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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

11 de janeiro: Santo Teodósio, o Cenobiarca


Santo do dia
11 de janeiro

Santo Teodósio, o Cenobiarca


Não foram apenas as areias da Tebaida que ilustraram e santificaram a penitência nos primeiros séculos da era cristã. Se o Egipto teve os seus Paulo, António, Macário, etc., a Síria, a Palestina tiveram, também, os seus; a vida monástica ou cenobita seduziu, nesses países, inúmeros pessoas que deram aos fiéis o exemplo das mais altas virtudes, e durante a perseguição dos emperadores pagãos ou heréticos, o socorro, através das suas exortações e inabalável ortodoxia. Foi este o duplo serviço prestado admiravelmente à Igreja do seu tempo por São Teodósio, apelidado de cenobiarca, isto é o chefe dos cenobitas.

Ele era da cidade de Gariso, na Capadócia (atual Turquia), onde nasceu por volta do ano 423. A situação financeira confortável dos seus pais, muito piedosos, permitiu que ele se dedicasse ao estudo das Sagradas Escrituras. E foi tão bem sucedido, que começou a explicá-las ao povo. Até aos vinte e oito anos, exerceu esta função. Mas o desejo ardente de sair do seu país para encontrar e servir da Deus, como Abraão, levou-o a partir para Jerusalém. Passando pela Antioquia, quis conhecer e consultar São Simão Estilista, cuja fama era universal. Mal, ele entrou no pátio, no centro do qual se elevava a coluna do Santo, que este, advertido por inspiração divina, exclamou: "Bem-vindo, Teodósio, homem de Deus!". Simão convidou-o a subir, a vir até ele, abraçou-o afectuosamente e previu o seu futuro. Era o ano 451, tendo, o Quarto Concílio de Calcedónia, que condenaria Eutiques, acabado de começar.

Confortado por esta visita, o jovem retomou o seu caminho. E começou por colocar-se sob a orientação de um santo eremita chamado Longino, que o iniciou  na vida anacoreta. Pouco tempo depois, devido às insistentes orações de uma piedosa mulher chamada Icélia, Longino aconselhou-o a dirigir-se à capela que ela tinha construído em honra de Nossa Senhora. Ali começaram a chegar muitos peregrinos, atraídos pela sua fama de santidade, que não parava de aumentar. São Teodósio que tinha vindo de tão longe para encontrar Deus na solidão ficou assustado. E fugiu para o topo de uma montanha próxima, onde havia uma caverna, que segundo a tradição, teria albergado, por uma noite, os Reis Magos, quando retornaram de Belém. A vida que ele começou a levar ali era de grande austeridade. Só se alimentava do indispensável para viver: tâmaras, comendo até o caroço amolecido na água, vagens e ervas. Durante trinta anos, não comeu sequer um pedaço de pão. Todo o seu tempo, dia e noite, era dedicado à meditação e à oração, mantendo assim intacta, pela contínua mortificação, a pureza perfeita de alma e de corpo. Ao mesmo tempo, a alegria interior em que vivia transparecia nos seus traços fisionómicos e nos seus atos: uma felicidade contagiante, uma trato afabilíssimo, uma caridade sempre pronta para ajudar.

Numa altura, tão diversa da nossa, em que tantos corações estavam apaixonados pela perfeição, onde tantos aspirantes à santidade procuraram um guia, um pai, Teodósio não pôde passar despercebido. Os discípulos abundaram rapidamente ao redor dele; ele achou que, para os receber, deveria procurar um lugar mais espaçoso e para tal começou a caminhar em direção ao Leste. Nas suas mãos levava um turíbulo apagado, rezando e pedindo a Deus que o acendesse no lugar onde eles deveriam estabelecer-se.

Em vão caminhou até ao Mar Morto. Deu meia volta e eis que o turíbulo se acendeu quando entraram na gruta dos Reis Magos, de onde tinham saído, pois era ali que Deus queria que eles permanecessem. Teodósio começou a construir um mosteiro, com muitas lauras ou celas para seus filhos. Parecia uma pequena aldeia, onde habitações separadas se sucediam, reunindo um grupo mais ou menos numeroso de cenobitas, ou seja de religiosos reunidos para uma vida comunitária. Como o número de discípulos não parava de aumentar, Teodósio teve de construir várias igrejas, segundo as diferentes origens e ritos: uma para os gregos, uma para os arménios, uma para os árabes, uma para os Bessos, povo do Norte que falava a língua esclavónia (da região da atual Croácia). Uma estava reservada para os penitentes, para aqueles a quem uma vida solitária no deserto serviria para reparar as enormes ofensas cometidas contra Deus e até para aqueles que tinham sido possessos ou que tivessem oferecido as suas vidas ao demónio, mas que se tinham arrependido.

O mosteiro, pela grande caridade de Teodósio, estava aberto a todas as misérias: não se recebia pior os pobres, do que os penitentes ou aspirantes à vida perfeita. Muitos faziam a viagem só para ver, consultar, admirar o santo, desfrutar das suas conversas, aprender com ele os segredos de Deus. Teodósio recebia a todos com muita bondade, oferecendo sempre um conselho para atingir um grau superior de perfeição e repartindo com largueza os bens do mosteiro. Muitas vezes, a dispensa se esvaziava, antes mesmo que as mãos pedintes estivessem cheias. Mas a caridade divina vinha rapidamente em auxílio à caridade humana e os recursos eram milagrosamente multiplicados.

Contudo, estes não são, nem de longe, os únicos milagres concedidos pela poderosa intercessão de Teodósio. Perto dele viveu outro Santo, Sabas, cujo nome venerado manteve e ainda mantém as ruínas do seu Êremo.

Uma estreita amizade não tardou a ligar Sabas a Teodósio. Eles gostavam de se encontrar, conversar sobre os mistérios do Céu; juntos procuravam outros meios de dilatar a glória de Deus pela fé.

O bispo e patriarca de Jerusalém, Salusto, tinha para com ambos a mais profunda admiração. Para estender a sua influência, resolveu dar-lhe maior autoridade. A Teodósio, confiou o título de cenobiarca e o governo supremo de todos os mosteiros que se tinham formado na região. A Sabas, atribuiu a direção de todos aqueles que por aquelas terras se tinham reunido para levar uma vida eremita. Era um verdadeiro exército que iria apoiá-los nas lutas futuras. Porque a Igreja, tendo desfrutado de uma longa paz graças à ortodoxia dos imperadores, iria ver levantar-se contra ela, novamente, dias difíceis.

Cenas da vida de São Teodósio
Entretanto, Anastácio, que subiu ao trono em 491 após o reinado de Zenão, começara dando grandes esperanças. Mas, rapidamente, deixou-se vencer pela heresia eutiquiana, que negava que a natureza humana de Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria tivesse subsistido depois da sua união com a natureza divina. O Concílio de Calcedónia já tinha condenado esta teoria em 451. Mas heresia não tinha morrido! Ela esperava triunfar graças ao apoio do imperador. Este, que conhecia a grande influência de Teodósio, tentou conquistá-lo, enviando-lhe uma grande soma dinheiro para o ajudar nas suas esmolas. O santo adivinhou a intenção secreta de Anastácio. Mais hábil do que ele, aceitou dinheiro e agradeceu a oferta. Então, o imperador desmascarando o seu jogo, pediu ao venerável cenobiarca para fazer a sua confissão de fé, no que dizia respeito ao ponto controverso. Teodósio não hesitou, reuniu todos os seus discípulos e afirmou: "É agora que devemos preparar-nos para sofrer e para morrer pela Fé verdadeira."

Em seguida, respondeu claramente, afirmando a sua adesão aos quatro Concílios de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedónia.

Apesar da sua avançada idade, quis fazer mais: percorreu cidade por cidade, mosteiro por mosteiro, encorajando, fortalecendo os espíritos, lutando contra os subtis argumentos através dos quais os emissários de Anastácio pretendiam apoiar o erro.

O imperador, furioso contra os bispos fiéis, expulsou João, bispo de Jerusalém, substituindo-o pelo chefe dos acéfalos (este era o novo nome da seita dos hereges). Contudo, nem Sabas nem Teodósio o deixaram. Eles o advertiram contra todas as medidas que pudessem ser desfavoráveis à fé ortodoxa.

E como Olimpios, o enviado do imperador, pediu-lhes para atender os pedidos do seu chefe, segurando nas mãos dos dois santos, levou-os para diante do ambão. Mas ele não esperava que fossem anatematizar Eutiquio, Nestório e Severo. Depois de João, Teodósio, tremendo, gritou para o povo reunido: "Que aquele que não aceita os quatro Concílios, como os quatro Evangelhos, seja anátema!” E depois destas palavras fortes, todos os três, passando pela multidão emocionada, saíram da igreja. Olimpios, apavorado fugiu para Cesareia. Anastácio, sob a condenação de heresia, respondeu com uma sentença de exílio contra os três defensores da Fé.

Mas o exílio foi curto. Anastácio morreu na Quinta-feira Santa do ano de 518, atingido por um raio.

Teodósio retomou então a sua vida de oração, de humildade e de caridade incansável. Ao mesmo tempo, ele multiplicou os milagres que aliviavam a vida dos desgraçados. Ele curou, por exemplo, um canceroso que tocou na sua roupa; apareceu a uma criança caída num poço, segurando-a sobre as águas até que ela fosse removida; deu a vitória a um general que o invocou; obteve pelas suas orações a fertilidade para mulheres previamente estéreis; previu o terremoto que derrubou a cidade de Antioquia em 29 de maio de 526, como também uma invasão de gafanhotos que ameaçava a Palestina. Sobre este último prodígio, o santo, cuja velhice tinha levado todas as suas forças, foi carregado para enfrentar os enxames formidáveis. Ele apanhou um gafanhoto e, falando com ele, como se ele o entendesse, ordenou: "É preceito do nosso Mestre comum respeitar o trabalho dos pobres”. E os gafanhotos respeitaram.
 
Deus às vezes permitiu-lhe exercer poderes divinos com uma familiaridade doce e alegre a seus amigos, mostrando assim a amizade que tinha o Santo para com Ele.

Um dia, Teodósio quis fazer uma peregrinação a Belém, No caminho parou na ermida de um amigo, muito caro, chamado Marciano. Este último, chegada a hora da refeição, ofereceu ao visitante um prato de lentilhas, mas pediu desculpas por não poder dar-lhe um pedaço de pão, pois não tinha de trigo. Terminada a refeição, Marciano desculpou-se, novamente: "Não repare na tão parca refeição. O trigo faz-nos muita falta!”. Enquanto ele falava, Teodósio percebeu que na barba do seu hospedeiro havia um grão de trigo, caído não se sabe donde. Ele apanhou-o e, com um leve sorriso disse: "Aqui está. Falava-me em escassez?! ". Marciano recolheu o grão, como uma preciosidade. No dia seguinte, quando foi ao sótão, encontrou-o repleto de trigo, tão cheio que escorria pela porta fora.

No exercício destas virtudes e da caridade, Teodósio atravessou a velhice até aos seus limites extremos. Deus permitiu que ela não passasse sem sofrimentos, para que a recompensa fosse ainda maior.

Apesar do corpo devastado por uma doença, com muitas chagas, o santo não pediu a Deus que o aliviasse das suas dores. Diante da morte que se aproximava, a sua oração foi contínua. Nem o seu sono a interrompia, vendo-se os seus lábios murmurar as palavras dos Salmos.

Finalmente, cercado por três Bispos que choravam a perda do pai. Com cento e cinco anos, São Teodósio adormeceu para acordar no seio de Deus. Era o dia 11 de janeiro de 528.

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