O amor de Deus é o primeiro mandamento na hierarquia da obrigação, mas o amor do próximo é o primeiro na ordem da acção. Aquele que te deu o mandamento do amor nestes dois preceitos, não podia preceituar o amor do próximo de preferência ao amor de Deus; mas primeiramente preceituou o amor de Deus e depois o do próximo.
Entretanto, tu que ainda não vês a Deus, merecerás contemplá-l’O, se amas o próximo; com o amor do próximo purificas o teu olhar, para que os teus olhos possam contemplar a Deus, como afirma claramente São João: “Se não amas o teu irmão que vês, como poderás amar a Deus que não vês?” (…)
Começa, portanto, a amar o próximo. Reparte o teu pão com o faminto e dá pousada ao pobre sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante.
Que conseguirás, praticando tudo isto? Então a tua luz brilhará como a aurora. A tua luz é o teu Deus: Ele é a aurora que despontará sobre ti depois da noite deste mundo. Esta luz não nasce nem tem ocaso, porque permanece para sempre.
Amando o próximo e cuidando dele, vais percorrendo o teu caminho. E para onde caminhas senão para o Senhor Deus, para Aquele que devemos amar com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com toda a nossa mente? É certo que ainda não chegámos até junto do Senhor; mas já temos connosco o próximo. Ajuda, portanto, aquele que tens ao lado, enquanto caminhas neste mundo, e chegarás até junto d’Aquele com quem desejas permanecer eternamente.
Dos tratados de Santo Agostinho, bispo, sobre o Evangelho de São João (Tract. 17, 7-9; CCL 36, 174-175)
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