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sábado, 20 de julho de 2024

As três fases da vida, espelhadas na oração da Salve Rainha


Na “Salve Rainha” encontramos as três fases da vida dos homens: a juventude, a maturidade e o declínio.

Juventude: A oração começa com “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa”, a saudação alegre do ser ainda pequeno, balbuciando carícias respeitosas, mimando com palavras de doçura, com as lisonjas de uma criança que tenta persuadir a Mãe.

Maturidade: “A Vós bradamos, os degradados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Esta criança, tão sincera, tão simplesmente feliz, cresceu e conhecendo já as derrotas voluntárias do pensamento e da vontade, as suas repetidas caídas e faltas, junta as mãos e, soluçando, pede ajuda. Já não louva Nossa Senhora a sorrir, mas a chorar.

Declínio: “Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre”. Finalmente a velhice chegou. A pessoa atormentada pela recordação dos conselhos negligenciados, arrependida por ter fechado o coração a tantas graças, torna-se mais temerosa, mais fraca. Com medo da sua salvação, aterrorizada com a sua libertação, com a destruição da sua prisão carnal que sente estar próxima, a alma pensa na eterna inanição daqueles a quem o Juiz condena e, de joelhos, implora à Advogada da terra, a Consulesa do Céu.

“Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”. E, a este cerne da oração que Pedro de Compostela ou Hermano de Reichenau, O.S.B. preparou, São Bernardo, num acesso de hiperdulia, acrescentou as três invocações finais, selando com três brados de amor, que reconduzem a oração à doce adoração do seu início.

Cf. Joris-Karl Huysmans, A caminho, 1897, Paris, P.-V. Stock, Éditeur, p. 248

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Um Papa que apostatou, converteu-se e morreu mártir




No ano de 308, foi eleito para a Cátedra de Pedro, o Papa São Marcelo, que encontrou a Igreja numa situação desastrosa. Os locais de reunião e alguns cemitérios foram confiscados e as atividades ordinárias foram interrompidas. Além disso, ocorriam alguns desentendimentos internos causados pelo grande número de pessoas que tinham renunciado a fé durante o período de perseguição e que pretendiam ser readmitidos à Eucaristia, sem que tivessem feito um ato de arrependimento.

Uma vez eleito, Papa Marcelo assumiu de imediato o compromisso de reorganizar a Igreja. Forte defensor das antigas tradições, endureceu a sua posição e exigiu penitência para todos os relapsos, que queriam ser readmitidos. A sua posição gerou divisões e o imperador Magêncio, responsabilizou o Papa pelas desordens e expulsou-o de Roma. Algum tempo depois, foi preso e levado ao Circo Máximo para sacrificar aos ídolos. Se não o fizesse, seria entregue às feras.

O Papa ficou com medo e jogou incenso, sinal de veneração, diante de um ídolo. Portanto, ele também se tornava um relapso, renunciava através do seu gesto a Nosso Senhor Jesus Cristo e pode recuperar imediatamente a sua liberdade.

Envergonhado, o Papa Marcelo fugiu para a região dos Balcãs e ficou alguns dias por lá. A Igreja estava acéfala – sem cabeça e perseguida – apenas aparentemente, pois ele continuava a ser Papa.

Imaginemos a noite escura pela qual passaram os católicos perseguidos, com lutas internas, com a apostasia do Papa, vivendo nas catacumbas... Parecia que a Igreja estava acabada.

Mas, a Igreja é imortal! Pouco tempo depois, o Papa Marcelo regressou, foi admitido no trono de São Pedro e foi novamente levado ao Circo Máximo. Quando chegou a sua vez, recusou-se veementemente a adorar os ídolos, e as feras o devoraram.

A Igreja venera-o com o título de São Marcelo.

São Marcelo, mártir, rogai por nós!

(Cfr. Plino Corrêa de Oliveira, 20 de outubro de 1988, reunião em Madrid)

 

Só é digno de vencer quem passa pelo improvável, impossível e imprevisível!



Todos nós temos de lutar contra os nossos defeitos e contra o mal. O demónio muitas vezes age em nós, e não o faz na hora dos bons resultados. Ele atua quando surge uma situação psicológica especial, que é a seguinte: Quando algo se repete muitas vezes, quando demora muito para realizarmos as nossas esperanças, quando algo parece não ter grandes resultados, então o demónio insinua-nos: “Isso já não terá resultado, pode ficar para outro dia, não vale um sacrifício tão grande! Porquê dar a vida por um ideal, por uma vocação?”

Estas tentações são um perigo real, porque na realidade as coisas de Deus — as verdadeiras coisas de Deus — passam pelo improvável, muitas vezes passam pelo impossível e pelo imprevisível. Só os homens que têm a coragem de enfrentar o improvável e o imprevisível são dignos de vencer.

Se queremos ser dignos da vitória, devemos preparar o nosso espírito para as aparências de fracasso, as aparências de um atraso muito grande, as aparências de algo que não está resolvido; porque, de um momento para o outro, a tentação e o mal que combatemos desaparecem, o passo na vida espiritual que esperávamos é alcançado e quando menos esperamos, a Providência Divina vem e resolve o caso!

(Cfr. Plino Corrêa de Oliveira, 20 de outubro de 1988, reunião em Madrid)

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Como tratar o próximo? Apontar os seus defeitos e os seus lados mais fracos?

 


Em todo homem há um lado bom e um lado ruim. Esses dois lados estão, continuamente, numa luta desigual, em que muitas vezes as condições da época, os defeitos, os pecados etc., levam a pessoa a ceder, a não ir para cima, mas para baixo, ou a estagnar.

Então, o que devemos fazer? Apontar os defeitos e tratar os outros pelo seu lado menos bom, quando foram mais fracos?

Não! Devemos socorrer, ajudar, estimular, prestigiar, incentivar o lado bom que há em cada pessoa e tratá-la com gentileza e com atenção, como se ela tivesse correspondido sempre a todas as graças que Deus lhe enviou, de maneira a estimulá-la e dar-lhe vontade de progredir na virtude.

(Cf. Plinio Correa de Oliveira, reunião, 28 de julho de 1988)

 

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Santo António Maria Zaccaria, a Eucaristia e a Contra Reforma Católica



No dia 5 de julho celebramos Santo António Maria Zaccaria que, numa época de grandes desafios para a Igreja Católica, com o aparecimento do protestantismo, fundou os padres Barnabitas e renovou o fervor cristão.

Mesmo antes do Concílio de Trento (1545-1563) ter empreendido a Contra Reforma Católica, um desejo difuso de renovação moral e material tinha surgido em muitos corações, face às novas doutrinas e teorias de Lutero. A decadência das antigas Ordens Religiosas, a indiferença ou hostilidade de numerosos bispos, a ignorância e a desordem que reinavam numa grande faixa do clero secular, dificultaram os esforços dos bons católicos, de personalidades isoladas, dos prelados e das irmandades em afirmarem piedosa, vigorosa e entusiasticamente a doutrina católica.

Coube às novas congregações, nascidas na Itália na primeira metade do século XVI, e especialmente aos Jesuítas, dar um contributo importante para a renovação da fé católica. Muitas vezes, pensamos que a Companhia de Jesus esteve na origem deste movimento e que as outras Ordens, também dedicadas ao ensino, à pregação e às missões, eram apenas imitações da Companhia de Jesus. Mas não foi bem assim.

A série de novas congregações começou em maio de 1524 com os Teatinos, criados em Roma por Gaetano di Thiene. Seguiram-se os Barnabitas, fundados em Milão em 1530 e aprovados pelo Papa Clemente VII em 1533, um ano antes dos jesuítas que nasceram em Paris, em agosto de 1534, e organizaram-se definitivamente em 1539. Os religiosos somascos, finalmente, surgiram por volta de 1528 em Somasco, perto de Bérgamo, por iniciativa de um veneziano Jerónimo Emiliani, tendo sido institucionalizados em 1540, sob o nome de Clérigos Regulares de Saint Maïeul.

Médico, aristocrata, rico e culto

Voltemos a Santo António Maria Zaccaria. Tal como acontece com os criadores de Ordens semelhantes do século XVI, o fundador dos Barnabitas, pertencia à aristocracia. Era um homem rico e culto. Nascido em Cremona em 1502, perdeu o pai quando ainda era bebé e foi criado por sua mãe, a nobre senhora Antonietta Piscarolo. Profundamente piedosa, educada e firme, trabalhou para aliviar a angústia que reinava em Milão devastada pela guerra entre os Sforza e os ocupantes franceses, aliados de Veneza. A criança recebeu uma sólida educação e, em 1518, ingressou na Universidade de Pavia. Mas, a partir de 1520, desistiu de fazer carreira no mundo e doou todos os seus bens à mãe. A pedido dos seus parentes, porém, concordou em estudar medicina na famosa Universidade de Pádua, entre 1520 e 1524, onde obteve a licenciatura.

O jovem manteve-se afastado do ambiente mundano dos estudantes, num momento em que a revolta de Lutero contra a Igreja perturbava a mente das pessoas. Embora inscrito na lista de serviço dos nobres que gozavam de certos privilégios e precedências, Zaccaria levava uma vida simples e retirada. Aproximava-se frequentemente dos sacramentos e, respondendo ao apelo da sua vocação, decidiu dedicar-se ao apostolado.

Sinal divino no dia da sua ordenação

Para grande espanto dos seus compatriotas, após o seu regresso a Cremona, abandonou a prática da medicina, arte na qual, no entanto, tinha começado de forma brilhante, e mergulhou no estudo da teologia.

Zaccaria explicava os fundamentos da religião às pessoas do povo e especialmente às crianças que iam à igreja de San Vitale todas as noites para conversar com ele.

Em 1528, sob a influência do dominicano Battista di Crema, famoso teólogo, foi ordenado sacerdote. Este religioso foi, ao mesmo tempo, diretor espiritual de Santo Antonio Maria Zaccaria e São Gaetano di Thiene, futuro fundador dos Teatinos e capelão da Condessa de Guastalla, Luisa Torelli.

Como na vida de muitos outros santos, a ordenação do médico-catequista de 26 anos foi marcada por um sinal divino. Durante a cerimónia extremamente simples, contrariamente aos costumes vigentes, “no momento em que as suas mãos trémulas apresentaram a Santa Hóstia à adoração dos fiéis - escreve o Padre Dubois, seu biógrafo - vimos o altar ficar envolto numa luz ofuscante e Anjos, respeitosamente prostrados em torno do celebrante, unindo-se à adoração dele”. A notícia desta maravilha, atestada por muitos dos seus amigos, espalhou-se por toda a parte e a partir de então, o jovem sacerdote passou a ser conhecido como “homem angélico”, ou “anjo de Deus”. O relato deste prodígio, manteve-se na tradição barnabita, onde a Eucaristia e os anjos têm um grande papel.

Em meados de 1530, Zaccaria seguiu o Padre di Crema até Milão, estabelecendo-se na capital lombarda, no convento de Nossa Senhora das Graças. Sob a influência do dominicano, a condessa Torelli, viúva pela segunda vez depois de casamentos que terminaram tragicamente, converteu-se e dedicou a sua pessoa e os seus bens ao serviço de Deus. Também ela se instalou em Milão para criar um círculo de pessoas que desejavam levar, como ela, uma “vida perfeita” na fé, nascendo assim o primeiro grupo de mulheres que posteriormente daria origem às Irmãs Angélicas de São Paulo.

O primeiro campo de atuação de Zaccaria foi a Irmandade da Sabedoria Eterna, liderada pelo Bispo Landini, uma das numerosas associações piedosas que se formaram, no final do século XV e início do século XVI, em Roma, Génova, Cremona, Vicenza, Verona e Milão, para reavivar a piedade popular e aliviar os doentes e os pobres. Zaccaria foi ali recebido e rapidamente exerceu grande influência sobre a instituição, cujo quadro de colaboradores, inicialmente muito reduzido, aumentou consideravelmente. “O Anjo de Deus” formou uma amizade espiritual com dois colegas: Bartolomeo Ferrari, milanês, por uma semelhança quase total com o destino de Zaccaria, era um órfão, patrício, ex-estudante de direito em Pavia, que tinha deixado o mundo para receber as primeiras ordens menores e ensinar catecismo às crianças, no oratório do Sabedoria Eterna e Giacomo Antonio Morigia também de uma ilustre linhagem milanesa, mas o seu itinerário foi completamente diferente do dos seus dois companheiros. A sua mãe, uma mulher mundana, sonhava fazer dele um cavaleiro brilhante, mas, depois de uma juventude tempestuosa, tocado pela fé, dedicou-se a cuidar dos doentes. A sua dedicação, durante uma epidemia de peste, rendeu-lhe grande popularidade entre os desfavorecidos.

Fundação dos Clérigos Regulares de São Paulo

Em 1530, Ferrari, aspirante ao sacerdócio, e Morigia, um simples leigo, decidiram colocar-se sob a autoridade do padre Zaccaria para formar uma sociedade clerical cujos membros acederiam ao sacerdócio e exerceriam o seu apostolado através da pregação e da catequese.

A instituição tomaria o nome de Clérigos Regulares de São Paulo, em homenagem ao apóstolo querido do seu superior. Com dois padres milaneses que solicitaram a sua admissão, os primeiros membros da comunidade, instalados numa pequena casa que lhes foi posta à disposição pela Condessa Torelli, praticaram durante um ano a prática da piedade e da caridade. Em 18 de fevereiro de 1533, o Papa Clemente VII autorizou-os a viver em comunidade, a fazer votos religiosos e a redigir regras adaptadas à sua vocação específica.

A intenção principal de Zaccaria não era a de criar uma ordem destinada a espalhar-se pelo mundo inteiro, mas ter um grupo de seguidores operando em Milão e na Lombardia.

Embora o grupo inicial de clérigos fosse pequeno, os fundadores, confrontados com a expansão dos seus seguidores, tiveram de abandonar a casa da Irmandade e mudar-se para uma residência mais espaçosa, perto da Ponte Fabbri (ferreiros) e da pequena igreja de Santa Catarina, que rapidamente encheu-se de fiéis. Os clérigos de São Paulo percorriam as ruas, de crucifixo na mão, discursando aos transeuntes nas praças e cruzamentos mais movimentados, reunindo muitas pessoas que paravam para ouvir as “conferências espirituais” diárias. Eles se tinham tornado num meio de santificação para as famílias. Em pouco tempo, foi constituída uma Congregação de casados que se reunia aos domingos e feriados.

Como em todas as épocas, não faltaram prelados que, tomados pelo espírito do mundo, se levantaram em nome de uma linguagem muito violenta, "estilo bárbaro", das Epístolas de São Paulo e dos seus comentadores, como Zaccaria, que faziam delas a matéria preferida para os seus sermões, cheios de simplicidade, com força persuasiva e imagens marcantes que estavam ao alcance das pessoas comuns.

Grande devoto e promotor da devoção eucarística

Antonio Maria Zaccaria popularizou novas formas de piedade para com o Santíssimo Sacramento, como a Comunhão frequente, em memória do “prodígio” da sua ordenação, ou a Exposição Eucarística. Até então Jesus Sacramentado estava sempre coberto por um véu e só era mostrado em raras circunstâncias.

Em 1534, durante o casamento de Francesco Maria Sforza, Duque de Milão, o Padre Zaccaria organizou uma procissão na qual um ostensório foi levado solenemente pelas ruas e os Clérigos de São Paulo difundiram a devoção da Adoração das Quarenta Horas - que desempenharia um papel tão importante na Contra Reforma na Saboia.

Uma outra inovação do Padre Zaccaria foi a de mandar tocar os sinos em todas as sextas-feiras, às três horas da tarde, em memória da morte de Cristo, costume aprovado pelo Papa Bento XIV (1740-1758).

Em 1535, Antonio Maria Zaccaria conseguiu a aprovação do Papa Paulo III e fundou a congregação das Irmãs Angélicas de São Paulo, destinada a auxiliar os sacerdotes no seu ministério e a renovar o fervor cristão numa sociedade cada vez mais protestantizada.

O primeiro grande grupo de Clérigos e Angélicas fora de Milão ocorreu em Vicenza, a pedido do Cardeal Ridolfi, bispo do lugar onde, graças ao zelo dos recém-chegados, a piedade foi reavivada e dois mosteiros voltaram à observância das suas regras. Outras instalações seguiram-se em Verona e outras cidades do norte da Itália.

O zelo reformador da jovem congregação perturbou muitos eclesiásticos. Suscitou críticas, calúnias e inúmeras dificuldades, nomeadamente um julgamento em Milão, em 1534, e outro em Roma, em 1551, que levou Zaccaria a colocar a sua obra sob a obediência direta da Santa Sé. Por bula de 24 de julho de 1535, Paulo III renovou a aprovação do seu antecessor e declarou que os Clérigos de São Paulo se reportariam “imediatamente”, sem intermediários, ao Papado. O fundador recusou para si o cargo de primeiro Superior, para o qual foi eleito Padre Morigia, em abril de 1536.

Em 1539, Zaccaria foi para Guastalla, convidado pela Condessa Torelli para pregar uma missão. Entregou-se com tanto dedicação que caiu de cansaço e, sentindo aproximar-se o fim, pediu para ser transportado para Cremona, para a casa de sua mãe, onde faleceu, aos 37 anos, a 5 de julho de 1539.

O seu corpo foi sepultado em Milão, na cripta da Igreja das Angélicas, porque os Clérigos ainda não possuam um templo. A fama do fundador deu origem imediatamente a um culto popular que o Beato Pio IX sancionou, em 1848, com o reconhecimento das virtudes heroicas de Zaccaria.

Leão XIII colocou-o, em 1890, entre os beatos e depois entre os santos, em 27 de maio de 1897. Em 1891, os seus restos mortais foram encontrados durante as escavações na igreja das Angélicas e transferido para a igreja da Ordem dos Barnabitas. No dia 7 de agosto de 1909, a sua colossal imagem apareceu na Basílica de São Pedro, em Roma, ao lado da dos grandes fundadores de Ordens Religiosas.

A morte prematura de Zaccaria desorganizou a instituição, pois faltavam constituições aprovadas, uma residência para a sua sede e uma igreja. O Padre Morigia governou habilmente a comunidade durante este delicado período de transição. Em 1545, conseguiu adquirir a igreja de São Barnabé e os terrenos que dela dependiam, para construir uma residência onde os religiosos se instalaram em Junho de 1547. Foi a partir desta altura, treze anos após a sua fundação, que o povo passou a chamar os religiosos Padres de São Barnabé de Barnabitas.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Porto e refúgio seguro dos pecadores



Maria Santíssima é o refúgio perene, contínuo, que jamais se fecha a qualquer espécie de pecadores. Está na grandeza de Nossa Senhora ser um imenso e perfeito refúgio, porque tudo n’Ela excede a nossa capacidade de cogitação.

Um porto é um abrigo contra o mar revolto, e um navio encontra ali um refúgio. Dizemos que esse refúgio é tanto maior e mais esplêndido quanto mais navios couberem nele. Numa enseada, por exemplo, onde não sei quantas esquadras poderiam entrar e sentirem-se completamente protegidas contra o mar bravio, vemos uma grandeza, uma magnificência e um esplendor incomensuráveis.

A Santíssima Virgem pode dar refúgio a pecadores cujos pecados atingem um tamanho inimaginável, ingratidões inconcebíveis, insondáveis. Desde que a alma se volte para esta boa Mãe, Ela cobre tudo e aceita dar toda a espécie de perdão para toda a espécie de pecados. Maria é, portanto, o refúgio por excelência.

Se sentirmos tristeza por notarmos que temos alguma culpa, devemos pedir-Lhe:

“Temos culpa, é verdade. Mas Vós sois o Refúgio dos Pecadores, e está na vossa grandeza, ó minha Mãe, tomar os meus pecados e defeitos, e abrir para eles como que um porto para me defender do alto-mar das consequências interiores e exteriores das minhas desordens. À vossa grandeza corresponde também a grandeza da vossa misericórdia. Vós tereis pena de mim e acolher-me-eis.”

Plinio Corrêa de Oliveira

A Eucaristia: força, paz e vida eterna



Pier Giorgio Frassati, um jovem estudante italiano, terciário dominicano, que morreu com apenas 24 anos e foi beatificado por São João Paulo II, possuía uma profunda veneração pela Eucaristia, a ponto de, aos dezassete anos, adquirir o excelente hábito de receber a comunhão diariamente.

No dia 29 de junho de 1923, num discurso aos jovens de Pollone, no Piemonte, em que comentava o lema da Ação Católica: “Oração, ação e sacrifício”, exortou os mais novos a fazer da Eucaristia a principal prática de piedade:

“Alimentai-vos da Eucaristia, este Pão dos Anjos e tirai d’Ela as forças para o combate interno, aquelas batalhas contra as paixões e contra todas as adversidades, porque Jesus Cristo prometeu aos que se alimentam da Eucaristia a vida eterna e as graças necessárias para a obter.

E quando estiverdes totalmente consumidos pelo Fogo Eucarístico, então podereis agradecer mais conscientemente ao Senhor Deus, que vos chama para fazer parte das suas fileiras, e desfrutareis daquela paz que os felizes, segundo o mundo, nunca experimentaram”.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

A paz que nasce da luta por um ideal


Santo Agostinho no seu livro “A Cidade de Deus” tem uma formulação famosa: “o amor de si levado até ao desprezo de Deus gera a cidade terrena; o amor de Deus levado até ao desprezo de si gera a Cidade Celeste”.

Hoje, vivemos numa sociedade cada vez mais egocentrista, onde cada um tende a ter a obsessão de se colocar no centro de todas as coisas e esquecer-se do próximo, de qualquer ideal ou de um bem superior, e até de Deus.

Há milhões e milhões de pessoas que, indiferentes, só pensam na comida e nos prazeres que o corpo lhe possa proporcionar.

Contudo, na situação em que vivemos, mais do que em qualquer outra, quem ama a Deus deve compreender que não nasceu para si mesmo e, portanto, não tem o direito de viver com a preocupação de fazer apenas a sua vontade e de levar a vida que acha agradável. A vida de um homem que não luta para obter o que deseja, que não se esforça para concretizar aquilo que acredita ser o melhor para ele, para a sua família e para o mundo, é a de um frustrado, e não é o prazer nem o descanso que evitam a frustração.

Acrescento ainda mais: uma oração sem espírito de luta também não evita a frustração, pois não toma em consideração a infinita misericórdia de Deus que quer que sejamos melhores dia após dia, e o combate que o bom cristão deve travar para manter-se na amizade com o Senhor.

Pouco se comenta hoje, mas, na realidade, a coragem é pacífica. O homem corajoso, espiritualmente falando, tem paz, porque resolveu correr o risco de mudar de vida, opor-se aos seus defeitos e os do mundo e, portanto, enfrenta o risco pela determinação que tomou.

É claro que isso supõe que ele esteja numa luta contínua contra o medo. Porque o corajoso não é o que não tem medo; só o estourado não tem medo. O corajoso tem medo, mas vence-o!

Agora o mais perigoso dos sentimentos vem no risco de, iniciada a luta, cair no desânimo e na pena de si próprio, que minam mais profundamente o homem. É como um verme roedor interno que liquida. Quando alguém começa a ter pena de si mesmo, deve desconfiar de tudo, porque não há onde ele não possa ser levado pelo demónio, pelo mundo e pela carne.

Um aspeto importante: Não se incomode com os inimigos que poderão aparecer, tenha coragem e vá em frente, pois eles gritam alto porque falamos sem convicção ou baixo; se falarmos alto, eles se calam.

Lembre-se: O riso da coruja não consegue retardar a aurora que se levanta. O remédio não é matar coruja por coruja; o remédio é não criar obstáculos para o brilhar do sol e apressar a alvorada.

Portanto, não tema a luta, nem o sofrimento que dela advém, porque quando as forças parecerem faltar-lhe, recolha-se junto de Nosso Senhor Jesus Cristo Crucificado, do Verbo de Deus que morreu por nós e nos resgatou. N’Ele adore a luta das lutas, a tragédia das tragédias, o sublime do sublime: a Redenção do género humano.

Como fizeram os outros católicos que viveram antes de mim?

Eles não recearam entrar na luta, proclamaram publicamente as suas convicções e foram muito admirados, embora poucos tivessem tido a coragem de se juntar a eles; muitos silenciaram quando eles foram perseguidos; outros os acompanharam de longe, com olhares de simpatia; poucos os ajudaram a carregar a cruz.

Eles certamente pensaram que estavam isolados, mas — ó engano! — até entre os que o apupavam havia aqueles que os admiravam.

Agora alguém poderia objetar: mas não é lícito viver tranquilamente e ter paz na vida?

Santo Agostinho definiu a paz como a tranquilidade da ordem e todos devemos tê-la como um bem inapreciável. Agora, viver uma pseudo tranquilidade da vergonha, sob a vara de ferro da impiedade, como acontece hoje, pode trazer paz para alguém? Para mim, não!

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Porquê devemos assistir à Missa, pelo menos nos domingos?


Para além de ser um mandamento da Igreja, São Leonardo de Porto Maurício dizia que a “Missa é a chave de ouro do Paraíso”! E no seu livro “As Excelências da Santa Missa”, indicava as grandes vantagens de participarmos na Celebração Eucarística:
-- Adoramos dignamente a Deus;
-- Favorece o arrependimento das nossas faltas, preparando-nos para a confissão;

-- Agradecemos dignamente todos os benefícios recebidos;
-- Obtemos todas as graças de que necessitamos;
-- Livra-nos dos males e do poder do maligno;
-- É a nossa consolação na hora da morte;
-- É de grande auxílio para as almas do Purgatório.

domingo, 23 de junho de 2024

Ainda existem pessoas que acreditam na lenda da Papisa Joana

Uma lenda, cara aos protestantes, foi espalhada sobre a existência, no século IX, de um chefe da Igreja Católica pertencente ao sexo feminino, e que se alçara a esta posição iludindo os cardeais que formavam o Conclave.

“Em 1559, João Herold, editor protestante da Basileia, publicou duas crónicas, uma de autoria de Mariano Scoto, falecido em 1085, e outra de autoria de Martinho da Polônia, falecido em 1278. Nestas crónicas, afirmava-se pela primeira vez que, no ano de 857, sucedera ao Papa Leão IV a Papisa Joana que, tendo falecido [nesse mesmo ano], tivera por sucessor Bento III.

“Contam, além disso, as referidas crônicas que, tendo saído à rua processionalmente, o suposto Papa João sentiu-se subitamente incomodado, tendo tido uma criança em plena rua. Verificou-se, então, que fora burlado o Conclave que elegera o Papa, e que, na realidade, este era uma mulher. Pouco depois, Joana falecia em Roma.

“Existem, nas bibliotecas de diversas cidades europeias, cópias do tratado de Mariano Scoto. No entanto, em nenhuma delas se lê o trecho que apareceu na edição protestante.

“Além disso, Wlaltz encontrou, no n.º 380 do Codex Palatinus Vaticanus, o autógrafo original do próprio Scoto, no qual não se vê a menor referência à Papisa. No entanto, a autenticidade do autógrafo encontrado é incontestável.

“Quanto ao trabalho de Martinho da Polónia, muito posterior ao de Scoto, e oferecendo, portanto, um interesse muito menor, limitar-nos-emos a afirmar que até mesmo os protestantes do valor de Leibniz, Blondel, Casaubon e Bayle afirmam que se trata de um documento falsificado e indigno de crédito.

“Aliás, seria realmente extraordinário que o primeiro documento referente à Papisa aparecesse mais de dois séculos depois de sua existência, e tivesse sido reproduzido tão-somente por outro documento aparecido 193 anos depois do primeiro.

“Ora, se a Papisa existiu, porquê não se encontram, além dos dois documentos falsos, outros quaisquer que lhe façam a menor referência e que só dois séculos depois, a lenda tenha sido difundida como verdadeira?

“E quando dizemos que não se encontram documentos, não nos referimos exclusivamente aos anais da Santa Sé, nos quais se poderiam ter feito ainda algumas alterações. Muito pelo contrário, recorramos às afirmações dos maiores inimigos da Igreja.

“Assim, por exemplo, Fócio, o Patriarca de Constantinopla, que fundou em 860, isto é, dois anos depois de ter falecido Joana, o cisma grego. Fócio escreveu o seguinte: ‘A nossa geração conheceu o nobre pontífice Leão IV, cujos milagres, operados em vida, atestam sua santidade. Ele teve por sucessor esse anjo de mansidão e caridade, que se chamava Bento. A este sucedeu, infelizmente, o arrogante e faustoso Nicolau’ . Ora, Fócio, como Patriarca de Constantinopla, não poderia ter ignorado o escândalo da Papisa, ou ao menos a sua existência. Por que não faz a menor referência a Joana? Porquê, muito pelo contrário, afirma que ela não existiu, quando a exclui da lista dos Papas?

“Mas haverá, ao menos, indícios que nos permitam suspeitar da sua existência?

“Bastará, para elucidar a questão, lembrar que não se sabe qual teria sido o nome certo da Papisa, pois que as versões lhe atribuem os mais diferentes, entre eles: Inês, Isabel, Joana ou Margarida.

“Por outro lado, afirmam alguns historiadores que ela estudou na Universidade de Paris. Ora, Joana existiu no século IX, e a Universidade, que surgiu no século XII, distribuiu seus primeiros diplomas somente no século XIII.

“Dizem outros que ela estudara em Atenas. No entanto, naquela época, Atenas estava em poder dos búlgaros, e não tinha escolas, segundo no-lo narra a História.

“Quanto à própria cena da procissão, apresenta uma série grande de detalhes absurdos. Em primeiro lugar, a festa do Santíssimo Sacramento foi instituída somente 600 anos depois, por Urbano IV. No entanto, teria, segundo algumas versões, sido comemorada a festa em questão, em Roma, justamente no dia em que Joana tivera o seu filho.

“Vemos, portanto, que não há nem mesmo indícios da existência da papisa Joana, personagem que a história não conseguiu, de modo algum, identificar e que é impossível, para uma pessoa de boa-fé, afirmar que a papisa Joana existiu.

“E, para finalizar, cumpre-nos declarar, em abono de nossa tese, que é ela sustentada por muitos e muitos historiadores, e que as provas aqui indicadas são extraídas de Justino Mendes (A Igreja e a História). Poderão, pois, ser facilmente estudadas mais a fundo, e mais perfeitamente controladas”.

Plinio Corrêa de Oliveira, O "Legionário" n.º 57, 11 de maio de 1930