Na “Salve Rainha” encontramos as três fases da vida dos homens: a juventude, a maturidade e o declínio.
Juventude: A oração começa com “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa”, a saudação alegre do ser ainda pequeno, balbuciando carícias respeitosas, mimando com palavras de doçura, com as lisonjas de uma criança que tenta persuadir a Mãe.
Maturidade: “A Vós bradamos, os degradados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Esta criança, tão sincera, tão simplesmente feliz, cresceu e conhecendo já as derrotas voluntárias do pensamento e da vontade, as suas repetidas caídas e faltas, junta as mãos e, soluçando, pede ajuda. Já não louva Nossa Senhora a sorrir, mas a chorar.
Declínio: “Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre”. Finalmente a velhice chegou. A pessoa atormentada pela recordação dos conselhos negligenciados, arrependida por ter fechado o coração a tantas graças, torna-se mais temerosa, mais fraca. Com medo da sua salvação, aterrorizada com a sua libertação, com a destruição da sua prisão carnal que sente estar próxima, a alma pensa na eterna inanição daqueles a quem o Juiz condena e, de joelhos, implora à Advogada da terra, a Consulesa do Céu.
“Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”. E, a este cerne da oração que Pedro de Compostela ou Hermano de Reichenau, O.S.B. preparou, São Bernardo, num acesso de hiperdulia, acrescentou as três invocações finais, selando com três brados de amor, que reconduzem a oração à doce adoração do seu início.
Cf. Joris-Karl
Huysmans, A caminho, 1897, Paris, P.-V. Stock, Éditeur, p. 248