido! Ela esperava
triunfar graças ao apoio do imperador. Este, que conhecia a grande influência de
Teodósio, tentou conquistá-lo, enviando-lhe uma grande soma dinheiro para o ajudar
nas suas esmolas. O santo adivinhou a intenção secreta de Anastácio. Mais hábil
do que ele, aceitou dinheiro e agradeceu a oferta. Então, o imperador desmascarando
o seu jogo, pediu ao venerável cenobiarca para fazer a sua confissão de fé, no
que dizia respeito ao ponto controverso. Teodósio não hesitou, reuniu todos os
seus discípulos e afirmou: "É agora que devemos preparar-nos para sofrer e
para morrer pela Fé verdadeira."
Em
seguida, respondeu claramente, afirmando a sua adesão aos quatro Concílios de Nicéia,
Constantinopla, Éfeso e Calcedónia.
Apesar
da sua avançada idade, quis fazer mais: percorreu cidade por cidade, mosteiro por
mosteiro, encorajando, fortalecendo os espíritos, lutando contra os subtis
argumentos através dos quais os emissários de Anastácio pretendiam apoiar o
erro.
O
imperador, furioso contra os bispos fiéis, expulsou João, bispo de Jerusalém, substituindo-o
pelo chefe dos acéfalos (este era o novo nome da seita dos hereges). Contudo, nem
Sabas nem Teodósio o deixaram. Eles o advertiram contra todas as medidas que pudessem
ser desfavoráveis à fé ortodoxa.
E
como Olimpios, o enviado do imperador, pediu-lhes para atender os pedidos do
seu chefe, segurando nas mãos dos dois santos, levou-os para diante do ambão.
Mas ele não esperava que fossem anatematizar Eutiquio, Nestório e Severo.
Depois de João, Teodósio, tremendo, gritou para o povo reunido: "Que aquele
que não aceita os quatro Concílios, como os quatro Evangelhos, seja anátema!” E
depois destas palavras fortes, todos os três, passando pela multidão emocionada,
saíram da igreja. Olimpios, apavorado fugiu para Cesareia. Anastácio, sob a condenação
de heresia, respondeu com uma sentença de exílio contra os três defensores da Fé.
Mas
o exílio foi curto. Anastácio morreu na Quinta-feira Santa do ano de 518, atingido
por um raio.
Teodósio
retomou então a sua vida de oração, de humildade e de caridade incansável. Ao
mesmo tempo, ele multiplicou os milagres que aliviavam a vida dos desgraçados.
Ele curou, por exemplo, um canceroso que tocou na sua roupa; apareceu a uma
criança caída num poço, segurando-a sobre as águas até que ela fosse removida; deu
a vitória a um general que o invocou; obteve pelas suas orações a fertilidade
para mulheres previamente estéreis; previu o terremoto que derrubou a cidade de
Antioquia em 29 de maio de 526, como também uma invasão de gafanhotos que ameaçava
a Palestina. Sobre este último prodígio, o santo, cuja velhice tinha levado
todas as suas forças, foi carregado para enfrentar os enxames formidáveis. Ele apanhou
um gafanhoto e, falando com ele, como se ele o entendesse, ordenou: "É
preceito do nosso Mestre comum respeitar o trabalho dos pobres”. E os
gafanhotos respeitaram.
Deus
às vezes permitiu-lhe exercer poderes divinos com uma familiaridade doce e
alegre a seus amigos, mostrando assim a amizade que tinha o Santo para com Ele.
Um
dia, Teodósio quis fazer uma peregrinação a Belém, No caminho parou na ermida
de um amigo, muito caro, chamado Marciano. Este último, chegada a hora da
refeição, ofereceu ao visitante um prato de lentilhas, mas pediu desculpas por
não poder dar-lhe um pedaço de pão, pois não tinha de trigo. Terminada a
refeição, Marciano desculpou-se, novamente: "Não repare na tão parca
refeição. O trigo faz-nos muita falta!”. Enquanto ele falava, Teodósio percebeu
que na barba do seu hospedeiro havia um grão de trigo, caído não se sabe donde.
Ele apanhou-o e, com um leve sorriso disse: "Aqui está. Falava-me em escassez?!
". Marciano recolheu o grão, como uma preciosidade. No dia seguinte,
quando foi ao sótão, encontrou-o repleto de trigo, tão cheio que escorria pela
porta fora.
No
exercício destas virtudes e da caridade, Teodósio atravessou a velhice até aos
seus limites extremos. Deus permitiu que ela não passasse sem sofrimentos, para
que a recompensa fosse ainda maior.
Apesar
do corpo devastado por uma doença, com muitas chagas, o santo não pediu a Deus
que o aliviasse das suas dores. Diante da morte que se aproximava, a sua oração
foi contínua. Nem o seu sono a interrompia, vendo-se os seus lábios murmurar as
palavras dos Salmos.
Finalmente,
cercado por três Bispos que choravam a perda do pai. Com cento e cinco anos, São
Teodósio adormeceu para acordar no seio de Deus. Era o dia 11 de janeiro de
528.
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