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domingo, 19 de abril de 2020

Idade Média: A procura de Deus, invisível, através das coisas visíveis


Na Idade Média, como viam os homens a natureza e o mundo?

Para os medievais, o universo, composto por uma infinidade de seres, cada um com vários significados, podia ser comparado a um livro imenso, escrito e ilustrado pelo próprio Deus.

O ignorante fita-o e é instruído pelas suas imagens e figuras.

O sábio, contudo, consegue perceber nas coisas visíveis o invisível, lendo assim o pensamento de Deus.

A ciência, por sua vez, não consiste em estudar as coisas em si mesmas, mas em penetrar os ensinamentos que Deus pôs em cada uma delas para instruir os homens.

A rosa

Encontramos um exemplo desta ligação entre o natural e o sobrenatural em Pedro de Mora, Bispo de Cápua. Ao contemplar as rosas do seu jardim, o prelado enterneceu-se, não com a beleza simples e pagã, mas com o seguinte pensamento: “ A rosa representa a legião dos mártires, ou ainda, o coro das virgens. Quando são vermelhas, assumem a cor do sangue daqueles que morreram pela Fé e quando são brancas, reproduzem a pureza virginal. A rosa nasce no meio dos espinhos, como os mártires se elevam no meio dos hereges e perseguidores, ou como uma virgem pura resplandece no meio da iniquidade”.

A pomba

Passando do reino vegetal ao animal, vejamos o que diz Hugo de Saint-Victor, que compara a pomba à Santa Igreja. “A pomba, afirmava, tem duas asas. Também os homens têm dois estilos de vida: ativo e a contemplativo. As suas penas brancas e azuis indicam o pensamento do Céu. As diferentes variações de cores do resto do corpo fazem pensar num mar agitado, simbolizando o oceano de paixões humanas em que navega a Igreja”.

Continuando ainda com a metáfora da pomba, o filósofo medieval perguntava-se: “Porquê os olhos da pomba são de um belo amarelo-dourado? Porque o amarelo é a cor dos frutos maduros, a cor da experiência e da maturidade. Os olhos da pomba significam o olhar cheio de sabedoria que a Igreja lança sobre o futuro.  Finalmente, a pomba tem patas avermelhadas, porque a Igreja caminha no mundo com os pés embebidos no sangue dos seus mártires”.

As pedras preciosas

No campo do reino mineral, Dom Marbode, bispo de Rennes, considerava a existência de misteriosas consonâncias entre as cores das pedras preciosas com a alma humana. “O berilo, por exemplo, brilha como a água que reflete o sol e aquece a mão que o segura. Ora, não é esta a imagem exata do cristão iluminado e aquecido até às suas profundezas pelo Sol, que é Jesus Cristo?" 

"O vermelho do rubi, afirma o prelado, parece refletir chispas de fogo. Ele não é a imagem dos mártires, que derramam o seu sangue e rezam pelos seus algozes?”

As estações do ano

Para os medievais, o sol, a lua, as constelações, a luz, as estações do ano, enfim, tudo no mundo tinha um símbolo, como já afirmamos.

Como interpretavam, por exemplo, o inverno, quando os dias diminuem tristemente e  quando luz parece ter sido vencida e a noite resolvida a triunfar para sempre?

Para eles, o inverno simbolizava os longos séculos de trevas que precederam a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo nascimento deu-se exatamente no solstício de inverno, no momento em que a Luz reapareceu no mundo.

Como a vida natural está ligada à vida espiritual, o ano é todo ele feito à imagem do homem.

Assim, a primavera, que renova o mundo, é a imagem do Batismo que renova o homem no alvorecer da vida. O verão, com o calor e a luz resplandecente, leva-nos a imaginar a luz do Céu, o brilho do amor de Deus na vida eterna. O outono, estação das colheitas e das vindimas, simboliza o temível Juízo final, o grande dia em que colheremos o que tivermos semeado durante a nossa vida. Por fim, o inverno que é a figura da morte, o futuro do homem e do mundo visível.

Apenas pelos pequeníssimos exemplos acima descritos, podemos ter uma noção de como era diferente, por exemplo, um momento de lazer ou o passeio de um medieval, com o pensamento em Deus e no Céu, e as nossas caminhadas, durante as quais sonhamos com prazeres terrenos que não nos satisfazem inteiramente e que não nos ajudam a progredir no amor de Deus e do próximo …

Cfr. Emile Mâle, L’art religieux du XIII siècle en France, pp. 78-81