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quarta-feira, 10 de julho de 2013

O inferno existe


"O facto não deixa nenhuma dúvida, pois  foi até incluído no processo de canonização de São Francisco Jerónimo, e atestado sob juramento por muitas testemunhas oculares.
No ano de 1707, o jovem sacerdote Jesuíta, São Francisco de Jerónimo pregava, como de costume, nos subúrbios de Nápoles e não hesitava em falar sobre o inferno e os terríveis castigos reservados aos pecadores obstinados.
Uma mulher insolente, chamada Catarina, que morava na redondeza, aborrecida com aqueles sermões que lhe traziam amargos remorsos, procurou interrompê-lo com gestos e gritos, desde a janela de sua casa. Uma vez, o santo voltou-se e disse-lhe: 'Ai de ti, filha, se resistes à graça! Não passarão oito dias, sem que Deus te castigue.'
A mulher não se perturbou com a ameaça e continuou com as suas más intenções. Passaram-se oito dias, e o santo foi pregar de novo perto daquela casa, mas desta vez as janelas estavam fechadas e ninguém o importunava. Os vizinhos que o ouviam, consternados, contaram-lhe que Catarina tinha morrido de improviso, pouco antes. 'Morreu? Disse o servo de Deus; pois bem, agora pergunto-vos: de que valeu zombar do inferno? Vamos perguntar-lhe.' Os ouvintes sentiram que o santo pronunciara aquelas palavras por inspiração divina, e por isso todos esperaram um milagre.
Acompanhado pela multidão, subiu à sala da casa, convertida em câmara ardente, e após breve oração, descobriu o rosto da morta e disse: 'Catarina, fala! Diz-nos onde estás!' A esta ordem, a defunta ergueu a cabeça, o seu rosto voltou a ganhar cor, abriu os olhos e, em atitude de tremendo desespero, proferiu, com voz lúgubre estas palavras: 'No inferno! Eu estou no inferno!'
Logo em seguida, voltou ao estado de frio cadáver. 'Eu estava presente e assisti ao facto, afirma uma das testemunhas que depuseram no tribunal eclesiástico, mas não saberia explicar a impressão que causou em mim e nos circunstantes; ainda hoje, passando perto daquela casa e olhando a tal janela, fico muito impressionado. Quando vejo aquela funesta moradia, parece-me ouvir a lúgubre voz: No inferno! Eu estou no inferno.' "
(BELTRAMI, Padre André. O inferno existe – Provas e exemplos. Artpress, São Paulo: 2007, p. 37-38)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ser mãe

Mãe é a pessoa mais importante da terra.

Ela não pode reivindicar para si a honra de ter construído, por exemplo, uma Catedral como a de Notre Dame. E ela não precisa. Ela construiu algo mais grandioso do que qualquer catedral - a morada para uma alma imortal, a perfeição do corpo minúsculo do seu filho. Os anjos não foram abençoados com tal graça. Eles não podem compartilhar do milagre criativo de Deus para gerar novos santos para o Céu. uma mãe humana pode.
 
As mães estão mais perto de Deus Criador do que qualquer outra criatura; Deus une forças com as mães para realizar esse ato da criação.
 
O que na boa terra de Deus é mais glorioso do que isso, ser mãe?
 
Cardeal Mindszenty

domingo, 30 de junho de 2013

A Russia espalhará os seus erros pelo mundo inteiro


Quando Nossa Senhora de Fátima apareceu aos três pastorinhos, a 13 de julho de 1917, e disse-lhes que a “a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo inteiro”, não se podia compreender o significado destas palavras proféticas.

Com mais de 90 anos de recuo histórico,  o que vemos? O que a história tem para nos contar, ou mostrar?

O comunismo tolheu direitos sagrados e inalienáveis

Como reação natural contra os abusos espoliadores do liberalismo económico, surgiu no século XIX uma corrente económica-politico-social, que teve em Karl Marx o seu cérebro e a sua estrutura.

O marxismo propos-se libertar o operário de uma exploração capitalista iníqua, mas não fez mais que enredá-lo numa escravidão mais aviltante e mais baixa do que a vivida nos tempos anteriores ao advento da era cristã. Com efeito, esqueceu a dignidade humana e cristã da pessoa humana, redimida por Cristo e por Ele exaltada ao pedestal de filha de Deus, e despojou-a de direitos sagrados e inalienáveis, tais como : o direito à liberdade, o direito a constituir família, o direito à propriedade...

Acima de todas estas negações, de si já graves e comprometedoras, pretendiam os sistemas socialistas arrancar do coração do homem a sua dimensão mais nobre, ou seja, a noção de um destino humano superior ao destino terrestre. Insurgiram-se assim, contra uma constante ininterrupta da história multimilenária da Humanidade, condensada na definição de Mark Twain: “O homem é um aninal religioso” (Mark Twain, cartas da Terra).

 Luta ideológica: ciência contra a religião

Os marxistas tentaram mostrar o fundamento terreno da religião e o seu caráter historicamente acidental, sempre dependente das variadas formas de consciência social dos homens e determinada pelas condições concretas da sua existência vivida em comum.

Engels escreveu que “toda a religião não é mais que um reflexo fantástico na mente humana daquelas forças que dominam a vida diária, reflexo em que as forças terrenas assumem a forma de forças sobrenaturais” (Anti-During, N. I. p. 353 apud Charles J. Mc Fadden, tradução A. Alves de Campos, Filosofia do Comunismo, União Gráfica, Lisboa, 1961, p. 145).

Por outro lado, Marx afirma: “a religião não vive no Céu, mas na Terra. Morrerá por si mesma, logo que seja destruída a realidade perversa de que ela é a teoria” (L’athéisme militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº 115, p. 13), referindo-se à estrutra social exploradora imperante, que era o capitalismo.

Bukharin, intelectual e político bolchevique, defende que a “religião foi no passado, como ainda hoje o é, um dos mais poderosos meios de que dispõem os opressores, para manter a desigualdade, o despotismo e a obediência servil dos trabalhadores” (O ABC do comunismo, Londres, 1922, p. 247, apud Charles J. Mc. Fadden, op. Cit. P. 149). E Lenine conclui que “o proletariado tem que empreender uma luta aberta para abolir a escravidão económica que é a fonte real do engano religioso da humanidade” (Lenine, Religião, 1935, ibid. P. 152).

No programa do Partido Comunista da URSS foi inscrito: “a realização da planificação e da tomada de consciência, em toda a atividade social e económica das classes, trará consigo a total destruição de preconceitos religiosos” (L’atheisme militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº 115, Paris, p. 14).

Leonid Ilitchev, presidente da Comissão ideológica do Comité Central do Partido Comunista, proclamou-se fiel à nova tática, inaugurada em 1945 e estilizada no slogan : “ciência contra a religão”. São dele estas palavras: “o nosso dever consiste em combater ativamente a ideologia religiosa, criando em todos os sovietes uma concepção científica do mundo, uma ideologia científica, uma maneira científica de agir e de pensar” (Le rapport Ilitchev, Informations Catholiques Internationales, nº 211, p. 16).

Lamentamos não poder transcrever na íntegra o extenso relatório Ilitchev, pois da sua simples leitura se concluiria a intensidade da dramática ofensiva anti-religiosa de que se revestiu a URSS no século XX, até aos anos 90. Para Ilitchev, “a religião representa a imagem fantástica e desnaturada do mundo que paralisa o espírito do homem com os dogmas e asfixia todo o pensamento criador” (Ibid. p.16).
Missa secreta num bosque da Ucrânia

Encontramos em Lenine palavras, que são expressão inequívoca  de uma linha de agir, tendente a arrancar do coração do povo as últimas fibras de sentimento religioso: “a luta contra a Religião não deve limitar-se, nem reduzir-se a uma disputa abstrata ou ideológica. Deve ligar-se ao movimento prático e concreto de classes. Será sua finalidade arrancar as raízes da Religião” (Lenine, Religião, p.14, apud Charles J. Mac Fadden, op. Cit., p. 153).

E do “programa do Partido Comunista” de 1936 salientamos: “Uma das tarefas mais importantes da revolução cultural que afeta as grandes massas, é a maneira de combater, sistemática e implacavelmente, a Religião, o ópio do povo (...). Enquanto o Estado proletário concede liberdade de cultos e suprime a posição privilegiada da Religião antes dominante (Igreja Ortodoxa), prossegue a propaganda anti-religiosa por todos os meios e reconstroi a totalidade da sua empresa educadora sobre a base de um Materialismo Científico” (Programa da Internacional Comunista, 1936, p. 54, ibid. p. 154).
 
Luta Política para propagar a instrução científica e anti-religiosa, seguida de perseguição

Se no campo ideológico manifestou-se uma hostilidade irredutível e demolidora de todos os princípios tradicionais cristãos, que dizer da política seguida pela URSS, para traduzir em atos essa ideologia perversa?

Para responder a esta pergunta bastar-nos-á recorrer à história e pedir-lhe alugns depoimentos relativos ao modo como, desde a Revolução de Outubro de 1917, até os anos noventa, foi tratada a Religião. Não pretendemos, evidentemente, em simples artigo, ser exaustivo em assunto, infelizmente, tão vasto e complexo.

Como medida legislativa, foi logo incluída no artigo 9 do Decreto de 23 de Janeiro de 1918, a nacionalização dos bens da Igreja e a interdição do ensino religioso em estabelecimentos de ensino público e privado. O artigo 121 do Código Penal ameaçava, além disso, com um ano de trabalhos forçados, quem se atrevesse a ensinar matérias religiosas a jovens que não houvessem ainda atingido a maioridade.

Em 1919, o Partido definia assim a finalidade da sua existência: “ajudar as massas trabalhadoras a libertar-se dos preconceitos religiosos e desenvolver para isso a mais larga propaganda de instrução científica e anti-religiosa. Neste trabalho, é conveniente evitar cuidadosamente qualquer ofensa aos sentimentos dos crentes, o que iria reforçar mais o fanatismo religioso” (L’atheisme militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº cit., p. 14).

Esta cláusula do Partido não foi, porém, seguida e dizem as estatísticas que, nos três primeiros anos após a Revolução, foram liquidados 1.215 sacerdotes e 28 bispos. Faltam-nos elementos para poder concretizar em números as prisões, as deportações e as torturas, com que foi provada a fidelidade dos cristãos à sua Fé.

Durante alguns anos, os métodos violentos deram lugar a uma intensa campanha de doutrinação materialista, levada até ao extremo de ironizar os meios de salvação, postos pela Igreja à disposição dos seus fiéis.

Coincidindo com a medida governamental da coletivização forçada, em 1929, desencadeou-se uma nova ofensiva anti-religiosa. A “liga dos ateus militantes”, já fundada em 1925 pro Yaroslawski, intensificou a sua ação de destruição e de ódio: foram profanadas muitas igrejas e transformadas em armazéns ou cinemas; organizaram-se concentrações espetaculares, para nelas serem ridicularizadas e destruídas imagens; nas escolas é introduzido um ensino anti-religioso progressivo e adaptado à mentalidade e desenvolvimento dos alunos.

Por volta de 1936, verificou-se uma certa distenção, visivelmente acentuada em 1941, quando a Alemanha invadiu a Rússia. Estaline concedeu, então, aos chefes da Igreja Ortodoxa russa, autorização de livremente organizarem a vida religiosa das suas igrejas. Ocultar-se-ia por detás dessa medida, qualquer manovra? O que se sabe é que essa liberdade foi “sol de pouca dura”.

Com efeito, data de 1945 a mais diabólica perseguição, movida pelo comunismo contra as sobrevivências religiosas; a sua arma mais poderosa, foi o uso do já citado slogan: “ciência contra a religão”.

Em 1947, foi fundada a Sociedade Pan-Unionista para a “Disseminação dos Conhecimentos Políticos e Científicos”, que preenchendo, de certo modo, o vazio deixado pelo desaparecimento da “Liga dos Ateus Militantes”, em 1941, se obstinou desde o seu início, “em propagar a concepção materialista do mundo e lutar contra as sobrevivências de uma ideologia estranha à consciência dos homens” (ibid. p. 15). Nos anos 60, em plena laboração, chegou a publicar por ano centenas brochuras em várias línguas, organizou conferências nas fábricas e nas empresas, promoveu colóquios, com o objetivo de provar a contradição intrínseca existente entre a ciência e a religião.

Reflitamos agora sobre o papel relevante que desempenharam na doutrinação materialista, além  da Sociedade Pan-Unionista, as diversas organizações do Partido, os Sindicatos e as “Casas e Clubes do Ateismo”. As “Casas do Ateismo” foram instuições existentes nas principais cidades e aglomerados populacionais, sobretudo da Ucrânia, zona onde estavam ainda mais profundamente arreigadas as crenças religiosas. Sujeitando-se , segundo a especialidade, por cada uma das 7 seções em que estão divididas, dedicavam-se ao estudo e à propaganda das mais eficazes experiências  anti-religiosas. Para obter essa finalidade, as “Casas e Clubes” organizavam serões especializados para jovens de todos os setores, para intelectuais, para mulheres, etc., e exposições itinerantes de quadros de pintores ucranianos e russos dos séculos XIX e XX sobre temas religiosos.

No mês de agosto de 1959, o jornal “Pravda”, explorando talvez a presença em Moscovo de Giorgio la Pira, Presidente da Câmara de Florença, católico convicto e amigo pessoal de Kruschtchev, publicou um artigo bastante venenoso. Depois de recordar “que não é permitido ofender o sentimento religioso dos crentes, usando um tom pouco respeitoso”, insurgia-se contra o clero e os sectários, por quererem adaptar a religião às condições modernas. E um pouco adiante, acrescentava “... para eliminiar as superstições religiosas, é preciso um trabalho longo e difícil, uma grande paciência e muita seriedade” (ibid., p. 17).

Foi extraordinariamente intensa a propaganda anti-religosa na Ucrânia. Eliminado em 1946 o quadro administrativo da Igreja Católica, a vida religiosa passsou a ser aí alimentada quase exclusivamente pela Igreja Ortodoxa Russa. Porém, também esta foi submetida a uma autêntica perseguição, cada vez mais feroz e sanrenta. Soube-se, por exemplo, por alguns turistas, que por lá passaram, a existência de um “plano septenal”, que se propunha liquidar totalmente a religão até 1965. Essa perseguição traduziu-se: no encerramenteo de mais de 500 igrejas, no curto espaço de três anos; na supressão de mosteiros e seminários; na atribuição dos piores crimes a bispos e sacerdotes, que foram arrastados aos tribunais e condenados; no asfixiamento  do múnus paroquial, através da imposição brutal de impostos; enfim, no apoio de todas as formas de manifestações e de propaganda anti-religiosa. Eis mais alguns números que, na sua eloquência muda, apresentam aquela que era uma realidade confrangedora:

Desde 1959 até aos anos 90, as autoridades soviéticas fecharam ou destruíram mais de 10.000 igrejas, dispersaram umas 40 comunidades monásticas das 67 existentes, restaram apenas 3 seminários dos 8 em atividade, foi interdita a frequência da igreja e a recepção dos sacramentos aos jovens desde os 3 aos 18 anos...

Esta revelação pungente, quando foi conhecido no Ocidente, levou François Mauriac a exclamar numa reunião do Comité interconfessional francês, para esclarecer a situação dos cristãos na URSS: “Quando o Cristo é crucificado em Moscovo e lança um grande grito sobre a cruz, nós ouvimos em Paris! Cristo está em agonia. Nós não devemos dormir durante este tempo”.

A “nova carta da propaganda anti-religiosa”, a extensa declaração de Ilitchev, a que atrás nos referimos e que foi publicada em Moscovo em 17 de Janeiro de 1964 confirma, de maneira arrepiante, a fidelidade à ideologia marxista-leninista.

Devido a circunstâncias, ou motivos especiais, variou por vezes a atitude do regime soviético relativamente à Igreja: não mudou, porém, jamais, nas suas linhas estruturais, a posição teórico-ideológica relativamente à religião.

Posição católica sobre o comunismo

Assentando, o Cristianismo sobre a ideia de Deus, a Quem o comunismo considera “um mito”, e sendo uma religião de vida, a que o comunismo, pela pena de Karl Marx, chama “ópio do povo”, tendo em conta ainda o que até agora se escreveu, vem a propósito perguntar: será possível uma aproximação, um trabalho de colaboração, o estabelecimento de um diálogo entre a Igreja e o comunismo”.

Reproduzimos as palavras de Pio XI, no dia 19 de março de 1937:

“... no que se refere a erros do comunismo, já no ano de 1846, o Nosso Venerando Predecessor, Pio IX, solenemente os condenou e confirmou tal condenação no Sylabus(...).

Mais tarde, outro Nosso Predecessor de imortal memória, Leão XIII, na Carta Encíclica “Quod Apostolici Muneris”, descreveu e definiu os mesmos erros como “peste mortífera que, serpeando através das íntimas articulações da sociedade humana a prostraria no extremo perigo de ruina e de morte”. Com visão clara de espírito penetrante, Leão XIII revelou que o movimento de difusão e louvor ao sistema de cultura técnica, provocando impiamente as massas para o ateísmo, tinha origem naquela concepção filosófica, que já de há séculos se esforçava por separar a ciência e a vida da Fé e da Igreja.

Nós também, não por uma só vez no decurso do Nosso Pontificado, tornámos públicas com solicitude instante essas correntes de ateismo, ferventes de ameaças e a avolumarem-se, de contínuo, dia a dia. De verdade, quando em 1924 a Nossa missão de socorro regressava da Rússia, em especial alocução dirigida ao orbe católico condenamos a doutrina e o sistema comunista (18 de Dezembro de 1924). Nas Nossas Encíclicas  “Miserentissimus Redemptor”, “Quadragesimo Anno”, “Caritate Christi”, “Acerba animi”, “Dilectissima Nobis”, queixámo-nos doloridamente, reclamando contra as cruentas perseguições ao nome cristão levantadas quer na Rússia, quer no México, quer finalmente na Espanha. (Divini Redemptoris, in A Igreja e a questão social, União Gráfica, Lisboa, 1935, pp. 200-201).

Decreto do Santo Ofício, hoje Congregação para a Doutrina da Fé, de 1 de Julho de 1949

Foram dirigidas a esta Suprema Congregação as seguintes perguntas:

1)      É lícito inscrever-se em partidos comunistas ou prestar-lhes apoios?

2)      É lícito publicar, difundir ou ler livros, periódicos, diários ou folhas volantes que defendem a doutrina ou a prática do comunismo, ou colaborar neles com escritos?

3)      Se os fiéis realizam, consciente e livremente, actos a que se referem as perguntas 1 e 2 do presente Decreto, podem ser admitidos aos Sacramentos?

4)      Os fiéis que professam a doutrina do comunismo materialista e anti-cristão, e sobretudo os que a defendem ou propagam, incorrem “ipso facto”, como apóstatas da fé católica, na excomunhão especialmente reservada à Sé Apostólica?

Os Eminentíssimos e reverendíssimos Padres encarregados da tutela da fé e dos costumes, tendo presente o parecer dos Reverendíssimos Consultores na reunião plenária de terça-feira (em vez de quarta-feira), no dia 28 de junho de 1949, decretaram que se respondesse:

Ao número 1: Negativamente: o comunismo, de facto, é materialista e anti-cristão; e portanto, os dirigentes do comunismo, mesmo quando às vezes, por palavras, declaram não combater a religião, de facto, contudo, na teoria e na ação, mostram-se hostis a Deus, à verdadeira religião e à Igreja de Cristo.

Ao número 2: Negativamente, porque são actos proibidos pelo próprio direito canónico (can. 1399).

Ao número 3: Negativamente, conforme os princípios que se referem a não administrar os sacramentos àqueles que não têm a devida disposição.

Ao número 4: Afirmativamente (Acta Apostolicae Sedes, de 13 de julho de 1949. Cf. Joaquim Azpiazu, S. J. Firecciones Pontificias en el Ordem Social, Madrid, 1960, pp. 361-362).

Petição de 213 Padres conciliares

“... Posto que já se vê que uma constituição doutrinária e pastoral a respeito do marxismo, socialismo e comunismo não criará o mínimo obstáculo à ação da Santa Sé em prol da existência pacífica de todos os homens e de todas as nações, rogo, fundamentado nas gravíssimas razões que expus, digne-se a Comissão para Assuntos Extraordinários do II Concílio Vaticano apresentar ao Sumo Pontífice o desejo de muitos Bispos, e de numerosos fiéis, no sentido de que o Santíssimo Padre determine a elaboração e o estudo de um esquema de constituição conciliar no qual:

1)      Se exponha com grande clareza a doutrina social católica, e se denunciem os erros do marxismo, do socialismo e do comunismo, sob os aspectos filosófico, sociológico e económico;

2)      Sejam profligados aqueles erros e aquela mentalidade que preparam o espírito dos católicos para a aceitação do socialismo, do comunismo, e que tornam propensos aos mesmos” (Esta petição foi dirigida ao Cardeal Amelto Cicognâni, Secretário de Estado do Vaticano, em 3 de Dezembro de 1963 e foi largamente divulgada pelos média.

O triunfo do Imaculado Coração de Maria

Passados os anos, vemos que os erros do comunismo esplaram-se pelo mundo inteiro. Não há nação do Ocidente, onde a doutrina anti-cristã não tenha progredido, perseguindo, com cada vez mais sanha, os que tem fé.

Como cristãos, uma única conclusão se nos impõe: rogar ao Senhor que nos liberte deste terrível flagelo e que aos homens sejam universalmente reconhecidos os seus inalienáveis direitos à liberdade de crença e de publicamente se afirmar em sociedade.

E porque o Cristianismo é essencialmente a religião da esperança, importa saber esperar, mesmo contra toda a esperança, de olhos fitos na Mensagem de Nossa Senhora de Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração Triunfará!”

 

 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Jesus não pediu-nos nada em troca


É bonito fazer parte de uma associação, composta por homens de diferentes idades, unidos no desejo comum de dar um testemunho especial da vida cristã, servindo à Igreja e aos irmãos sem pedir nada em troca. Isso é bonito: servir sem pedir nada em troca, como Jesus. Jesus serviu a todos nós e não nos pediu nada em troca! Jesus fez as coisas com gratuidade; façam as coisas com gratuidade vocês também. A sua recompensa é justamente esta: a alegria de servir ao Senhor, e juntos! Conheçam-no sempre mais, com a oração, com as jornadas de retiro, com a meditação da Palavra, com o estudo do catecismo, para amá-lo mais e mais e servi-lo com um coração generoso e grande, com magnanimidade. Esta é uma bela virtude cristã: a magnanimidade, ter um coração grande, ampliar o coração sempre, com paciência, amar a todos; e não aquelas pequenezas que nos fazem tanto mal, mas a magnanimidade. O seu testemunho será mais convincente e eficaz, e o seu serviço também será melhor e mais alegre.

(Papa Francisco, Audiência, 24 junho 2013)

domingo, 23 de junho de 2013

Falando um pouco de religião


Sob o título “Falando um pouco de religião” Danuza Leão, articulista, resolveu escrever sobre matéria que desconhece: a  Igreja Católica, na Folha de São Paulo do domingo, dia 15 de março de 2009.

Como as acusações continuam a ser repetidas e refletem uma corrente de pessoas preconceituosas, reproduzo o artigo repleto de lacunas e de falta de conhecimento religioso e a resposta do Prof. Felipe Aquino, doutor em engenharia mecânica. Recentemente, recebeu o título de Cavaleiro de São Gregório Magno, conferido pelo Papa Bento VI.

Falando um pouco de religião – Danuza Leão

EU ESTUDEI em colégio de freiras e posso falar de cadeira dos recreios que perdi aos sete, oito anos, ajoelhada no milho na capela, para pagar os meus pecados. Isso não é sadismo em alto grau? Fico tentando lembrar que pecados seriam esses. Teria falado na hora da aula? Teria comido um pedaço da sobremesa antes do almoço? Teria deixado de fazer algum dever? E as freiras ainda nos induziam a fazer sacrifícios, tipo deixar de comer uma mariola ou uma paçoca por amor a Deus. Sacrifício, a palavra que define a Santa Igreja Católica. E a missa obrigatória em todos os domingos e dias santificados? Depois disso, igreja, para mim, só em excursão turística -e assim mesmo só algumas.

É possível considerar o desejo sexual um pecado, um orgasmo um pecado, ter relações sexuais, mesmo de casais casados na igreja, sem outra intenção, a não ser a de procriar, um pecado? E ao considerar quase tudo que dá prazer um pecado, não dá para perceber o quanto as mentes católicas são doentes? E malvadas? Os sacrifícios, tão cultuados entre os católicos -cordas apertando a cintura, debaixo do vestido, até sangrar, eram um grande sinal de amor a Deus. Mas o que deve acontecer naqueles conventos e seminários, com aquele monte de moças e rapazes com seus hormônios explodindo, mas tendo que seguir o sentido contrário ao da natureza para amar a Deus sobre todas as coisas, isso é segredo, e jamais saberemos o que lá se passa - mas minha mão no fogo eu não boto. Será que são todos castos? Dos padres pedófilos se fala um pouquinho, mas logo o assunto é  esquecido. E da excomunhão dos médicos que fizeram o aborto na menina de nove anos estuprada não vou nem falar, porque tudo já foi dito.

Para a Santa Madre Igreja, quanto mais se sofre mais se tem direito ao reino dos céus. Quem tiver uma doença grave será recompensado, se for cego, surdo, mudo e paralítico, é considerado um santo, praticamente, e ai dos que são felizes, dão risadas e gostam da vida. Estes estão condenados às trevas do inferno. Para ser um católico de verdade é preciso sofrer, e quanto mais, melhor. Como têm prestígio as carolas vestidas de preto, com um véu na cabeça e um terço na mão, falando que este mundo está perdido (e levando um pratinho de biscoitos para os padres). Perdido está quem não aproveitou esta vida e nunca ouviu falar em felicidade, pois o  que vem depois ninguém sabe direito. Pelo menos, ninguém voltou pra contar.

Mas também me revoltam as invenções praticadas em nome de Deus, das mais banais às mais revoltantes. Quem pode, em sã consciência, jurar amor "até que a morte nos separe?" Quem faz uma jura dessas é hipócrita, porque até as crianças do jardim-de-infância sabem que a vida não é assim. Mas do que os cardeais gostam mesmo é dos paramentos, das vestes de brocado, dos cálices de ouro, dos tronos incrustados de pedrarias, do luxo das igrejas de ouro, dos quadros mais preciosos deste mundo e de dar declarações absolutamente inúteis, tipo "o papa está muito preocupado com a fome no mundo", como se essa preocupação resolvesse alguma coisa. Esse papa, aliás, que veste Armani e sapatos vermelhos de Prada. Se o Vaticano se desfizesse de metade de seus tesouros, é bem possível que não houvesse mais fome no mundo. Fui batizada,  crismada e fiz a primeira comunhão, mas não cheguei ao ponto de me casar no religioso; e não me incomodaria nem um pouco se fosse excomungada.

Carta do professor Felipe Aquino para a articulista, escritora e socialite Danuza Leão.

 "Com muito respeito gostaria de lhe escrever. Que você não se importe de ser excomungada, não me surpreende, falta-lhe o dom da fé; mas dizer que se a Igreja vendesse os seus bens acabaria com a fome no mundo, isso é demais!  Você sabia que o Vaticano é proibido de vender a menor peça do Museu do Vaticano, uma vez que o Direito Internacional o proíbe  por ser o Vaticano apenas o guarda disso tudo, segundo o Tratado do Latrão assinado com a Itália? Você sabe qual é o tamanho do Vaticano? Resposta: 0,44 km quadrados; não cabe nem um campo de aviação. Aliás, sabe quantos aviões tem o Papa? Zero. E ele é um Chefe de Estado; existe algum que seja tão carente?

 Fiquei arrepiado com tanta bobagem e preconceito que você destilou em sua matéria.

 Como você, eu também estudei em colégio católico, salesiano, graças a Deus; e assistia a missa todos os dias, graças a Deus, e ainda hoje a assisto todos os dias, graças a Deus; é a grande alegria do meu dia (o Sacrifício do Calvário) que nos salva. Você despreza o seu Batismo e a sua Crisma; eu quero lhe dizer que o único diploma que eu tenho coragem de expor na parede do meu escritório é a minha certidão de Batismo; ele me abriu as portas do Céu, me deu a graça de ser membro de Cristo, da Igreja, herdeiro do Céu. O resto... vai ficar na terra.

Estudei física e matemática, fiz mestrado na Universidade Federal de Itajubá e doutorado no ITA em Ciências Aeroespaciais, fiz pós-doutorado na UNESP; fui diretor de um campus da USP em Lorena, SP, por quase vinte anos, sempre eleito por meus pares. Digo isso para você saber que não sou um ignorante que faz da religião uma fuga; ou da Igreja um escudo de proteção; sou católico convicto.

O que lhe faltou, Danuza, infelizmente, foi ter conhecido a Igreja mais a fundo, mais de perto; faltou a você e a tantos que hostilizam a Igreja, nossa Mãe, Corpo místico de Cristo, estudar um pouquinho de teologia: cristologia, história da Igreja, escatologia, mariologia, dogmática, exegese bíblica, hermenêutica, liturgia, moral, mística... Se você tivesse estudado um pouquinho disso tudo; se os seus conhecimentos de Religião não ficassem apenas do tamanho do seu vestidinho de Primeira Comunhão, tudo seria diferente em sua vida; e você não estaria pisando tanto e maldosamente na Igreja que Cristo fundou para a nossa Salvação; mas, ainda é tempo...

 O que de melhor seus pais bondosos lhe deram, foi a Fé; não a jogue fora. A vida terrena passa, o corpo se extingue, a velhice chega, a morte se aproxima, mas a alma sobrevive. CUIDE DELA!

Jesus disse: "de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma"?

 

domingo, 5 de maio de 2013

Retrato de mãe


Existe uma mulher que tem algo de Deus pela imensidão do seu amor, e muito de anjo pela incansável solicitude dos seus cuidados; uma mulher que, sendo jovem, tem a prudência de uma anciã e, sendo idosa, trabalha com o vigor da juventude.

A mulher que, se é ignorante, descobre os segredos da vida com mais acerto que um sábio e, se é instruída, adapta-se à simplicidade das crianças; uma mulher que, sendo rica, daria com gosto o seu tesouro para não sofrer no coração a ferida da ingratidão.

Uma mulher que, sendo débil, se reveste, às vezes, com a bravura do leão; uma mulher que, enquanto vive, não a sabemos estimar porque ao seu lado todos as dores são esquecidas, mas que, depois da morte, daríamos tudo o que somos e temos para a ver novamente, um instante que fosse, para receber dela um abraço, para ouvir o suave timbre da sua voz.

Não me exija pronunciar o nome desta mulher, se não quiser que ensope de lágrimas este álbum: porque eu a vi passar pelo meu caminho.

Quando os seus filhos crescerem, leia para eles esta página; e eles, cobrindo a sua fronte beijos, saberão que um pobre
viajante, em troca da suntuosa hospedagem recebida, deixou-lhes aqui o retrato da sua mãe.


(Dom Ramon Angel Jara, Bispo de La Serena,Chile)



 
Dom Ramón Ángel Jara nasceu em Santiago do Chile no dia 2 de agosto de 1852. Começou os seus estudos como os padres franceses no Colegio dos Sagrados Corações de Valdivia e em 1862 incorporou-se no seminario de Santiago, onde alcançou o grau de bacharel em humanidades. Posteriormente ingressou na Universidade do Chile para seguir advocacia, mas em 1874 abandonou os estudos de direito para ser sacerdote. Foi ordenado no dia 16 de setembro de 1876. Cheou a ser o quinto bispo de San Carlos de Ancud e também o quinto bispo de La Serena. Distinguiu-se pela sua grande eloquência, a qual lhe valeu os títulos de "primeiro orador eclesiástico do Chile”, “primeiro orador católico do século”, “cisne da eloquência sagrada” e “o Crisóstomo chileno”. Faleceu na cidade de Serena no dia 9 de março de 1917, sendo sepultado na catedral diocesana.

Escreveu este retrato no álbum de visita de uma hospedagem em Lo Nieve, Los Ángeles, Chile.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O judeu Raposo Tavares e os jesuítas

Há um mistério em torno da vida de Raposo Tavares. Foi o verdadeiro explorador de um continente mas, em seu tempo, totalmente ignorado
Pesquisas recentes acrescentaram um fato novo à história dos bandeirantes: a origem judaica de Antônio Raposo Tavares.
Natural do Alentejo, Raposo foi criado pela madrasta, Maria da Costa, em uma casa onde se praticavam as cerimônias e festas judaicas clandestinamente. Maria foi presa pela Inquisição, juntamente com vários membros da família, e confessou sob tortura seu judaísmo secreto.
Raposo Tavares chegou em São Paulo aos 18 anos, com seu pai e um irmão. Em 1628, atacou as reduções jesuíticas, expulsou os jesuítas do Paraguai, fez recuar a expansão castelhana e apossou-se das terras, que foram incorporadas ao Brasil. Descrentes e iconoclastas, os bandeirantes demoliam as igrejas, quebravam as imagens sagradas e matavam os jesuítas.
A historiografia brasileira tem atribuído a fúria devastadora com que os bandeirantes se lançaram contra as reduções jesuíticas a motivações econômicas, como a posse dos índios e a busca de metais preciosos. Sem excluir esses interesses, um mergulho nos documentos revela que uma forte razão ideológica os movia, pois quase todos os bandeirantes tinham membros da família nos cárceres inquisitoriais.
De fato, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lima já funcionava desde 1570, e exatamente entre 1635 e 1639, no auge das Bandeiras, foram condenadas por ele 80 pessoas, 64 das quais por judaísmo.
Os jesuítas do Brasil já eram cúmplices da Inquisição portuguesa desde que esta enviou ao país, em 1591, a primeira visitação. Toda correspondência dos inquisidores referente à prisão dos hereges brasileiros era enviada ao provincial da Companhia de Jesus.
Nessas cartas, os paulistas eram apontados como "judeus encobertos", "falsos cristãos" e acusados dos crimes mais vis. E nas crônicas jesuíticas, os bandeirantes, além de judeus, eram chamados de corsários, facínoras, bestas e feras.
Felipe 6º ordenou ao vice-rei do Brasil que Raposo Tavares fosse entregue à Inquisição. Um acaso impediu que o bandeirante fosse preso e morresse queimado: eclodiu então a revolução que separou Portugal da Espanha e a ordem ficou sem efeito.
Em 1647, Raposo Tavares partiu para a maior expedição de descobrimento de todo o mundo. Um dos seus mais surpreendentes resultados foi conhecer, pela primeira vez, a extensão da América do Sul. Raposo Tavares dilatou o Brasil e foi o descobridor de um continente. Júlio de Mesquita Filho o caracterizou como "o herói de uma das mais famosas façanhas de que guarda memória a história da humanidade".
Há um mistério até hoje não desvendado em torno da vida de Raposo Tavares. Entre 1642 e 1647, seu nome não aparece nas atas da Câmara e em nenhum documento. Foi o verdadeiro explorador de um continente mas, em seu tempo, totalmente ignorado. Jaime Cortesão, o famoso historiador português, chama esse fato de "conspiração do silêncio" e pergunta: onde esteve Raposo durante esses anos e como explicar esse silêncio? Até que ponto está relacionado à sua origem judaica?
Na verdade, não sabemos qual foi a dimensão de seu judaísmo. Sabemos que Raposo Tavares, questionado sobre qual lei o autorizava a se contrapor aos jesuítas, respondeu: "A lei que Deus deu a Moisés". E sabemos, principalmente, que ele representou os contestadores dos regimes de opressão e do fanatismo.
Além de explorador, foi um revolucionário, um político e um idealista. Cortesão ergueu Raposo Tavares ao pedestal dos homens que construíram o Brasil.

ANITA WAINGORT NOVINSKY, historiadora, é professora livre-docente da USP

sábado, 20 de abril de 2013

Toda ideologia falsifica o Evangelho

A voz de Jesus "passa pela nossa mente e vai ao coração, porque Jesus procura a nossa conversão”. Paulo e Ananias, acolhendo a Cristo na sua vida, “respondem como os grandes da história da salvação, com Jeremias, Isaías”.
A confusão e a incerteza são típicos de todos os profetas, incluindo Moisés, que se pergunta: "Mas, Senhor, eu não sei falar, como irei dizer isso aos egípcios?" enquanto a Virgem Maria encontra-se a conceber o Filho de Deus, o Salvador da humanidade, sem ser casada, ou "conhecer homem".
O salto de qualidade típico de todos os profetas e santos é a "resposta de humildade", ou a aceitação da Palavra de Deus "com o coração". Todo o contrário da lei, que “respondem só com a cabeça” e assim se fazem impermeáveis para qualquer conversão.
Atualizando o conceito, Papa Francisco identificou nos “grandes teólogos” do nosso tempo, outra categoria de pessoas que “respondem somente com a cabeça”, e não compreendem que a Palavra de Jesus “vai para o coração porque é Palavra de amor, é palavra bonita e traz o amor, nos faz amar”
Quando eles descobrem que quem não comer a carne de Jesus e não beber Seu sangue, não vai ganhar a vida eterna, entram em crise: não conseguem ir além do conceito material e convencional do ato de comer carne.
Entra portanto um “problema de intelecto” e quando a ideologia entra “na inteligência do Evangelho, não se entende nada”, observou o Pontífice.
Nem mesmo o "moralismo" é uma estrada viável: mesmo quem insiste em ver em Jesus uma mera “estrada do dever”, de fato, cai na armadilha da pretensão de compreender tudo somente “com a cabeça”. Quem tem uma atitude assim carrega tudo “sobre os ombros
Toda ideologia “é uma falsificação do Evangelho” e aqueles que a sustentam são “intelectuais sem talento, eticistas sem bondade”; não entendem nem sequer de beleza. Ao longo da estrada do amor, da beleza e do Evangelho avançam pelo contrário os Santos que, com a humildade da sua conversão, “levam adiante a Igreja”.
A oração final do Santo Padre foi portanto por uma Igreja de coração aberto, livre de “qualquer interpretação ideológica” e fundamenta somente no Evangelho “que nos fala do amor e nos leva ao amor” e “nos faz belos”, dando-nos “a beleza da santidade”.
Papa Francisco, Homilia, Santa Marta, 19 de abril de 2013

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja

Na Sexta-feira Santa do ano de 2005, o então Cardeal Ratzinger escreve as meditações e as orações da Via-Sacra, recitadas no Coliseu de Roma. Na nona estação, em que meditamos na terceira queda de Jesus, ele interpela os católicos, descreve a situação da Santa Igreja e pede ao Senhor: "Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós". Uma meditação muito atual!
 
NONA ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do livro das Lamentações 3, 27-32

É bom para o homem suportar o jugo desde a sua juventude. Que esteja solitário e silencioso, quando o Senhor o impuser sobre ele; que ponha sua boca no pó: talvez haja esperança! Que dê sua face a quem o fere e se sacie de opróbrios. Pois o Senhor não rejeita para sempre: se Ele aflige, Ele se compadece segundo a sua grande bondade.

MEDITAÇÃO
E que dizer da terceira queda de Jesus sob o peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em geral, no afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um secularismo sem Deus. Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento da sua presença, frequentemente como está vazio e ruim o coração onde Ele entra! Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos darmos conta sequer d’Ele! Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra! Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! Respeitamos tão pouco o sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão. A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25).


ORAÇÃO

Senhor, muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos. Tende piedade da vossa Igreja: também dentro dela, Adão continua a cair. Com a nossa queda, deitamo-Vos ao chão, e Satanás a rir-se porque espera que não mais conseguireis levantar-Vos daquela queda; espera que Vós, tendo sido arrastado na queda da vossa Igreja, ficareis por terra derrotado. Mas, Vós erguer-Vos-eis. Vós levantastes-Vos, ressuscitastes e podeis levantar-nos também a nós. Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós.
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Neste período particular de renúncia do Papa Bento XVI, ouvimos tantos ataques à Igreja, que vale a pena lembrarmos a promessa de Deus Nosso Senhor, que nunca mente : "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18).
Esta promessa feita há vinte e um séculos por Cristo, ao fundar a Igreja como sociedade perfeita, com o objetivo único de conduzir os homens para a vida eterna, sobre a rocha inabalável de Pedro, garante a vitória da Igreja sobre qualquer adversidade.
A Igreja, por vontade de Cristo, é uma casa que deve ser edificada; um reino dos céus que deve ser governado; uma religião que "ata ou desliga os laços sociais no próprio Céu” (Joachim Salaverri, Sacrae Theologiae Summa, Madrid, 28, 1952, p. 727).
Pedro e os seus sucessores, por mandato expresso do Senhor, foram constituídos como a pedra angular, o fundamento natural e o princípio de unidade deste maravilhoso edifício, erguidos pelas mãos divinas. Eles são os ecónomos, os vice-reis deste reino, cujo soberano é o próprio Deus ou os árbitros supremos, para decidir em todas as questões de religião.
 Rezemos pelo próximo Papa, o doce Cristo na Terra!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O primado da oração


No segundo domingo da Quaresma, a liturgia sempre nos apresenta o Evangelho da Transfiguração do Senhor. O evangelista Lucas coloca especial atenção no fato de que Jesus foi transfigurado enquanto orava: a sua é uma profunda experiência de relacionamento com o Pai durante uma espécie de retiro espiritual que Jesus vive em um alto monte na companhia de Pedro, Tiago e João , os três discípulos sempre presentes nos momentos da manifestação divina do Mestre (Lc 5,10; 8,51; 9,28). O Senhor, que pouco antes havia predito a sua morte e ressurreição (9,22), oferece a seus discípulos uma antecipação da sua glória. E também na Transfiguração, como no batismo, ouvimos a voz do Pai Celestial: "Este é o meu filho, o eleito; ouvi-o" (9, 35). A presença de Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas da Antiga Aliança, é muito significativa: toda a história da Aliança está focada Nele, o Cristo, que faz um novo "êxodo" (9,31) , não para a terra prometida, como no tempo de Moisés, mas para o céu. A intervenção de Pedro: "Mestre, é bom para nós estarmos aqui" (9,33) representa a tentativa impossível de parar esta experiência mística. Santo Agostinho diz: "[Pedro] ... no monte... tinha Cristo como alimento da alma. Por que deveria descer para voltar aos trabalhos e dores, enquanto lá encima estava cheio de sentimentos de santo amor por Deus e que inspiravam-lhe uma santa conduta? "(Sermão 78,3).
         Meditando sobre esta passagem deo Evangelho, podemos tirar um ensinamento muito importante. Primeiro, o primado da oração, sem a qual todo o trabalho do apostolado e da caridade é reduzido ao ativismo. Na Quaresma aprendemos a dar o justo tempo à oração, pessoal e comunitária, que dá fôlego à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é um isolar-se do mundo e das suas contradições, como Pedro quis fazer no Tabor, mas a oração traz de volta para o caminho, para a ação. "A existência cristã - escrevi na Mensagem para esta Quaresma – consiste num contínuo subir o monte do encontro com Deus, para depois descer trazendo o amor e a força que provém dele, a fim de servir os nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus "(n. 3).
         Queridos irmãos e irmãs, sinto essa Palavra de Deus especialmente dirigida a mim, neste momento da minha vida. O Senhor me chama para “subir o monte”, para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, pelo contrário, se Deus me pede isso é para que eu a possa continuar servindo com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual fiz até hoje, mas de um modo mais adequado à minha idade e às minhas forças. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria: que ela sempre nos ajude a seguir o Senhor Jesus, na oração e nas obras de caridade (Papa Bento XVI, Angelus, 24 de fevereiro de 2013).