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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Como deve ser uma verdadeira comunidade religiosa?


O Papa Alexandre III, numa carta, confirmando os privilégios da Abadia de Citeaux, descreve aqueles que procuram seguir o Altíssimo em espírito de humildade, sob o jugo suave de uma regra.

Os religiosos devem ter como ideal de vida, serem homens celestes, anjos da terra, imitadores de Jesus Cristo e gladiadores sagrados.

Estes homens devem viver em comunidade, ou seja, numa Casa de Deus, família de Nosso Senhor Jesus Cristo e porta do Céu.

A comunidade deve representar o Céu na terra, com uma vida angélica e onde se procure imitar os espíritos celestes, sem deixar de ser também uma verdadeira casa de estudo, milícia espiritual, arena de virtudes, escola de humildade, torre evangélica, cidadela armada contra todos os inimigos da salvação.

Ali encontramos a muralha da pobreza, a guarda dos superiores, as torres da doutrina, a trombeta da pregação, o escudo da oração, o vinho da compunção, a água das lágrimas, o alimento dos fortes.

Podemos compará-la à escada de Jacó, por onde se sobe mais facilmente para o Céu.  Os degraus desta escada são as santas leituras, as meditações piedosas, a mortificação da carne, o exercício da humildade, da obediência, da caridade e das demais virtudes. Por estes mesmos degraus, os Anjos levam as obras realizadas por aqueles que habitam na Comunidade para as oferecer a Deus e por eles descem, trazendo-lhes os dons divinos. No alto desta escada, apoia-Se o Senhor. Ele governa e fortalece estes seus filhos com uma proteção muito especial, sustentando quem sobe e recompensando os que chegam.

Desta Comunidade, pode-se dizer: Aqui é a verdadeira casa de Deus e Porta do Céu. O Monte Tabor, onde se contempla, o quanto seja possível nesta vida, a glória divina. Ela é uma montanha fértil onde o Senhor gosta de permanecer. 

LESSIUS, Disput. de stat. Vit. elig., quaest. XII , n. 100


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

2021: Non si turbi il tuo cuore

Consiglio di Padre Pio a Antonietta Vona e famiglia, per l'anno nuovo:

«Il celeste Bambino sia sempre in mezzo ai vostri cuori, li regga. l'illumini, li vivifichi, li trasformi nella eterna carità.

Vi raccomando vivamente cotesti vostri poveri cuori: abbiate cura di renderli di giorno in giorno sempre più grati al nostro Maestro, e fare in modo che il presente anno sia più fertile di quello già scorso in buone opere, giacché a misura che gli anni scorrono, e che l’eternità ci si appressa bisogna raddoppiare il coraggio ed innalzare il nostro spirito a Dio, servendolo con maggior diligenza in tutto ciò che la  nostra vocazione e professione cristiana ci obbliga. Questo soltanto può renderci grati a Dio: può farci uscire liberi dal grande mondo che non è di Dio, e da tutti gli altri nostri nemici: questo soltanto dunque può farci pervenire al porto dell’eterna salvezza.

Affrontiamo pure le prove della presente, a cui la divina provvidenza ci andrà sottoponendo, ma non ci perdiamo d’animo, non ci scoraggiamo: combattiamo da forti e ne riporteremo il premio che Dio ha  serbato alle anime forti. Rammentatevi, o figliuole, delle parole che il divin Maestro rivolse un giorno ai suoi apostoli, e che oggi le rivolge anche a voi: «Non turbetur cor vestrum »: «Non si turbi il vostro cuore». 

Sì, o figliuole, non si turbino i vostri cuori nell’ora della prova, perché Gesù ha promesso a chi lo segue la sua reale assistenza. 

Nelle ore di combattimento ricordiamoci di Gesù, che è con noi e per noi; ricorriamo a lui e saremo sempre sollevati; così operando riporteremo e canteremo sempre vittoria innanzi a Dio.» 

Lettera di Padre Pio alla Sig.ra Antonietta Vona, 2 gennaio 1918

Delle cadute non ti perdere il coraggio

All'inizio di un nuovo anno, vale la pena ricordare questo consiglio che San Pio da Pietrelcina ha lasciato in una delle sue lettere:

«Per vivere costantemente in una vita devota, non vi è bisogno di altro che di prefiggerti nel tuo spirito alcune massime eccellenti e generose.

La prima che io desidero in te è questa di san Paolo: «Tutto ritorna in bene a quelli che amano Dio». E per verità, giacché Iddio può e sa cavare il bene anche dal male, per chi farà questo, se non per coloro che senza alcuna riserva si sono donati a lui? Perfino gli stessi peccati, da cui Iddio per sua bontà ci tiene lontani, dalla sua divina provvidenza sono ordinati al bene di quelli che a lui servono. Se il santo re Davide mai non avesse peccato, mai non avrebbe acquistato un’umiltà così profonda; né la Maddalena avrebbe tanto ardentemente amato Gesù, se egli non l’avesse perdonati tanti peccati, e non avrebbe Gesù potuto a lei perdonarli, se ella non li avesse commessi.

Considera, mia carissima figliuola, questo grande artificio di misericordia: converte le nostre miserie in favori, e con la vipera delle nostre iniquità fa la triaca salutifera per le anime nostre. Dimmi dunque, di grazia, che non farà egli delle nostre afflizioni, dei nostri travagli e delle persecuzioni, che ci molestano? E perciò se mai ti occorrerà di patire delle afflizioni, di qualunque specie esse siano, assicurati pure che, se ami Dio di cuore, tutto si convertirà in bene; ed ancorché tu non possa intendere da dove procede questo bene, allora più che mai sii certa che verrà senz’altro. Se Dio ti pone sopra gli occhi del fango dell’ignominia, ciò non è che per restituirti la vista più chiara e renderti agli angioli suoi ammirabile come uno spettacolo onorevole ed amabile; e se Dio ti fa cadere, come praticò con san Paolo col farlo cadere da cavallo.

Per questo, dunque, delle cadute non ti perdere di coraggio, ma rianimati a nuova confidenza ed a più profonda umiltà. Scoraggiarsi ed impazientirsi dopo la caduta nel fallo è artificio del nemico, è un cedergli le armi, è un darsi per vinti. Questo dunque non farai, poiché la grazia del Signore è sempre vigile a soccorrerti.»

sábado, 26 de dezembro de 2020

As relíquias dos três Reis Magos

O Evangelho narra a história dos Reis Magos, que “vieram do Oriente”, guiados pela Estrela e foram conduzidos à gruta de Belém, onde adoraram o Messias.

Estes ilustres personagens foram escolhidas por Deus entre os Gentis para serem os primeiros adoradores do Salvador.

Eles não eram magos ou adivinhos, como alguns autores afirmaram no passado, mas foram escolhidos por serem homens distinguidos pela sua dignidade, talentos, conhecimentos das coisas divinas e humanas e, especialmente, a astronomia. No Oriente, dava-se o título de Magos aos sábios e doutores.

A realeza dos três magos foi proclamada desde o século IV pelos padres da Igreja e vários escritores e é admitida pela maioria dos fiéis, que desde tempos imemoráveis, festejam a Adoração dos Reis Magos na festa da Epifania, conforme as palavras de Isaías, “A multidão de camelos te cobrirá, os dromedários de Madiã e Efá; todos virão de Sabá; ouro e incenso trarão, e publicarão os louvores do Senhor” (Is 60, 6).

Os Magos, iniciaram a sua viagem de forma separada e reuniram-se em Jerusalém. Depois continuaram juntos até Belém. Segundo antiga tradição, confirmada por autores eclesiásticos como São Leão e por pinturas conservadas nas Catacumbas de Roma, desde os primeiros séculos da Igreja, eles eram, sem contar com os seus séquitos, verdadeiramente três.

O nome dos Reis Magos, reconduzidos pela Providência às suas terras para não se encontrarem com Herodes que queria mandar matar o Menino Jesus, não aparece nos escritos grecos ou latinos antes do século XII, como afirma o historiador jesuíta belga Padre Jean Bolland do século XVII.  Contudo, posteriormente, foram-lhes dados muitos nomes, sendo os mais conhecidos os de Gaspar, Baltazar e Melchior, respetivamente da Caldeia, Pérsia e Índia, atualmente Irão e Iraque.

Ao chegarem às suas terras, os Magos contaram para os seus povos o que tinham visto e ouvido sobre o Verbo de Deus, encarnado para a salvação dos homens e muitos se converteram à Fé Cristã, antes mesmo da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Segundo uma tradição, quando São Tomé passou por aquelas terras, muitos deles juntaram-se a ele, receberam o batismo das suas mãos e ajudaram-no na predicação do Evangelho.

Segundo uma outra tradição muito mais recente, os restos sagrados dos três Reis Magos foram, primeiro, levados para Constantinopla, onde foram colocados com pompa na Basílica de Santa Sofia, durante o reino de Constantino. Seis séculos mais tarde, o Imperador Maurício, transportou as relíquias para a Igreja que o Santo Bispo Eustórgio tinha mandado construir em honra deles na cidade italiana de Milão.

No ano de 1163, o Imperador Frederico Barba-ruiva, tendo saqueado a cidade de Milão, permitiu a Reinaldo, seu chanceler, então arcebispo de Colónia, levar as relíquias dos santos Reis Magos para esta cidade, onde desde então é possível venerar os Santos Reis Magos, na Catedral.


Em 1864, o relicário da Catedral de Colónia foi aberto e nele foram d
escobertos os esqueletos de três homens:  um jovem, um outro de meia-idade e um idoso, o que confirmaria a representação dos mesmos num mosaico do século VI na igreja de Santo Apolinário, o Novo, em Ravena, Itália, que representa os três magos, com estas características. 

Feliz e Santo Natal e Votos de um sereno 2021


 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Vencidos por um dia

No ano de 1893, Alphonse Chigot pintou o quadro “Os vencedores de um dia”, representando um soldado que volta ferido da guerra.

Com o braço esquerdo enfaixado, o guerreiro segura altivo, junto do peito, a haste e o estandarte, rasgado nas inúmeras batalhas travadas.

Ao longo do caminho que o leva para junto dos seus, ele encontra um Calvário. Diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, o bravo militar tira a boina e saúda com respeito e veneração o Seu Protetor e Salvador.

Quem vê a cena pode pensar: “Nosso Senhor pregado numa Cruz e o soldado ferido, não parecem dois derrotados?"

Segundo São Paulo, somos todos soldados: às vezes, no campo de batalha que é a nossa vida, somos feridos por inúmeras provas. Nestes momentos, devemos ostentar com orgulho o nosso estandarte, ou o que resta dele, acreditar na vitória dos nossos ideais, agarrar o crucifixo junto do coração e ter a certeza de que o sofrimento, a dor, até mesmo a morte, serão de curta duração, pois como Jesus Crucificado, podemos parecer "vencidos por um dia", mas com Ele triunfaremos por toda a eternidade!

domingo, 22 de novembro de 2020

A origem da expressão Alea iacta est, “o dado está lançado”


Todos conhecemos e usamos a expressão: “o dado está lançado”, para exprimir a ideia de que algo foi feito e que já não se pode voltar atrás.

Mas, talvez, nem todos sabem a origem desta expressão, que remonta ao ano de 49 antes de Cristo.

Segundo o historiador Caio Svetonio Tranquilo, na sua obra De vita Casesarum, a frase “Alea iacta est”, ou “o dado está lançado”, foi pronunciada por Caio Júlio César no dia 10 de janeiro de 49 A.C..

Voltando da Campanha vitoriosa por terras gaulesas, que lhe deu grande prestígio e gloria, Júlio Cesar apresentou a sua candidatura ao Consulado, o cargo político mais alto da República Romana.

O Senado, temendo o seu poder, ordenou-lhe que dispensasse as suas legiões e voltasse a Roma como simples cidadão. Júlio César ainda tentou fazer um acordo, mas a decisão foi irremovível.

Diante da recusa de ser um dos dois Cônsules, eleitos naquele ano, Júlio César excogitou um plano para tomar o poder. Deu ordem às suas tropas de se dirigirem discretamente até às margens do Rio Rubicão, no Nordeste da Itália, fronteira da Província da Gália Cisalpina, lugar onde, segundo o direito romano, nenhum general poderia atravessar com as suas tropas, para evitar riscos à estabilidade do poder central.

No dia seguinte, Júlio César reuniu-se com as suas legiões, às margens do rio. Indeciso sobre a decisão que deveria tomar, viu um jovem de extrema beleza que tocava uma flauta. Vários dos seus soldados, aproximaram-se para o ouvir. E eis que o rapaz toma a trompa de um legionário, faz soar o toque de batalha e cruza o rio.

Júlio César impressionado pela aparição, voltou-se para as suas tropas e ordenou-lhes: “Andemos por aquela estrada que nos foi indicada pelo prodígio dos deuses: ‘Alea iacta est!’”

Depois de ter cruzado o rio, no mesmo dia Júlio César ocupou Rimini, uma guarnição estratégica das terras italianas e avançou para Roma.

O General Cneu Pompeu Magno, encarregado de o deter, respondeu com um movimento fatídico. Ele ordenou que toda a classe política deixasse a cidade e o seguisse, para contra-atacar do sul da península ou mesmo dos Balcãs.

Com isto, o pânico em Roma foi indizível. Nunca os romanos tinham enfrentado uma situação parecida. A cidade, na sua história secular, tido sido sempre defendida dos inimigos externos e internos. Desta vez, ela tinha sido abandonada a César.

O procônsul, pacificador da Gália, patrício e máximo pontífice, depois de ter dito a frase “Alea iacta est!” e atravessado o Rubicão teria iniciado a marcha vitoriosa que em apenas 60 dias o tornou senhor de toda a península. Foi o primeiro ato vitorioso de uma longa guerra civil que logo depois teria garantido a ele o domínio indiscutível sobre Roma e o seu império mediterrânico.

sábado, 14 de novembro de 2020

A Eslováquia declara o partido comunista organização criminosa

 

O comunismo, uma ideologia que levou à morte de mais de 150 milhões de pessoas no mundo, ainda não foi julgada e criminalizada aos olhos da História, como foi a ideologia Nacional Socialista, mais conhecida como nazismo, depois da II Guerra Mundial.

Até hoje só oito países, Eslováquia, Estónia, Geórgia, Letónia, Lituânia, Polonia, República Checa, e Ucrânia, dominados pelo brutal e tirânico regime comunista por um certo tempo das suas histórias, tiveram a coragem de criminalizar a ideologia do partido comunista, comparando-o com o Nazifascista.

No dia 4 de novembro de 2020, o Parlamento da Eslováquia aprovou uma lei que considera o Partido Comunista Checo e o partido comunista da Eslováquia organizações criminais.

Os argumentos apresentados para justificar a lei foram os 42 anos, nos quais a ditadura comunista oprimiu a sociedade eslovaca. Oitenta e dois deputados votaram a favor, nove contra e dezassete se abstiveram. Segundo esta lei, todos os monumentos e placas comemorativas serão retiradas e demolidas, os nomes das ruas e dos prédios que tenham alguma relação com o comunismo serão rebatizados. A lei criminaliza o Partido comunista Eslovaco e o atual Partido comunista da Eslováquia.

As futuras gerações precisam conhecer como uma ideologia levou ao massacre de milhões de pessoas e deve ser proibida, como o nazismo. Para tal, nada melhor do que uma grande Nuremberg do Comunismo, um processo onde a humanidade passaria a conhecer a verdade sobre uma sombria época histórica vivida no século XX.

 

sábado, 26 de setembro de 2020

Santo Cura d’Ars modelo do sacerdote pobre, casto e obediente, exemplo para os nossos dias

Falar de São João Maria Vianney ‚ evocar a figura de um padre excecionalmente mortificado que, por amor de Deus e pela conversão dos pecadores, se privava de alimento e sono, se impunha rudes penitências e, sobretudo, levava a renúncia de si mesmo a um grau heroico. Se é certo que comumente não é pedido a todos os féis que sigam este caminho, a divina Providência dispôs que nunca faltem no mundo pastores de almas que, levados pelo Espírito Santo, não hesitem em encaminhar-se por estas vias, porque tais homens operam com este exemplo o regresso de muitos, que se convertem da sedução dos erros e dos vícios para o bom caminho e a prática da vida cristã! A todos, o exemplo admirável de renúncia do cura de Ars, "severo para consigo e bondoso para com os outros", [1] lembra de forma eloquente e urgente o lugar primordial da ascese na vida sacerdotal. O nosso predecessor Pio XII, de saudosa memória, no desejo de evitar certos equívocos, não hesitou em precisar que é falso afirmar "que o estado clerical - justamente enquanto tal e por proceder do direito divino - por sua natureza, ou pelo menos em virtude de um postulado da mesma, exige que os seus membros professem os conselhos evangélicos".[2] E o Papa conclui justamente: "O clérigo, portanto, não está ligado, por direito divino, aos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência".[3] Mas seria deformar o genuíno pensamento deste Pontífice, tão cioso da santidade dos padres, e o ensino constante da Igreja, acreditar que o padre secular é menos chamado à perfeição do que o religioso. A realidade é totalmente diversa, porque o exercício das funções sacerdotais "requer uma maior santidade interior, do que aquela exigida pelo estado religioso".[4] E se, para atingir esta santidade de vida, a prática dos conselhos evangélicos não é imposta ao padre em virtude do seu estado clerical, não obstante ela apresenta-se a ele e a todos os discípulos do Senhor, como o caminho mais seguro para alcançar a desejada meta da perfeição cristã. Aliás, para nossa grande consolação, quantos padres generosos o compreenderam no presente, não deixando por isso de continuar nas fileiras do clero secular e pedindo a pias associações aprovadas pela Igreja que os guiem e sustentem nos caminhos da perfeição!

Convencidos de que "a grandeza do sacerdócio está na imitação de Jesus Cristo",[5] os padres estarão, pois, mais do que nunca, atentos aos apelos do divino Mestre: "Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.…" (Mt 16, 24). O santo cura d'Ars, segundo se afirma, "tinha meditado muitas vezes estas palavras de nosso Senhor e esforçava-se por pô-las em prática".[6] Deus concedeu-lhe a graça de se conservar heroicamente fiel a elas; e o seu exemplo guia-nos ainda no caminho da ascese onde ele, resplandeceu brilhantemente pela pobreza, castidade e obediência.

São João Maria Vianney, exemplo de pobreza evangélica


Primeiramente tendes o exemplo de pobreza, virtude pela qual o humilde cura d'Ars, se tornou digno êmulo do patriarca de Assis, de quem foi, na Ordem Terceira, discípulo fiel. [7] Rico para dar aos outros, mas pobre para si mesmo, viveu num total desprendimento dos bens deste mundo, e o seu coração verdadeiramente livre abria-se com generosidade a todos os que, afligidos por misérias materiais ou espirituais vinham até ele de toda a parte em busca de remédio. "O meu segredo é bem simples, dizia ele, é dar tudo e nada guardar".[8] O seu desinteresse fazia-o atender a todos os pobres, sobretudo os da sua paróquia, aos quais testemunhava extrema delicadeza, tratando-os "com verdadeira ternura, com os maiores cuidados e até com respeito".[9] Recomendava que nunca deixassem de ter atenções para com os pobres, porque tal falta recai sobre Deus; e, quando um miserável batia à sua porta, sentia-se feliz, ao recebê-lo, com bondade, por lhe poder dizer: "Sou pobre como vós; hoje sou um dos vossos!".[10] No fim da sua vida, comprazia-se em repetir: "Estou muito satisfeito; já não tenho nada de meu; Deus pode chamar-me quando quiser".[11] Por isso, veneráveis irmãos, podereis compreender como, de todo o coração, exortamos nossos queridos filhos do sacerdócio católico, a meditar num tal exemplo de pobreza e caridade. "A experiência cotidiana atesta - escrevia Pio XI, ao pensar no cura d'Ars - que a ação dos sacerdotes de vida modesta, os quais, segundo a doutrina evangélica, não procuram absolutamente seus próprios interesses, redunda em extraordinários benefícios para o povo cristão".[12] E o mesmo Pontífice, considerando o estado da sociedade contemporânea, dirigia também aos padres este grave aviso: "Ao ver que os homens vendem e compram, tudo pelo dinheiro, os padres caminhem desinteressadamente pelos engodos do vício, e desprezando todo baixo desejo de ganhar, busquem almas e não dinheiro, a glória de Deus e não a sua!" [13]

Aplicações aos padres de hoje


Estas palavras devem estar inscritas no coração de todos os padres. Se há alguns que possuem legitimamente bens pessoais, que não se prendam a eles! Que se lembrem, antes, da obrigação que formula o Direito Canônico, a propósito dos benefícios eclesiásticos, "de dispender o supérfluo com os pobres ou com as obras pias".[14] E queira Deus que nenhum mereça a censura do santo pároco às suas ovelhas: "Quantos têm dinheiro guardado, e tantos pobres a morrer de fome!".[15] Mas nós sabemos que muitos padres vivem, de fato, em condições de verdadeira pobreza. A glorificação de um dos seus, que voluntariamente se despojou de tudo e se regozijava com o pensamento de ser o mais pobre da paróquia, [16] será para eles um providencial estímulo para se dedicarem à prática de uma pobreza evangélica. E se a nossa paternal solicitude pode servir-lhes de conforto, saibam quanto nos regozijamos pelo seu desinteresse no serviço de Cristo e da Igreja.

Mas, ao recomendar esta heroica pobreza, não pretendemos, de forma nenhuma, veneráveis irmãos, aprovar a pobreza total a que, por vezes, são reduzidos os ministros do Senhor nas cidades e no campo. No seu comentário da exortação do Senhor ao desprendimento dos bens deste mundo, São Beda, o Venerável, previne-nos contra qualquer interpretação abusiva: "Não se deve crer que seja prescrito aos santos não conservar dinheiro para seu uso pessoal ou para dar aos pobres, visto ler-se que o próprio Senhor... tinha algum dinheiro para os gastos da Igreja nascente...; mas que não se sirva Deus por causa disso, nem se renuncie à justiça com receio da pobreza".[17] Pois o operário tem direito ao seu salário, (cf. Lc 10, 7) e, fazendo nossas as preocupações do nosso predecessor imediato, pedimos instantemente a todos os fiéis que correspondam com generosidade ao louvável apelo dos bispos, desejosos de assegurar aos seus colaboradores recursos convenientes.[18]

Sua castidade angélica

São João Maria Vianney, pobre de bens materiais, foi igualmente exemplo de voluntária mortificação da carne. "Não há senão uma maneira de se dar a Deus no exercício da renúncia e do sacrifício - dizia ele - isto é, dar-se totalmente".[19] E, em toda a sua vida, praticou, em grau heróico, a ascese da castidade.

O seu exemplo sobre este ponto parece, particularmente oportuno, porque, em bastantes regiões, infelizmente, os padres são obrigados a viver, em virtude do seu cargo, num mundo onde reina uma atmosfera de excessiva liberdade e sensualidade. E a palavra de s. Tomás‚ para eles cheia de verdade: "É por vezes mais difícil viver virtuosamente tendo cura de almas, por causa dos perigos exteriores".[20] Além disso, muitas vezes, estão moralmente sós, pouco compreendidos, pouco amparados pelos fiéis a quem se dedicam. A todos, e, sobretudo, aos mais isolados e mais expostos, nós dirigimos um apelo premente, para que toda a sua vida seja um puro testemunho dessa virtude a que s. Pio X chamava "o mais belo ornamento da nossa ordem".[21] E recomendamo-vos, insistentemente, veneráveis irmãos, que procureis para os vossos padres, na medida do possível, condições de existência e trabalho que estimulem a sua boa vontade. É preciso, a todo o custo, combater os perigos do isolamento, denunciar as imprudências, afastar as tentações da ociosidade ou os riscos do excesso de trabalho. Lembremo-nos igualmente, a este respeito, dos magníficos ensinamentos do nosso predecessor na Encíclica Sacra Virginitas. [22]

Foi dito do cura d'Ars: "A castidade brilhava no seu olhar".[23] Na verdade, quem estuda a sua personalidade fica surpreendido, não só pelo heroísmo com que este padre subjugava seu corpo (cf. 1 Cor 9,27), mas ainda pela força da convicção com que conseguia que a multidão dos seus penitentes o seguisse. É que ele sabia, por uma longa prática do confessionário, os males causados pelos pecados da carne. Por isso de seu peito saíam estes gemidos: "Se não houvesse almas puras que aplacassem a Deus ofendido pelos nossos pecados, quantos e quão terríveis castigos teríamos nós que suportar!". E, falando com experiência, juntava ao seu apelo um estímulo fraterno: "A mortificação tem um bálsamo e um sabor de que não podem prescindir os que alguma vez os conheceram... Neste caminho, o que custa‚ o primeiro passo".[24]

Esta ascese necessária da castidade, longe de fechar o padre num estéril egoísmo, torna o seu coração mais aberto e mais acessível a todas as necessidades dos seus irmãos. Dizia otimamente o cura d'Ars: "Quando o coração é puro não pode deixar de amar, porque encontrou a fonte do amor, que é Deus".


Que benefício para a sociedade humana ter assim, no seu seio, homens que, livres das solicitações temporais, se consagram inteiramente ao serviço de Deus e dão aos seus irmãos a sua vida, os seus pensamentos e as suas forças! Que graça para a Igreja ter padres empenhados em guardar integralmente esta virtude! Com Pio XI, consideramo-la a glória mais pura do sacerdócio católico, ela que nos parece "a melhor resposta aos desejos do Coração de Jesus e aos seus desígnios sobre as almas sacerdotais". [25] Não estaria também conforme com os desígnios da divina caridade a mente do santo cura d'Ars, quando exclamava: "O sacerdócio ‚ o amor do Coração de Jesus!"[26]

Seu espírito de obediência

São numerosos os testemunhos sobre o espírito de obediência do santo, podendo afirmar-se que para ele a exata fidelidade ao "prometo" da ordenação foi motivo para uma permanente renúncia de quarenta anos. Durante toda a sua vida, com efeito, aspirou à solidão de um santo retiro, e as responsabilidades pastorais foram para ele pesado fardo, do qual por várias vezes tentou libertar-se. Mas sua obediência total ao Bispo foi mais admirável. Por isso, veneráveis irmãos, temos o prazer de relatar algumas testemunhas da sua vida: "Desde a idade de quinze anos este desejo (da solidão) estava no seu coração para o atormentar e tirar-lhe a felicidade de que poderia gozar na sua posição".[27] Mas "Deus não permitiu que pudesse realizar tal desígnio. A divina Providência queria sem dúvida que, sacrificando o seu gosto à obediência, o prazer ao dever, João M. Vianney tivesse constantemente ocasião de se vencer".[28] "Vianney continuou cura d'Ars com obediência cega e assim ficou até à morte".[29]

Esta total adesão à vontade dos superiores era, convém afirmá-lo, inteiramente sobrenatural no seu motivo: era um ato de fé na palavra de Cristo que dizia aos seus apóstolos: "Quem vos ouve, ouve a mim" (Lc 10,16), e, para ser-lhe fiel costumava habitualmente renunciar à sua própria vontade na aceitação do seu pesado encargo do confessionário e em todas as tarefas cotidianas onde a colaboração entre confrades torna o apostolado mais frutuoso.

Se, um dia, os sacerdotes sentissem a tentação de duvidar da importância desta virtude capital, hoje tão facilmente esquecida, convençam-se de que têm contra si as afirmações claras e nítidas de Pio XII, que atesta que "a santidade da vida pessoal e a eficácia do apostolado têm por base e sustentáculo a obediência constante e exata à sagrada hierarquia".[30] Deveis também recordar-vos, veneráveis irmãos, com quanta força os nossos últimos predecessores denunciaram os graves perigos do espírito de independência no clero, tanto para o ensino da doutrina como para os métodos de apostolado e para a disciplina eclesiástica.

[1] Cf. Archiv. Secr, Vat., Congr. SS. Rituum, Processus, t. 227, p.196.

[2] Alloc. Annus sacer; AAS 43(1951), p. 29.

[3] Ibid.

[4] S. Tomás, Sum. Th. II-II, q.184, a. 8, in c.

[5] Cf. Pio XII, Discurso de 16 abril de 1953: AAS 45 (1953), p. 288.

[6] Cf. Arch. Secret. Vat., t. 227, p. 42.

[7] Cf. Ibid. t. 227, p.137.

[8] Cf. Ibid, t. 227, p. 92.

[9] Cf. Ibid. t. 3897, p. 510.

[10] Cf. Ibid, t. 227, p. 334.

[11] Cf. Ibid. t. 227, p. 305.

[12] Carta Enc. Divini Redemptoris; AAS 29 (1937), p. 99.

[13] Carta Enc. Ad Catholici Sacerdotii; AAS 28 (193), p. 28.

[14] CIC., can.1473.

[15] Cf. Sermons du B. Jean B. M. Vianney,1909, t, l, p. 364.

[16] Cf. Arch. Secret. Vat., t. 227, p. 91.

[17] In Lucae Evangelium Expositio, IV, in c.12; PL, 92, col. 494-495.

[18] Cf. Exort. Apost. Menti Nostrae; AAS 42(1950), pp. 697-699.

[19] Cf. Archiv. Secret. Vat., t. 227, p. 91.

[10] Summa theol. II-II, q.184, a. 8, c.

[21] Exort.  Haerent animo: Acta Pii X, IV, p. 260.

[22] AAS 46 (1954), pp.161-191.

[23] Cf. Arch. Secret. Vat. t. 3897, p. 536.

[24] Cf. Arch. Secr. Vat. t. 3897, p. 304.

[25] Carta Enc. Ad Catholici Sacerdotii; AAS 28 (1936), p. 28.

[26] Cf. Arch. Secr. Vat, t. 227, p. 29.

[27] Cf. Ibid. t. 227, p. 74.

[28] Cf. Ibid. t. 227, p. 39.

[29] Cf. Ibid, t. 3895, p.153.

[30] Exort. In auspicando: AAS 40 (1948), p. 375.

Carta Encíclica “Sacerdotii Nostri Primordia”, Papa João XXIII , 1 de agosto de 1959, centenário da morte de São João Maria Vianney, o Cura de Ars.


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Conselhos de Santa Clara de Assis para alcançar a felicidade


Muito poucas mulheres da Idade Média deixaram escritos para a posteridade.

Não obstante, de Santa Clara de Assis, fundadora do ramo feminino da Ordem dos Franciscanos, que viveu do ano 1193 a 1253, conservam-se vários documentos: “A Regra”, “o Testamento”, “a Bênção”, “Quatro cartas endereçadas a Inês de Praga” e uma breves linhas de encorajamento enviadas a Ermentrudes de Bruges. 

Reproduzimos abaixo esta última, que apresenta vários conselhos para ser feliz nesta terra e, depois, chegar ao Céu.

A Ermentrudes, sua querida irmã, Clara de Assis, humilde serva de Jesus Cristo, deseja saúde e paz.

Soube, querida irmã, que, com o auxílio da graça de Deus, abandonaste o lodo deste mundo. Para mim isso é causa de grande alegria e felicidade. Também me alegro ao saber que entraste corajosamente, com as tuas filhas, no caminho da santidade.

Sê fiel, querida irmã, Àquele a quem prometeste fidelidade até à morte, porque um dia receberás a coroa da vida.

O tempo da fadiga neste mundo é breve, mas a recompensa é eterna.

Não te seduzam os esplendores deste mundo, que desaparecem como sombra. Não te surpreendas com os esplendores deste mundo enganador. Não dês ouvidos aos ruídos do maligno e resiste energicamente às suas tentações.

Suporta com alegria as adversidades, e não te envaideças na prosperidade.

A fé faz-nos humildes nos sucessos e impassíveis nas adversidades; Sê fiel no que a Deus prometeste, e Ele mesmo te dará a recompensa.

Caríssima, levanta os olhos para o Céu que nos espera, toma a tua cruz e segue a Cristo que nos precedeu. Porque depois de muitas tribulações, Ele introduzir-nos-á na glória.

Ama de todo o coração a Deus e a Jesus Cristo, seu Filho crucificado por causa dos nossos pecados, e que a sua memória jamais se apague no teu espírito. Medita sempre no mistério do Calvário e nos sofrimentos da Mãe ao pé da Cruz.

Esteja sempre atenta e vigilante na oração. Leva a cabo com persistência a obra começada e cumpre, em santa pobreza e sincera humildade, o ministério que assumiste. Nada temas, querida filha, pois Deus é fiel em todas as suas palavras e obras e derramará as suas bênçãos sobre ti e as tuas filhas.

Ele será o teu auxílio, o teu insuperável conforto. Ele é o nosso Redentor e a nossa recompensa.

Rezemos a Deus uma pela outra e assim, levando o fardo da caridade recíproca, mais fielmente cumpriremos a lei de Cristo. Amém.