No dizer do Papa Pio XI “o sujeito da educação cristã é o homem, o homem todo, espírito unido ao corpo em unidade de natureza, com todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais, como no-lo dão a conhecer a reta razão e a Revelação: por isso o homem decaído do estado original, mas remido por Cristo, e reintegrado na condição sobrenatural de filho de Deus, ainda que o não tenha sido nos privilégios preternaturais da imortalidade do corpo e da integridade ou equilíbrio das suas inclinações. Permanecem portanto na natureza humana os efeitos do pecado original, particularmente o enfraquecimento da vontade e as tendências desordenadas (Pio XI, Fivini Illius Magister, 31 de Dezembro de 1929).
Tendo assim, por base o composto humano, corpo, com todas as suas tendências boas e más, e alma, com as suas potências naturais e sobrenaturais, a catequese ou o apostolado visa a “formar cristãos convictos que conheçam a sua fé e a ponham em prática (Carta de João XXIII ao II Congresso catequístico de Veneza, 22 de abril de 1961).
Como consegui-lo?
A criança regenerada pelas águas do Batismo, possui em gérmen as virtudes teologais. É pelo desenvolvimento destas virtudes que a criança alcançará uma vida de fé esclarecida, dando uma resposta afirmativa à sua vocação e à Deus: um sim pela fé, enquanto diz a Deus que aceita na vida a verdade eterna revelada por Ele, um sim pela esperança, enquanto confia nos bens eternos prometidos por Ele e um sim pela caridade, enquanto no amor a Deus dá resposta ao amor infinito de Deus (Côn. José Cardoso de Almeida, Catequista Missão sublime, Lamego, 1960, pag. 102).
Este desenvolvimento opera-se por meio de um ensino sagrado, vivo, fundamental, elementar, metódico e ocasional (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 39). Ensino sagrado que mediante a apresentação das verdades da fé, leva a criança ao “encontro” com Deus pela união a Cristo.
Este ensino, ou apostolado, chamemo-lo assim, “não nos introduz num catálogo de verdades anónimas – como a gramática – ele faz-nos entrar na amizade das Pessoas Divinas. A pessoa de Jesus Cristo é o centro deste ensino. Jesus Cristo faz-nos conhecer a Pessoa do Pai e ensina-nos a ser dócil à Pessoa do Espírito Santo” (Abbé Paul Vernhet, La Pratique du Catecisme, Paris , 1960, pag.6).
Aquela resposta a este encontro – ou vida de fé da criança – prepara-se nas próprias conversas ou lições, criando um ambiente de amor e respeito que leve à oração, pondo como sujeito das frases as Pessoas Divinas, como por exemplo: “Deus ouve-nos”, “Deus escuta-nos”, “Jesus vem à nossa alma”, “o Espírito mora na alma de cada menino ou menina”, etc. Em suma, seguindo sempre o conselho de Santo Agostinho ao Diácono Deogratias: “tudo o que contardes, contai-o de modo que o vosso ouvinte creia escutando, espere crendo, e ame esperando” (Abbé Paul Vernhet, Santo Agostinho, De catechizandis Rudius, Paris, 1960, pag. 45).
Ora para que o apostolado consiga tudo isto “deve ter estudado cuidadosamente a psicologia, como diz Pio XII, em ordem a aquilatar corretamente a capacidade dos espíritos e se adaptar convenientemente às suas necessidades” (Pio XII, Congresso Católico Internacional, 1950).
Concluindo: como o apostolado “toma a criança tal qual é, para fazer dela o que deve ser, torna-se indispensável a observação para a boa educação. Para educar é preciso diferenciar o tratamento – seria erro grave tratar de igual modo a criança dos seis aos doze anos – e para diferenciar o tratamento é necessário conhecer o sujeito; para conhecer o sujeito carece-se observá-lo. Sem o conhecimento das qualidades boas e más das crianças, dos fatores que aí intervieram ou da sua motivação, do seu modo de reagir, da sua força de vontade, das suas possibilidades; em suma, sem o conhecimento exato e profundo do educando, não é possível um apostolado ou educação pedagógica sérios e eficazes (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 18).
Podemos afirmar, com Lacordaire, que cada criança tem em si o gérmen de um santo ou de um celerado.
É a missão do apóstolo “cooperar com a graça” no dizer de Pio XII, para realizar em cada alma o pensamento de Deus – fazer passar a ato o santo em potência.
Nesta cooperação, convém recordá-lo de novo, temos a considerar a criança sob um duplo aspeto, natural e sobrenatural.
No aspeto natural, vista à luz da razão, “a criança é um corpo que cresce e uma alma que se forma e desenvolve, como dizia Maria Montessori, criadora da Casa das crianças e que até criou um método especial de aprendizagem (Côn. José Cardoso de Almeida, catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 75).
No aspeto sobrenatural – vista à luz da fé – “a criança é um filhinho de Deus que pleo crescimento na graça se faz um adulto cristão” (Côn. José Cardoso de Almeida, catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 76).
Embora este crescimento da graça não esteja sujeito às leis fisiológicas – pode numa criança de 10 anos haver um adulto cristão e pode acontecer que, num homem de 60 anos, não haja nível algum de vida divina – todavia, pelas repercussões que estas leis exercem aquele crescimento, passaremos a analisar as características psicológicas através dos vários períodos do crescimento da criança e a sua aplicação ao apostolado.
No apostolado, convém ter bem presente que, “nada podemos empreender de sólido e durável, sem uma colaboração esclarecida e constante das famílias” (P. Amilcar Amaral, Bíblia das Criancinhas, Lisboa, 1955, pag.6).
Os pais têm o dever e o direito inalienável de educar os filhos. Esquecer o fator familiar é sujeitar à nulidade todo o apostolado. Não nos ocuparemos da primeira infância – apesar da sua importância capital na educação dos hábitos da criança – por se tratar de um período estritamente maternal e familiar.
Dos 4 aos 6 anos as crianças podem e devem receber formação religiosa em casa ou na catequese paroquial ou nalguma Associação, sobretudo, quando a família é incapaz de lhes ministrar a formação competente.
Apostolado na segunda infância das crianças
A criança batizada é dotada de faculdades sobrenaturais ou virtudes infusas, a fé, a esperança e a caridade. Estas virtudes são gérmenes de vida divina que hão-de desenvolver-se por uma dupla ação: do Espírito Santo, que por elas esclarece a inteligência acerca de Deus e atrai para Ele as almas, e dos formadores ou educadores, que devem apresentar às crianças as verdades da fé, orientá-las para Deus e criar à sua volta um clima onde essas virtudes se possam desenvolver sem obstáculos humanos ou naturais que venham neutralizar, ou mesmo impedir, a ação divina, pois Deus respeita sempre a liberdade humana.
O Espírito Santo não comunica às almas apenas essas faculdades novas da fé, esperança e caridade, sem as quais seria impossível ter um conhecimento sobrenatural de Deus. Ele dá-nos os seus dons. Estes dons são uma espécie de instintos que facilitam à nossa inteligência a compreensão das verdades da fé, e robustecem a vontade, para ser fiel às exigências da mesma fé.
Ora, toda esta ação oculta e silenciosa do Divino Espírito Santo, na alma batizadas, é tanto mais eficaz, quanto mais livre de preconceitos estiver a inteligência, quanto menos viciada estiver a vontade, quanto menos enraizados estiverem os maus hábitos que se opõem à ação da graça, quanto menos materializada estiver a sensibilidade.
É, pois, antes do uso pleno da razão, ou seja no período que vai dos 3 aos 6 anos, aproximadamente, que a criança está na idade mais propícia à eficaz ação do Espírito Santo, que vive na sua alma.
Se não aproveitarmos estes primeiros anos da vida infantil para criar à volta da criança o ambiente cristão e para a colocar em circunstâncias que favoreçam o exercício das virtudes, perdemos a melhor oportunidade de colaborar com Deus na obra de santificação da mesma criança e deixamos que se robusteçam hábitos e maneiras de pensar anticristãs, que virão dificultar, e talvez inutilizar, pela vida fora, a ação da própria graça. Como diz Michael Pfliegler: “Se a determinação religiosa não se realizou nestes primeiros anos, teremos enorme dificuldade em exercer, mais tarde, uma influência religiosa e moral sobre o indivíduo: será quase como pretender encher um saco sem fundo”.
O período sensível ao sentimento religioso e ao sentido espiritual situa-se antes dos seis anos, torna-se pois necessário fazer com que as crianças vivam, neste primeiro período da sua vida, em união com Jesus, Maria e com Deus, presente em sua alma.
O desenvolvimento da afetividade infantil ou a educação do inconsciente, corresponde, em geral, a este período da infância. Este desenvolvimento, inconsciente, dos nossos primeiros anos é indescritível. É ele a base sobre a qual está edificado todo o nosso edifício psíquico. As impressões que o nosso espírito recebe nestes anos, ficam a marcá-lo como um selo ao mesmo tempo indelével e dinâmico.
A ausência total da vida cristã, nestes primeiros anos, deixa uma marca de vazio e de silêncio espiritual, onde devia existir uma afetividade plena e intensa.
“Se as nossas crianças batizadas foram orientadas, unicamente, por um meio familiar paganizado, que nunca lhes falou de Deus; se elas viverem sem oração, sem sacramentos, preocupadas em satisfazer a sua fantasia ou os seus caprichos (…) é uma verdadeira conversão que deve operar-se, para fazer com que elas voltem para Deus. As conversões são poucas e difíceis. Raras vezes são totais, porque as primeiras impressões deixam, como já vimos, traços indeléveis.
Por isso mesmo, dizia André Boyer na sua obra “Pedagogia cristã, problemas e métodos”, é preferível educar, do que, mais tarde, sermos obrigados a converter.
Na criança entre 3 e 6 anos, temos as seguintes características psicológicas:
1) Despertar da personalidade : “A criança nesta idade manifesta um certo espírito de contradição (Côn. José Cardoso de Almeida, catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 78). O “não” é a sua palavra preferida. Esta descoberta faz com que ela tome atitudes de pessoa adulta.
2) Curiosidade: A descoberta do mundo, caracterizada por um globalismo sincrético, leva-a querer saber tudo – é a idade dos porquês, tudo perguntam… embora se contentem com qualquer resposta. Esta última circunstância não nos deve autorizar, porém, a enganar as crianças ou mentir-lhes, seja por que motivo. Apalpam e desmancham os objetos e brinquedos ao seu alcance, mas tudo num sentido utilitário e não de causalidade interna.
3) Maravilhoso: A criança vive mais num mundo de fantasia do que no mundo real, é ávida de tudo o que é maravilhoso, e por isso, adora ouvir histórias e contos. Não distingue, por vezes, o real do imaginário e daí alguns enganos a que chamamos mentiras.
4) Egocentrismo: Devido ao carinho que todos lhe dedicam, a criança considera-se o centro do mundo. Pretende agarrar tudo para si, “consequência fatal de uma fraqueza nativa e de uma razão incapaz de objetivar o universo e de reconhecer às coisas uma razão de ser que não seja o seu interesse subjetivo” (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 79). Na própria conversa não considere os outros. Assim, por exemplo se alguém lhe perguntar: “qual é a minha mão direita? Ela aponta invariavelmente para a nossa mão esquerda… Tens um irmão? – Tenho. – E teu irmão tem algum irmão? – Não. (Gaston Courtois, Apontamentos de Psicologia, Lisboa, 1953, pag. 11).
5) Jogo: Nesta idade a criança encontra no jogo a sua expressão natural. “Jogando ela aprende a pôr à prova a sua capacidade, a empregar o tempo segundo as suas forças, a exercitar-se na habilidade e na independência” (W. Demal OSB, Psicologia pastoral prática, traduzido do Alemão para o italiano por G. Corti, Milano, 1956, pag 156). A criança interessa-se, não em ver fazer ou construir, mas em construir ela mesma as suas casinhas, moinhos, etc. Os pequenos de 3 a 6 anos não podem “compreender senão o jogo, que para eles é o único meio de se interessarem por aquilo que se lhes apresenta” (V. Neyrinck, L’éducation au Jardin d’enfants, Bruxelas, pag. 119). “A atividade é como o ponto de solda da vida corporal e da vida intelectual. Se a criança é reduzida pro constrangimento, à passividade, ela sofre e atrofia-se no seu espírito, como no seu corpo. Ela não se instrui verdadeiramente senão agindo” (Mme Maucourant e Mme Joly, L’éducation des senss para factivité, Paris, pag. 12).
6) Imitação: A criança imita todos os gestos e atitudes dos adultos. Por isso, com muita razão dizia Napoleão: “A educação começa 20 anos antes do nascimento, pela educação da mãe” (Gaston Courtois, Arte de educar as crianças de hoje, Lisboa, pag. 25). Alexis Carrel, premio nobel da medicina em 1912, escreveu: “A criança depende dos sues pais durante um longo período. Tem tempo de receber o que estes lhe podem dar. E, como tem o dom da imitação, tende a tornar-se como eles, tomando o seu verdadeiro aspeto, e não a máscara que eles trazem na vida social (P. Amilcar Amarl, Bíblia das Criancinhas, Lisboa, 1955, pag. 23). A criança imita, portanto, aqueles com os quais está em contato e que mais fortemente se impõem à sua imaginação infantil.
7) Animismo: É também a idade do “animismo”, quer dizer, a idade em que as crianças dão vida a tudo o que as rodeia: falam com as bonecas e confiam-lhes os seus segredos, conversam com os brinquedos, chegando mesmo a zangar-se com alguns.
A missão dos pais, hoje em dia, está facilitada pelo desenvolvimento do pré-catecismo nas Paróquias ou Associações religiosas.
Embora, ainda pouco organizado, à base de experiências já feitas e dos dados da psicologia, podemos afirmar que, o bom resultado do apostolado ou do ensino do catecismo, depende, em grande parte, da boa organização dos mesmos.
O apóstolo levará a criança a descobrir a Deus através das belezas e bondade da natureza, de pessoas, etc., fazendo-a percorrer as suas maravilhas através de fotografias, filmes ou audiovisuais, habituando-a a repetir a cada descoberta: “Ó meu Deus! Como sois grande, como sois bom, como sois poderoso!” “Obrigado, ó meu Deus!” Deste modo leva-se ao conhecimento de Deus, Próvido, Criador e Pai, e despertam-se nela os sentimentos de admiração, reconhecimento, amor e oração para com Ele. É assim que se faz passar o apostolado do ensino à vida.
Depois da criança ter descoberto a Deus é ocasião de se falar de Jesus Cristo, seu Filho, nascido da Virgem Maria, num humilde presépio.
Este sentimento de respeito, reconhecimento e amor a Deus, não vem tanto do ensino como do ambiente, todo penetrado de Deus: da intuição e imitação da oração curta, acompanhada de gestos e aplicada com exigência de uma atitude respeitosa.
“Porque a fé da criança é incapaz do menor discernimento, deve velar-se, em nada lhe dizer sobre Deus, Jesus e Maria que precise um dia de correção ou lhe cause, quando adulta, um sorriso irrisório, como o Pai Natal, etc. (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 23).
A resposta às perguntas curiosas das crianças deve ser breve, sempre verdadeira e impregnada de espírito sobrenatural. Assim, por exemplo, se uma criança perguntasse se tinha automóvel no céu, responder-lhe-íamos que os anjos do Céu andam muito mais rápido do que os automóveis e são muito mais belos do que tudo o que temos aqui na Terra e que Deus não precisa de automóveis, porque está sempre em toda a parte, e que foi Deus quem deu aos homens a habilidade de fazer automóveis ( Côn. Cardoso de Almeida, Catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 79).
O método do apostolado será sempre intuitivo: “Do simples ao complexo; do empírico ao racional; do incompleto ao completo; do sensível ao suprassensível; do espontâneo ao reflexivo; da perceção à observação; do imperfeito ao perfeito; do particular e concreto ao geral e abstrato; do exterior ao interior; do fácil e conhecido ao difícil e desconhecido e da parte de ao todo” (Adrian Zulueta SJ, Procedimentos catequísticos, em Catequética, suplemento de “Sal Terrae”; Enero-abril, 1962, pag. 6).
“Será ocasional e prático, aproveitando as ocasiões concretas, como uma flor, um perfume, um santinho, um doce… para levar as crianças até Deus pela admiração, ação de graças, amor e oração (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 24).
A criança é naturalmente ativa e viva, e portanto servir-nos-emos de histórias, desenhos, jogos, cânticos, projeções, dramas, etc, para tornar o apostolado vivo.
A alegria, a suavidade e tranquilidade são de importância capital, “um sorriso dos olhos e dos lábios, dizia Françoise Derkenne, penetra mais na alma do que uma boa palavra”.
Apostolado com os jovens dos 6 aos 9 anos
“Começa aos 7 anos o período escolar que Adolphe Ferrière divide em dois estádios: o dos interesses imediatos (6 aos 9 anos) e o dos interesses especializados concretos (10 a 12). Os interesses não são mais unicamente sensoriais e subjetivos. Eles vão-se tornando a pouco e pouco objetivos” ( J. de la Vaissière, Psichologie pédagogique , Paris, 1926, pag. 88).
Caracteriza-se por 3 fatores principais esta idade: a mudança do ambiente social, pela entrada na escola, a manifestação da razão e o despertar da consciência moral.
1) Entrada na escola: A criança que até aqui vivia no ambiente familiar, ao entrar na escola contacta bruscamente com um mundo novo, distinto da família. “É integrada numa organização bem definida: com o seu fim, as suas leis, o seu espírito, a qual impõe um trabalho comum para realizar em comum. Até aos 7 anos era a família que se lhe adaptava, agora é ela que tem de se adaptar à escola, respeitando os horários, os programas, etc. É ela quem escolhe os companheiros, bons e maus, com todas as suas consequências fáceis de adivinhar. Porque são comuns o lugar, as atividades, o programa, a disciplina e os mestres, os quais provocam os mesmos reflexos, as mesmas atividades, tendem a desaparecer as diferenças de educação e origem (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 24).
2) Primeira manifestação da razão: A criança, interessa-se pelas coisas, pelos objetos que formam o mundo exterior, cuja experiência começa a instruí-la, adaptando-se ao mesmo por uma certa reflexão: “querer aprender a modificar as suas experiências, quer transformá-las, e portanto, conhecê-las. Para este efeito quer ver a ligação das coisas. Aos porquês anteriores juntam-se os como, tornando-se a sua curiosidade insaciável” (Gaston Courtois, Arte de educar as crianças de hoje, Lisboa, pag. 80).
A afetividade que predominou no período anterior vai cedendo à razão que aos 10-12 anos predominará.
O globalismo sincrético anterior, persistindo ainda, será superado pelo conhecimento analítico de que a criança se torna capaz.
O apostolado será “do exemplo à regra”, a regra à demonstração, desta à aplicação. Evitar o dogmatismo puro com os seus imperativos áridos, fazer descobrir (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 79).
Aparecem a reflexão e o discernimento, o juízo e o raciocínio, virtualidades estas a explorar e desenvolver, mas muito gradualmente.
3) Despertar da consciência moral: É uma consequência do uso da razão.
Percebendo as relações de tipo casual, acede pouco e pouco à noção de responsabilidade e do dever, atinge o conceito do bem e do mal objetivos. “Deste modo passa a criança paulatinamente do tribunal dos pais ao tribunal pessoal. É o sentido do pecado, transmutando-se a responsabilidade em culpabilidade” (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 25).
Nesta idade, em que o espírito e o coração se abrem para a verdadeira vida, o importante para o apóstolo é compreender as possibilidades e os limites da criança que tem já uma psicologia humana com toda a sua primitiva frescura. É a altura própria para contactar com os mistérios da religião católica.
Guiada pela sua experiência duas vezes milenar, a Igreja, profunda conhecedora da psicologia e possibilidades da criança, preceitua-lhes, algumas das normas comuns a todos os cristãos: obrigação da assistência à Missa dominical, a abstinência de carne e a receção dos sacramentos da Confirmação, Eucaristia e Reconciliação. Uma preparação acabada para essas obrigações constitui um indício seguro de uma muito fecunda futura vida cristã.
“A criança, nesta idade, começa a internar-se e tornar-se extremamente positiva. Os apóstolos não a retêm senão com a condição de traduzirem a verdade espiritual em termos de vida concreta: histórias, imagens, filmes, gráficos, manipulações. É um tempo de crise ( Marie Fargues, Introduction des enfants de neuf ans au catéchisme, Tome I, Paris, pag. 14).
O apóstolo deve aproveitar o espírito crítico nascente na criança, levando-a a descobrir nas ditas histórias, parábolas, fatinhos e imagens, uma ideia ou realidade superior por meio de perguntas adequadas.
O tema de apostolado com eles versará sobre os mesmos desde o começo: Deus, Jesus e Maria, mas ultrapassando já a Omnipotência e a Providência, ensinando a infinidade, a eternidade, a omnisciência e a imutabilidade. Sobre a Incarnação e Nossa Senhora dar-se-ão conhecimentos mais profundos. A Igreja explicar-se-á pela parábola da vinha ou do Bom Pastor.
“Se fosse preciso caracterizar numa palavra o apostolado dos 6 a 9 anos, esta seria a idade do estado de graça. Mais ainda que a razão é o espírito da criança que desperta. Para o futuro, as virtudes, infusas desde o Batismo, devem animar-se e, sobre todas, a fé e a caridade. O essencial será, isto sim, dar o gosto e o sentido da graça. Tudo a deverá lembrar e favorecer a obedecer a sua consciência e dizer “sim” a Deus presente na alma. A criança deve salvaguardar esta graça contra o pecado, pensando na Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, sobretudo, deve nutri-la por um encontro ou união com Jesus-Eucaristia. O sentido e o gosto da graça reforçam-se, então, pelo desejo e amor da Eucaristia. Se verdadeiramente esta iniciação eucarística predomina, será mais fácil de levar ao sacramento da Penitência.
Este estado de graça, porém, achará a sua expressão quotidiana na oração. O apóstolo induzirá, portanto, a criança a fazer a pouco e pouco a sua oração diária. Esta oração, simples, curta pode tornar-se mecânica, mas ele deve criar um reflexo cristão pessoal. Intenções concretas ajudarão a combater a rotina. Sobretudo, para favorecer o fervor, o apóstolo lembrará muitas vezes a necessidade e a alegria da oração (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 921).
É necessário formar bem a personalidade da criança, como se deve abrir aos outros e levando-a a interpretar cristãmente a cerca dos acontecimentos que a rodeiam. “Quantos rapazes e raparigas cujo ideal não ultrapassa o prazer, haveriam saído da vulgaridade, se a sua primeira formação espiritual não tivesse sido frustrada! (C. Grimaud, Al crescer el bebé, Barcelona, 1940, pag, 2051).
Apostolado com crianças de 9 a 12 anos
Durante este período a criança caracteriza-se:
A) Ação: A criança “dos 9 aos 12 anos sai dela mesma, toma gosto pelas façanhas dos heróis, pelas viagens, pelas narrações históricas, naturalmente sempre sob um aspeto concreto e utilitário. O campo dos seus interesses engrandece-se cada vez mais. É a idade dos interesses específicos e concretos ou das monografias (Alberto EHM, L’éducation nouvelle, Paris, 1938, pag. 34). É um período de grande estabilidade física, ao contrário do período anterior. Na vida intelectual observam-se transformações sérias. A imaginação mítica atenua-se, o gosto do maravilhoso cede ao da aventura: o rapaz faz-se aventureiro e guerreiro e a rapariga, arrumadora da casa, costureira, lavadeira.
B) Memória e o hábito: A memória desenvolve-se vigorosamente, não sendo em idade alguma tão dócil nem tão tenaz. Não obstante tanto melhor reterá quanto mais tenha sido estimulada pelo interesse e apoiada na inteligência. Moralmente é um período de calma! O caráter, pelo contato com as realidades e a escola, limou-se. É a idade própria para enraizar os hábitos como preparação para a vida futura.
C) O despertar das faculdades lógicas: “O rasgo mais característico do desenvolvimento do espírito é a aquisição das noções fundamentais de espaço e de tempo, de número e de causa. Até esta data a criança ordinariamente não vê repugnância alguma em dizer que Adão ou seu avô conheceram a Cristo. Se aprende as datas e uns rudimentos de cronologia, isso não passa de um exercício verbal. Ela pode interessar-se e muito, pelos episódios da história, mas é incapaz de os ligar, e com mais forte razão, de os concatenar. A noção de causa, também ela se desenvolve e permite o verdadeiro trabalho da razão (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 96).
D) Conformismo social: Até aqui facilmente se impressionou com as atitudes dos pais, mestres ou companheiros, agora a todos se adapta e procura imitar. É a idade em que se constituem os grupos naturais que o apóstolo procurará converter em grupos de ação.
Estes 3 anos constituem a idade do apostolado por excelência, porque para uma grande parte das crianças termina aqui a sua formação. Por este motivo, o apóstolo deve incutir nas delicadas almas das crianças a doutrina cristã, de forma, a torna-la como uma síntese indelével que concretizará numa vida de fé.
Urge fortalecer a fé da criança, dando, no decorrer das reuniões ou lições, uma resposta completa às dúvidas que a sua inteligência e meio ambiente lhe sugerirem.
O apóstolo deve prever estas dificuldades, tendo em conta que as crianças já possuem a noção de causa, tempo e espaço.
É ainda a idade em que a criança pode aprender melhor os mistérios cristãos, o sentido da queda original, da Incarnação e Redenção, e da Igreja porque já adquiriu a noção da solidariedade humana.
Visto que a memória, nesta idade, é tenaz e fácil, é a altura de lhe exigir as fórmulas, sem esquecer que o caráter mais predominante desta idade é a atividade. “Sem dúvida, no curso desta fase é capaz de reter, mas é preciso não esquecer que o interesse e a inteligência são para a faculdade de reter indispensáveis sustentáculos, que o interesse nesta idade é provocado pela atividade, como afirma Stuart Hall, nunca a mão foi mais próxima da inteligência.
Exigir o silêncio e a passividade, fazer calar a imaginação, suprimir a emulação, sob pretexto de permitir o trabalho da memória, é fechar as vias de acesso à alma da criança. Agir assim, provocará um aborrecimento profundo, e talvez um desgosto, que será a sua lembrança mais durável.
O apóstolo procurará desenvolver o sentido do dever, realçando a alegria e o entusiasmo que o seu cumprimento traz à alma.
Acompanhando a evolução da imaginação mítica no sentido da aventura, o apóstolo propor-lhe-á como modelos de heróis as figuras bíblicas mais relevantes, os mártires cristãos da Igreja e, sobretudo, os santos contemporâneos.
A frequência dos sacramentos da Confissão e da Eucaristia constituirá a base essencial do apostolado que tem por fim uma vida de fé.
No fim deste período o apóstolo deve preparar a alma da criança para a idade tempestiva, e talvez fatal, que se segue, formando-lhe a consciência e incutindo-lhe coragem e entusiasmo perante as responsabilidades.
Para tornar possível uma completa e intensa educação cristã é necessário que os apóstolos “sejam capazes de descobrir os caminhos e os meios mais aptos para penetrar nas diversas psicologias e facilitar assim, o mais possível aos novos cristãos, a assimilação profunda da verdade, com todas as suas exigências (Beato João XXIII, Princeps Pastorum, 28 de novembro de 1959).
Contudo, como afirma o Papa Bento XVI, o principal apostolado é feito na própria família. “Quando os cónjuges se dedicam generosamente à educação dos filhos, guiando-os e orientando-os à descoberta do amor de Deus, preparam aquele terreno espiritual fértil onde brotam e amadurecem as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada” (Papa Bento XVI, Angelus, 8 de setembro de 2009).
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